Pela Liderança durante a 69ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com o aumento da inflação no país; e outro assunto.

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
ECONOMIA NACIONAL. POLITICA ENERGETICA.:
  • Preocupação com o aumento da inflação no país; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 13/05/2014 - Página 447
Assunto
Outros > ECONOMIA NACIONAL. POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • APREENSÃO, SITUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, ENFASE, CRESCIMENTO, INDICE, INFLAÇÃO.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, RELAÇÃO, IMPLANTAÇÃO, PROGRAMA, REDUÇÃO, TARIFAS, ENERGIA ELETRICA, MOTIVO, PREJUIZO, EMPRESA, RESULTADO, INVESTIMENTO, PRODUÇÃO, ENERGIA.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco Minoria/DEM - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, não combinei com o Senador Alvaro Dias, mas a minha palavra de preocupação hoje e de alerta tem muito a ver com o que S. Exª acabou de falar, com uma componente que recolhi das conversas que tive, neste fim de semana, no meu Estado e fora do meu Estado, com pessoas do povo, principalmente no que diz respeito à preocupação com a inflação.

            Tive a oportunidade, há uns 15 dias, de mencionar uma conversa que tive com uma caixa, uma moça a quem eu estava pagando, com minha esposa, a conta de uma feira num domingo. E a observação que ela fez na hora em que lhe perguntei se as pessoas estavam reclamando muito da alta no preço da feira... Ela levantou o rosto e disse, com muita franqueza, reclamando, e muito - reclamando, e muito...

            Para mim aquilo falou tudo, porque ela traduziu o que tenho percebido: há uma preocupação, uma queixa geral nas classes em que a compra do alimento é uma coisa que está diretamente ligada ao poder de compra de cada um, porque existem famílias no Brasil, as de classe A e B, para quem a feira não pesa tanto no orçamento doméstico. Mas, para as famílias de classe C, D, E, a feira é tudo, e o poder de compra é violentamente afetado pela inflação.

            Na hora em que a inflação se instala, a primeira coisa que as pessoas perdem é poder de compra. Elas passam a não poder comprar, de 15 em 15 dias, a mesma coisa que compravam, a mesma quantidade de alimentos, de produtos, de medicamentos, enfim, daquilo que o seu dia a dia exige.

            Uma coisa que pude perceber... Fui a Pau dos Ferros, a Francisco Dantas, a Portoalegre e a Riacho da Cruz, Municípios do Alto Oeste do meu Estado, e duas coisas me foram ditas lá, nesses Municípios, onde até está chovendo. O pasto está abundante, não há muita água junta, mas o clima não é de tensão, Senador Figueiró, as pessoas estão aliviadas até, porque choveu um pouco. As pessoas até têm a expectativa de vir a colher uma safra porque é como eles dizem... O inverno lá é a época de chuva, como o Senador Inácio Arruda sabe. O inverno deste ano é inverno plantador, me disse o Prefeito de Angicos, é o inverno fino, frequente, constante, onde em se plantando feijão ou milho a safra vem, porque a planta é alimentada com permanência por chuva, o que faz com que a planta frutifique e dê uma safra boa.

            Mas eu conversava com as pessoas enquanto fazia essas constatações todas. E as pessoas com um espírito leve me diziam claramente uma coisa que eu não tinha me apercebido: quando as pessoas tinham uma rendazinha suficiente para elas fazerem a feira de 15 em 15 dias, elas não se apercebiam com tanta profundidade da elevação dos preços dos produtos, do óleo, do feijão, da farinha, da carne, do frango, da manteiga, enfim, daquilo que comem, daquilo que compram para comer, porque o orçamentozinho era suficiente para fazer a feira de 15 em 15 dias.

            Com a instalação da inflação que vem ocorrendo progressivamente de uns tempos para cá, as pessoas começaram a perder a condição de fazer a feira quinzenal e passaram a fazê-la semanalmente para poderem fazer a pechincha, para poderem tentar, com o pouco dinheiro de que dispõem, comprar aquilo que podem comprar tendo o dinheiro no bolso para fazê-lo. Aí, a avaliação dos preços passa a ser semanal e não mais quinzenal e a percepção da inflação é muito mais real, é muito mais verdadeira, é muito mais frequente, é feita de semana em semana.

