Discurso durante a 35ª Sessão Especial, no Senado Federal

Destinada a comemorar o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial e os 30 anos do Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro - CIDAN; e o centenário do nascimento de Abdias do Nascimento, nos termos dos Requerimentos nºs 34, 64 e 178/2014.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DISCRIMINAÇÃO RACIAL, HOMENAGEM, SENADO.:
  • Destinada a comemorar o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial e os 30 anos do Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro - CIDAN; e o centenário do nascimento de Abdias do Nascimento, nos termos dos Requerimentos nºs 34, 64 e 178/2014.
Publicação
Publicação no DSF de 22/03/2014 - Página 33
Assunto
Outros > DISCRIMINAÇÃO RACIAL, HOMENAGEM, SENADO.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, ANIVERSARIO, INSTITUIÇÃO ARTISTICA, REFERENCIA, INSERÇÃO, POPULAÇÃO, NEGRO, MERCADO DE TRABALHO, CENTENARIO, NASCIMENTO, ABDIAS NASCIMENTO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DEFENSOR, CULTURA AFRO-BRASILEIRA.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmo Sr. Senador Renan Calheiros, Presidente do Senado e do Congresso Nacional, deixe-me fazer uma referência a V. Exª, Senador Renan Calheiros, porque todo ano a gente faz uma sessão em 21 de março, 13 de maio, 20 de novembro. Aí escolhemos a data mais apropriada, Senador Gim Argello, para fazer esse debate. E o Senador Renan Calheiros nos procurou e disse: “Paim, com essa situação que está acontecendo, por exemplo, nos campos de futebol, não vamos esperar maio nem novembro. Vamos fazer uma sessão simbólica, demonstrando a visão do Congresso Nacional contra esse tipo de atitude, covarde e vergonhosa, de alguém que se esconde na multidão para agredir o outro pela cor da pele. Mas, fosse por que motivo fosse, é uma postura pequena de um grupo sectário que lembra o fascismo e o nazismo. E isso, nós não aceitamos. (Palmas.)

            Por isso, Senador Renan Calheiros, eu cumprimento V. Exª pela sua iniciativa, que foi nossa. Foi V. Exª quem provocou todos nós.

            Nós havíamos, é claro, dialogado com a Zezé sobre a possibilidade de fazermos um grande evento, significativo como este, porque aqui estão lideranças nacionais que lutam, negros e brancos, contra todo tipo de preconceito. E a Zezé, de pronto, acatou a sua indicação: “Não, vamos fazer um ato conjunto”.

            Conversei também com a querida esposa do nosso inesquecível Abdias, a Elisa, de que havia a intenção. Ela disse: “Não, faremos juntos. Com certeza absoluta, faremos um grande evento”.

            Então, eu queria, nesse momento, além do Renan, pedir uma salva de palmas para a Elisa e para a Zezé, porque foi com eles, com esses três, que surgiu este momento.(Palmas)

            Enfim, além do Presidente Renan, que já cumprimentei, cumprimento o Secretário-Executivo da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, meu querido amigo Giovanni Harvey, representante da Sepir.(Palmas.)

            Cumprimento, também com muita satisfação, a Presidente de Honra do Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro, a nossa querida amiga, artista, cantora, musa Zezé Motta.(Palmas.)

            Cumprimentamos essa lutadora, guerreira, viúva do grande líder Abdias Nascimento, que hoje é Diretora Presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro Brasileiros, querida amiga, permita-me que assim me dirija a você - aqui está senhora, mas vou chamá-la de minha querida amiga - Elisa Larkin Nascimento, que soube estar ao lado do Abdias primeiro ao último momento e até hoje caminha pelo Brasil e pelo mundo a falar da obra desse ícone de todos nós. (Palmas.)

            Cumprimento o fundador do Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro, grande Januário Garcia, militante das grandes causas.

            Diretor Secretário-Geral do Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial, pela Força Sindical Brasil, que, quando aqui chegou, disse: “Paim, estou muito feliz com este evento”. Palmas para o Francisco Carlos Quintino da Silva. (Palmas.)

            E cumprimento o Presidente do Congresso Nacional Afro-Brasileiro e Presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil, o meu amigo Ubiraci Dantas de Oliveira, que eu diria que talvez seja - se me enganei, perdoem-me - o único negro que é presidente nacional de uma central sindical. (Palmas.) Ele foi um dos articuladores do Hino à Negritude, que aqui foi cantado, de autoria do já falecido Prof. Eduardo de Oliveira.

