Pronunciamento de Eduardo Suplicy em 16/04/2014
Discurso durante a 55ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Reflexões sobre a simbologia da Semana Santa; e outro assunto.
- Autor
- Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
- Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
IGREJA CATOLICA, RELIGIÃO.
MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
JUDICIARIO.:
- Reflexões sobre a simbologia da Semana Santa; e outro assunto.
- Aparteantes
- Vanessa Grazziotin.
- Publicação
- Publicação no DSF de 17/04/2014 - Página 187
- Assunto
- Outros > IGREJA CATOLICA, RELIGIÃO. MANIFESTAÇÃO COLETIVA. JUDICIARIO.
- Indexação
-
- COMENTARIO, FERIADO RELIGIOSO, IGREJA CATOLICA, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS, SENADO, DOCUMENTO, AUTORIA, ARCEBISPO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
- COMENTARIO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, LOCAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), OBJETIVO, REIVINDICAÇÃO, MELHORIA, SITUAÇÃO, EDUCAÇÃO, SAUDE, CRITICA, PARTICIPANTE, OCULTAÇÃO, IDENTIDADE, VIOLENCIA, DESTRUIÇÃO, PATRIMONIO.
- SOLICITAÇÃO, JOAQUIM BARBOSA, PRESIDENTE, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), AQUIESCENCIA, PARECER, AUTORIA, PROCURADOR GERAL DA REPUBLICA, OBJETIVO, AUTORIZAÇÃO, JOSE DIRCEU, CONDENADO, MOTIVO, RECEBIMENTO, MESADA, CUMPRIMENTO, PENA, REGIME SEMI ABERTO.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mozarildo Cavalcanti, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, quero hoje fazer uma reflexão a respeito da Semana Santa, da Páscoa, inclusive uma reflexão com respeito àqueles que ainda ontem, em São Paulo, realizaram uma manifestação de críticas à forma como a Copa do Mundo está sendo organizada e aos seus investimentos.
Ontem, os manifestantes percorreram a Avenida Paulista e a Avenida Rebouças e, depois, foram até a Eusébio Matoso. Mas, ao chegarem à Avenida Eusébio Matoso, eis que algumas pessoas com a indumentária preta - os chamados Black Blocs - resolveram atacar, depredar algumas agências bancárias, utilizando-se de violência.
Eu quero muito, à luz de tudo aquilo sobre o que temos refletido e pregado, dizer o quão importantes são as manifestações dos jovens, do povo brasileiro, mas, sobretudo, é preciso mais uma vez recomendar que tais manifestações sejam realizadas por meios pacíficos.
Agora de manhã, na Comissão de Relações Exteriores, a Senadora Ana Amélia e eu recebemos o Embaixador e a Embaixatriz da Ucrânia, bem como inúmeros representantes de famílias de primeira geração de ucranianos que vieram ao Brasil, sobretudo no Paraná, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e em São Paulo. São 400 mil no Paraná e 100 mil no Rio Grande do Sul e em São Paulo.
Mais uma vez é importante conclamarmos que a resolução dos problemas da Ucrânia se dê de maneira pacífica e não através de meios bélicos, de violência. É preciso que haja o respeito à população, inclusive para que ela tenha o devido direito de escolher viver como ucranianos ou... Se vão tomar uma definição, que essa seja democrática e aceita de acordo com a legislação internacional a respeito da formação dos Estados.
Quero, nesta reflexão sobre a Semana Santa e a conclamação pela paz, trazer reflexões de Leonardo Boff e de Dom Orani Tempesta, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro.
Eu pedi a Leonardo Boff que me enviasse uma reflexão sobre a Páscoa e eis aquilo que ele me enviou:
O Estado brasileiro é laico (não assume nenhuma religião oficialmente) e, ao mesmo tempo, é pluralista (permite todas as religiões, desde que se enquadrem dentro das leis do nosso país, e respeita-as). A páscoa é diretamente uma festa religiosa, mas tem um significado secular e social, porque representa valores importantes para todos como compromisso contra qualquer tipo de opressão, seja contra as mulheres, os afrodescendentes, os indígenas, os homoafetivos e outros e ao mesmo tempo valoriza a liberdade, a luta pela libertação, a esperança de que se superem situações humilhantes para muitas pessoas e por isso se sentem oprimidos.
Então, se os jovens estão realizando manifestações por se sentirem humilhados e querem valorizar a liberdade, a luta pela libertação, a esperança de superarem situações de dificuldades é importante que se manifestem, mas é importante que o façam da maneira mais civilizada e com não violência.
