Discurso durante a 39ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Sr. Umberto Calderaro Filho, fundador do maior grupo de mídia integrada da Região Norte.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Sr. Umberto Calderaro Filho, fundador do maior grupo de mídia integrada da Região Norte.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2014 - Página 181
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, JORNALISTA, ESTADO DO AMAZONAS (AM), ELOGIO, REFERENCIA, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Sr. Presidente, Senador Mozarildo Cavalcanti.

            Sr. Presidente, Srs. Senadores, companheiros e companheiras - peço um pouquinho de compreensão à V. Exª, Sr. Presidente -, venho à tribuna hoje fazer uma homenagem a uma pessoa que foi e continua sendo muito querida por todos nós, o povo amazonense. Refiro-me a Umberto Calderaro Filho, fundador do que hoje é considerado o maior grupo de mídia integrada da Região Norte do País. Ele, que nos deixou em 1995, se estivesse vivo, completaria 87 anos amanhã, dia 28 de março.

            O aniversário de nascimento de Calderaro tem, portanto, grande significado para os amazonenses e, em especial, para os seus familiares e funcionários de todo o grupo de comunicação.

            A Rede Calderaro de Comunicação possui dois jornais - A Crítica e Manaus Hoje -, é afiliada da TV Record e possui retransmissoras em quase todos os Municípios do Amazonas, duas emissoras de rádio - A Crítica e Jovem Pan -, um portal de notícias na internet, o portal acritica.com, além da Editora Amazônia. E tantas outras empresas pertencem à Rede Calderaro de Comunicação.

            Trata-se, portanto, de um grande grupo de comunicação que foi erguido por um menino pobre, como era Seu Umberto Calderaro Filho, que sofreu, inclusive, muito preconceito da elite amazonense à época. Filho de imigrante, Calderaro estudou no colégio Dom Bosco, mantido pelos padres salesianos e, depois, por insistência da mãe, fez o curso de Direito, que abandonou no último ano, quando seu nome já constava, inclusive, no convite de formatura.

            Sua vida foi, sem dúvida nenhuma, o jornalismo, sua verdadeira e única paixão profissional. Foi menino de recados, operário, foca, vendedor, redator, revisor, responsável pela circulação, chefe do serviço de pessoal, editorialista e repórter. Foi o pioneiro da grande imprensa escrita amazonense, sem dúvida.

            Casou-se com Ritta Araújo Calderaro e teve uma filha, Tereza Cristina Calderaro Corrêa, que hoje dirige todo esse grupo de comunicação.

            Recebeu, em vida, muitos títulos. Não vou ler todos, mas entre eles cito: Jornalista do Ano (1957); medalha do Mérito do Trabalho (TST); medalha Mergenthaler da Sociedade Interamericana de Imprensa; medalha do Mérito do Comando Militar da Amazônia; Cidadão Benemérito de Parintins; Mérito Comercial do Amazonas; Homem das Comunicações (1995); post mortem, Ordem do Mérito do Rio Branco (1998), da Presidência da República. Foram muitos os títulos que Calderaro recebeu.

            Morreu no dia 16 de junho de 1995, no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo.

            O jornal A Crítica, Sr. Presidente - V. Exª, que é do vizinho Estado de Roraima, conhece perfeitamente o que significa esse jornal não só em termos de comunicação, mas da própria construção e do desenvolvimento do nosso Estado -, foi fundado por Umberto Calderaro Filho em 19 de abril de 1949, tendo como primeira sede uma pequenina sala, na Avenida Eduardo Ribeiro.

            Sabe-se, no entanto, que, antes disso, por cerca de dois anos aproximadamente, A Crítica circulou de maneira precária e assistemática, sem sede e sem maquinários próprios, sempre por volta das 11 horas da manhã eles publicavam e faziam circular o pequeno jornal, exatamente para fugir da concorrência dos demais jornais, dos demais periódicos comercializados diariamente na cidade de Manaus. Por esse motivo, foi apelidado de "Onzeorino", pelo poeta e ex-Senador Áureo Mello, alguém que também dignifica muito a história do nosso Estado.