            E as pessoas estão claramente preocupadas com a inflação, incomodadas com a inflação, que não é aquela anunciada a cada intervalo de tempo pelo Governo. Porque a inflação de alimentos é bem maior do que a inflação geral. A inflação de alimentos hoje, lamentavelmente, anda às voltas de 9% ou 10%, enquanto a inflação anunciada chega a 6,25% ou 6,30%, se bem que em ascensão. E uma coisa, Senador Figueiró, no Governo Dilma quase em mês nenhum se atingiu

a meta de inflação para o centro da meta, de 4,5% a 6,5%, sempre esteve muito acima do centro da meta. Não quero dizer que 6,5% seja uma inflação catastrófica, mas é uma inflação que já está incomodando as pessoas e prejudicando-as no seu poder de compra. E aí é onde entra a colocação que quero fazer.

            Quando a Presidente da República assumiu, prometeu que, no final do governo dela, os juros seriam menores, a inflação seria menor e os investimentos seriam muito maiores. Os juros estão maiores, a inflação está maior e os investimentos são ridículos. É tudo pior! Até aí se aguenta bem, o que não se aguenta é o que vou dizer, que é a minha razão maior de preocupação.

            Senador Figueiró, a Presidente Dilma foi Ministra de Minas e Energia, ela é tida como uma grande gerente, como uma administradora de mão cheia e uma craque em matéria de administração de energia. Sua Excelência, no ano passado, ocupou uma cadeia de rádio e televisão para anunciar o abaixamento de 20% na tarifa de energia elétrica. Eu como brasileiro, como V. Exª, como os senhores todos e como os milhões de brasileiros que assistiram confiei completamente, porque quem estava anunciando aquilo, primeiro, era a Presidente da República; segundo, era a gestora anterior das Minas e Energia; terceiro, era uma expert teoricamente em matéria de capacidade do Brasil de produzir e entregar energia para os seus consumidores. Era, portanto, um anúncio feito, em cadeia de rádio e televisão, de forma bombástica, no qual os brasileiros confiaram por inteiro.

            Não deu seis meses, o anúncio feito em cadeia de rádio e televisão de que a tarifa de energia elétrica iria cair 20% produziu o que lamentavelmente estamos assistindo. Confesso a V. Exª que estou apavorado, não só com o apagão que pode vir a acontecer, mas com o apagão da inflação que vai recrudescer em 2015.

            A Presidente, quando anunciou, deveria ter a obrigação de saber qual era a capacidade instalada de energia hidroelétrica brasileira. Deveria ter a obrigação de saber que a energia eólica implantada por mãos privadas, os cata-ventos do Ceará, do Rio Grande do Norte, da Bahia estariam prontos e os linhões estariam prontos para transportar energia eólica, que a energia hidroelétrica seria insuficiente, que a energia eólica alternativa estaria funcionando e que as termoelétricas poderiam ficar quietinhas onde elas estavam. Elas não precisariam produzir energia cara na base de carvão, ou de gás, ou de óleo diesel, ou de BPF. Elas ficariam quietinhas porque a Presidente estava anunciando um abaixamento de 20% na tarifa de energia e, portanto, o brasileiro tinha o direito de entender que ela, ex-Ministra, sabia o que estava dizendo. Até porque estava assumindo uma responsabilidade pesada porque era a gestora da área, era a principal executiva do Poder Público brasileiro. Devia saber o que estava falando.

            Lamentavelmente, a realidade de agora é o desastre anunciado. No meu Estado, nós temos inúmeros parques eólicos prontos, os cata-ventos girando e os linhões, por mau planejamento do poder estatal - é a Chesf que não executa -, os linhões não estão prontos e a energia elétrica é produzida e jogada no ar. Enquanto isso, do lado do meu Estado, a termoelétrica - a Termoaçu - girando direto, consumindo combustível seguramente importado - ou carvão, ou gás, ou óleo diesel, ou BPF - para produzir energia elétrica cara.

            Que produziu o quê? Aí é onde entra minha preocupação. Como nós estamos... E agora o nível dos reservatórios da energia hidrelétrica está perigosamente baixo e as termoelétricas - essas é que têm que rodar porque a energia eólica não funcionou, as hidrelétricas não estão funcionando naquilo que o brasileiro tinha o direito de imaginar -, então a compensação tem que vir das termoelétricas, queimando combustível importado e produzindo energia no limite do kW/h, limite superior de R$822,00 por kW/h.