A páscoa [prossegue Leonardo Boff] pode na escola ser estudada como coisa da tradição judaica e cristã. Mais importante é identificar hoje quais são as principais opressões na sociedade e no mundo, quem são os faraós que oprimem, como os oprimidos resistem, se organizam e buscam sua libertação. Quem são essas pessoas e movimentos no Brasil e no mundo? Como a páscoa pode ser ocasião de fazer uma leitura crítica e esperançadora da realidade na qual todos vivemos, pois a páscoa celebra uma libertação de um povo (judeus) e uma vitória sobre a morte pela ressurreição de Cristo (os cristãos). A ressurreição não é simplesmente uma reanimação de um cadáver como Lázaro, mas a irrupção do homem novo, não mais sujeito à morte, mas um ser que realizou totalmente as virtualidades escondidas dentro do ser humano. Portanto, um ser novo que mostra o fim bom da evolução e o destino final da vida humana. Ela passa pela morte mas se transfigura através da morte, ressuscitando. Nós não vivemos para morrer, morremos para ressuscitar, para viver mais e melhor.
Assim, conclui Leonardo Boff numa reflexão que ele encaminhou aos estudantes de uma escola.
Mas quero aqui também ler a reflexão que D. Orani João Tempesta, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, fez especialmente para a Semana Santa:
A Quaresma, que tem como finalidade não só preparar a Igreja para a Páscoa, mas fazer com que o mistério da Páscoa seja vivido já na sua primeira vertente de paixão, pode ser considerada, sob a guia dos textos litúrgicos, como subida com Cristo para Jerusalém, a fim de partilhar o seu mistério pascal. Nos textos bíblicos deste tempo litúrgico volta, mais uma vez, este aspecto fascinante.
Caminhar a Jerusalém não significa, para Jesus, apenas uma peregrinação à cidade santa, mas tem um preciso significado messiânico e teológico que os evangelistas, com diferentes acentos, colocam em relevo. Jesus vai a Jerusalém para aí cumprir a vontade do Pai. Em Jerusalém, acontecerá o encontro decisivo entre Jesus e o sinédrio judaico, totalmente incapaz de se abrir à luz do evangelho, porque obcecado pelo formalismo religioso e pela paixão. Por isso, decidirá matar Jesus (Jo11,53). Os apóstolos têm dificuldade para compreender o significado desse acontecimento repetidamente anunciado por Jesus. Também eles estão impregnados de messianismo terreno e pensam nos primeiros lugares do Reino. Jesus, então, durante a viagem para Jerusalém, vai iniciando-os gradualmente no mistério da cruz, com o ensinamento e a experiência da transfiguração.
A sua palavra ilumina o significado do evento, a transfiguração antecipa a experiência pascal.
Também para a comunidade cristã, a Quaresma constitui-se em peregrinação a Jerusalém, isto é, a morte e ressurreição de Cristo. A Quaresma, portanto, é um novo êxodo, um retorno do exílio para Jerusalém, isto é, para a Páscoa de Cristo, que nos edifica como Igreja.
Seguindo este itinerário, chega-se com fé mais iluminada à Semana Santa ou "grande semana". São dias em que a liturgia celebra, passo a passo, os últimos acontecimentos da vida terrena de Jesus. Por isso, diremos com Paulo VI: "se há uma liturgia, deveria encontrar-nos juntos, atentos, solícitos e unidos para uma participação plena, digna, piedosa e amorosa, esta é a liturgia da grande semana. Por um motivo claro e profundo: o mistério pascal, que encontra na Semana Santa a sua mais alta e comovida celebração, não é simplesmente um momento do ano litúrgico; é a fonte de todas as outras celebrações do próprio ano litúrgico, porque todas se referem ao mistério da nossa redenção, isto é, ao mistério pascal". Por isso, é impensável que um católico não "faça a Páscoa", não celebre a Páscoa, a não ser por razões de dificuldades de locomoção ou falta de celebração local. Somos chamados a viver intensamente esses dias.
A Semana Santa, chamada popularmente de "semana maior", começa com o Domingo de Ramos da Paixão do Senhor.
A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Senador Suplicy.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) -
É a semana em que recordamos a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, ato supremo da redenção da humanidade.
Pois não, Senadora Vanessa Grazziotin.
A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Senador Eduardo Suplicy, sei que faz um belo pronunciamento (Fora do microfone.) acerca deste importante momento, mas peço licença a V. Exª, porque sei que V. Exª vai gostar muito. Apenas para registrar aqui a presença do nosso querido poeta Thiago de Mello, que está em Brasília, na Feira do Livro, participando de inúmeras atividades. Temos a honra de recebê-lo hoje aqui no Senado. Não poderia jamais deixar de fazer esse registro. Em breve faremos algo importante com o poeta querido brasileiro, amazonense, Thiago de Mello, aqui no Senado Federal. Mas, em decorrência de sua passagem por Brasília, faço questão de registrar a sua presença e fazer uma saudação.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Querida Senadora Vanessa Grazziotin, seja tão bem-vindo por todos nós Senadores querido Thiago de Mello. Sua palavra, seus poemas e seus livros são uma bênção para todos nós. Estou agora fazendo uma reflexão sobre a Semana Santa, sobre episódios em que as pessoas que, neste Brasil, como tantas vezes os seus poemas souberam interpretar, tiveram razões tão fortes para realizar protestos, ações, como ainda ontem observamos lá em São Paulo, jovens protestando contra algumas formas como foram feitos os investimentos da Copa. Mas eu aqui quero, refletindo sobre a Semana Santa, dizer como é importante que os jovens se manifestem, mas que procurem realizar os seus protestos com a não violência, a não depredação. Assim, todos nós poderemos melhor ouvi-los e respeitar, e poderão as crianças, os avós, as famílias estarem juntos.
