Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexões acerca da aplicabilidade dos ideais da Inconfidência Mineira à sociedade brasileira contemporânea.

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO, SIMBOLOS NACIONAIS.:
  • Reflexões acerca da aplicabilidade dos ideais da Inconfidência Mineira à sociedade brasileira contemporânea.
Publicação
Publicação no DSF de 24/04/2014 - Página 1349
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO, SIMBOLOS NACIONAIS.
Indexação
  • REGISTRO HISTORICO, REFERENCIA, LUTA, INDEPENDENCIA, BRASIL, COMENTARIO, INFLUENCIA, ATO ANTERIOR, OBJETIVO, VONTADE, TRANSFORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, PAIS, CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, GESTÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), RELAÇÃO, ESTABILIDADE, ECONOMIA NACIONAL.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco Minoria/PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Perfeito. Então, vou correr.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Rádio, TV, Jornal do Senado, complexo de comunicação aqui da Casa, senhoras e senhores, em 21 de abril, comemora-se uma das mais importantes datas nacionais, porque a Inconfidência Mineira é, antes de tudo, um brado em favor da brasilidade, em favor de uma Nação livre.

            A independência sonhada por Tiradentes era ousada e em sintonia com os anseios de uma América republicana. Era um sonho maior que o da independência realizada em 1822, sob o domínio do Império.

            É verdade que as aspirações dos inconfidentes estavam mais focadas em Minas Gerais, terra do nosso aguerrido Senador Aécio Neves. Mas os ideais dos inconfidentes, baseados nos iluministas da França e na Independência dos Estados Unidos da América, em 1776, eram grandiosos e inspiradores da nacionalidade brasileira. Lutavam pela ruptura com o absolutismo monárquico e o jugo explorador da metrópole.

            Os inconfidentes queriam uma Minas Gerais republicana e independente de Portugal!

            O sonho altaneiro de Tiradentes permanece vivo para quem deseja construir um Brasil liberto para todos os brasileiros. Isso quer dizer um País direcionado para o futuro, focado na tecnologia e capaz de oferecer oportunidades de crescimento e desenvolvimento às gerações de hoje e de amanhã.

            A pergunta que não pode, não quer e nem deve calar é: como fazer para transformar definitivamente o sonho inconfidente numa realidade firme e duradoura, compatível com o estágio de desenvolvimento do século XXI?

            Seguir o ideário inconfidente hoje significa lutar por um Brasil centrado na gestão de resultados, na educação de qualidade, com assistência hospitalar adequada e segurança para o trabalhador.

            Levantar a bandeira dos inconfidentes no Brasil contemporâneo é cerrar fileiras para que a estabilidade econômica não escorra como água entre os dedos e jogue por terra o esforço de décadas.

            Essa é uma luta que transcende colorações e ideologias partidárias, porque se revela como uma prioridade de Estado.

            Temos um sentimento de frustração quando vemos a credibilidade brasileira cair no contexto internacional, a inflação fugir ao controle com inequívoca tendência de superar os 6,5% e a política econômica literalmente naufragar.

            Uma frustração, decerto, muito parecida com a derrota da Inconfidência.

            A frustração de quem vê o Brasil perder as bases da estabilidade econômica não tem cor, nem partido. Essa frustração surge de diversas formas: na indignação contra a precariedade do transporte público e nos gastos injustificáveis com a Copa do Mundo.

            Traduz-se na constatação da perda do poder de compra nas gôndolas dos supermercados, no aumento das mensalidades escolares e dos planos de saúde.

            Mas a frustração do cidadão comum se agrava quando ouve as explicações e as reações do Governo.

            Negando o óbvio, negando a realidade do dia a dia das cidades, o Ministro da Fazenda e o Presidente do Banco Central tentam iludir o trabalhador, dizendo que a economia está no rumo certo, que a inflação está controlada. Projetam até a retomada do crescimento econômico.

            Há muito, o Governo perdeu a sintonia com a realidade. Afogou-se na retórica política e nas bandeiras ideológicas que, entre tantas picuinhas, querem fazer distinção entre conceder e privatizar. O Governo tomou um rumo cego em que não aceita sugestões nem mesmo da Base aliada. Há um sentimento de soberba e autossuficiência que traz extremo prejuízo ao futuro da economia e aos destinos do Brasil.

            É difícil acreditar que, mesmo diante de tantos indicadores negativos, ninguém fale em diminuição dos gastos públicos e em reforma do Estado. A vontade de se reeleger transformou-se em obsessão tamanha que tirou da Presidente a percepção da realidade das ruas, do cotidiano do trabalhador e da dona de casa.

            Cito aqui o artigo do colunista Guzzo, na revista Veja desta semana: "A propaganda descomunal que o Poder Público soca todos os dias em cima da população e o uso sistemático da mentira talvez já não estejam dando os resultados que costumam dar.”

            É hora de mudar! Esse pessoal está aí há 12 anos no poder. É a hora da alternância, da renovação! É difícil acreditar que, no lugar de andar para frente e concretizar o sonho de firmar-se como liderança econômica e política entre as nações emergentes, o gigante brasileiro cambaleia e ameaça deixar os ideais grandiosos e inconfidentes voltarem ao berço esplêndido.

            O desafio que se coloca hoje para o País, ao se comemorar a Inconfidência Mineira e o Descobrimento do Brasil, é o de se reinventar enquanto nação participativa e crítica.

            A dinâmica da sociedade do conhecimento, integrada pelas redes sociais, não permite o engodo político nem admite as meias verdades como se tem visto, lamentavelmente, em torno das operações da Petrobras.

            Não se pode pretender enganar um país inteiro com meia dúzia de argumentos e um sem número de palavras. Os fatos superam as explicações superficiais e evasivas tanto no caso da Petrobras quanto em relação à economia brasileira.

            A estimativa para a inflação tem ficado insistentemente acima de 6% desde fevereiro, Senador Roberto Requião, e superou já o teto da meta, 6,5%, após a inflação de março ter registrado o pior resultado para o mês desde 2003.

            Essa tendência inflacionária não se resume ao aumento sazonal dos preços dos alimentos e dificilmente será contida com o aumento da taxa de juros, que deverá chegar aos 12% até o final do ano. O crescimento do PIB para 2014 continua abaixo do estimado no orçamento federal, de 2,5%, e também está menor que a previsão, 2%, divulgada pelo Banco Central no mês passado.

            Esse descompasso entre o discurso do Governo e a realidade do País tem implicações sérias para o equilíbrio das contas públicas. Se o Governo se organiza com base numa previsão de crescimento econômico maior que a real, coloca-se em risco o superávit primário e as condições orçamentárias e financeiras para cumprir os compromissos.

            Srªs e Srs. Senadores, inspirados pelos ideais da Inconfidência Mineira, os brasileiros precisam redescobrir o Brasil, compreender que os destinos da Nação dependem da participação crítica na vida política do País. É preciso que cada cidadão se questione sobre o que deseja para o futuro de seus filhos e de sua família.

            É hora de mudar!

            Obrigado, Presidente. Cumpri com a minha promessa de tempo. Tenho ainda dois minutos, que concedo a V. Exª de bom grado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/04/2014 - Página 1349