            Resultado: além de não ter o rebaixamento de 20% porque o aumento já voltou a acontecer, há uma conta de R$11,2 bilhões a ser paga. Essa conta já foi anunciada. É um empréstimo que o órgão coordenador das distribuidoras vai tomar para repassar para as distribuidoras porque elas não aguentam. Porque estão comprando energia elétrica caríssima das termoelétricas e, para vender ao consumidor pela tarifa comprimida prometida pela Presidente - se bem que já majorada -, estão com um déficit que o Governo vai compensar através de um empréstimo que será pago com a tarifa do próximo ano, quando, aí sim, vai recrudescer a inflação para arrebentar. Ou seja, o anúncio da Presidente guardou uma inflação para ser deflagrada a partir de 2015. O número já está posto: R$11,2 bilhões.

            E agora, não satisfeitas, as distribuidoras de energia elétrica, que pediram a compensação, as distribuidoras, as concessionárias, a Cosern, do meu Estado, a sua concessionária, que estão pagando o pato do anúncio da Presidente e acumulando um déficit que vai ser compensado por um empréstimo que quem vai pagar será V. Exª, eu e todos os brasileiros, com a tarifa que virá em 2015... Agora tem outra: as geradoras, e não mais apenas as distribuidoras - as distribuidoras compram a energia de quem produz e revendem, compram e revendem -, como estão revendendo por um preço maior do que preço pelo qual estão comprando, estão querendo, estão precisando desse empréstimo para não quebrar. E o Governo, que prometeu uma coisa, está conseguindo um empréstimo que vai cobrar do cidadão no próximo ano. Não neste ano, porque é ano de eleição, mas está guardando para o próximo ano.

            E agora vêm as geradoras. Como o nível da água baixou, as geradoras hidroelétricas estão com o mesmo problema e vão ter, também elas, para suprir o Brasil de energia elétrica, de apelar para termoelétricas, com energia mais cara. E já estão conversando com o Governo sobre também o subsídio, sobre o empréstimo ou algum tipo de subsídio.

            Presidente Paim, Senador Inácio Arruda, Senador Figueiró, estou imaginando o tamanho da bomba que está por vir por uma questão de incúria administrativa, guardada para 2015.

            O valor de R$11,2 bilhões foi o empréstimo anunciado. O próximo é o das geradoras de energia elétrica. Nós estamos em um processo de perda de controle administrativo. Dizem-me que a Presidente da República vai amanhã, inaugurar alguma coisa na transposição do São Francisco lá no Estado do Ceará.

            Eu queria - ah, como eu queria! -, principalmente há 3 meses, quando as chuvas não vinham e o estado de angústia se instalava em meu Estado, como eu gostaria que a transposição do São Francisco já estivesse executada. Toda a obra já era para ter sido inaugurada em 2010. Nada! Coisa alguma! O que existe são pedaços de canal, feito aos pedaços, por incúria administrativa. A razão de a transposição não estar feita é que a obra foi licitada, foi posta em concorrência sem projeto. Como você faz concorrência de uma obra sem projeto? Faz quando quer vender politicamente, eleitoralmente uma obra, como foi feito. Resultado: como não tinha projeto, tanto atrasa como dispara no preço, porque o que imaginavam que fosse cortar solo ia cortar rocha. Aí o preço se multiplica! Isso para não falar em otras cositas más.

            Eu digo isto tudo, Presidente Paim, Senador Figueiró, porque a minha preocupação é com o que estou ouvindo na rua. A inflação está de volta, lamentavelmente, principalmente nos alimentos, e a inflação, pelo que estou vendo, vai ser violentamente realimentada, a partir de 2015, por um presente de grego que aguarda a população do Brasil e o próximo governo, seja quem for o Presidente da República. Tudo por falta ou defeito de gestão do atual Governo, em quem o Brasil tanto confiou.

            Eu trago estas palavras de advertência, de preocupação, porque o brasileiro é gente de fé. O brasileiro está aguardando a Copa do Mundo como um alento, como uma diversão. O brasileiro não merece o que está ocorrendo: governo feito na base de promessa feita e promessa não cumprida, um país que está perdendo oportunidades seguidas de se colocar bem no panorama internacional das nações, um país que está perdendo essas oportunidades todas por demagogia, por ausência de capacidade administrativa, por arrogância de governo, que, na minha opinião, tem data marcada para terminar. Queira Deus que tenha data marcada para terminar!

            Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/05/2014 - Página 447