Discurso durante a 45ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre artigo publicado pelo ex-Ministro Alexandre Padilha, intitulado “Filhos da Resistência”, no Jornal Folha de São Paulo; e outros assuntos.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS). IMPRENSA. PROGRAMA DE GOVERNO, SAUDE.:
  • Comentários sobre artigo publicado pelo ex-Ministro Alexandre Padilha, intitulado “Filhos da Resistência”, no Jornal Folha de São Paulo; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 04/04/2014 - Página 448
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS). IMPRENSA. PROGRAMA DE GOVERNO, SAUDE.
Indexação
  • APOIO, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), OBJETIVO, INVESTIGAÇÃO, FATO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), IRREGULARIDADE, AQUISIÇÃO, REFINARIA, PETROLEO, LOCAL, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), OBRAS, INFRAESTRUTURA, TRANSPORTE, METRO, LOCALIDADE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DISTRITO FEDERAL (DF).
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUTOR, ALEXANDRE PADILHA, EX MINISTRO DE ESTADO, ASSUNTO, ATUAÇÃO, PERIODO, REGIME MILITAR, PARTICIPAÇÃO, LIDER, MOVIMENTO ESTUDANTIL, LUTA, REDEMOCRATIZAÇÃO, IMPEACHMENT, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, REUNIÃO, MEDICO, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, PARTICIPANTE, PROGRAMA, GOVERNO FEDERAL, EXERCICIO PROFISSIONAL, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS), OBJETIVO, DISCUSSÃO, ASSUNTO, EXPECTATIVA, POPULAÇÃO, RELAÇÃO.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Caro Presidente, Senador Jorge Viana, primeiro quero assinalar a todos que têm me escrito mensagens as mais diversas que, tal como todos os companheiros Senadores e as companheiras Senadoras da base aliada, assinei o pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar os fatos ocorridos, seja com a administração da Petrobras, seja com as empresas de trens e de metrôs em São Paulo, bem como na usina de Pernambuco.

            Portanto, avalio como importante que façamos esse trabalho da forma mais isenta, responsável e séria possível e coloco-me à disposição de meu Partido para ajudar no que for necessário.

            Quero, hoje, Sr. Presidente, assinalar um bonito artigo que o ex-Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, escreveu na semana passada, dia 27 de março de 2014, publicado em Tendências e Debates, da Folha de S. Paulo.

            Alexandre Padilha, que é médico, foi Ministro das Relações Exteriores durante o Governo Lula e Ministro da Saúde do Governo Dilma Rousseff, aqui nos fala do relacionamento que teve com seu pai Anivaldo Padilha e com sua mãe Drª Léa Chaves desde menino.

“Filhos da resistência

Como Ulysses, tenho ódio e nojo da ditadura. Mas não carrego ressentimento. A infância incomum me proporcionou valores firmes. [Isso estava no olho do artigo]

            Assim começa Alexandre Padilha:

Eu estava prestes a completar oito anos de idade quando abracei meu pai pela primeira vez.

Até então, a Ditadura nos havia mantido afastados. Meu pai ficou 11 meses sob tortura. Um tempo depois de sair da prisão, teve de partir para o exílio, quando minha mãe já estava grávida de mim.

Depois da anistia, ele pôde voltar ao Brasil. Foi quando o vi chorar pela primeira vez.

Até os três anos, não tive endereço permanente. Para escapar da repressão, minha mãe, que também militava em grupos de contestação à ditadura, mudava-se constantemente. Fui, como tantas outras, uma das crianças da resistência.

Muitos são os significados de ser filho de pais da resistência, separados pela ditadura. Em primeiro lugar, por força das circunstâncias, ganhei uma consciência política de maneira tão precoce quanto natural. Desde muito cedo, tinham de me explicar o que era ditadura, o que era a luta pela democracia, para compreender a distância do meu pai.

Aos quatro anos de idade, minha avó paterna me ensinou a ler e a escrever para poder me comunicar com meu pai. Nas cartas e presentes que chegavam, vivi um pouco da sua vida no exterior. Soube que ele falava outra língua, convivia com outra realidade e fui informado de que tinha ganhado uma madrasta americana, um irmão e depois outro. Pude abraçar minha madrasta anos antes de poder abraçar meu pai e meus irmãos.

Nas cartas que enviava, dividi com ele minha infância no Butantã, o bom desempenho escolar, o fim dos 23 anos de fila do Corinthians no Campeonato Paulista de 1977 e as férias no litoral com minha mãe e meu padrasto. Sabia que essa separação entre pai e filho era consequência de um regime ditatorial, que nos priva da liberdade, que persegue e mata quem tem ideias diferentes.

