Discurso durante a 77ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à radicalização dos debates eleitorais; e outros assuntos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. ATIVIDADE POLITICA. ELEIÇÕES, TELECOMUNICAÇÃO.:
  • Críticas à radicalização dos debates eleitorais; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 23/05/2014 - Página 167
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. ATIVIDADE POLITICA. ELEIÇÕES, TELECOMUNICAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, CAMPANHA ELEITORAL, MOTIVO, DIVERGENCIA, OPOSIÇÃO, COMENTARIO, IMPORTANCIA, RESPEITO, DEBATE, RELAÇÃO, REUNIÃO, PARTIDO POLITICO.
  • REGISTRO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, RELAÇÃO, IMPASSE, ATIVIDADE POLITICA.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, MIDIA SOCIAL, REFERENCIA, INFORMAÇÃO, POPULAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado a V. Exª, querido Senador Figueiró. V. Exª aqui, na Presidência, nos honra muito. Ao seu lado, na mesa, está o Senador Paim, que vai ficar aqui algum tempo, muito tempo, e a Senadora Ana Amélia, que talvez fique, ou, talvez, como eu, no ano que vem, não esteja aqui. Ela, governando o Rio Grande, e eu fiscalizando e dando força para que ela se saia bem.

            Mas eu vejo seu o nome, Mato Grosso do Sul, Figueiró, e lembro a infinidade de gaúchos que estão lá no seu Estado. A informação que tenho é de que Mato Grosso do Sul tem mais CTGs, Grupo de Tradições Gaúchas, do que o Rio Grande do Sul. Quando eu estive lá, a convite de um governador, nós participamos de um congresso estadual de CTGs, e era uma festa, feriado na cidade. Nem no Rio Grande vi uma festa tão bonita quanto aquela a que eu ali assisti.

            Não há dúvida nenhuma de que o nosso Rio Grande tem esse motivo de orgulho, embora também, eu diria, motivo de mágoa.  
De orgulho porque, se nós olharmos o mapa do Brasil, vamos verificar - e tenho falado muito sobre isso - a diáspora do povo gaúcho. Já disse, desta tribuna, que estudos feitos por universidades europeias mostram que judeus, ciganos e gaúchos são povos que se espalharam. Os ciganos, pela Europa; os judeus, pelo mundo, e os gaúchos, de um modo especial, pelo Brasil, embora também pelo Uruguai, Argentina e Paraguai. 

            Quando vejo o progresso da agricultura do Rio Grande do Sul, vejo o que o Rio Grande do Sul significou nisso tudo, o que o Rio Grande do Sul significou nesses milhões de gaúchos que saíram de lá e fizeram o que hoje é Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Amazonas, Maranhão, Bahia e tantos outros Estados.

            Nós, minha querida amiga Ana Amélia, vivemos uma hora muito difícil no Rio Grande do Sul. Difícil! Lembro-me de quando assumi o governo, de quando Jair Soares me passou o governo. Eu era Ministro da Agricultura, ele veio me visitar no Ministério e disse que tinha pena de mim. “Simon, eu tenho pena de ti pelo que tu vais receber. Eu não vetei, tive de assinar a lei que a tua bancada votou do piso mínimo de 2,5 salários. Eu não vou pagar, porque não tenho como pagar. E tu também não vais pagar.”

            São grandes candidatos. A Ana Amélia é uma grande candidata, o Tarso é um grande candidato. Perdoem-me a sinceridade, mas o nosso candidato ao Governo do Rio Grande do Sul, o meu candidato, Sartori, é um grande candidato, fez uma atuação notável de 8 anos na cidade de Caxias. Como pegarão o Rio Grande do Sul? 

            Vendo os projetos que estão sendo aprovados na Assembleia com relação a alguns aumentos, aqui e acolá, tudo para começar no ano que vem, a gente fica com a impressão de que o Tasso não está muito interessado em ser reeleito. Alguns dizem que ele é capaz de não levar adiante. Difícil a situação do Rio Grande do Sul! Mas eu falei isso no topo inicial do meu discurso, por nos encontrarmos aqui.