            Meus amigos e minhas amigas, Senador Renan, V. Exª, como político experiente, olhem o que a minha assessoria fez para vocês: um discurso, dois discursos, três discursos. Se eu ler tudo isso aqui, vocês vão chorar e dizer: “Está bem, Paim. Palmas, mas para você encerrar, porque tem muita gente para falar”.

            Cumprimento a minha assessoria pelo carinho que teve, dedicaram-se. E eles estão aqui no plenário. Peço uma salva de palmas para a moçada da assessoria.(Palmas.) Fizeram um especialmente para o Abdias, um especialmente para você, Zezé, depois vou lhe dar a cópia, e um, é claro, sobre este dia 21, tão importante para todos nós.

            E a Claudia Lyra, militante também das causas populares, me passou mais um. Eu vou ler o da Claudia. Ela disse: “Paim, fale um pouquinho - o Renan já citou - do Grupo Cultural Azulim”.

            Sediado em Sobradinho/DF, aqui na nossa Grande Brasília, atua com a cultura Hip Hop para a promoção social e o desenvolvimento da comunidade.

            É responsável pelo resgate, preservação, promoção e difusão da contribuição do negro para o desenvolvimento socioeconômico e cultural aqui nessa região e pela valorização da população afrodescendente, por meio do desenvolvimento e incentivo, promoção e apoio à pesquisa, programas, projetos relacionados à orientação, atendimento educacional e cultural de crianças, adolescentes, jovens e adultos.

            Presta gratuitamente serviço de assistência social, especialmente na recuperação de dependentes de crack - e aí peço palmas para eles. (Palmas.) Eles estão aqui, peço que se levantem, pelo trabalho que fazem para tirar a nossa moçada das drogas, voluntários na raça, no braço, na fibra, para salvar nossa juventude.

            Nós que montamos aqui, Senador Renan, sob orientação de V. Exª, até uma CPI para investigar o assassinato de jovens negros no Brasil, sob a liderança de V. Exª e também da Senadora Lídice da Mata.

            Então, meus cumprimentos a esse Grupo Cultural Azulim, que já recebeu diversos prêmios e, hoje, aqui, recebe o prêmio de coração, dessa moçada que veio do Brasil para lembrar 21 de março, o Dia Internacional Contra a Discriminação.

            Sejam bem-vindos! Vida longa às ideias e à causa que vocês defendem.

            Mas, Senador Renan Calheiros, não vou falar do dia internacional de 21 de março - V. Exª já falou e lembrou muito bem o que aconteceu na África do Sul -, mas a melhor forma de eu falar de 21 de março é dizer que, se lá na África do Sul, em 21 de março de 1960, ao covardemente assassinarem 60, na maioria jovens e negros, e ferirem mais de 156, achavam que ali estavam calando a boca da nossa gente e do nosso povo. Enganaram-se. A cada negro que tombava, mais um militante surgia. Sob a orientação de quem? De alguém que estava no cárcere há décadas, que queria também calar a boca dele. Não calaram! Ele no cárcere, e o povo na rua.

            Lembro-me aqui daquele que, sem sombra de dúvida, é uma referência internacional para todos nós; lembro-me aqui de um nome que jamais esqueceremos. Senador Renan, nós, na Constituinte, chegamos à decisão, e V. Exª contribuiu, de dar a Nelson Mandela, porque tínhamos certeza de que ele sairia do cárcere, a mais alta comenda que um chefe de Estado recebe ao visitar outro país.

            E fomos à África do Sul, entregamos à Winnie Mandela, que, por sua vez, com Mandela ainda no cárcere, a recebeu. Em seguida, houve a liberdade dele, claro que pelo movimento do mundo todo; nós fomos uma gota d’água no oceano que lá chegamos também, dando a nossa contribuição. Mandela veio ao Brasil e recebeu a homenagem de todos nós aqui desta Casa.

            Então, se enganam aqueles que pensam que, matando um ou outro jovem... Virão outros tantos jovens, como foi lá na África do Sul. E nós acabamos com o apartheid.

