Discurso durante a 72ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a realização da Copa do Mundo no Brasil; e outro assunto.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE. EXERCICIO PROFISSIONAL, SENADO.:
  • Considerações sobre a realização da Copa do Mundo no Brasil; e outro assunto.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 16/05/2014 - Página 377
Assunto
Outros > ESPORTE. EXERCICIO PROFISSIONAL, SENADO.
Indexação
  • COMENTARIO, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, APOIO, LEGITIMIDADE, PROTESTO, RESPEITO, DEMOCRACIA, DESAPROVAÇÃO, MOTIVO, AUSENCIA, INFORMAÇÃO, CRITICA, ATUAÇÃO, FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE FUTEBOL ASSOCIATION (FIFA), ENFASE, PRESERVAÇÃO, BRASIL, IMPORTANCIA, SEPARAÇÃO, EVENTO, ESPORTE, MUNDO, ELEIÇÕES, ESCLARECIMENTOS, INVESTIMENTO, CITAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO, DEMANDA, BRASILEIROS, NECESSIDADE, AUMENTO, GASTOS PUBLICOS, DEFESA, GESTÃO, GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), AGNELO QUEIROZ, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), BENEFICIO, PROPOSTA, AUTORIA, ORADOR, CONVERSÃO, ESTADIO, ESPAÇO, ATENDIMENTO, CIDADÃO.
  • COMENTARIO, REUNIÃO, DECISÃO, EMPREGADO, TELEVISÃO, SENADO.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Eu queria cumprimentar V. Exª, Presidente, e todos que aqui estão, colegas nossos de trabalho na Casa.

            Eu venho tratar de outro tema, mas já trouxe, na abertura dos trabalhos, a informação de que o Presidente da Casa, certamente hoje, tem intenção de fazer um comunicado ao País, especialmente aos profissionais da área, sobre o resultado da reunião da Mesa Diretora.

            Eu, particularmente, acho que a reunião foi muito boa, porque foi tomada uma decisão, num entendimento com o diretor da área, que fez uma bela explanação, e também com a nossa opinião. O Presidente incorporou muito do que nós sugerimos. O Senado não vai abrir mão de seguir reduzindo seus custos. Vai fazer isso, mas vai dar um tratamento diferenciado para essa área que, para mim, é um pouco da alma do Senado. Sem comunicação e sem a transparência que a TV Senado, a Rádio Senado e o próprio jornal nos garantem, não vamos a lugar nenhum.

            Eu acho que há consenso. A proposta de redução do contrato era de cerca de 13,6%. Isso é inteiramente possível. É um contrato de 15 anos. Não se está pensando em fazer outra coisa a não ser em reduzir esse... Chegou-se ao número de 15% e, obviamente, à redução do valor do contrato.

            Mas o que nós garantimos, e o Presidente vai anunciar, é investimento na TV, a fim de que saia da era analógica e passe à era digital, e a reestruturação dos espaços, para que todos que trabalham nessa área tenham um local de trabalho adequado, coisa que não existe. Outro dia, visitei todas as instalações da TV, e é insalubre trabalhar ali. E olhem que já houve expansão, neste período agora, nosso, do Davi e do Presidente Renan. Tudo isso foi colocado, e nós vamos ter de fazer.

            Agora, calma. Eu acho que é hora de, felizmente, encontrarmos uma maneira adequada de conduzir esse tema. Claro, num contrato terceirizado de 336 pessoas, pode ser que haja um ajuste ou outro. Isso é bem possível, até porque há um número de pessoas que não estava nem em um lugar nem em outro. Isso tem de ser trabalhado, mas acredito que, no final, nós podemos ter, como resultado, o fortalecimento, que é o que se precisa, dessa área do Senado Federal.

            Mas eu queria, Presidente, falar aqui, já que estamos no mês da Copa e hoje, desde cedo, o noticiário... É impressionante!

            Hoje eu não queria falar de futebol, porque o meu Botafogo perdeu de dois a zero ontem, estou muito chateado, triste até. No momento, não consegui ver. Mas a paixão do brasileiro é futebol, uma delas.

            Mas quero falar um pouco sobre a Copa do Mundo.