            Mais uma vez, o plenário vazio, os jovens nos acompanhando na galeria e nós três, com o nosso querido Senador pelo Mato Grosso do Sul.

            Mas o que eu vim fazer mesmo, hoje, neste final de tarde, é dizer do sentimento que me leva a uma tortura em relação ao que estamos vivendo.

            Venho de muito longe. Só não acompanhei a revolução de 30, mas nasci nela, em 1930. Todos os movimentos, a violência, a ditadura, 1945, todos eu vivi. Deus me perdoe, mas estamos vivendo uma situação dessas, na minha opinião. Estamos vivendo uma situação que não consigo entender, não consigo compreender.

            São Paulo - meu Deus! -, ontem, foi um caos. Aqueles 1,5 milhão de pessoas caminhando de lá para cá, não sabendo o que fazer da vida, senhoras caminhando três horas para chegar em casa, dormir e voltar no outro dia, às 7 horas, para começar o trabalho, depois de duas horas de ônibus! Não entendo!

            Vi a fotografia alegre e risonha da Presidenta com a Bancada do PTB, num almoço, num jantar, não sei se foi no Alvorada ou num restaurante, e vejo a Presidenta viajando muito, viajando bastante, fazendo o seu trabalho de candidata. Isso nós não podemos lamentar agora. Temos que lamentar e lamentamos na época e votamos contra o Fernando Henrique quando criou a reeleição. A gente sabe que reeleição com o Presidente ou com o Governador no cargo é isso que acontece, não pode ser diferente. É verdade que a Presidenta achávamos que era diferente: a gerentona, enérgica, que, quando assumiu, assumiu de uma forma rígida, demitindo uma série de Ministros, que me fez vir aqui uma vez atrás da outra, várias vezes. Algumas pessoas diziam: “Mas o que o Simon tem que está tão focalizado na Presidenta?” Porque ela era excepcional, o trabalho que ela realmente estava fazendo. Mas não pôde ir adiante.

            Essa situação do Brasil é tão dolorosa, o toma lá, dá cá, é dando que se recebe, que ela ou se entregava, como se entregou, às cúpulas do PT e outros partidos, ou não sei o que aconteceria. A realidade é esta.

            O Senado, que já teve o vexame da CPI do Cachoeira. A CPI do Cachoeira foi uma coisa que vai ficar na página negra da história desta Casa. A CPI do Cachoeira, quando a Polícia e o Ministério Público mandaram para cá, já estava tudo pronto, não tinha o que fazer; só tinha que fazer a denúncia, marcar e decidir. Já estava tudo explicado. O Governador daqui, do Rio, de Goiás, a empresa, a empreiteira, a firma, estava tudo explicado. Criaram uma Comissão para esconder tudo. Esconderam tudo, tudo, tudo, tudo! Eu disse que eu nunca ia ver coisa pior que aquela.

            O mesmo Presidente que presidiu aquela Comissão dramaticamente dolorosa é escolhido Presidente com factóide de CPI, agora, da Petrobras. Na primeira reunião que fizeram, estavam os dois Senadores, o Relator fazendo 96 perguntas de saída e o ex-presidente da companhia falando, parecia um comício do PT, contando história, maravilha, maravilha.

            Hoje, foi outro diretor. Hoje, o PT foi mais esperto. A Comissão estava lotada. Eu não sei se eram funcionários da Casa, ou funcionários da Petrobras, ou funcionários não sei de onde. Eu, o meu gabinete, todo mundo não conhecia o nome de nenhum. Senadores tinham uns seis, e o resto estava lá. E outra história, mas é o nada com nada.

            Enquanto aquilo acontecia aqui, São Paulo fervilhava, o Brasil fervilhava. E eu pergunto: O que nós queremos da vida que estamos levando?

