Discurso durante a 53ª Sessão Especial, no Senado Federal

Destinada a celebrar o lançamento da Campanha da Fraternidade de 2014, cujo tema é "Fraternidade e Tráfico Humano", nos termos do Requerimento nº 187/2014, de autoria do Senador Paulo Davim e outros Senadores.

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS, RELIGIÃO, GOVERNO FEDERAL.:
  • Destinada a celebrar o lançamento da Campanha da Fraternidade de 2014, cujo tema é "Fraternidade e Tráfico Humano", nos termos do Requerimento nº 187/2014, de autoria do Senador Paulo Davim e outros Senadores.
Publicação
Publicação no DSF de 16/04/2014 - Página 30
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS, RELIGIÃO, GOVERNO FEDERAL.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, LANÇAMENTO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, PROGRAMA, IGREJA CATOLICA, ASSUNTO, TRAFICO, PESSOAS, CRITICA, INERCIA, GOVERNO FEDERAL, REFERENCIA, COMBATE, CRIME.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco Minoria/PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente, demais componentes da Mesa, eu confesso que não era minha intenção participar desta sessão, confesso que vinha ao plenário fazer minha inscrição para falar de outro tema.

            Como faço todas as tardes, chego cedo, espero, inscrevo-me e falo, todas as tardes, ao meu País querido. Ao chegar, peguei o que estava em cima da minha mesa e fiz uma rápida leitura. Logo percebi a necessidade de subir a esta tribuna. Percebi também que eu estou inscrito para fazer a sabatina da Presidenta da Petrobras, que muito me interessa. E eu devo estar sendo chamado agora, mas corro o risco, e prefiro correr, para poder falar nesta tarde por tão importante tema.

            Primeiro, porque, quando li, senti na pele. Pertenço a um Estado pobre, mas próspero, chamado Pará. Nasci no interior do Pará, numa cidade pequena chamada Salvaterra, na Ilha do Marajó, e vim para a capital aos 12 anos de idade, eu e três irmãos, comandados por uma irmã, que deixou de estudar para tomar conta de nós. Papai era um taberneiro. Hoje, pode-se chamar de comércio, mas, naquela época, era taberna - um pequenino comércio em palafita, feita de barro e pau. Lá eles trabalhavam para nos criar e nos dar estudo. E, por muito tempo, convivi assim.

            Conheci vários e vários padres. Fiz a primeira comunhão na minha terra - o padre ainda era espanhol. E, até hoje, aos meus 68 anos de idade, eu me deparo com a falta de fraternidade naquele território e no meu Estado - tão grande, tão absurda, tão comovente.

            Luiz Azcona, um bispo da cidade de Soure - bem próxima da minha cidade, cinco minutos de barco -, batalhador, competente, sentimentalista, luta com Cristo no coração, mas luta muito para combater este mal que assola o nosso País, que é a falta de fraternidade - e posso dizer até a falta de liberdade, neste momento.

            Vi, com muita angústia, mães vendendo suas filhas - até de dez anos de idade - a troco de alimento, para as barcaças que passam na frente da cidade de Melgaço, da cidade de Breves. Elas levam as filhas numa canoinha a remo, lá as entregam, e as pessoas jogam alimentação para a mãe.

            Luiz Azcona denunciou, nós denunciamos, mas o Governo sempre ausente.

            Nobres Senadores, Senadoras, as leis estão postas. O que falta não é lei. Há lei para tudo isso. O que falta é a atitude dos Governos, é a ação dos Governos.

            O País já se arrasta há muito tempo nessa questão de liberdade, de fraternidade, mas, a cada ano que passa, as coisas se tornam mais graves. Neste momento, nesses anos, o que se vê é a ausência permanente das autoridades do nosso País. Luís Azcona foi a todas as autoridades que poderia ir na direção de conter o crime, o abuso e a falta de sensibilidade. Não conteve. Até hoje está exposto lá. O Senador colaborando, falando, pedindo, indo... E não consegui. Está exposto lá.

            A CNBB, na verdade, representa muito nossa Pátria. Ah, se tivéssemos alguém para seguir estes caminhos, para respeitar Cristo, para fazer algo que pudesse deixar Cristo feliz! Porque, a cada dia, a cada momento, o que se vê nesta Pátria são barbaridades. O que se vê nesta Pátria - meu prezados Senadores Ruben, Mozarildo, Jarbas Vasconcelos, que me escutam - é a Nação mais incompetente para fazer com que o povo brasileiro possa mentalizar o que Cristo disse a todos nós: que nós temos de nos dar as mãos. Parte do ensino! Parte da educação!

            Não seremos nunca uma sociedade leal, se nós não dermos, aos brasileiros e às brasileiras, a educação de que necessitam para poderem entender a vida. Jamais seremos felizes! Jamais!