            Nós já estamos na época da Copa e penso que muitas coisas têm sido ditas sobre a Copa do Mundo, sobre o privilégio de o nosso País ser o endereço do evento de maior audiência do Planeta, o evento que reúne mais atenção, extrapola as religiões, extrapola os continentes, extrapola os conflitos. É a Copa do Mundo. É o evento de maior audiência do Planeta. Nós somos 7 bilhões de pessoas e um boa parcela de nós estará ligada, com o olhar voltado para o Brasil.

            Às vezes, eu ligo o rádio, assisto à TV, abro o jornal. É uma situação complexa, quase esquizofrenia, porque em todo país em que houve Copa do Mundo, há manifestação, discordância e protesto. Isso faz parte. Aliás, só acontece onde a democracia está viva. Não é diferente aqui, no nosso País.

            Então, para mim, eu parto do primeiro ponto de que todo e qualquer questionamento e manifestação são legítimos. Agora, também não podemos fechar os olhos para os fatos, fatos concretos. Há muita desinformação quando o assunto é Copa do Mundo.

            Há 60 anos, o Brasil sediou uma Copa do Mundo. Choramos na final. Eu li, é parte da história. Quem gosta de futebol sabe que, naqueles tempos, o futebol era diferente, inclusive, do de hoje, menos vinculado ao mercado e mais vinculado ao talento, à paixão do torcedor.

            O fato é que sonhávamos com a possibilidade de haver outra Copa do Mundo. O País do Futebol não sediava a Copa do Mundo há 60 anos. Por isso eu queria cumprimentar todos que lutaram por isso.

            Mas não vamos confundir isso com a regra engessada da FIFA, que faz uma espécie de leilão com todos os países que querem sediar a Copa do Mundo, como se isso fosse uma opção de o Brasil querer fazer isto aqui. Não. O evento é da FIFA. É da FIFA, e o Brasil é a sede.

            Eu, particularmente, estou junto a fim de lutarmos para haver uma outra FIFA, que seja contemporânea, que não seja essa coisa mais vinculada ao comércio do que à beleza, ao talento e à paixão do futebol. Com isso estou de acordo.

            Mas há uma página que está virada. O Brasil vai sediar a Copa do Mundo neste mês. Nós já estamos no mês da Copa, entrando nos 30 dias da Copa do Mundo. E, por acaso, também estamos vivendo um ano de eleições. Nós vamos ter eleição geral no Brasil.

            Eu não tenho dúvida de que alguns estão aproveitando para tentar confundir as coisas. Alguns estão até fazendo vinculação direta do resultado da eleição com o resultado da Copa, com manifestação da Copa e com ataque ao Governo. Nós podíamos ser sinceros nisso.

            No futebol, a paixão desequilibra, às vezes, o bom senso - aí é parte do futebol. Mas misturar a eleição com a paixão do futebol é um pouco demais.

            Parece que setores da mídia entendem assim: “Se não dá para atingir pela política, vamos agora usar o futebol”. Está errado. É querer manipular a sociedade. Parece que setores da oposição estão cegos, falam bobagem, falam mentiras sobre a Copa do Mundo.

            Querem números? Vou apresentar alguns poucos. Qual é o custo da Copa do Mundo? E já dizem: “O Governo está gastando R$30 bilhões com a Copa do Mundo”. Mentira! Não é verdade. É um desrespeito ao cidadão que nos ouve falar desses números. A Copa do Mundo tem custo, é óbvio. Mas, se todos os países disputam a Copa do Mundo, eu posso passar alguns custos.

            Verdades sobre os números da Copa. Investimentos de R$17,6 bilhões: vão dizer que foram gastos nos estádios. Não foram! Nenhum estádio recebeu um real desse investimento. Do dinheiro envolvido na Copa do Mundo, R$17,6 bilhões não implicam um real nos estádios. Então, para onde foram esses R$17,6 bilhões? Explico: para o turismo, R$200 milhões; para portos e infraestrutura portuária no Brasil, R$600 milhões; e para os aeroportos, R$6,3 bilhões. E os aeroportos não estão recebendo esses investimentos por conta da Copa do Mundo, mas porque, agora, o brasileiro, incluído, que tem emprego, anda de avião.