            Eu me lembro de quando a namoradinha do Brasil, artista célebre de televisão, na época no topo, Regina Duarte, apareceu no programa do Fernando Henrique dizendo que tinha medo do PT e do Lula: “Eu tenho medo”. Eu me lembro da reação que aquilo causou na sociedade.

            Mas a propaganda que o PT está fazendo agora, cá entre nós, é dramática, com música fúnebre: de um lado, a pessoa feliz, alegre, cheia de vida, as crianças saudáveis, “eu tenho medo de voltar ao passado”; e, lá, as pessoas morrendo, moribundas, como se tudo que tivesse acontecido de bom se devesse ao PT e de ruim se devesse aos outros. É impressionante como essa propaganda repercutiu mal na sociedade brasileira.

            Eu vejo aqui. Ontem, nós votamos um projeto sobre sistema judiciário lá na comissão. Foi feito um apelo no sentido de que se reunisse para debater e para analisar. Ninguém aceitou. Ninguém aceitou, e veio aqui e se votou. O Congresso está vivendo uma fase de paz e amor: o que vem para cá é votado, é aprovado; e, se nós não fizermos de boa vontade, a Presidente da República está lá disposta a assinar tantos projetos quanto necessários para garantir a sua reeleição.

            Eu me pergunto: será que vivendo um momento como hoje... Você pega todos os grandes analistas, todos os grandes jornalistas, todos os homens que têm programa pessoal na televisão, eles estão dizendo: “A situação é muito séria. O Brasil vive uma hora difícil. O Brasil vive uma hora dramática”.

            Na greve em São Paulo, foi feito um acordo entre o sindicato dos trabalhadores, o sindicato dos empresários e o Ministério do Trabalho. Fizeram um entendimento, e os motoristas não aceitaram. Os sindicatos não tiveram mais autoridade, e a greve foi adiante. Em dez Estados, está combinado de a polícia entrar em greve até o final do mês.

            Sou muito sincero, sou um Senador independente, mas acho uma maldade muito grande o que se está fazendo.

            Não é a oposição. Quem botou no jornal todas essas matérias em relação à Petrobras não foi a oposição. Não foi a oposição! Foi a liberdade que o PT tanto defendeu no passado, que a imprensa pôde agir, que a Polícia Federal pôde agir e que a promotoria pública - meu abraço ao Supremo Tribunal Federal pela decisão de ontem, que impediu que se tirasse da promotoria a possibilidade de abrir inquéritos e processos eleitorais. Todos esses permitem que nós vivamos a hora que estamos vivendo.

            É por isso que eu acho que nós deveríamos, que nós precisaríamos, seria realmente muito importante se fazer um grande entendimento em cima desses meses que nos afastam das eleições. Não creio que o clima da explosão some para quem quer que seja. Para a oposição, não, até porque não é do estilo da oposição partir para esse tipo de trabalho. Para o PT, creio que não.

            Fazer uma campanha e um grande debate, de grandes discussões, debater as grandes teses, com paz, com tranquilidade e com respeito, acho que será fundamental. A radicalização não soma para ninguém - não soma para ninguém. E nós vivemos 21 anos para poder retomar esse momento de democracia.

            Digo com toda a sinceridade: as lideranças, os partidos políticos deveriam se reunir. No Governo do Itamar, eu fui Líder do Governo e, por iniciativa minha e aceita pelo ilustre Presidente, vindo de um impeachment que afastou o Presidente da República, reunimo-nos com o Presidente Itamar, todos os presidentes de todos os partidos - lá estava o Lula, lá estava o Brizola, de todos os partidos; e, do outro lado, estavam o Itamar e todo o seu Ministério.

            O Itamar disse: “Nós estamos numa hora muito difícil. Depois de 21 anos de regime de força, o primeiro Presidente eleito pelo povo é afastado pelo Congresso. A responsabilidade é minha, mas muito mais do Congresso, porque não foi o povo que me botou aqui. Quem me botou aqui foi o Congresso, como substituto direto do Presidente afastado. Mas vamos fazer um entendimento: qualquer um dos senhores presidentes de partido, em qualquer crise nacional, crise de Estado, que invoque a situação brasileira, comuniquem-me, e faremos uma reunião igual a esta.”