            E, aí, Mandela sai do cárcere e vira Presidente da África do Sul. Mandela, para mim, foi a figura mais marcante em defesa dos direitos humanos. Mandela não morreu! Mandela vive porque as suas ideias, a sua visão de mundo estará sempre presente junto de nós! O massacre que aconteceu em Sharpeville trouxe a luta pela liberdade, igualdade e justiça dos negros para o mundo, liderado por Nelson Mandela. Viva para sempre e eternamente Nelson Mandela. (Palmas.)

            Aqui havia cinquenta páginas; acho que as reduzi para quase duas.

            Zezé Motta. Não há como não falar da Zezé.

            Zezé, permita que eu saia um pouco do texto. Um dia, logo quando começamos a discutir o Estatuto da Igualdade Racial, Senador Renan, nós precisávamos de alguém que nos desse visibilidade. Buscamos a Zezé e aquele outro artista, também nacional, que morreu do coração bem jovem.

            Podem dizer aí! Ajudem-me!

(Intervenção fora do microfone.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - O Norton Nascimento! Exatamente.

            Vieram o Norton Nascimento e a Zezé ao plenário da Câmara dos Deputados para defender a proposta do Estatuto da Igualdade Racial.

            Jamais vou esquecer, Zezé, aquele dia bonito, muito bonito, em que você e o Norton lá defenderam com convicção e clareza a importância de termos uma lei global que se aproximasse ao que há de melhor, em matéria de legislação no Brasil e no mundo, no combate ao preconceito. E assim se fez, com a sua participação, Zezé, e do Norton. Hoje, o Estatuto é lei, aprovado na Câmara e no Senado, e está aí na mesa de todos vocês.

            Uma grande salva de palmas para a Zezé e para o Norton, que, lá de cima, está sentindo que aqui embaixo nós estamos o homenageando. (Palmas.)

            Zezé, aqui eu tenho toda a sua história. Eu já sabia, mas está aqui escrita. Zezé dos filmes; Zezé das novelas; Zezé cantora; Zezé das minisséries; Zezé militante da causa da liberdade, da igualdade e da justiça.

            Zezé, aqui há frases suas que você disse um dia:

A arte é uma ferramenta forte porque tem a coisa da palavra em si. A palavra dá oportunidade de cobrar, de fazer, de denunciar, de encenar situações combatendo a injustiça. [Palavras da Zezé.]

O que eu acho é que essa questão da arte dá visibilidade para os negros, fortalece a autoestima dos mais jovens, e não somente para o ator negro, mas também para os outros. Eu quero mais negros artistas. Eu quero mais negros médicos. Eu quero mais negros engenheiros. Eu quero mais negros arquitetos. Eu quero mais negros na política. Eu quero mais negros sendo agente do processo de transformação deste País. [Palavras da Zezé.] (Palmas.)

            Aqui eu copiei as suas palavras, Zezé.

            Zezé, eu tinha que falar do Cidan, pelo seu trabalho no que diz respeito ao Cidan. A entidade realiza cursos, prepara e inicia a carreira profissional na área técnica, artística. Enfim, Zezé, aqui se fala tudo que o Cidan faz. E o Cidan está sendo homenageado hoje, aqui.

            Os artistas negros tinham extrema dificuldade para disputar o mercado de trabalho, inclusive para fazer o tal book, quase indispensável para a apresentação do artista. Então, o Cidan criou um banco de dados e uma página na internet.

            O próprio Lázaro Ramos, um dos grandes atores da atualidade, foi descoberto pelo Cidan. Só por isso dá para dizermos: palmas ao Cidan! Palmas à Zezé! Palmas ao Lázaro Ramos, o grande Lázaro Ramos, que nunca se omite de assumir as suas posições em relação ao combate ao racismo e ao preconceito!

            Eu estive em alguns eventos em que tanto o Lázaro, quanto você, Zezé, foram homenageados. Eu estava lá, no plenário, batendo palmas, com uma enorme satisfação.

            Hoje, aqui no Parlamento, eu estou recebendo um pouco de palmas porque estou falando - não é, Frei David? - daquilo que se tem que falar. Grande Frei David!

            Senador Renan, nós vamos dar um jeitinho de depois colocar o Frei David na Mesa, não é? O Frei David é um militante da causa, e o Presidente vai quebrar o protocolo, a meu pedido. (Palmas.)