            Este mês de abril marcou uma nova história no Brasil. Até abril, a maioria dos brasileiros andava de ônibus, e a minoria, de avião. De abril de 2014 para cá, a maioria dos brasileiros anda de avião, e a minoria anda de ônibus. Foi uma mudança importante que tivemos.

            Nos últimos dez anos, quando o Lula assumiu, havia perto de 30 milhões de pessoas que andavam de avião, neste País, por ano. Sabe quantos usam hoje avião, e não é por causa da Copa? São 110 milhões de pessoas que pegam avião no País por ano - olhem a diferença do governo Lula, desde o começo até o Governo da Presidenta Dilma.

            Vou seguir: na segurança, R$1,9 bilhão; telecomunicações, R$400 milhões; e mobilidade urbana, são esses investimentos que estão acontecendo, R$8 bilhões - isso dá um total de R$17,6 bilhões. Mas alguém poderia falar: “Mas, Senador Jorge Viana, e os estádios? Falaram que são R$30 bilhões para os estádios?” Estou acabando de dizer que não. R$17,6 bilhões já expliquei em que foram gastos. Nos estádios, os investimentos totais foram de R$8 bilhões.

            Alguém poderia dizer: “É dinheiro demais! É um absurdo! É um abuso o Brasil gastar em estádio R$8 bilhões!” Primeiro, calma! Recursos privados e de governos estaduais, R$4 bilhões; e financiamento, outros R$4 bilhões.

            Alguém poderia perguntar: “E que Brasil tínhamos antes de o PT estar no Governo, de Lula ter assumido a Presidência?” Num país em que o PIB era de US$500 bilhões, investir R$8 bilhões em estádio, certamente seria um abuso, uma afronta. Mas qual é o PIB do Brasil hoje? Que Brasil temos hoje? O PIB do Brasil hoje é de US$2,3 trilhões! Este País tem que estar investindo, sim, R$6,3 bilhões em aeroportos.

            Quem já andou na nova ala do aeroporto de Brasília? Quem não se orgulha deste País, quando entra naquela nova ala? Quem é que não tinha vergonha da ala velha, do aeroporto velho, do terminal velho?

            Essas mudanças têm um defeito: estão chegando depois do que queríamos, já era para estarem feitas há muito tempo; já era para ter melhorado há mais tempo. Mas não venham querer colocar nas costas do Governo do PT a responsabilidade pelo que não foi feito neste País. Quantos anos esses que nos criticam hoje governaram este País? Quantos aeroportos fizeram? Quantos terminais de passageiro igual ao de Brasília fizeram? Quantos terminais fizeram igual ao de São Paulo?

            Eu queria andar um pouquinho mais. A soma dos gastos com a Copa, com tudo o que envolve a infraestrutura que o País está criando, chega a R$30 bilhões e, aos estádios, R$8 bilhões.

            Eu particularmente tenho uma crítica a fazer. No Acre, nós criamos um serviço de atendimento ao cidadão, investindo R$25 milhões. Todo e qualquer problema que o cidadão tem, rico ou pobre, vai à OCA - na época do governador Binho, o Governador Tião Viana implementou, é orgulho nosso -, não importa a sua situação social, e resolve. Está tudo lá: Governo Federal, governo... O melhor centro de atendimento do Brasil está em Rio Branco. Levamos outro dia o presidente Lula, que ficou estarrecido de ver; o Ministro de Ciência e Tecnologia, na época Aloizio Mercadante, ficou chocado também. Todo e qualquer cidadão, de qualquer lugar do mundo, não acredita que haja um serviço padrão acima do FIFA.

            Agora, que tal transformarmos os nossos estádios, a parte que não é ocupada deles, já que está sendo feita a mobilidade, em um espaço para atendimento ao cidadão. Isso poderia ter sido feito, isso pode ser feito. Poderíamos transformar cada estádio, do Itaquerão ao Maracanã, num centro de atendimento ao cidadão. Sabe quantas pessoas visitam a OCA de Rio Branco todos os dias, Sr. Presidente, Senador Paim? De oito a nove mil pessoas todos os dias vão à OCA, são bem atendidos, bem tratados e resolvem os seus problemas. E no Rio de Janeiro, quantos iriam ao Maracanã todo dia? Vinte mil, trinta mil, quarenta mil? É possível fazer isso. Toda a mobilidade não foi feita vinculada ao atendimento dos estádios? Isso pode ser feito para darmos um melhor uso desses investimentos.