            Os primeiros números de A Crítica foram rodados nas impressoras de O Jornal, por apenas 60 dias, pertencente a Henrique Archer Pinto. Entretanto, uma desavença entre Umberto Calderaro Filho e um membro da família Archer Pinto fez com que não fosse mais possível rodar as edições do jornal A Crítica utilizando as máquinas do jornal.

            Foi quando Dom Alberto Gaudêncio Ramos, à época bispo do Amazonas, emprestou para o Sr. Calderaro um prelo Marinoni, já muito antigo e que servia somente para rodar o jornalzinho da diocese - chamado A Reação - e as missas de domingo. Os tipos móveis, para que V. Exª tenha uma ideia, tinham de ser juntados um a um numa caixa de madeira usada, atada por barbantes. Mas nem essas dificuldades impostas fizeram com que Calderaro desistisse da sua empreitada de fazer de A Crítica um grande jornal e hoje um dos maiores jornais da cidade de Manaus.

            Calderaro era uma pessoa comum, ficava muitas vezes sem nenhum tostão no bolso, tudo para pagar seus operários. Prezava-os por demais. Os gráficos tinham-lhe verdadeira adoração. O mais antigo, Raimundo Nonato, ainda hoje trabalha no jornal A Crítica.

            Uma grande ideia sua foi aproveitar, por exemplo, o potencial dos jovens infratores, com autorização do Juizado de Menores - ele obteve essa autorização em 1949. Esses menores infratores vendiam o jornal, tinham tempo suficiente para trabalhar e ainda ganhavam alguma coisa. Dessa forma, Calderaro também contribuía para a recuperação desses muitos meninos infratores.

            Mesmo com a modernização dos meios de produção e venda dos jornais em bancas, Calderaro fez questão de manter os meninos trabalhando. O jornaleiro mais antigo é Ferrugem, ainda vivo hoje e conhecido de toda a sociedade amazonense.

            Nos primeiros tempos, Calderaro contou somente com o auxílio de seu pai, Umberto Calderaro, de sua mãe, Maria da Luz Moura Calderaro, e dos poucos gráficos. O pai dava manutenção nas máquinas e controlava a receita. A mãe cuidava dos primeiros jornaleiros. O pai era italiano de Nápoles; a mãe paraense de Óbidos.

            Umberto Calderaro, o pai, veio para Manaus como artesão para trabalhar nas obras finais do Teatro Amazonas. Sua especialidade era estuque de gesso. Depois, empregou-se na sapataria Arone, de propriedade de um patrício. À noite, ia ajudar seu filho na confecção do jornal A Crítica.

            Casou-se, como já disse aqui, com Ritta de Cássia de Araújo Calderaro, que foi outra pessoa, na sua vida, que lhe ajudou muito na empreitada.

            Em seguida, veio sua filha, Tereza Cristina Calderaro Corrêa, única filha, que desde cedo também aprendeu a fazer jornal e, hoje, responde pela vice-presidência e trabalha no conglomerado junto com todos os seus filhos. Sua filha mais nova ainda está em idade escolar - filha de Cristina, a quem aqui me refiro -, mas já sabe trilhar os caminhos da família de prezar e saber o quão responsável é dirigir um meio de comunicação tão importante para todo o Estado do Amazonas.

            O nome A Crítica, Sr. Presidente, surgiu, segundo o seu fundador, em contraposição ao jornalismo áulico e literário da época, quando os meios de comunicação tinham como fontes quase que somente os organismos oficiais. Então, exatamente A Crítica. Por quê? Para criticar aquilo que considerava que merecesse críticas. E o lema do jornal, desde muito cedo, foi “De mãos dadas com o povo”, ou seja, já do seu nascedouro, o jornal surgiu para ser um grande questionador de tudo aquilo que não estivesse ou não fosse condizente com os interesses coletivos, com os interesses do Estado e da sociedade amazonense.

            Na Manaus dos anos 40 e 50, a comunicação se fazia através somente de rádios e dos alto-falantes. A leitura era um privilégio de poucos e era muito difícil competir com as ondas do dial. A Crítica, no entanto, começou a ditar uma linha editorial de oposição aos governos, em especial ao de Leopoldo da Silva Neves, como a campanha que moveu contra a desativação dos bondes, que era o principal meio de transporte da cidade; a que pedia o fim do jogo - Manaus, àquela época, era um cassino -; a que defendia o Banco de Crédito da Borracha, agência esteio dos produtores da região; e a que acompanhou o desenrolar da primeira greve bem sucedida da cidade, promovida pelos portuários.

