Discurso durante a 77ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a greve dos rodoviários no Estado de São Paulo.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DE SÃO PAULO (SP), GOVERNO ESTADUAL, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, MOVIMENTO TRABALHISTA.:
  • Preocupação com a greve dos rodoviários no Estado de São Paulo.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 23/05/2014 - Página 157
Assunto
Outros > ESTADO DE SÃO PAULO (SP), GOVERNO ESTADUAL, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, MOVIMENTO TRABALHISTA.
Indexação
  • APREENSÃO, RELAÇÃO, PARALISAÇÃO, MOTORISTA, COBRADOR, ONIBUS, LOCAL, SÃO PAULO (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, REFERENCIA, PREJUIZO, POPULAÇÃO, OCORRENCIA, GREVE.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Ruben Figueiró, prezada Senadora Ana Amélia, Srs. Senadores Cristovam Buarque e Mário Couto.

Quero cumprimentar o Senador Cristovam Buarque pela interessante audiência pública que tivemos hoje, com o convite a um professor, Presidente da Academia de Ciências de Portugal que, aos 92 anos, nos trouxe uma colaboração intensa. O Professor... Deixe-me recordar o nome completo...

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Adriano Moreira.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Adriano Moreira. Ele deu uma colaboração muito interessante, e pudemos conhecer mais sobre oceanos e mares, sobretudo para a comunidade de povos da língua portuguesa.

            Mas, Sr. Presidente, quero aqui externar a minha preocupação com o que, nos últimos três dias, acontece na minha cidade, o Município de São Paulo, capital do Estado de São Paulo, onde nasci, onde moro e, sobretudo, onde tive um grande número de votos, correspondendo a 51,37% dos votos.

            O movimento de paralisação de ônibus por parte dos motoristas e cobradores causou um caos muito grande na cidade, um incômodo, simplesmente, de extraordinárias proporções, fazendo com que todo o sistema de metrô também acabasse com enormes dificuldades.

            Conforme pudemos ver pelas emissoras de televisão, as estações de ônibus e de metrô estavam superlotadas. Como os ônibus não trafegavam, diversos motoristas resolveram deixar os ônibus nas ruas; simplesmente tiraram a chave e foram para o sindicato, para algum outro lugar ou para suas residências. Em algumas das avenidas de São Paulo, filas de ônibus parados fizeram com que o trânsito se tornasse algo de extraordinária gravidade.

            Vimos o testemunho de tantas pessoas, que, nesses dois dias, não puderam, depois de tantas horas de trabalho, voltar para suas residências. Muitas tiveram de andar a pé por algumas horas ou de tomar táxi, às vezes pagando demasiadamente em relação aos seus orçamentos e ao que tinham de dinheiro no bolso.

            É interessante registrar que alguns motoristas de táxi e empresas de táxi resolveram, diante da situação, criar uma espécie de aplicativo, que hoje foi até objeto de comentário de Gilberto Dimenstein sobre aplicativos interessantes. De uma hora para outra, um colega se comunicou com outro, e as empresas de táxi resolveram abater R$21,00 de quanto iria custar a corrida de táxi. Outra empresa abateu R$35,00, aumentando o desconto e fazendo com que as pessoas impedidas de andar de ônibus fizessem trajetos que não somassem pelo menos R$21,00, em um caso, e R$35, no outro. Então, poderiam até andar sem pagar, em uma circunstância excepcional que caracterizou a vida difícil dos paulistanos nos últimos dois dias.

            Houve uma dissidência dentre os milhares de motoristas de ônibus. Quando houve a assembleia para decidir se aceitariam ou não a proposta feita pelos empresários, segundo a qual haveria um ajuste de 10%, tendo em conta que a inflação havia sido, no período, da ordem de seis e poucos por cento, e ainda com a participação nos lucros, 4 mil motoristas e cobradores de ônibus aceitaram a proposta. Mas um grupo dissidente disse que queria um reajuste bem mais acentuado e liderou essa greve, que foi de dissenso em relação ao que o Sindicato de Motoristas e Cobradores havia acertado. E eis que esse grupo passou a realizar manifestações e paralisações de ônibus, da forma como eu há pouco descrevi, inclusive tirando os ônibus das garagens e deixando-os nas vias, dificultando ainda mais o trânsito.

            Com isso, a cidade viveu um clima de dificuldades imenso. E vejo, pela imprensa, que houve até tentativas de acusar a responsabilidade dos fatos: o Secretário Municipal de Transportes, Jilmar Tatto, acusou o Governo estadual, e vice-versa.

            Há pouco, conversei com o Chefe de Gabinete do Prefeito Fernando Haddad, Sr. Paulo Dallari, que me deu uma informação, que quero aqui relatar, tendo em vista, inclusive, editoriais dos principais jornais de São Paulo, como a Folha de S.Paulo e O Estado de São Paulo, que conclamaram as autoridades a melhor se entenderem.