(Soa a campainha.)
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Mas, Sr. Presidente, permita eu ter o tempo para, então, concluir a minha saudação; depois, quero cumprimentá-lo pessoalmente.
[No Domingo de Ramos] [...], aclamamos Jesus como o Messias que vem realizar as promessas dos profetas e instaurar definitivamente o Reino de Deus, da paz, da fraternidade e do amor. Vem nos salvar. Jesus, humildemente, entra em Jerusalém montado em um manso jumentinho, pois ele é o príncipe da paz. Não entra com cavalaria de guerra, pois o cavalo é instrumento bélico, expressão da força e do poderio militar da época. Foi aclamado e reconhecido, por muitos, como rei dos reis. Os ramos são sinais e testemunho da fé em Cristo e na sua vitória pascal. Neste domingo, é feita a coleta do gesto concreto da Campanha da Fraternidade, a ser entregue nas paróquias.
[Daí vem o] Tríduo Pascal (Quinta, Sexta e Sábado): [que representa] a Paixão e Ressurreição do Senhor começa com a Missa vespertina da Última Ceia, [...] [tem] o seu centro na Vigília Pascal, "a mãe de todas as vigílias [...]" e encerra-se com as Vésperas do Domingo da Ressurreição.
Missa da Ceia do Senhor [...]: Recorda-nos [...] a última ceia, quando Ele prediz sua Paixão e Morte, e despede-se dos apóstolos. Neste dia, Jesus instituiu a o sacramento da Eucaristia [...], o sacerdote lava os pés de doze pessoas convidadas, na tradicional cerimônia chamada "Missa do Lava-pés", recordando o gesto de Jesus de lavar os pés de seus discípulos e a dizer: "Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei", significando que devemos servir uns aos outros com total humildade, gratuidade e amor. Ao final da missa se faz a Transladação do Santíssimo Sacramento e [...] a Adoração.
[E na] [...] Sexta-feira Santa [...] a Igreja recomenda o jejum e abstinência total de carne, e acompanha em silêncio os passos de Jesus em seu sofrimento e condenação até sua entrega total com a morte na cruz. Não se celebra missa ou qualquer sacramento e os fiéis comungam as sagradas hóstias consagradas. [...]
[Passo aqui ao] Domingo da Páscoa do Senhor: [...] significa passagem. A Páscoa de Cristo é sua passagem da morte na cruz para a ressurreição. É sua vitória plena e definitiva sobre a morte e todos os males. Desse modo, a ressurreição de Jesus mudou totalmente a história da humanidade e de cada ser humano.
A páscoa cristã é a vida nova em Cristo ressuscitado. Portanto, busquemos esta vida nova - vida reconciliada com Deus e com o próximo. Busquemos também nesta semana intensificar ainda mais a nossa oração e a nossa participação dos eventos centrais na vida de Jesus [...].
(Soa a campainha.)
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) -
É o grande grito que nos faz cumprimentar a todos: Cristo Ressuscitou! "Verdadeiramente ressuscitou".
Peço, Sr. Presidente, que seja transcrita na íntegra, porque pulei alguns trechos para cumprir o tempo.
Eu gostaria, Sr. Presidente, de, no meu encerramento, fazer um apelo aqui ao Presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, para que, numa atitude humanitária, compreensiva, diante de tudo que ocorreu com José Dirceu, possa atender o parecer do Procurador-Geral, Rodrigo Janot, que deu um parecer favorável no sentido de que José Dirceu possa, sim, cumprir o regime semiaberto ao qual foi condenado e que possa, portanto, realizar o trabalho no escritório de advocacia do advogado Gerardo Grossi, que vai dar a oportunidade de José Dirceu ali trabalhar como um assessor jurídico. Que possa, então, sem qualquer ressentimento de qualquer coisa, simplesmente atender o apelo do advogado e o parecer do Procurador-Geral, Rodrigo Janot, que disse que, sim, José Dirceu pode trabalhar e cumprir o regime semiaberto no escritório que lhe ofereceu uma oportunidade de trabalho.
Era o apelo que eu iria fazer, para concluir a minha reflexão sobre a Semana Santa e a Páscoa, Sr. Presidente, renovando o apelo aos que, por vezes, realizam ações de depredação, de violência, que evitem e façam sempre seus protestos, que são mais do que válidos em nossa democracia, mas sempre respeitando o próximo, respeitando as instalações físicas de qualquer propriedade pública ou propriedade privada, evitando-se, portanto, a violência. Como Jesus, usem o jumento e não o cavalo que, naquela época, significava a guerra e a violência.
Muito obrigado.
DOCUMENTO ENCAMINHADO PELO SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.
(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)
Matéria referida:
- “Semana Santa”, Dom Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro, CNBB, segunda, 14 de abril 2014.