            Quando A Crítica foi fundado, a informação escrita estava circunscrita à elite intelectual, e ele conseguiu quebrar essa barreira, principalmente sendo um esteio, um apoiador das lutas progressistas, fazendo com que a informação escrita fosse democratizada e que um número maior de pessoas tivesse acesso a ela. E foi assim que se sucedeu nos anos seguintes.

            Os piores momentos do jornal, sem dúvida nenhuma, foram vividos em 1964. E faço este pronunciamento porque este ano completam-se 50 anos do golpe militar. À época, o jornal foi muito hostilizado pelo governo petebista no Amazonas. De 1959 a 1964, A Crítica passou por inúmeras dificuldades. O comércio era proibido de anunciar no jornal; o governo e prefeitura promoviam devassas fiscais no jornal; e ameaças de morte e atentados eram vividos frequentemente pela família. Até a filha pequena de Umberto, à época, Cristina, foi ameaçada de sequestro.

            Em 20 de janeiro de 1959, atiraram uma bomba em A Crítica que, por pouco, não ceifava a vida do jornalista Umberto Calderaro Filho.

(Soa a campainha.)

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - O artefato caiu na mesa de trabalho de Calderaro, que se levantara segundos antes. Foram destruídos no evento os exemplares dos primeiros tempos do jornal, além de móveis e utensílios conseguidos com muito esforço.

            Calderaro costumava dizer que o regime militar foi menos penoso para A Crítica do que os tempos que o antecederam. Entretanto, foram dois tempos muito difíceis, mas nenhum deles foi forte o suficiente para calar a voz de Umberto Calderaro Filho. 

            A economia do Amazonas, Sr. Presidente, após a Segunda Guerra Mundial, experimentou o seu pior momento. Somente a cultura da juta e da malva, ou seja, o extrativismo, ocupava parte da população. O comércio havia falido com a quebra dos preços da borracha. Na época faltava luz, faltava...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Na época, faltava luz, água, e, como falei aqui, os próprios bondes paralisavam. A comida, Sr. Presidente, era racionada.

            Em 1957, o Deputado Federal pelo Amazonas, Francisco Pereira da Silva, propôs a criação da Zona Franca de Manaus - 1957, repito. Mas esse feito só veio a ser concretizado em 1967, quando a Zona Franca foi definitivamente estabelecida, por meio do Decreto-Lei nº 288, e sobrevive até hoje, sendo fortalecida a cada dia que passa.

            Não tenho dúvida nenhuma, quando aqui homenageio Umberto Calderaro Filho, que amanhã completaria 87 anos de vida, de que ele tem parte importante nessa vitória próxima que estamos a viver: a prorrogação, por mais 50 anos, da Zona Franca de Manaus. A Zona Franca, que completou 47 anos em fevereiro, será, este ano, por uma emenda à Constituição de iniciativa da Presidenta Dilma, prorrogada por mais 50 anos. Então, queremos dividir com Umberto Calderaro e com seus familiares essa grande vitória.

            Só nunca ficamos. Eu comecei minha militância no finalzinho do regime militar, como estudante, jovem. Nós sempre tivemos no jornal A Crítica, na pessoa do Sr. Umberto Calderaro Filho, um grande apoiador.

            Lembro-me como se fosse hoje, Presidente Mozarildo, das nossas tantas idas à Rua Lobo D’Almada, onde ficava a sede do jornal, e lá entrávamos na sala de Calderaro, que era o presidente do jornal, como se entra na sala de qualquer cidadão simples do povo. E lá, ele sentava com muita paciência e atenção, ouvindo aqueles jovens falar, falar e falar e pedir apoio, porque era sempre isso que íamos fazer quando o visitávamos na sede do jornal.

            Então, Sr. Presidente, quero pedir a V. Exª que dê como lido todo esse pronunciamento.

