Discurso durante a 49ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

Autor
Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Valdir Raupp de Matos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Comentários sobre relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.
Publicação
Publicação no DSF de 09/04/2014 - Página 98
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • COMENTARIO, ENCONTRO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, MOTIVO, DIVULGAÇÃO, RELATORIO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), REFERENCIA, MUDANÇA CLIMATICA, PLANETA TERRA.

            O SR. VALDIR RAUPP (Bloco Maioria/PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Jorge Viana, Srªs e Srs. Senadores, recentemente, autoridades e cientistas de todo o mundo estiveram reunidos em Yokohama, no Japão, à espera da divulgação da segunda parte do quinto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da Organização das Nações Unidas, conhecido pela sigla em inglês IPCC.

            Os resultados, altamente perturbadores, não foram, no entanto, inesperados. Séculos de contínua agressão ao Planeta têm um preço, e os estudiosos chegaram à conclusão de que o impacto do chamado aquecimento global será - abro aspas - "grave, abrangente e irreversível".

            O documento é a avaliação mais completa já feita sobre o impacto das mudanças climáticas no Planeta. O relatório foi baseado em mais de 12 mil estudos publicados em revistas científicas ao redor do globo, e, nas palavras do Secretário da Associação Mundial de Meteorologia, Michel Jarraud, o texto é "a mais sólida evidência que se pode ter em qualquer disciplina científica". Para o Diretor do IPCC, Rajendra Pachauri, "ninguém neste Planeta ficará imune aos impactos das mudanças climáticas".

            Srªs e Srs. Senadores, mudanças climáticas vão continuar a ameaçar a natureza como a conhecemos e também a vida humana, envolvendo itens como saúde, habitação, alimentação, segurança e transportes.

            O momento dispensa alarmismos, mas requer decisão política e fortes investimentos para que possamos contornar os efeitos mais perversos das mudanças climáticas e mitigar os prejuízos sociais, econômicos e ambientais.

            O teor do documento foi alvo de intensas negociações em reuniões realizadas em Yokohama - e não foca a questão das fontes de financiamento para implementar as ações contra as mudanças climáticas. O IPCC, como órgão técnico, não tem posição a respeito, mas, evidentemente, os países mais pobres esperam que o mundo desenvolvido pague pelas necessárias adaptações às mudanças do clima em todo o Planeta. O tema, certamente, será abordado na 20ª Reunião da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima, a ocorrer no final do ano em Lima, capital do Peru.

            De acordo com as previsões, enchentes e ondas de calor estarão entre os principais efeitos deletérios das mudanças climáticas. A esse respeito, diversos especialistas temem que as cheias do Rio Madeira, por exemplo, que têm inundado alguns Estados da Região Norte do País, entre eles Rondônia, e até mesmo estados da Bolívia, país vizinho, não sejam apenas mera decorrência de fenômenos climáticos conhecidos e sazonais. Ao contrário, Sr. Presidente, as inundações parecem estar vinculadas aos macrofenômenos que ora afetam o clima em escala mundial.

            O meu Estado de Rondônia tem sofrido enormemente com as cheias do Rio Madeira, que subiu quase 20 metros nos últimos três meses, o maior nível histórico. Estima-se que, desde o descobrimento do Brasil, não tenha ocorrido uma enchente nessas proporções naquela região. Na capital, Porto Velho, e também nos arredores, dezenas de ruas, bairros e distritos estão intransitáveis, debaixo d'água. Cerca de dez regiões foram afetadas em todo o território estadual, e há problemas relacionados a transportes, desabastecimento, comércio, indústrias, fazendas, repartições públicas, escolas, hospitais, casas e praças, entre outros.

            Estima-se, Sr. Presidente, um prejuízo de mais de R$1 bilhão com os estragos, os danos causados pelas enchentes do Rio Madeira.

            O Governo Federal tem ajudado na medida do possível. Liberou, há poucos dias, mais um lote de recursos para ajudar as ações de defesa civil em Rondônia. Ao todo, em quatro parcelas, foram liberados recursos da ordem de R$7,5 milhões. Isso é nada. Isso não significa absolutamente nada diante dos estragos que as enchentes têm causado. E o pior ainda virá: após as águas baixarem - e, graças a Deus, já começaram a baixar -, os estragos vão aparecer, e os investimentos serão maiores.

            Espero que a Presidenta da República possa emitir uma medida provisória para fazer frente a todos os danos e à reconstrução das cidades de Porto Velho, Guajará-Mirim, Nova Mamoré, Rolim de Moura, Cacoal, Pimenta Bueno, Ji-Paraná, Costa Marques, e tantas outras atingidas pelas enchentes.

            Mas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os inquietantes resultados expressos pelo mais recente relatório do IPCC nos conduzem a uma reflexão imediata. O homem pode continuar a viver no Planeta Terra sem promover consideráveis mudanças em seu estilo de vida? A resposta, francamente, é não.

            Mas ainda há tempo para tomar medidas.

            Segundo José Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o único brasileiro a coassinar o Relatório sobre Impactos, Adaptação e Vulnerabilidades às Mudanças Climáticas, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, é chegado o momento de agir.

            Para Marengo - abro aspas - "se nada for feito nas próximas duas décadas, poderá não ser mais possível fazer adaptação. Os riscos dos impactos das mudanças climáticas são como uma doença, que, se for diagnosticada e tratada no começo, é possível, em alguns casos, até curá-la”.

            Assim como falou a Senadora Ana Amélia ainda há pouco, na situação do combate ao câncer, na cura do câncer, se a doença for diagnosticada logo no início, a cura será mais fácil.

            E continua Marengo:

Mas se for diagnosticada e tratada no estágio final, ainda que se tenham todos os recursos, se ela estiver fora de controle, não há mais como tratá-la e curá-la. Não há como combater as mudanças climáticas, porque o aquecimento vai continuar. Mas é possível, ao menos, atenuar seus efeitos.

            Eram essas as minhas palavras neste momento, Sr. Presidente. E, mais uma vez, torcendo para que as águas do Rio Madeira possam continuar baixando cada vez mais rápido, para diminuir o sofrimento do povo de Porto Velho, de Nova Mamoré, Guajará-Mirim e também do Estado vizinho do Acre e tantas outras comunidades.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/04/2014 - Página 98