            Eu peço licença para ter o mesmo direito: qualquer crise que houver no Governo, antes de tomar qualquer providência, eu convoco uma reunião igual a essa, para nós conversarmos.

            Itamar não precisou convocar nenhuma vez. Mas nenhum Presidente precisou convocar, nenhuma vez, e não tivemos nenhuma crise igual a esta.

            Eu acho que se poderia fazer uma reunião neste momento: a Presidência da República, os presidentes de partidos, os candidatos. Vamos para luta, vamos para o debate, vamos discutir, mas vamos ter um pacto de confiabilidade, um pacto de respeito, um pacto de entendimento. Vamos entender que nós estamos caminhando para aonde ninguém sabe. Vamos ter um mínimo de respeitabilidade. Eu acho fundamental.

            O que me assusta é a desesperança que eu vejo no povo. E a primeira manifestação dessa desesperança - Deus me perdoe! - é torcer para que o Brasil perca na Copa do Mundo: “Eu quero que o Brasil perca, porque, senão, essa gente vai fazer isso, mais isso, mais isso.”

            Um jornal publicou que fizeram uma série de perguntas, inquérito, às pessoas para que dissessem o que eles achavam da Copa do Mundo.

            As duas iniciativas mais invocadas foram: em segundo lugar, que a dengue de Campinas se espalhe pelas 16 capitais e que o mundo não venha por medo; e a primeira, que o Brasil perca para a Argentina nas oitavas de final.

            Isso se sabe que não vem do coração, mas é um sentimento de raiva das coisas que estão acontecendo. É um sentimento de raiva, de incompreensão com relação a esse contexto geral que estamos vivendo. Não dá. Sinceramente, não dá para entender. Eu fico me perguntando.

            Quando a Presidente Dilma assumiu, eu disse dessa tribuna: eu votei nela no segundo turno. No primeiro eu votei na Marina; no segundo, eu votei nela. E ao explicar o voto nela, desta tribuna eu disse: é uma pessoa que eu respeito. Eu respeito a sua luta, respeito a sua garra, respeito a sua resistência, respeito porque ela foi uma heroína na hora da luta. Jovem de 17, 18 anos, em vez de estar por aí, foi, lutou, foi para a cadeia, foi torturada, manteve a firmeza, manteve a dignidade.

            Quando partiu para a vida na normalidade, no seu casamento, lá no Rio Grande do Sul, foi uma grande Secretária da Fazenda do Collares na Prefeitura, grande Secretária de Minas e Energia do Collares no governo do Estado, grande Secretária de Minas e Energia no governo de Olívio Dutra. Quando Lula se elegeu, reuniu equipes e mais equipes para montar o seu plano de governo. Lá na equipe de Minas e Energia, para a qual foi chamada porque era Secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, ela despontou de tal maneira que o Lula ficou fã dela, gostou dela.

            E ninguém do PT do Rio Grande do Sul, meu amigo Paim, indicou a D. Dilma para ministra; foi escolha pessoal do Lula. Tanto que se disse que o Rio Grande do Sul, no ministério primeiro do Lula, teve uma série, seis ou sete ministros, sei lá quantos. A Srª Dilma era taxa pessoal do Lula.

            Eu esperei muito da Presidente e vim a esta tribuna várias vezes. É verdade que, muitas vezes, diziam: “Simon, vá devagar, porque vai te arrepender.” Eu até publiquei o livro Resistir é preciso. E ela demitiu seis Ministros por corrupção. O termo foi... Como é?