            E concluo dizendo que o Dr. Umberto Calderaro Filho sempre se preocupou em estreitar os laços com a comunidade, sempre. Para isso, incentivou atividades, todas elas, sobretudo as atividades progressistas, as atividades avançadas. Apoiou a juventude, apoiou os trabalhadores, inclusive incentivando o lazer para a população.

            No início dos anos 70, ele criou o Peladão, que é o campeonato de futebol de amadores que reúne mais de mil equipes por ano, numa disputa que já se tornou tradicional na cidade, obtendo até o reconhecimento da CBF e da FIFA, como o maior campeonato amador de futebol do mundo.

            Há poucos anos, a jovem Priscila Meirelles, rainha do Peladão, sagrou-se Miss Brasil e Miss Mundo, porque, ao lado de futebol, há também a rainha do Peladão, que movimenta muito a cidade.

            Então, por tudo isso, por tudo que fez Umberto Calderaro Filho, que nos deixou em 1995, eu quero aqui prestar esta homenagem que, repito, todos nós, cidadãos amazonenses, temos obrigação de fazer, porque, muito mais que um jornalista, ele foi um cidadão amazonense. Nunca teve nenhum mandato, mas, com o seu jornal, com a sua pena, com a sua caneta, sempre nos ajudou na luta pelo progresso e, sobretudo, na luta pela justiça social.

            Era o que tinha a dizer.

            Muito obrigada, Senador.

 

SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DA SRª SENADORA VANESSA GRAZZIOTIN.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no dia 28 de março de 1927 nascia em Manaus Umberto Calderaro Filho, fundador do que hoje é considerado o maior grupo de mídia integrada da região Norte. Ele que nos deixou em 1995, faria amanhã 87 anos.

            O aniversário de nascimento de Calderaro tem grande significado para os amazonenses e, em especial, para os seus familiares e funcionários do grupo.

            A Rede Calderaro de Comunicação possui dois jornais - A CRÍTICA e MANAUS HOJE; é afiliada da RECORD e possui retransmissoras em quase todos os municípios do Amazonas; duas emissoras de rádio - A CRÍTICA e JOVEM PAN (Tarumã); portal acritica.com; a empresa de mídia indoor Elemídia; o Teatro Manauara; o site de vendas coletivas Tambaqui Urbano; e a Editora da Amazônia.

            Trata-se de um grande grupo de comunicação que foi erguido por um menino pobre que sofreu preconceito da elite amazonense da época. Filho de imigrante, Calderaro estudou no colégio Dom Bosco, mantido pelos padres salesianos e, depois, por insistência da mãe, fez o curso de direito, que abandonou no último ano quando o seu nome já constava, inclusive, no convite de formatura.

            Sua vida foi o jornalismo. Sua verdadeira e única paixão profissional: foi menino de recados, operário, foca, vendedor, redator, revisor, responsável pela circulação, chefe do serviço de pessoal, editoriaíista, repórter. Foi o pioneiro da grande imprensa escrita amazonense.

            Casou com Ritta Araújo Calderaro, e teve uma filha, Tereza Cristina Calderaro Corrêa.

            Recebeu, em vida, os seguintes títulos, dentre outros: jornalista do ano (1957); medalha do Mérito do Trabalho (TST); medalha Mergentale da Sociedade Interamericana de Imprensa, como defensor da liberdade de imprensa em todos os continentes; medalha do Mérito do Estado do Amazonas; medalha do Mérito do Comando Militar da Amazônia; Cidadão Benemérito de Manaus; Cidadão Benemérito do Amazonas; Cidadão Benemérito de Parintins; Mérito Comercial do Amazonas (1977); Industrial do Ano no Amazonas (1983); Homem das Comunicações (1995); post mortem, Ordem do Mérito do Rio Branco (1998) da Presidência da República.

            Morreu no dia 16 de junho de 1995, no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo, vítima de uma complicação pós-operatória

            O jornal A CRÍTICA foi fundada pelo jornalista Umberto Calderaro Filho em 19 de abril de 1949, tendo como primeira sede uma sala bem pequena, alugada no centro da cidade, na Avenida Eduardo Ribeiro.