            Queria dizer também que há uma série de dados para descrever...

(Soa a campainha.)

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... esses investimentos todos: a Copa das Confederações, por exemplo, gerou 303 mil empregos, diretos e indiretos. São dados que a Fundação Getúlio Vargas trabalhou. A Copa do Mundo é um evento três vezes maior. O campeonato mundial, segundo um estudo da própria Fundação Getulio Vargas, de 2010 a 2014, movimentou direta e indiretamente R$142 bilhões.

            São dados que trago não apenas para fazer frente aos ataques, aos questionamentos que se faz, mas porque penso que o debate é muito importante. Não é possível que escondamos algumas questões. Por exemplo, estarão nos visitando 3,6 milhões de turistas nas 12 cidades, durante o período da Copa. Em 2014, a expectativa é de que venham ao Brasil mais de 7 milhões de visitantes. E o gasto previsto desses visitantes é de R$8,73 bilhões. O setor que mais vai se beneficiar é o da hotelaria, com R$2,1 bilhões gastos pelos visitantes; o setor de alimentos, R$900 milhões gastos pelos visitantes; e o do comércio, R$831 milhões.

            Eu queria, então, Sr. Presidente, fazer aqui uma observação. Parece que alguns estão determinados - e aí eu estou separando manifestações, o que é legítimo, cobrança, questionamento, isso tudo é parte - a boicotar a Copa, alegando que o boicote à Copa é por um Brasil melhor. Mas eu acho que estão fazendo isso, no mínimo, do jeito errado.

            Os investimentos na Copa, nos estádios, na infraestrutura das cidades já foram feitos. A luta agora é outra! A luta agora é outra! Os custos já passaram. Agora é exatamente a hora de nós começarmos a tentar tirar frutos. Eu estou trazendo uma proposta concreta: transformar todos os estádios do Brasil, da Copa, em centros de atendimento ao cidadão. Eu duvido que fique um estádio desses, diariamente, sem receber 30, 40 mil pessoas, fazendo um bom uso da mobilidade instalada.

            E sobre isso, também, há algumas questões relevantes a apresentar. Questiona-se muito aqui o Mané Garrincha, o Governador Agnelo. E eu quero fazer uma defesa do Governador Agnelo. Senador Paulo Paim, Presidente, V. Exª tem ideia - o estádio Mané Garrincha foi feito aqui, em Brasília, e ninguém reclamou, tinha 36 anos de vida - de quantas pessoas entraram no Mané Garrincha em 36 anos de existência dele? Não foi o PT que fez o Mané Garrincha, não; não foi o Governador Agnelo que fez o Mané Garricha, não. Ninguém fala isso. Escondem e vêm aqui reclamar do Governador Agnelo. Sabe quantas pessoas entraram no Mané Garrincha em 36 anos, com a quantidade de eventos enorme que ele tinha? Foram 340 mil pessoas em 36 anos - 340 mil pessoas no Estádio Mané Garrincha em 36 anos de existência dele. E quantos entraram no Mané Garrincha, sem a Copa, do dia que foi inaugurado para cá, Senador Paim? Entraram 655 mil pessoas. É um número. Não querem números? Em 36 anos, no velho Mané Garrincha, a frequência total foi de 340 mil pessoas. No novo Mané Garrincha, feito na gestão do Governador Agnelo, da inauguração para cá, foram 655 mil pessoas, sem a Copa do Mundo. Com a Copa das Confederações, é claro, mas sem a Copa do Mundo.

            Agora, imaginem transformar uma parte do Mané Garrincha - e eu estou sugerindo ao Governador do Distrito Federal -, quando não há jogo, num centro de atendimento ao cidadão de Brasília, com toda a mobilidade, para que toda a estrutura criada para a Copa fique a serviço do cidadão pobre, do cidadão que é tratado mal quando vai buscar resolver um problema seu.