Também vivi histórias engraçadas. Nos comunicávamos muitas vezes por fitas cassetes, que amigos levavam e traziam. Foi assim que ouvi pela primeira vez a voz dos meus irmãos e eles a minha.

Um dia, quando já tinha mais de dez anos e meu pai tinha voltado para o Brasil, estava jogando bola no quintal da casa da minha avó, meu irmão mais novo perguntou: "Ô, Alexandre, como você jogava futebol quando vivia naquela caixinha?". A caixinha era o gravador e, na inocência de um garoto de quatro anos, era lá que o irmão dele morava, porque era daquele alto falante que saía a sua voz.

Como outras crianças da resistência, tive o privilégio de ter uma família muito ampla. Tenho incontáveis tios da resistência - aqueles solidários amigos e amigas da minha mãe e do meu pai. Eram pessoas que se arriscavam para levar e trazer essas cartas e fitas cassetes, sabedores do valor do diálogo entre um pai e seu filho, entre os irmãos, entre as famílias. Gente que nos acolhia com afeto, que nos protegia nas piores horas porque compartilhava o sentimento de viver perseguido, censurado, agredido. Sou grato a eles.

Como o doutor Ulysses Guimarães, também tenho ódio e nojo da ditadura. Mas não carrego ressentimento. Conto essas histórias com leveza. Tive uma infância incomum, e ela me proporcionou valores firmes: acredito nos benefícios do diálogo, na liberdade de imprensa e opinião, na possibilidade das pessoas reverem suas posições, no valor dos partidos, na capacidade transformadora da sociedade civil.

Vivi a campanha da anistia, as Diretas-Já e fui às ruas como líder estudantil cara-pintada para tirar um Presidente da República do poder pela força da democracia.

Ao lutar pela democracia, meus pais ergueram biografias que os engrandecem. Tenho orgulho da vitória que eles ajudaram a construir.

            Prezado Presidente Jorge Viana, Alexandre Padilha, depois de passar para o Ministro Arthur Chioro a pasta da Saúde, desenvolve agora uma atividade de grande responsabilidade como candidato indicado - ainda falta ser designado oficialmente pela convenção do Partido - para ser Governador do Estado de São Paulo.

            Hoje é um pré-candidato que está percorrendo o Estado. Eu quero aqui dar meu testemunho sobre a qualidade de seu trabalho e da sua formação, que, inclusive, está expressa num artigo tão belo. Entre outros programas pelos quais Alexandre Padilha foi e agora Arthur Chioro é responsável está o Programa Mais Médicos.

            Eu tive a oportunidade, na última segunda-feira, tendo sido convidado pelo Ministro Arthur Chioro, de conversar com os médicos cubanos, os setecentos que estão hospedados no Hotel Celsior, realizando seu treinamento de três semanas. Na última segunda-feira, eu fiz uma palestra para eles, de duas horas, falando sobre as experiências do Brasil com o Bolsa Família e a perspectiva da Renda Básica de Cidadania. E eis que, uma das médicas cubanas, Drª Elisa Maria Rivero, datado de 31 de março, segunda-feira, me escreveu um poema, Senador Jorge Viana, que aqui gostaria de ler para todos conhecerem a forma como os médicos cubanos estão se colocando ao virem para o Brasil:

“Estimado Senador,

Estes [falidos] médicos cubanos

Vêm semear amor

Na floresta e lhano [ou seja: sinceramente].

Temos muito prazer

De ficar neste País

E nós vamos vencer

Toda a dor de raiz

Este povo brasileiro

Pode abrir seu coração

Porque os médicos cubanos

Darão toda sua paixão

Ao entrar no consultório,

Podem se sentir seguros,

Haverá sorriso de ouro

E olhos muito puros.

Somos colaboradores,

Mulheres e homens de ciência,

Levantando as cores

Da paz e consciência.

Um mundo melhor é possível

Amar a humanidade

É a maior tarefa

Repartir felicidade!”

            Senador Jorge Viana, esse poema, inclusive eu o li na ocasião. E perguntei a eles: “Gostariam, as senhoras e os senhores médicos de Cuba que chegam ao Brasil, que eu lesse este poema como uma mensagem de todos os médicos aqui presentes - 700 presentes no auditório - para que o povo brasileiro conheça o sentimento com que estão vindo ao Brasil?”

            E eles: “sim” - pediram que eu lesse. E agora estou aqui cumprindo o meu compromisso, também em uma homenagem ao ex-Ministro Alexandre Padilha, ao atual Ministro Arthur Chioro e à Presidenta Dilma Rousseff, responsável pelo Programa Mais Médicos.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/04/2014 - Página 448