            Sabe-se, no entanto, que antes disso, por cerca de dois anos aproximadamente, A CRÍTICA circulou de maneira precária e assistemática, sem sede e sem maquinários próprios, sempre por volta das onze da manhã, a fim de escapar da concorrência dos maiores jornais da época.

            Por esse motivo, ficou conhecido como "ONZEORINO", neologismo criado pelo seu primeiro secretário de redação, o poeta e ex-senador Áureo Mello.

            Os primeiros números de A CRÍTICA foram rodados nas impressoras de "O JORNAL", por apenas 60 dias, pertencente a Henrique Archer Pinto, com quem Calderaro tinha um parentesco por afinidade distante.

            Um desentendimento entre Calderaro e um membro da família Archer Pinto, interrompeu momentaneamente a trajetória de A CRÍTICA, que já começava a ganhar simpatizantes.

            Foi quando dom Alberto Gaudêncio Ramos, bispo do Amazonas, emprestou para Caideraro um prelo "Marinoni", já bem antigo, que servia apenas para imprimir o jornalzinho da diocese - A REAÇÃO e as missas de domingo. Os tipos móveis tinham de ser juntados um a um numa caixa de madeira usada, atada por barbantes.

            Calderaro, era comum, ficava muitas vezes sem nenhum tostão no bolso, tudo para pagar seus operários. Prezava-os por demais. Os gráficos tinham-lhe verdadeira adoração. O mais antigo é Raimundo Nonato, que ainda trabalha em A CRÍTICA.

            Uma grande idéia sua foi aproveitar o potencial dos menores infratores, com autorização do Juizado de Menores, para vender A CRÍTICA em 1949 e nos anos que se seguiram. Ao invés de segregação pura e simples, o menor tinha uma atividade remunerada, que não lhe roubava tempo dos estudos e proporciona a sua reintegração paulatina à sociedade.

            Mesmo com a modernização dos meios de produção e venda dos jornais em bancas, Calderaro fez questão de manter os meninos trabalhando. O jornaleiro mais antigo é o "Ferrugem", ainda vivo.

            Nos primeiros tempos Calderaro contou somente com o auxílio de seu pai Umberto Calderaro, de sua mãe Maria da Luz Moura Calderaro e de uns poucos gráficos. O pai dava manutenção nas máquinas e controlava a receita. A mãe cuidava dos primeiros jornaleiros. O pai era italiano de Nápoles; a mãe paraense de Óbidos.

            Umberto Calderaro, o pai, veio para Manaus como artesão para trabalhar nas obras finais do Teatro Amazonas. Sua especialidade era estuque de gesso. Depois empregou-se na sapataria "Arone", de propriedade de um patrício. À noite, ia ajudar na confecção de A CRÍTICA.

            Mais adiante, ainda no começo, Calderaro Filho passou a contar com o apoio de sua mulher, Ritta de Cássia de Araújo Calderaro, filha do desembargador André Vidal de Araújo e de Milburges Bezerra de Araújo. A professora de desenho e assistente social Ritta usava o tempo disponível para desenhar anúncios, manchetes e títulos das matérias veiculadas em A CRÍTICA. Ela é a presidenta da REDE CALDERARO DE COMUNICAÇÃO.

            Depois veio Tereza Cristina Calderaro Corrêa, única filha que, desde cedo, aprendeu a fazer jornal e responde hoje pela vice-presidência de A CRÍTICA. Hoje todos os netos de Umberto (Dissica, Tatiana e Beto) já trabalham nas empresas do grupo.* O marido de Cristina, Mário Júnior, apesar de proprietário de uma próspera empresa de publicidade, está sempre à disposição para ajudar as empresas naquilo que for necessário.

            A filha mais nova de Cristina, Chris, ainda está em idade escolar. Os bisnetos são: Leonardo, filho de Tatiana; Alexandre, filho de Beto; e Tomaz, filho de Dissica.

            O nome A CRÍTICA surgiu, segundo o seu fundador, em contraposição ao jornalismo áulico e literário da época, quando os meios de comunicação tinham como fontes quase que somente os organismos oficiais, dedicando boa parte de seus espaços para manifestações de escritores e poetas. A CRÍTICA veio para incentivar o debate, o questionamento dos atos de autoridade, assumindo o papel de porta-voz da população. Esse, pelo menos, era o ideário de Umberto Calderaro Filho que, por isso mesmo, cunhou o slogan que acompanha o jornal há tantos anos: "DE MÃOS DADAS COM O POVO".