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Malfeito.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Malfeito, sim. Obrigado, Senadora Ana Amélia

            O malfeito de alguns Ministros. Mas, depois, deu no que deu. É o malfeito em cima de malfeito. E, só na reunião que ela teve com os componentes, no almoço de ontem, eu vi alguns representantes de malfeito. Por isso o descrédito. Por isso o Brasil vive uma hora triste, uma hora amarga, uma hora em que não há mais credibilidade.

            Os senhores não podem calcular. E eu faço questão de dizer: não se diga, não, que a Petrobras está vivendo um problema dramático, que vão quebrar a Petrobras ou coisa parecida. A Petrobras vai dar a volta com muita tranquilidade. A Petrobras vai voltar a ser a Petrobras. Talvez o próximo presidente bote na frente da Petrobras um cartaz dizendo: políticos podem entrar, mas em cargo de direção, não. Em cargo de direção, um político partidário que venha aqui para representar o partido, não! Tem que ser técnico. Pode até ser político, mas tem que ser técnico, competente e responsável. Mas a Petrobras vai bem.

            Por outro lado, acho que se nós realmente fizéssemos essa reunião onde o PT se comprometesse a não fazer esse tipo doloroso de propaganda que ele começou... A gente sabe quando começa, mas não sabe quando termina. A do PSDB foi no último dia, nos dois últimos dias, lá no final. E esse ainda nem começou. Se começa com essa propaganda do PT, que o Tribunal Superior Eleitoral tirou do ar... Tirou do ar! Não é preciso dizer mais nada. Se começa assim, terminará como?

            Eu vi ontem a fotografia das lideranças do Senado, do PMDB, no Instituto Lula, falando com o Presidente. Eu até imaginei: foram falar com o Presidente para que o Presidente venha colaborar nesta hora difícil. O ex-Presidente é uma força motora neste País! Foram resolver os problemas eleitorais dos seus Estados. Casualmente, além de serem problemas eleitorais dos seus Estados, dos seus partidos, da sua família.

            Achei doloroso publicar aquela matéria. Tenho certeza de que não foi o Lula que publicou. Claro que não foram os Senadores do PMDB que iam publicar aquilo, mas alguém que estava por lá e que cometeu aquele ato de maldade, de tirar aquela fotografia e fazer a distribuição. No dia em que São Paulo parou, com aquela greve dramática, seja qual for o assunto que os levou ali para conversar com o Presidente. “Presidente, está acontecendo isso, temos que fazer alguma coisa”.

            Faço um apelo, não sei a quem. Só tenho certeza de que era mais fácil fazer um apelo ao Papa Francisco e ele responder do que à Presidenta e ela, na sua eloquência de firmeza, ter o gesto de aceitar.

            Vamos nos reunir. Vamos fazer um esquema: de hoje até a eleição não se vota mais nada que mexa no equilíbrio da economia deste País. Não é hora de se criar cargo, não é hora de se fazer esse ou aquele tipo de nomeação. É hora de governar e de olhar para a eleição.

            Vamos assumir o compromisso. E me refiro a ti, meu companheiro que está, nesse momento, me assistindo pela TV. É claro que você vai torcer pelo Brasil. Como eu, estão com raiva, estão com maldade. Eles vão usar, vão abusar, mas façam o que quiserem, nós vamos torcer pelo nosso País. E o nosso País merece ganhar esse campeonato.

            Vamos nos dar as mãos no sentido de impedir que se façam as proezas que estão programando, como, por exemplo, caminhada nas portas dos estádios de futebol, caminhadas enormes no dia das primeiras partidas que forem inaugurá-los. Para que isso? Mas para que isso? Já estamos com manchetes no mundo inteiro. A revista mais popular de Londres publica a praia da Copacabana com desprezo, o rio já entrando no mar; outra publica uma praia do Brasil com os assaltantes pegando um turista estrangeiro. A Veja publica uma reportagem do melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo, na capa em que a sua irmã diz que não quer que ele venha para o Brasil. E elas não virão de jeito nenhum, porque aqui elas têm medo de ser assaltadas.

            Vamos fazer um clima de tranquilidade.