            Nós, no Acre, fizemos. Quem quiser visitar o melhor centro de atendimento ao cidadão do Brasil e um dos melhores do mundo é lá em Rio Branco. Pode ir a qualquer hora. Pode entrevistar qualquer pessoa. Chama-se OCA (Centro de Atendimento ao Cidadão).

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - V. Exª...

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - As cadeiras em que os pobres sentam lá na OCA são melhores do que as cadeiras dos aeroportos que “bacanas” usam para andar de avião. E agora o cidadão simples também está começando a andar.

(Soa a campainha.)

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu queria ouvir o Senador Suplicy e depois concluir, Sr. Presidente, por gentileza.

            Ouço o aparte do Senador Eduardo Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Muita boa a sugestão de V. Exª, prezado Senador Jorge Viana, baseado na sua própria experiência, ali em Rio Branco, de fazer com que os estádios de futebol, sobretudo aqueles que foram recém-construídos, como o Itaquerão...

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Todos com mobilidade, todos pensados.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... com mobilidade, onde tudo é mais fácil...

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Com comunicação.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... possam ser utilizados não apenas para os jogos de futebol, que constitui o esporte preferido do povo brasileiro, não apenas para os jogos da Copa do Mundo e para os grandes clássicos que ocorrem em cada uma das unidades da Federação, mas também que esses estádios possam ser utilizados para atividades culturais, educacionais. V. Exª dá um bom exemplo, como é iniciativa prática já em andamento muito bem-sucedida, de transformar em centro de atendimento à população, com todos os serviços que ela normalmente tem no seu cotidiano, em busca de facilidades para os mais diversos objetivos. E é muito importante ter em conta esses investimentos, mas também as demandas da população, que tem realizado protestos. Eu conclamo todos a fazerem as manifestações de uma forma pacífica, e não com qualquer tipo de destruição. É mais do que justo que possam expressar pacificamente as suas demandas. Que possamos, então, transformar a arrecadação de recursos que certamente advirá do número tão grande de turistas que nos visitarão e de todo o movimento que alcançará a realização da Copa do Mundo. Mas que tenhamos muita atenção para transformar a receita adicional desses recursos, para efetivamente atender às demandas que a população está colocando. Isso é muito importante que seja realizado. Meus cumprimentos pela sugestão.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Muito obrigado.

            Eu, inclusive, Senador Eduardo Suplicy, vou apresentar a indicação e estudar a possibilidade de transformar isso numa proposição, para que os estádios de fato fiquem a serviço do cidadão, por serem palcos da alegria do futebol, do espetáculo do futebol, mas há embaixo de todas as arquibancadas espaços que são fantásticos. Se bem aproveitados, se dá um uso permanente que em lugar nenhum do mundo é dado. E eles estão sempre bem localizados do ponto de vista do transporte, da comunicação.

            Certamente, vou apresentar essas indicações, e agradeço o apoio de V. Exª.

            Então, para concluir, Sr. Presidente, só queria citar aqui um artigo que li, que fala assim:

Os pessimistas e derrotistas são aqueles que, não satisfeitos em torcer contra o Brasil na Copa do Mundo, apostam num colapso geral do País, e até parece desejarem, às escondidas, a ocorrência de uma tragédia, no exato momento em que os olhos do mundo estarão voltados para o País.

            Estou preocupado com isso, porque a crítica e a cobrança são normais, mas, gente, é o nosso País que está sediando a Copa do Mundo, é o nosso Brasil!

            Vale até torcer, ficar com raiva da seleção, porque aí é parte do futebol, mas torcer contra o Brasil não vale. Torcer para o Brasil tratar mal quem nos visita, torcer para o Brasil ficar mal diante do mundo não vale.

            Nelson Rodrigues, que é o maior e mais famoso cronista desportista deste País, dizia que o Brasil tinha um complexo de vira-lata. Isto é o complexo de vira-lata: é estarmos começando a conquistar um outro Brasil, e ficar falando parece que com saudade daquele país de que nos envergonhávamos.

            Eu não acho isso correto. O pior, Senador Paim - eu vou concluir com isso -, é querer vincular o futebol à política. Para os menos avisados, eu vou ler aqui, fazer uma memória do que ocorreu nas últimas eleições, quando o Brasil estava disputando...

(Soa a campainha.)