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco Maioria/PMDB - AL) - O Frei David acabou de chegar. Permita-me uma rápida... E eu queria, por sugestão do Senador Paulo Paim, com o entusiasmo de todos, convidar o Frei David, que é Presidente da Educafro São Paulo, a nos dar a honra de compor a Mesa. (Palmas.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Sr. Presidente, eu não quero ir muito além do tempo, porque outros têm de falar, mas lembro aqui, só vou ler, vou ler o nome de todos. E, no fim, vocês batem palmas, para ganhar tempo.

            Eu estou bem metido, né? Agora eu digo até que horas vocês têm de bater palmas. Depois, vocês vão dizer: “Para aí; quem bate palmas somos nós, não é você!”.

            Mas deixe-me continuar.

            Na área do esporte, por que não lembrar aqui do nosso querido Ademar Ferreira da Silva, bicampeão olímpico em salto triplo; João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, tricampeão mundial e recordista, também bicampeão tanto de salto triplo como de salto em distância no panamericano.

            No futebol, esporte que invadiu o coração dos brasileiros, não tem como enumerar todos, mas eu vou falar de um aqui. Permitam-me, no futebol, falar de um. Claro que o Pelé é nossa referência maior. Ninguém tem dúvida de um Pelé. Mas houve um gesto do Neymar, e vocês vão ver por que eu falei do Neymar. Eu estava assistindo a um jogo do Brasil lá na África do Sul, quando aquele menino negro, de uns cinco anos, calculo eu, entra correndo no campo, porque ele queria abraçar nossa seleção, e a segurança do campo pega o menino e o leva para fora. E o Neymar sai correndo, tira o menino dos braços da Polícia, ergue-o para cima, e a Seleção toda abraça aquele menino negro, que virou foto no mundo todo.

            Por isso, palmas para a nossa Seleção, para o Felipão, para o Neymar, para todos, pelos gestos que estão fazendo nos estádios de futebol, dizendo não ao racismo e criticando veementemente, com toda razão, o que fizeram em São Paulo, o que fizeram lá em Bento, no meu Rio Grande, o que fizeram aqui em Brasília, saindo já da área do futebol.

            Podíamos nos lembrar aqui do Leônidas da Silva, o nosso Diamante Negro, mas não tem como não falar do Pelé. Alguns dizem do Pelé: “O Pelé é negro, é parceiro, é companheiro!”.

            E eu quero uma salva de palmas para o Pelé também. Alguém fica questionando o Pelé. O Pelé é o rei do mundo. Queiram ou não queiram alguns. (Palmas.)

            Na música, eu podia falar de muita gente: Milton Nascimento, Djavan, Raul de Souza, Paulo Moura, Pixinguinha, o Maestro Moacir Santos, Ataídes Costa, Rosamaria, mas, para não fazer injustiça, eu vou parar por aqui, porque aqui tem mais de 50 nomes, e eu não vou ler os 50 aqui, não. Não dá tempo.

            Mas, enfim, Elisa, agora eu vou terminar. E vou terminar com Abdias.

            Aqui eu falo desse homem que marcou, eu sempre digo, a sua época com passos além do seu tempo, além do próprio horizonte. Elisa, você estava lá, quando o Itamaraty fez uma homenagem internacional ao Abdias, que já estava na cadeira de rodas; se eu não me engano, eram 90 anos.

            E, aí, aqui no Congresso - e o Presidente Renan ajudou nesse encaminhamento -, resolveram que eu tinha que ir lá homenagear o Abdias em nome do Congresso.

            E eu me senti, assim, pequenino, na verdade, diante daquele gigante. Ele era um gigante: gigante nas ideias, nos ideais, na sua visão de mundo. O homem era um artista, era um poeta, era um articulador, um criador, por isso que o Brasil todo bate palmas para as ideias do Abdias.

            E naquela noite - eu me lembro como se fosse hoje -, eu morava em uma casinha aqui em Brasília e passei a noite escrevendo uma poesia. E essa poesia, Elisa, não adianta, em qualquer lugar que eu vou, eu falo do Abdias. Eu digo: olha, vocês vão ter que ouvir a minha poesia.

            E aqui termino. Eu vou lê-la. A melhor forma de homenagear o Abdias, no meu entendimento, é lendo esta poesia, que é a que fiz, ele em vida, e que ele ouviu. Eu fui lá depois, dei um abraço nele, e ele passou aquela energia que só ele sabia passar.