            Quero aqui registrar que, tanto ontem como hoje, o Prefeito Fernando Haddad e o Governador Geraldo Alckmin conversaram pelo telefone e procuraram coordenar suas ações no sentido de, primeiro, aguardar que na reunião de hoje, na Justiça do Trabalho, entre os representantes das empresas transportadoras, as empresas de ônibus e o sindicato dos trabalhadores, isto é, dos motoristas e cobradores, eles cheguem a um entendimento.

            A reunião está sendo realizada nesta tarde. Quero aqui transmitir a minha energia, o máximo possível, a minha preocupação; afinal, todos os paulistanos estão preocupadíssimos. Nesta tarde, a cidade se encontra um pouco mais tranquila, mas todos nós paulistanos estamos aguardando que eles consigam resolver o impasse.

            Hoje, a pesquisa Datafolha publica que os paulistanos desaprovam essa forma de conduzir as coisas em mais de 73%. Até recentemente, segundo o Datafolha, a população aprovava que houvesse manifestações, mas não manifestações dessa forma, que prejudicam estudantes, que não podem ir às escolas, e pais e mães, que não podem ir ao trabalho. Se vão, depois, ao voltar para casa, eles têm que andar a pé por quatro, cinco, seis horas. O trabalhador, ou trabalhadora, que mora na cidade vizinha, em vez de pegar o ônibus que normalmente pega, tem que pegar diversas conduções ou o metrô para voltar para casa, e não se sabe a que hora. Então, como fica a refeição de todos os membros da família? Tudo se atrasa, é um transtorno colossal.

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Não é à toa que houve esse protesto.

            Enfim, quero aqui registrar que li nos editoriais o apelo.

            O jornal o Estado de S. Paulo, em seu editorial, depois de falar das desavenças e trocas de acusações de um lado e do outro, da Prefeitura e do Governo de Estado, conclamou a todos que procurem melhor entendimento. É muito importante que nesta hora possa haver compreensão, inclusive dos motoristas e cobradores.

            É muito justo que eles expressem sua disposição de querer melhores ajustes, melhores condições de trabalho, e é direito constitucional o direito de greve. Quando se trata de serviços públicos fundamentais, como transporte urbano, há decisões da Justiça do Trabalho de que pelo menos 75%, salvo engano, dos ônibus precisam funcionar, assim como dos trabalhadores, a fim de prover esse serviço essencial à população. É importante que as reivindicações, por mais justas que sejam, sejam colocadas de forma civilizada e com respeito para com o conjunto da população.

            Há indicadores de que, em função da realização da Copa do Mundo, daqui a vinte e poucos dias, algumas categorias de trabalhadores, como que se aproveitando da proximidade desse evento de tamanha relevância para todos nós brasileiros, acirrarão os movimentos de reivindicação.

            É muito justo que todos expressem os seus sentimentos, os seus anseios e coloquem as suas metas para melhorarem a sua qualidade de vida, a sua remuneração, os serviços de educação, de saúde, de transporte, de tudo. No entanto, é preciso que isso se realize de uma maneira a, sobretudo, respeitarmos os seres humanos, inclusive aquelas pessoas que, às vezes, estão necessitando da urgência de irem ao hospital se quebraram o braço, se foram acidentados, se tiveram um ataque cardíaco e precisam ser transportados, imediatamente, por alguma urgência, a um hospital.

            É preciso que nós - e aqui eu me coloco em identidade com os motoristas e cobradores - pensemos, todos nós, nessas circunstâncias. Então, que os movimentos legítimos de paralisação do trabalho possam ser realizados de uma maneira a respeitarem o próximo.

            Espero que, hoje, nesta tarde, na Justiça do Trabalho, trabalhadores e empresários possam chegar a um bom entendimento. Até coloco para a consciência dos trabalhadores: se, às vezes, o nível de remuneração não está tão adequado no que diz respeito aos salários, a possibilidade de participação nos resultados pode ser algo muito importante. Assim, na medida em que essas empresas tiverem a rentabilidade adequada, podem, então, transferir para os trabalhadores uma participação nos bons resultados que venham a ter.

            Isso, sobretudo, se todos colaborarem para que o trânsito na cidade de São Paulo, o transporte público se faça com a devida eficiência para o bem de todos, inclusive dos trabalhadores das empresas de transporte, os motoristas e cobradores. Eles, certamente, também têm seus filhos, que estão indo às escolas, indo aos parques, indo a todos os lugares, que eles possam ter até o direito de participar de atividades culturais e, enfim, ter o direito pleno à vida.

            É o apelo que aqui quis registrar de preocupação com a minha cidade. Toda a grande São Paulo está vivendo algo assim.

