Fala da Presidência durante a 66ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem póstuma ao cantor Jair Rodrigues, falecido em 08 do corrente.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem póstuma ao cantor Jair Rodrigues, falecido em 08 do corrente.
Publicação
Publicação no DSF de 09/05/2014 - Página 286
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, SOLIDARIEDADE, FAMILIA, MORTE, CANTOR, MUSICA POPULAR, BRASIL.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Parabenizo o Senador Anibal Diniz, pelo seu pronunciamento, e, principalmente, pela defesa que fez, também, na Comissão, junto com os outros Sena- dores. Foi por unanimidade a aprovação do projeto de cotas para negros no serviço público. Eu tive a alegria de participar daquela sessão histórica.

    Eu sei que a TV Senado está aguardando para que eu faça um programa sobre o tema, mas eu tenho que fazer um depoimento, agora, no encerramento da sessão, que vai me prender, aqui, por uns cinco minutinhos.

    Hoje, faleceu, em São Paulo, Jair Rodrigues, e não poderíamos deixar de fazer, aqui, uma pequena homenagem a ele, aos seus milhões de fãs e familiares.

    Jair Rodrigues nos deixou, nesta manhã de quinta-feira, aos 75 anos. Ele foi encontrado morto na sauna de sua casa, por volta das 10 horas, em São Paulo.

    O velório do corpo do cantor, conhecido por sucessos como Deixa Isso Pra Lá e por suas parcerias com a grande gauchinha, inesquecível, Elis Regina, será realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo.

    Jair Rodrigues de Oliveira nasceu em Igarapava, interior de São Paulo, em 6 de fevereiro de 1939.

    Depois de passar a infância e adolescência cantando em corais de igreja, começou a carreira profissional como crooner de casas noturnas, em 1957. No ano seguinte, participou de seu primeiro concurso de calouros.

    Na década de 1960, mudou-se para a capital, São Paulo, onde trabalhou como engraxate, mecânico, ser- vente de pedreiro e ajudante de alfaiate, enquanto tentava se estabelecer na música. Começou a se destacar principalmente cantando sambas.

    Seu primeiro sucesso foi Deixa Isso Pra Lá, lançado em seu segundo disco, Vou de Samba com Você, de 1964. Considerada a precursora do rap nacional, por conta do refrão falado, foi eternizada pela clássica coreografia que o cantor fazia com as mãos. Não à toa, nomes como Rappin Hood e Emicida lamentaram a morte “do primeiro rapper do Brasil”.

    Em 1965, Jair substituiu Baden Powell num show no Teatro Paramount, em São Paulo. Foi quando dividiu o palco pela primeira vez com a também estreante Elis Regina, que viria a ser sua primeira parceira profissional. Juntos, lançaram o disco Dois na Bossa. O sucesso do álbum levou os dois a formar a dupla Jair e Elis, que assumiram o programa O Fino da Bossa, da TV Record.

    O canto poderoso e a simpatia garantiram sua popularidade nos anos seguintes, gravando discos e participando de festivais, além de fazer shows em países como Portugal, Alemanha, França, Itália, Estados Unidos, Japão.

    Com formação de crooner, versátil, passou por diversos gêneros, sem nunca se distanciar do samba, em álbuns como Jair de Todos os Sambas (1969), Festa Para um Rei Negro (1971), Antologia da Seresta (1979), La- mento Sertanejo (1991) e A Nova Bossa (2004).

    Tim Maia costumava dizer que Jair Rodrigues era o “careta mais maluco que já viu”. O crítico e pesquisa- dor de música Ricardo Cravo Albin contou, em entrevista que o cantor tinha o apelido “cachorrão”, por ser um amigo muito fiel, amigo de todos.

    Em 2006, o artista foi o grande homenageado do Prêmio Tim de Música, numa festa no Teatro Municipal. Na noite, foram lembrados seus sucessos, cantados por duplas como Germano Mathias com Roberta Sá e Alcione com Diogo Nogueira. O tributo teve ainda Zigue Zague com Rappin Hood - com quem Jair gravara Disparada, em versão rap no ano anterior - e Deixa Isso Pra Lá, em ritmo de tamborzão com Lulu Santos.

    O último trabalho de Jair foram os CDs Samba Mesmo, volumes 1 e 2, lançados em março de 2014. No projeto, idealizado pelo filho Jair Oliveira, ele registra 26 canções que nunca tinha gravado, como Fita Amarela e No Rancho Fundo, além de apresentar três inéditas. Na mesma época, participou do DVD comemorativo dos 30 anos de carreira de seu filho.

    Preocupado em contar sua história, Jair estava preparando sua biografia, com a ajuda dos filhos, os também músicos Jairzinho e Luciana Mello. Conforme contou para o Diário de SP em julho de 2013, ele descreveria no livro sua relação de amizade com o rei Roberto Carlos nos anos 1960 e as baladas que frequentava quando solteiro, com figuras como Raul Seixas e Wando.

    Atento à saúde, Jair costumava dizer em entrevistas que cuidava bem do corpo, sempre indo a médicos e praticando exercícios. Não era raro vê-lo de ponta-cabeça, em uma das mais clássicas e complexas posições da ioga, em camarins e até no palco. Isso mesmo depois dos 70 anos. O cantor que falece hoje deixa também quatro netos - dois de cada filho - e a mulher Clodine.

    Termino, nessa homenagem, com uma letra que adorava muito de Jair, que é Disparada:

Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão

Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar

Aprendi a dizer não, ver a morte [que agora ele encontrou] sem chorar E a morte, o destino, tudo, a morte e o destino, tudo

Estava fora do lugar, eu vivo pra consertar Na boiada já fui boi, mas um dia me montei

Não por um motivo meu, ou de quem comigo houvesse Que qualquer querer tivesse, porém por necessidade Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu Boiadeiro muito tempo, laço firme e braço forte

Muito gado, muita gente, pela vida segurei Seguia como num sonho, e boiadeiro era um rei

Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo

E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando As visões se clareando, até que um dia acordei

Então não pude seguir valente em lugar tenente

E dono de gado e gente, porque gado a gente marca Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente Se você não concordar não posso me desculpar

    Aí ele termina dizendo:

Não canto pra enganar, vou pegar minha viola Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei

Não por mim nem por ninguém, que junto comigo houvesse Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu

Por qualquer coisa de seu querer ir mais longe do que eu Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo

Já que um dia montei agora sou cavaleiro

Laço firme e braço forte num reino que não tem rei

    E, assim, Jair Rodrigues deve estar nas patas do seu cavalo, galopando, galopando lá, no céu. Grande Jair Rodrigues.

    Termino dizendo:

Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão

Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/05/2014 - Página 286