            Em homenagem ao Abdias, que foi um lutador de todos nós, eu escrevi esta poesia, quando ele estava vivo, e lhe entreguei uma cópia, que está nos livros.

            Eu disse lá a ele - sintam-se como se ele estivesse aqui:

Abdias, Ah! Abdias,

Tua vida, Abdias, foi dedicada a essa causa, a nossa causa, à causa da nação negra.

Abdias, meu velho e querido Abdias, o nosso povo há de contar em versos e prosa a tua história. A história de um guerreiro, a história de um lutador.

Os poetas vão lembrar de Abdias, falando de paz, com rebeldia, e, tenho certeza, a emoção será tão forte como é hoje o que sentimos quando ouvimos simplesmente a batida do tambor.

Falarão de um homem negro, de cabelos brancos e barba prateada, que, independentemente do tempo, nunca parou.

Fez da sua guerra a nossa batalha, como ninguém. Nunca tombou. Foi dele e é nossa a bandeira da igualdade, da justiça e da liberdade.

Abdias, grande Abdias, tu és exemplo para todos nós.

Tu és um homem que viveu à frente do seu tempo. Que as gotas do teu sofrimento arrancadas do teu corpo se tornem pérolas, luzes a iluminar a jornada do nosso povo, da nossa gente.

Tu nos deixas uma lição de vida. Viverás, Abdias, para sempre junto de nós.

A rebeldia de tuas palavras, que somente os guerreiros ousam, somente os guerreiros têm coragem, estão cravadas na história da humanidade, nos nossos corações e mentes para sempre.

Sei, Abdias, tu não estás preocupado a agradar a todos. Não estás preocupado a agradar a todos, mas sei que a mensagem que tu deixas é: jamais, jamais deixem de lutar e sonhar.

Sonhem não aquele sonho bonito que tu gostarias que acontecesse num passe de mágica, mas, sim, um sonho que, com nossa luta, haveremos de conquistar e tornar realidade.

Este, sim, será fruto da nossa vitória.

            Permitam-me, antes de eu dizer aqui a partezinha final, Presidente, meus amigos e minhas amigas: aqui no plenário, Senador Renan, estão os companheiros do Aerus. Eles estão sofrendo muito, muito, muito. Eles estão acampados há duas semanas - se vocês puderem se levantar simbolicamente -, eles estão esperando uma decisão que o Supremo já tomou, já estivemos com V. Exª, e agora dependem de um acordo com a Presidência. Eles estão se sentindo tão discriminados como nós todos outros que lutamos contra todo tipo de preconceito.

            Por isso, eu quero, neste momento simbólico, antes de terminar com a última frase do Abdias, dizer para vocês: ouçam o que o Abdias pensava na poesia que eu traduzi, e eu sei, na época, que ele gostou: não desistam, peleiem! Com certeza, nós, aqui no Congresso - dê-me a liberdade, Senador Renan, já falamos com V. Exª -, faremos de tudo para que, por meio da decisão do Supremo, o Aerus seja indenizado e, consequentemente, mediante a ação de defasagem, que ganhamos no Supremo da Varig, vocês, aposentados e pensionistas, recebam aquilo que têm de direito.

            É só isso que vocês querem. (Palmas.)

            Termino somente dizendo:

Viva! Viva a Nação Negra! Vivam brancos e negros que lutam pela liberdade e pela justiça! Viva Zumbi, Zumbi dos Palmares! Viva o grande gigante Abdias Nascimento! Vida longa para as tuas ideias, Abdias!

Viva Zezé Motta!

Viva o nosso querido, que está lá no alto - eles devem estar cavalgando juntos lá, de lança em punho -, viva Nelson Mandela!

Viva Abdias! Viva Nelson Mandela! Viva Abdias! Viva Nelson Mandela!

Viva Mandela! Viva Abdias!

            Um abraço a todos! (Palmas.)

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco Maioria/PMDB - AL) - Registro, com satisfação, a presença no Senado Federal do Diretor de Políticas de Educação do Campo, Indígena e para as Relações Étnico-Raciais, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), do Ministério da Educação, Thiago Tobias. (Palmas.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senador Renan, me permita...

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco Maioria/PMDB - AL) - Paim.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Ali, na emoção, acabei não citando o nome da minha líder e querida...

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco Maioria/PMDB - AL) - Arísia, querida.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Mas sinta-se abraçada.

            Vou lhe dar um beijo!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/03/2014 - Página 33