            No Brasil, é um momento de preocupação com a América Latina, a Venezuela.

            Hoje, peguei a revista Veja, ao viajar da minha cidade para cá, por duas horas e quinze minutos - comprei a Veja no aeroporto de Belém -, eu a folhei e fui ler o atestado de 20 jovens de 18, 17, 21, 20, 24 anos, nessa faixa de idade. Eles confessavam que tinham sofrido agressões do governo venezuelano.

            Ninguém socorre! Ninguém fala nada, Jarbas Vasconcelos! Parece que o mundo não está assistindo a nada! O Governo do Brasil, oficialmente, não dá uma palavra sequer! E o sofrimento mina aquela pátria.

            Neste momento, o que deve estar acontecendo com tantos jovens naquela pátria, e ninguém toma nenhuma satisfação?

            Nosso País arrecada do brasileiro, anualmente - vou tomar como base o ano passado -, a soma de R$2 trilhões. Dois trilhões de reais! É um dos países que mais cobram impostos dos seus filhos. É muito dinheiro!

            Mas o País, hoje, não tem suporte para dar o mínimo de qualidade educacional. Nem vou falar em outros aspectos para não parecer que aqui estou fazendo discurso político.

            Falei em números apenas para mostrar que nós poderíamos ter uma educação melhor, que este tema devia ser tema escolar, liberdade e fraternidade, deveria ser tema escolar, exigido, obrigatório, para que a Igreja pudesse ter um suporte nas suas campanhas, nas suas atitudes, para que a Igreja não ficasse tão angustiada em querer fazer, mas ter muita dificuldade para fazer.

            Pobre País. Querido Brasil.

            Aqui mesmo - vou descer da tribuna -, aqui mesmo, àqueles que me assistem, lutei muito para chegar até aqui. Vou dar apenas um atestado e descer da tribuna. Lutei muito, me iludi muito, pensei que eu vinha para cá, para este Senado, e aqui poderia fazer tanto quanto eu quisesse pela sociedade brasileira.

            Nada se pode fazer.

            Se o povo brasileiro soubesse hoje o que é o Senado Federal, isso aqui já estava queimado, já não existia mais.

            Não se podem fazer mais leis, não se pode fazer fiscalizar ninguém. Essa é a dura realidade, mas tem que ter alguém que tenha a coragem de falar, de dizer. Tiraram a nossa liberdade! E já me tiraram, desta tribuna, a liberdade da expressão, de falar, que a Constituição me garante.

            São momentos terrivelmente tristes os que vivemos nesta Pátria.

            Inventaram uma tal de medida provisória. Avaliem: quando o projeto chega a essa Mesa, o dinheiro desse projeto já foi gasto. Imaginem o que fazemos aqui.

            Eu tenho mais de 100 projetos de lei, um deles preocupado com os meninos de 12, 13 anos do Marajó. Sabem quantas vezes vão votar esse projeto aqui? Nenhuma. Tenho oito anos, completando, como Senador. Nunca consegui colocar um projeto na Mesa para votar. E, depois de oito anos, volto à minha terra revoltado.

            Ao descer, Presidente, quero parabenizar a CNBB por tudo que ela faz para salvar os nossos jovens, os nossos irmãos brasileiros, por toda a luta convincente. Mas precisam dar a mão ao Governo, precisam de apoio. Sem o apoio, não se consegue. Sem o apoio...

            Para descer, Presidente.

            Vou descer com o tema do meu discurso de hoje. Entrei... E vou falar de liberdade.

            Entrei, nesse momento, na sala de arguição da Presidenta da Petrobras, meu caro Jarbas Vasconcelos. Ouvi cinco Senadores. A vontade que me deu...

            Não me inscreveram, mas eu falo, nem que seja à meia-noite.

            A vontade que me deu foi de tirar uma medalha... Não a minha. Esta é minha e morrerá comigo. Esta é a minha Nossa Senhora de Nazaré, que jamais tiro, jamais deixo de usar e vai para o meu túmulo comigo. É a minha protetora, sempre me protegeu, até porque podem dizer o que quiserem de mim, mas fraternidade vem comigo sempre. Sempre digo aqui: vasculhem a minha vida! Procurem a minha vida. Faço oposição há mais de 20 anos e sei que a minha vida toda foi vasculhada, toda, porque dou a mão àquele que precisa. E ela nunca me falhou, nunca!

            Pelo que ouvi do grande problema da maior empresa do mundo, deu vontade de mandar fazer uma medalha de ouro e entregar à Presidenta da Petrobras.

            Ao descer, Presidente, sinceramente, rezo pela Venezuela, mas aprendi também o dever, pela minha preocupação, de rezar pela minha pátria todos os dias.

            Parabéns à CNBB. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/04/2014 - Página 30