            Isso que aconteceu ontem, anteontem e hoje em São Paulo está se repercutindo no mundo inteiro. É claro que, na véspera de uma Copa do Mundo como esta, as notícias de que as vagas ainda estão vagas nos hotéis, que não estão preenchidas, são reais.

            Eu creio, com toda a sinceridade - e no Eclesiastes já se diz-, que há momento para tudo no mundo: para chorar, para rir, para trabalhar, para descansar, para brigar, para fazer as pazes.

            É claro que nós estamos num momento duro. É uma eleição. É uma eleição dramática. Há uma proposta que é do PT, que lá está há doze anos e acha que tem direito de ficar mais quatro, dezesseis anos. Há uma proposta que é do PSDB. Já esteve por doze anos e acha que o PT está há dezesseis e deve voltar para o PSDB. E há outra proposta que acha que o PT e o PSDB já estão há vinte anos no Governo e que tem que se entrar com uma terceira via.

            A discussão é válida. O debate é importante, mas em termos elevados.

            Eu vi vários candidatos, tanto o Aécio como o ilustre candidato do Partido Socialista, debatendo nesse sentido da paz. E vi a Presidenta dizendo a mesma coisa.

            Que se reúnam os candidatos. Que se sentem à mesa. Que promovam um debate. Que promovam um compromisso. Que se faça um apelo conjunto ao povo brasileiro.

            Este é o momento em que nós temos que ter a dignidade, o respeito, a seriedade, a honorabilidade necessária em nível de Brasil e em nível de mundo.

            É um apelo que eu faço, meio desarranjado. Sem vontade, sem paixão, sem brilho, sem outra preocupação.

            Vou voltar para Porto Alegre, mas não vou sair daqui sem dizer isso que eu estou sentindo.

            As redes sociais... Olha, eu acho que ninguém se apaixonou mais pelas redes sociais do que eu no Brasil.

            O SR. PRESIDENTE (Ruben Figueiró. Bloco Minoria/PSDB - MS) - Sr. Senador Pedro Simon, permita-me interrompê-lo, mas os estudantes do Curso de Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado, de São Paulo, a FAAP, estão ouvindo com muita atenção o pronunciamento de V. Exª. Que eles sejam bem-vindos ao Senado da República.

            Tem V. Exª a palavra novamente, Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Obrigado por V. Exª me avisar, Presidente. Peço desculpas por uma improvisação tão fria diante de uma equipe de representação tão respeitável.

            Mas eu volto a dizer: as redes sociais são algo excepcionalmente positivo. Não tem mais Estadão, dos Mesquitas, O Globo, televisão, rádio, jornal, grandes redes. Existem. Mas até pouco tempo atrás quem estava fora dessa rede não existia. Agora a gurizada, a mocidade simples, humilde, a dona de casa, seja quem for se comunica, debate, conhece o que está se passando no mundo e diz o que está sentindo.

            Essa globalização via rede social é espetacular, mas tem um lado negativo. Um é daqueles que infelizmente têm má índole e usam as redes sociais de maneira torpe. É o que aconteceu agora, quando um cidadão do Ceará e outro de São Paulo usaram a rede social para falar mal do Presidente do Supremo, para pedir que alguém mate o Presidente do Supremo. É uma coisa cruel, desumana, humilhante, ridícula. E existem outras.

            Os partidos políticos estão se reunindo, principalmente, eu soube, o PT e o PSDB. E estão fazendo debates, análises e estudos de jovens para trabalharem nas redes sociais durante a campanha, para divulgar, para fiscalizar. Aí é que eu tenho medo. Muitas vezes para inventar, para caluniar, para desmanchar a honra de A, de B ou de C, fazendo com que isso que é uma maravilha, que é a rede social, que nasceu, repito desta tribuna, lá nos Estados Unidos, na campanha do Obama... Obama que era um zero à esquerda, que se candidatou à presidência como início de carreira - a Clinton ia ganhar tranquila -, e com os seus discursos brilhantes e a mocidade do seu lado ganhou nas redes sociais.

