Discurso durante a 66ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem às mães do país em razão do Dia das Mães, domingo próximo; e outro assunto.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem às mães do país em razão do Dia das Mães, domingo próximo; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 09/05/2014 - Página 242
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, MÃE, SOLIDARIEDADE, VITIMA, DESAPARECIMENTO, FILHO.
  • HOMENAGEM, MUNICIPIO, LAGOA VERMELHA (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ANUNCIO, LANÇAMENTO, SEMANA, CELEBRAÇÃO, COMEMORAÇÃO, EMANCIPAÇÃO.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Caro Presidente desta sessão, Senador Paulo Paim, caro Deputado Weliton, do PT de Minas Gerais, caros colegas Senadores e Senadoras, nossos telespectadores da TV Senado e ouvintes da Rádio Senado, o Senador Eunício Oliveira, que me antecedeu nesta mesma tribuna, encerrou seu pronunciamento fazendo uma homenagem às mães. Eu começo pelo fim do pronunciamento do Senador Eunício Oliveira, aproveitando a presença das agentes de trânsito que vieram aqui, com os colegas agentes de trânsito, para defender um direito e uma reivindicação, que é a aprovação da PEC nº 77.

            A essas mães, que estão fazendo o múltiplo papel de mães, profissionais, donas de casa, que têm uma complexa atividade, a vocês que estão presentes no plenário, hoje, as minhas homenagens, as nossas homenagens.

            Eu queria antecipar, por isso, as homenagens e os cumprimentos a todas as mães brasileiras, inclusive aquelas que exercem a generosa e complexa arte da maternidade fora do nosso País. Cumprimento essas mulheres tão especiais, que, dia a dia, se dedicam, com empenho e dedicação maternal, ao trabalho, à família, sobretudo no cuidado com os filhos e filhas, naturais ou adotivos.

            Quero me solidarizar, sobretudo, com todas as outras mães que sofrem pela distância dos seus filhos, pela ausência de informações ou mesmo com aquelas que tragicamente foram obrigadas a partir desta vida sem ver completada a missão de ser mãe, como foi o caso trágico da Fabiane Maria.

            A Fabiane Maria, essa jovem era mãe de dois filhos e foi espancada brutalmente, linchada pelos vizinhos até a morte, em Guarujá, São Paulo, acusada, sem provas, de ser sequestradora de crianças e de praticar “magia negra". Os filhos de Fabiane passarão o próximo domingo, o Dia das Mães muito tristes, sem a companhia da mãe.

            Quero homenagear também as mães angustiadas que ainda não reencontraram seus filhos. Só no ano passado, mais 5.371 crianças e adolescentes estavam desaparecidos no Rio Grande do Sul, nosso Estado, Senador Paim, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado, Senador Pedro Simon, também aqui no plenário. Ao todo, Senador Simon, são 10.266 gaúchos desaparecidos em 2013 sem qualquer informação. Neste ano, o número de pessoas desaparecidas, crianças e adultos, homens e mulheres, no nosso Estado, alcançou um total alarmante e assustador de 2.369.

            A auxiliar de serviços gerais Alzenira Nascimento, de 36 anos, e a dona de casa Elisângela Gregório, de 33 anos, são casos de mulheres com as vidas marcadas pelo mesmo drama. Uma reportagem da Rede Amazônica mostra que elas vivenciam a dor de não saber o paradeiro das filhas, que desapareceram misteriosamente ainda quando crianças em Manaus, no final dos anos 2000. As duas amazonenses são mães das Saras, a Shara Ruana e a Sarah Letícia. Desde o primeiro desaparecimento, há quase sete anos, nenhum dos casos foi desvendado pela polícia no Estado do Amazonas. Em mais um ano, as duas passarão o Dia das Mães longe das filhas, sem o carinho e, sobretudo, com a aflição de saber se as meninas estão vivas.