            Senador Cristovam Buarque, com muita honra, concedo-lhe o aparte.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador, em primeiro lugar, meus parabéns por estar aqui trazendo uma preocupação com a sua cidade, com o seu Estado, com que o senhor sempre se preocupa. Mas, ouvindo a sua fala e vendo o noticiário, eu percebi, Senador e Sr. Presidente, que há duas coisas no noticiário sobre essa greve. A primeira é a confirmação da fragilidade das nossas grandes cidades, nossas “monstrópoles”. É um conceito errado esse das grandes cidades, em que as pessoas moram longe de onde trabalham. Nós vamos ter que inventar um sistema diferente. As pessoas têm que passar a morar perto de onde trabalham o máximo possível, como já foi em um tempo passado. Hoje, com a informática, é possível reorganizar o espaço…

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - … fazendo com que as pessoas não precisem se deslocar tanto de casa para o trabalho, além de ter um sistema mais eficiente. Mas há uma outra coisa que me chamou a atenção: segundo eu vi, a greve não foi declarada pelo sindicato; teria sido uma greve feita espontaneamente pelos trabalhadores.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Pelos dissidentes, que são em grande número também.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Isso é um ingrediente novo, mas que mostra uma tendência da política, que é o desrespeito a nós políticos, aos sindicatos e aos Partidos. Nós perdemos a guerra da comunicação com as pessoas. Nós estamos isolados. Os sindicatos já não são respeitados pelas bases; as bases já se sentem traídas pelos sindicatos. Como se sentem também - vamos falar com toda franqueza - traídas por nós próprios, pela ausência de trazer aqui para dentro a agenda do povo na rua. O senhor trouxe a agenda agora, mas trouxe a agenda na manifestação da simpatia, da preocupação. A gente precisa trazer a agenda na direção da solução. Eu tenho andado, como sempre, por aí, e o que está me chocando é a quantidade de gente que diz: “Eu até gosto das coisas que você diz, mas você não age.” É isso que eu ouço todos os dias. “Eu quero ação; aja.” E eu me pergunto: agir como? Mas essa é uma pergunta que eu posso fazer para mim, não responder para eles. Não é desculpa dizer: não, o Congresso não é para agir; quem age é o Executivo. Essa resposta não vale. O Congresso tem que ter, sim, o papel de agente de transformação, de ação. Essa greve serviu para despertar e consolidar ainda mais isso que alguns falam por aí, que é uma revolução sem líder, que acontece hoje nos diversos países. São revoluções sem líder de partido, sem líder intelectual também. Não é só político que está…

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - … em baixa não; os intelectuais também. Há um descompasso entre os que deveriam esta pensando e agindo - e não estão - e os que querem ação e ideias - e não estão recebendo. Essa greve mostra o fracasso das grandes cidades; São Paulo é apenas um exemplo, não é diferente do restante, não dá para a gente culpar São Paulo por essa greve e nem o Prefeito. Então, São Paulo é um exemplo do descontrole que são nossas cidades - nossas “monstrópoles”, como eu gosto de chamar, e não metrópoles mais - e também essa característica nova do mundo da ação política, que é o desrespeito às lideranças, porque as lideranças perderam o respeito - nós, os Partidos, e os sindicatos também -; fica provado nessa greve dos trabalhadores de ônibus, em São Paulo.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo /PT - SP) - Obrigado, Senador Cristovam Buarque. Eu gostaria até de lhe informar que uma das principais preocupações e metas do Prefeito Fernando Haddad é de justamente criar as condições para que haja mais oportunidades de trabalho, inclusive nas regiões mais distantes da cidade.

            Por exemplo, aquilo que tem ocorrido na Zona Leste de São Paulo, até também em função da própria Arena Corinthians, em que houve um desenvolvimento recente de investimentos nos mais diversos sentidos, inclusive de infraestrutura de transporte urbano, mas também oportunidades de trabalho em empresas. E também tem havido a preocupação do prefeito em diminuir os impostos para aquelas áreas onde mora a população em maior número, para que possam as oportunidades de trabalho estar ali sendo criadas.

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo /PT - SP) - Então, é legítima, sim, a preocupação de V. Exª.

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo /PT - SP) - E quero dizer que, de fato, inclusive o Luiz Antônio de Medeiros, na Delegacia Regional do Trabalho, tentou dialogar e chegar a um entendimento entre as partes, mas teve muita dificuldade pelo fato de os líderes estarem - se é que há líderes - muito espalhados em todo o movimento. É algo, provavelmente mais difícil de lidar.

            E, em que pese a disputa eleitoral que haverá para as eleições de 5 de outubro, nessas ocasiões, é muito importante que o Governador do PSDB, Geraldo Alckmin, o Prefeito Fernando Haddad, do PT, e a Presidenta Dilma Rousseff, Presidente possam coordenar esforços para a boa solução do problema.

            Muito obrigado, Sr. Presidente Ruben Figueiró.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/05/2014 - Página 157