            Eu creio, com toda sinceridade eu creio que essas redes sociais, os partidos devem ter o cuidado necessário.

            Há pessoas como os dois que fizeram as dramáticas ameaças ao Presidente do Supremo, um cidadão de honra, digno, respeitável que está honrando o Supremo Tribunal Federal, mas que o partido a, b, c ou d planeje equipe para fazer o mal, nisso eu não acredito.

            Eu faço um apelo dramático porque isso é algo que começa e não se sabe como para. Eu começo atirando pedras para o lado de lá, mas eu que não me engane, vou receber pedras do lado de cá. Com uma mão eu atiro, mas do lado de lá eu recebo de volta.

            Por isso, Sr. Presidente, há anos, nos reunimos várias vezes no Senado, reunimos grupos de vários partidos, até no tempo da Arena e do MDB - V. Exª era jornalista, Senadora Ana Amélia -, horas e horas nos reunimos. Nos reunimos no gabinete da Presidência - às vezes com o Presidente Passarinho - nos reunimos para debater situações dramáticas que o Brasil estava vivendo, o Senado se reuniu todo e foi ao Presidente, inclusive militar, para buscar uma pacificação.

            Hoje, as reuniões que a gente sabe que existem aqui no Senado são as chamadas reuniões de Líderes que não sei o que fazem, nem para que fazem, mas não dá para fazer um apelo aqui nesta Casa, porque cairia no vazio.

            Por isso, eu agradeço e agradeço muito a V. Exª, ilustre Presidente, aos nossos queridos Senadores Ana Amélia e Paim e peço desculpas pela emoção, pela mágoa, talvez por um tom de pessimismo, que não é do meu feitio. Eu tenho fé, eu tenho fé, uma fé muito grande. Quando vejo na Igreja brasileira, na Igreja Católica, uma figura como o Papa Francisco tendo a coragem de mexer em coisas que a Igreja, por centenas de anos, não teve; quando vejo até um certo silêncio, eu não consigo entender, por exemplo, é meio singelo, tanto aqui em Brasília, quanto lá em Porto Alegre, Ana Amélia, quando a gente recebe o boletim de domingo da missa, como o boletim mensal, que publica diariamente o ritual da missa de cada dia, faz um ano que o Papa assumiu e ainda, como disse, botam reticências, ainda não apareceu o nome do Papa Francisco. Um ano depois? Claro que, quando era arcebispo, morreu, ficou um tempo sem, etc. e tal, você fica ali aguardando para ver quem vai ser. Agora, faz um ano que o Papa já é Papa, e os boletins dominicais vêm com: Papa seguido de reticências.

            Mas, mesmo assim, ele está fazendo o seu trabalho e, amanhã, ele vai, que coisa interessante: vai ele, um rabino judeu da Argentina e com um representante da Igreja Maometana. Os três vão a Jerusalém visitar o Santo Sepulcro, vão visitar o Muro do Templo de Jerusalém e vão visitar uma sinagoga muçulmana. Num exemplo belíssimo, ali estão as três religiões: católicos, judeus, muçulmanos, que, juntos com os cristãos, são a imensa maioria da humanidade. Vai levar uma mensagem de paz, uma mensagem de amor. Se ele pode fazer isso lá - visitar o local da guerra, da raiva e da briga a que é a Terra Santa para nós, católicos, é a Terra Santa para os judeus e é a Meca para os mulçumanos - se ele pode reunir os três e ir junto, numa demonstração para o mundo de afetividade, de paz que eles querem para aquela região, então, por que nós, aqui no Brasil, que pensamos igualmente, que somos iguais, que temos as mesmas ideias, os mesmos princípios, numa briga de vaidade, para ocupar um cargo ou coisa que o valha, não temos condições de nos reunir nesse sentido?

            Muito obrigado pela tolerância de V. Exª, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/05/2014 - Página 167