            Para essas e todas as mães dedico esse dia, que deve ser recordado todos os dias para que não seja apenas, como lembrou o Senador Benedito, uma data comercial de compra de presentes, mas uma data em que se reconheça com gratidão essa dedicação que só as mães sabem dar aos seus filhos.

            E me permitam, caros colegas e, sobretudo, caros ouvintes, ler um texto que Lya Luft, mãe, escritora brilhante, escreveu:

Que nossa vida, meus filhos, tecida de encontros e desencontros, como a de todo mundo, tenha por baixo um rio de águas generosas, um entendimento acima das palavras e um afeto além dos gestos - algo que só pode nascer entre nós. Que quando eu me aproxime, meu filho, você não se encolha nem um milímetro com medo de voltar a ser menino, você que já é um homem. Que quando eu a olhe, minha filha, você não se sinta criticada ou avaliada, mas simplesmente adorada, como desde o primeiro instante.

Que, quando se lembrarem de sua infância, não recordem os dias difíceis (vocês nem sabiam), o trabalho cansativo, a saúde não tão boa, o casamento numa pequena ou grande crise, os nervos à flor da pele - aqueles dias em que, até hoje arrependida, dei um tapa que ainda agora dói em mim, ou disse uma palavra injusta. Lembrem-se dos deliciosos momentos em família, das risadas, das histórias na hora de dormir, do bolo que embatumou, mas que vocês, pequenos, comeram dizendo que estava maravilhoso. Que pensando em sua adolescência não recordem minhas distrações, minhas imperfeições e impropriedades, mas as caminhadas pela praia, o sorvete na esquina, a lição de casa na mesa de jantar, a sensação de aconchego, sentados na sala cada um com sua ocupação.

Que quando precisarem de mim, meus filhos, vocês nunca hesitem em chamar: mãe! Seja para prender um botão de camisa, ficar com uma criança, segurar a mão, tentar fazer baixar a febre, socorrer com qualquer tipo de recurso, ou apenas escutar alguma queixa ou preocupação. Não é preciso constrangerem-se de ser filhos querendo mãe, só porque vocês também já estão grisalhos, ou com filhos crescidos, com suas alegrias e dores, como eu tenho e tive as minhas. Que, independendo da hora e do lugar, a gente se sinta bem pensando no outro. Que essa consciência faça expandir-se a vida e o coração, na certeza de que aquela pessoa, seja onde for, vai saber entender; o que não entender vai absorver; e o que não absorver vai enfeitar e tornar bom.

Que quando nos afastarmos isso seja sem dilaceramento, ainda que com passageira tristeza, porque todos devem seguir seu caminho, mesmo que isso signifique alguma distância: e que todo reencontro seja de grandes abraços e boas risadas. Esse é um tipo de amor que independe de presença e tempo. Que quando estivermos juntos vocês encarem com algum bom humor e muita naturalidade se houver raízes grisalhas no meu cabelo, se eu começar a repetir histórias, e se tantas vezes só de olhar para vocês meus olhos se encherem de lágrimas: serão apenas de alegria porque vocês estão aí. Que quando pareço mais cansada vocês não tenham receio de que eu precise de mais ajuda do que vocês podem me dar: provavelmente não precisarei de mais apoio do que do seu carinho, da sua atenção natural e jamais forçada. E, se precisar de mais que isso, não se culpem se por vezes for difícil, ou trabalhoso ou tedioso, se lhes causar susto ou dor: as coisas são assim. Que, se um dia eu começar a me confundir, esse eventual efeito de um longo tempo de vida não os assuste: tentem entrar no meu novo mundo, sem drama nem culpa, mesmo quando se impacientarem. Toda a transformação do nascimento à morte é um dom da natureza, e uma forma de crescimento.