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... a Copa do Mundo, vinculando aqui a derrota do Brasil à eleição, ou desvinculando.

            Vamos aqui à primeira: 1998. O Brasil perdeu a Copa na França, em jogo decepcionante contra os anfitriões, e o Presidente Fernando Henrique Cardoso se reelegeu no primeiro turno, mesmo com a economia enfrentando muita dificuldade.

            Então, veja que o povo não é bobo! Ele separa bem as coisas. Eu estou me referindo a 1998: crise econômica no País, que se configurou depois da reeleição do Presidente Fernando Henrique Cardoso, da reeleição do PSDB, que criou a reeleição para eles. O que aconteceu? O Brasil foi um fracasso na Copa, perdeu, e o Presidente foi reeleito.

            Vamos para 2002, rapidamente. Em 2002, o Brasil sagrou-se pentacampeão invicto na Ásia - na Coréia e no Japão -, e o PSDB colheu a mais acachapante derrota nas urnas. Então, o PSDB teve a maior derrota, a mais acachapante derrota para nós em 2002, e o Brasil foi pentacampeão invicto. Veja que o povo desvincula completamente o resultado da Copa. Isso, para os menos avisados, eu informo.

            E em 2006? Em 2006, a seleção brasileira jogou um mundial apático na Alemanha, para não dizer vergonhoso. Não passou das quartas de final. Perdeu para uma França em fim de linha. E o que é que aconteceu com a política? O Presidente Lula criou a onda vermelha e foi eleito da maneira que foi.

            O povo, de novo, desvincula a seleção, sua paixão, o futebol, sua paixão, da eleição, que é outra coisa da maior importância, da política. Mas eu acho que setores da imprensa pensam que podem embaralhar tudo. Acho que o pessoal da oposição pensa que pode embaralhar tudo, que o povo é bobo, que basta botar manchetes nos jornais, basta fazer discursos inflamados, que vão mudar o resultado da Copa, o sentimento da Copa e aquilo que já são os fatos.

            Encerro dizendo que, por último, em 2010, na África do Sul, mais uma vez o time brasileiro parou nas quartas de final, num apagão decepcionante contra a Holanda, e qual foi o resultado da política? Ou seja, apagão na seleção e o resultado da política: mesmo assim, o PT, comandado por Lula, elegeu a primeira mulher Presidente do Brasil. O PT ganhou o terceiro mandato.

            Então, eu acho que o melhor que nós podemos fazer, Sr. Presidente e todos que nos acompanham,...

(Soa a campainha.)

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... é separar as coisas: eleição no tempo de eleição; Copa do Mundo no tempo da paixão, do sofrimento, do sorriso, da alegria.

            Tem outro componente que deve unir o Brasil, com todo respeito às manifestações: o sentimento de amor por esta terra; o sentimento de amor por esta terra diante dos olhos do mundo. Penso que isso tem que bater no coração de cada brasileiro. O mundo inteiro vai estar olhando para o Brasil, que vai estar sediando o evento de maior audiência do Planeta, todas as televisões. E nós vamos querer o quê? Fazer um acerto de contas entre nós, brasileiros, numa hora dessa?

            Não estou querendo deixar para depois, não; eu só estou querendo que a gente faça como sempre fizemos: ter amor por este País; trabalhar para consertar o que está errado; sonhar com um Brasil melhor para todos; ter um olhar especial para os que estão excluídos ainda. Mas isso tudo dá para fazer...

(Soa a campainha.)

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... e, ao mesmo tempo, ser acolhedor com quem vem nos visitar e aproveitar essa bela chance que o Brasil conquistou de sediar a Copa do Mundo, para mostrar que o nosso Brasil é outro, que ainda está longe do que nós sonhamos, mas que estamos no caminho que queremos conquistar, de ser uma referência de nação, de povo, de país para o mundo inteiro, com justiça social, sem violência e sendo o exemplo de uma economia sustentável, que possa criar uma nova fase para o mundo, diferente da que a Europa criou, diferente da que os Estados Unidos criaram, uma fase solidária com a África, com a Ásia e com a América Latina.

            O Brasil tem essa oportunidade. Tomara que ela não seja desperdiçada.

            Muito obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/05/2014 - Página 377