Discurso durante a 11ª Sessão Solene, no Congresso Nacional

Homenagem póstuma a Glênio Bianchetti, artista plástico gaúcho.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem póstuma a Glênio Bianchetti, artista plástico gaúcho.
Publicação
Publicação no DCN de 07/05/2014 - Página 55
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, PINTOR, ORIGEM, MUNICIPIO, BAGE (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).

O SR. PAULO PAIM (PT-RS) - Excelentíssimo Sr. Senador Cristovam Buarque, que preside a sessão e que, juntamente com meu querido amigo, metalúrgico e ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia, tiveram esta bela iniciativa. Excelentíssimo Sr. Presidente do Supremo Tribunal Federal 1993/94, Sepúlveda Pertence, Excelentíssimo Sr. Presidente do Supremo Tribunal Federal 2012, Sr. Ministro Carlos Ayres Britto, Excelentíssimo Sr. Secretário de Estado da Secretaria de Cultura do DF, Sr. Hamilton Pereira da Silva, e nossa querida e também homenageada Sra. Ailema Bianchetti, viúva, eu diria não somente do artista, não somente do desenhista, mas eu diria do poeta Glênio Bianchetti porque quem se atreve a ser poeta... Eu me meto às vezes a escrever algumas poesias. Eu me socorro das letras, mas Gandhi já dizia que mais vale o gesto que mil discursos ou mil palavras.

Ele tinha esta grandeza, no seu traço leve e bonito, de passar a imagem que muitas vezes o poeta tem que escrever num livro. Por isso, é desta forma que vou me dirigir a ele. Deus se expressa de muitas formas. Deus se expressa no sorriso da criança, no caminhar lento e cansado dos velhos, no verso de um poema, no canto dos cantadores e trovadores, nas mãos de quem faz nascer do ventre da alma aquarelas de sonhos, liberdade e horizontes. É assim que vejo Glênio. Dizem que o outono, e nós estamos no outono, é a estação em que tudo pode acontecer, das mais simples coisas do cotidiano até o rabisco das linhas e curvas que a história deixa encravada em um lugar qualquer, em direção até onde a vista alcança. E lá, no horizonte, eu vejo o Glênio. Ah! Esse horizonte tão desejado por todos nós é como a espera de uma nova vida que fecunda no seio da terra aguardando calmamente a vinda da água e do sol. É essa aquarela viva com suas sonoridades que nos faz entender que é possível alcançar o nosso sonho: a felicidade. É essa a aquarela viva que navega em nossas veias. É essa a aquarela viva e eterna de Glênio Bianchetti. Então, eis que surge das pradarias infinitas do sul, o homem, senhor do seu destino, igual entre os seus iguais, visionário das artes. Ele, artista do mundo, meu velho, ou mi viejo, como diziam seus filhos e netos, como às vezes falamos com aquele carinho aos mais velhos.

      E junto a ele, a Glênio Bianchetti, vem a responsabilidade de sonhos e esperanças de toda uma geração do passado, presente e futuro, dos presos nas masmorras, daqueles que ansiavam por calos nas mãos e pelo pão na mesa, dos mil olhos na multidão, das bocas sedentas por palavras livres. Assim ele escrevia. Eu digo escrevia, rabiscava, desenhava com a sua arte. Glênio Bianchetti.

      E vieram invernos, primaveras, verões, e mais outonos e outonos e outonos. Vieram boas lutas, novos quadros, pinturas, gravuras, desenhos, painéis, ilustrações, cartazes. Ali, ali, a marca indiscutível do Glênio.

      Sempre seguindo em frente com o rufar dos tambores, fazendo história, lapidando a rocha, acendendo uma nova luz aqui no Planalto Central e ajudando a construir um novo Brasil.

      Alguém já disse, aqui rabisquei, mas repito: “Quando se cala o cantor” -- já dizia Horácio Guarany -- “cala-se a vida, pois a vida é a própria garganta” e eu acrescento, Sr. Presidente: quando se cala o poeta das artes, não mais florescem as flores, não mais cantam os pássaros, diminuem o tom os cantadores, não mais os rios correm com a mesma força se deslocando em direção ao mar, não há montanhas a escalar, não há horas, minutos ou segundos. Somente, somente e somente o silêncio da eternidade.

      Viva Glênio Bianchetti! Vida longa a arte eterna do Glênio Bianchetti. Um homem além do seu tempo, um dos baluartes dos Direitos Humanos do Brasil e do mundo.

      Viva Glênio Bianchetti. Um abraço.

      (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 07/05/2014 - Página 55