Que em qualquer momento, meus filhos, sendo eu qualquer mãe, de qualquer raça, credo, idade ou instrução, vocês possam perceber em mim, ainda que numa cintilação breve, a inapagável sensação de quando vocês foram colocados pela primeira vez nos meus braços: misto de susto, plenitude e ternura, maior e mais importante do que todas as glórias da arte e da ciência, mais sério do que as tentativas dos filósofos de explicar os enigmas da existência. A sensação que vinha do seu cheiro, da sua pele, de seu rostinho, e da consciência de que ali havia, a partir de mim e desse amor, uma nova pessoa, com seu destino e sua vida, nesta bela e complicada terra. E assim sendo, meus filhos, vocês terão sempre me dado muito mais do que esperei ou mereci ou imaginei ter.

            Grata a Lya Luft por nos ter brindado com esse texto tão bonito, que fala sobre o que é a arte de ser mãe. E grata à minha mãe, Selene, onde ela estiver, em algum espaço sideral, no céu, em algum lugar bonito, por tudo que fez por seus nove filhos, dos quais eu sou a mais velha.

            Hoje é o dia de celebrar as mães. E, quando a gente fala nas mães, a gente pode falar também da terra da gente, porque a terra é mãe. E, por isso, aproveito também, ao mesmo tempo em que falo das mães e as homenageio, para falar da minha mãe-terra, a minha Lagoa Vermelha, que vai lançar hoje a Semana do Município, como celebração dos 133 anos de emancipação, que serão comemorados no próximo sábado. Sábado, dia da minha terra; domingo, Dia das Mães.

            Aliás, o nosso grande Érico Veríssimo, Senador Pedro Simon, Senador Paim, Senador Acir, Senador Alvaro, já dizia: "Enquanto houver lume num lar hospitaleiro, haverá ainda na terra um rasto de esperança".

            Falo isso porque a administração municipal da minha cidade natal, Lagoa Vermelha, que fica a 260km de Porto Alegre, sob o comando do Prefeito Getulio Cerioli, do seu Partido, Senador Acir, lança, hoje, essa Semana do Município, comemorativa aos 133 anos da emancipação.

            É com muito carinho que recordo esse Município de quase 30 mil habitantes, localizado no nordeste do Rio Grande do Sul, na região que tem o bonito nome de Campos de Cima da Serra, que sempre acolhe bem todas as pessoas que ali chegam porque é chamada a Cidade da Amizade.

            Como disse e escreveu outro escritor e mestre na língua portuguesa, Luno Volpato:

A terra natal exerce um fascínio e uma simbologia muito forte na trajetória de cada um, afinal, foi lá que tudo começou. Pouco importa, neste caso, a localização geográfica, a dimensão, a capacidade econômica, o continente em que se esconde, pois a terra natal tem a topografia e a linguagem da alma humana. Ela é mais do que apenas um lugar, é o berço da família, dos primeiros sorrisos e lágrimas, dos primeiros desejos e frustrações, dos olhares mais puros, da primeira fala e dos primeiros de uma série de tombos. Enfim, das raízes que fazem a história de todos nós.

            Nasci no pequeno distrito de Clemente Argolo, chamado, também, carinhosamente, de Estância Velha, porque era um lugar de fazendas e criação de gado. Foi uma referência em minha vida porque, ali, em Lagoa Vermelha, foi onde concluí o ensino médio e cursei a escola normal, como era chamado o curso para formação de professores do ensino fundamental, graças a uma bolsa de estudo, em todos os dois cursos, concedida pelo ex-Governador Leonel Brizola. Cumprimento-o e, por isso, faço referência. É uma gratidão enorme que tenho a ele, por ter me concedido essa bolsa.

            E cumprimento meus conterrâneos lagoenses, na pessoa do seu Prefeito, nosso Getulio Cerioli, e do Presidente da Câmara Municipal, que é a representação do povo. Luiz Carlos Kramer, do meu Partido, e que representa a população dos lagoenses e das lagoenses. Estou muito orgulhosa de ser dessa terra.

            Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/05/2014 - Página 242