            Na Manaus dos anos 40 e 50 a comunicação se fazia através dos rádios e dos alto-falantes. A leitura era um privilégio de poucos. E era difícil competir com as ondas do dial. A CRÍTICA, no entanto, começou a ditar uma linha editorial de oposição aos governos, em especial ao de Leopoldo da Silva Neves, e lançou campanhas que mobilizaram a população, como a que moveu contra a desativação dos bondes, principal meio de transporte da cidade; a que pedia o fim do jogo (Manaus era um cassino); e a que defendia o Banco de Crédito da Borracha, agência-esteio dos produtores da região; e a que acompanhou o desenrolar da primeira greve bem sucedida na cidade, promovida pelos portuários.

            Quando A CRÍTICA foi fundada a informação escrita estava circunscrita à elite intelectual da cidade.

            A proposta de A CRÍTICA era levar a notícia impressa ao maior número de pessoas, tendo de competir com as rádios e outros jornais.

            Os piores momentos de A CRÍTICA não foram vividos após a instalação do regime militar, em 1964. Hostilizado pelo governo petebista no Amazonas, de 1959 a 1964, A CRÍTICA passou por inúmeras dificuldades. O comércio era proibido de anunciar no jornal; governo e prefeitura promoviam devassas fiscais; e ameaças de morte e atentados, vindos de fontes não identificadas oficialmente, contingenciaram aqueles dias. Até a filha pequena de Umberto Calderaro, foi ameaçada de seqüestro.

            Em 20 de janeiro de 1959 atiraram uma bomba em A CRÍTICA que, por pouco, não ceifava a vida do jornalista Umberto Calderaro Filho. O artefato caiu na mesa de trabalho de Calderaro, que se levantara segundos antes. Foram destruídos no evento os exemplares dos primeiros tempos do jornal, além de móveis e utensílios conseguidos com muito esforço.

            Calderaro costumava dizer que o regime militar foi menos penoso para A CRÍTICA do que os tempos em que viveu sob o látego do PTB. A CRÍTICA manteve a independência, superou a censura direta, não aderiu ao regime e noticiava os fatos e as versões de todos os protagonistas das notícias. Em grande parte do período de exceção constitucional abriu suas páginas para membros da oposição, dando-lhes inclusive coluna semanal, como as do senador Fábio Lucena, um dos mais aguerridos combatentes locais do regime.

            A economia do Amazonas, após a Segunda Guerra Mundial experimentava o seu pior momento. Somente a cultura dajuta e da malva ainda ocupava parte da população. O Comércio falira com a quebra dos preços da borracha. Faltava água, luz, os bondes paravam e a comida era racionada.

            Em 1957 o deputado federal Francisco Pereira da Silva (AM) apresentou um projeto de criação de uma área de incentivos fiscais para a cidade, logo encampado por A CRÍTICA. Percebendo a dimensão da proposta, A CRITICA saiu com edições especiais e colocou carros com alto-falantes nas ruas conclamando a sociedade e as lideranças políticas, empresariais dos trabalhadores a defenderem o projeto que, no entanto, somente se veio concretizar dez anos depois, através do decreto 288, que regulamentou a Zona Franca de Manaus, em 28 de fevereiro de 1967.

            A partir da implantação da Zona Franca, A CRÍTICA foi a mais intransigente defensora do modelo econômico que tirou a cidade do atraso.

            Quando estourou o escândalo do colarinho branco, sistema de operações criminosas, que vendia cotas de importação e fraudava a SUFRAMA, A CRÍTICA denunciou os malfeitores, mas ressaltou a necessidade de se preservar a ZFM livre de amarras.

            Tudo o que tinha, Calderaro investia no jornal. Na década de 60 comprou rotoplanas. Depois evoluiu para off-set e chegou, pouco antes de seu falecimento, a comprar uma impressora DEV, de fabricação americana, capaz de rodar aproximadamente 60 mil exemplares por hora. A sede do jornal, que se seguiram, saiu da Eduardo Ribeiro, foi para a rua Lobo D'Almada, passou pela Joaquim Sarmento e, finalmente, para o bairro de Aleixo. Quando a Zona Franca sofreu o mais rude golpe, em 1990, com a abertura das importações ao resto do País pelo governo de Fernando Collor e muitos empresários abandonavam a cidade que tanto lucros lhes tinha dado, Calderaro resolveu jogar tudo o que possuía, todo o seu patrimônio na construção de um prédio de 5 mil metros quadrados, onde alojou toda a sua rede de comunicações, incluindo jornal, rádios e televisão.

            As bandeiras democráticas deste País foram também empunhadas por A CRÍTICA. Em nível local A CRÍTICA combateu a corrupção e o nepotismo. Denunciou desmandos administrativos e desvios de verbas tanto no Executivo quanto no Legislativo. Denunciou, como denuncia até hoje, os altos salários das autoridades e os atentados dos direitos humanos, como por exemplo o esquadrão da morte, equipe de extermínio formado por policiais civis e militares.

            Nos anos 80 Umberto Calderaro Filho resolveu expandir seus negócios. Criou a EDITORA CALDERARO, comprou a antiga TV BARÉ, que pertencia ao empresário Airton Pinheiro e, hoje, detém o sinal do REDE RECORD, retransmitido pela TV A CRÍTICA em quase 50 municípios do Amazonas. Possui os direitos de retransmissão da REDE TV. Criou a RÁDIO A CRÍTICA, de linha eminentemente popular, e a RÁDIO TARUMÃ.

            Em 21 de março de 1998, A CRÍTICA recebeu em São Paulo o GRANDE PRÊMIO AÍRTON SENNA DE JORNALISMO, como o melhor jornal do Norte do País, em concurso promovido pela fundação AÍRTON SENNA, pela ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS (ANJ), pela ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EDITORES DE REVISTA (ANER), pela ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMISSORAS DE RÁDIO E TELEVISÃO (ABERT) e pela FEDERAÇÃO NACIONAL DE JORNALISTAS (FENAJ).

            Calderaro sempre se preocupou em estreitar os laços com a comunidade. Para isso incentivou atividades de lazer para a população. No início dos anos 70 criou o PELADÃO, campeonato de futebol de amador que reúne mais de mi! equipe por ano, numa disputa que já se tornou tradicional na cidade, obtendo, até, o reconhecimento da CBF e da FIFA. No evento também é escolhida a rainha, que ganha prêmios e prestígio com a legítima representante da beleza amazonense.

            Há poucos anos a jovem Priscila Meirelles, rainha do PELADÃO, sagrou-se MISS BRASIL e MISS MUNDO. E transmitiu, por muitos anos, o Festival Folclórico de Parintins, o que voltou a fazer a partir do ano de 2013. Atualmente a TV A CRÍTICA, afiliada da RECORD, transmite o Campeonato Amazonense de Futebol.

            Promoveu o CARNAVAL DO POVO quando o Governo do Estado retirou-se do patrocínio da festividade. Hoje mantém uma premiação, o ESTANDARTE DO POVO, que representa o reconhecimento da cidade de Manaus aos seus carnavalescos. Já transmitiu, também, o carnaval de Manaus.

            No ano de seu falecimento, 1995, Calderaro desceu no Sambódromo como tema da Escola de Samba Vitória Regia, a verde e rosa, de um dos bairros mais populares e tradicionais de Manaus. Foi, segundo ele, a maior emoção de sua vida. Desceu acompanhado de seu cardiologista. A letra do samba de enredo contava a trajetória de A CRÍTICA.

            Em 2014 voltará a transmitir, na íntegra, o Festival Folclórico de Parintins. No ano passado já transmitiu a apresentação do Boi Bumbá Garantido.

            Por fim, em homenagem ao saudoso Calderaro e sua rica trajetória quero parabenizar o trabalho hoje desempenhado pela presidente do Grupo, a senhora Ritta Calderaro, a vice-presidência Cristina Calderaro, e ao presidente do sistema A Crítica de rádio e televisão, Dissica Calderaro. Parabéns a todos.

            Era o que eu tinha a dizer. Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2014 - Página 181