Discurso durante a 65ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da realização da Copa do Mundo no Brasil.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA NACIONAL, ESPORTE.:
  • Defesa da realização da Copa do Mundo no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 08/05/2014 - Página 181
Assunto
Outros > ECONOMIA NACIONAL, ESPORTE.
Indexação
  • DEFESA, REALIZAÇÃO, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, SEDE, BRASIL, MOTIVO, CONTRIBUIÇÃO, MELHORIA, ECONOMIA NACIONAL, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DOCUMENTO, AUTORIA, GILBERTO CARVALHO, MINISTRO DE ESTADO, SECRETARIA-GERAL DA PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ASSUNTO, DIALOGO, GOVERNO, SOCIEDADE, REFERENCIA, COMPETIÇÃO ESPORTIVA.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Prezada Senadora Ana Amélia, Presidente desta sessão, quero cumprimentar o técnico da Seleção Brasileira, Felipe Scolari, o Felipão, que hoje anunciou a escolha dos nossos maiores craques para disputar a Copa do Mundo de 2014, que se realizará a partir de 12 de junho em nosso País.

            Goleiros: Jefferson, Júlio César e Victor.

            Zagueiros: Dante, David Luiz, Henrique e Thiago Silva.

            Laterais: Daniel Alves, Maicon, Marcelo e Maxwell.

            Meio-campistas: Fernandinho, Hernanes, Luiz Gustavo, Oscar, Paulinho, Ramires, Chelsea, Willian.

            Atacantes: Bernard, Fred, Hulk, Jô, Neymar.

            Soube que alguns brasileiros teriam gostado que outros jogadores tivessem sido também convocados. Não foi possível satisfazer a todos. A Rede Globo fez uma pesquisa dizendo que 55% dos brasileiros que responderam à pesquisa não estavam tão satisfeitos; 45% estavam.

            Quero aqui cumprimentar o Felipão pela escolha que realizou. Eu, por exemplo, gostaria de ver o Robinho ao lado do Neymar, mas compreendo os critérios do Felipão para convocar esses que ele avaliou que são os melhores craques hoje para defender a Seleção Brasileira.

            Quero desejar a cada um desses jogadores, que vão ter enorme responsabilidade perante todos nós, que tenham o maior sucesso e, se possível, que conquistem a Copa do Mundo para o Brasil, fazendo com que, 64 anos depois de termos sido derrotados, no Maracanã, pelo Uruguai, possamos agora não apenas chegar à final, mas conseguir vencer.

            Desejo também a melhor sorte a todos os países que aqui vierem jogar e, sobretudo, reitero a todos os brasileiros que venhamos a ter um procedimento efetivamente de dar as boas-vindas aos estrangeiros e às equipes que estarão disputando a Copa do Mundo.

            Tenho aqui reiterado que o futebol, como os esportes em geral, constitui, por excelência, uma forma de confraternização, de união entre os povos.

            O filme “Invictus” mostra a história de como Nelson Mandela percebeu que poderia, justamente através do esporte, e do esporte mais apreciado na África do Sul, o rúgbi, aproximar brancos e negros. Ainda no início do seu governo, quando eram muito evidentes os sinais do apartheid, da discriminação racial na África do Sul, Nelson Mandela teve a ideia de convidar jogadores, sobretudo brancos, da seleção de rúgbi, para treinarem para o campeonato internacional que seria realizado na África da Sul. Eles deveriam se preparar em um bairro relativamente pobre e em que a população era de negros. Diante da integração nos estádios durante a disputa das seleções de diversos países, negros e brancos estavam torcendo por sua seleção.

            O Presidente Nelson Mandela também foi um dos que propugnou para que em 2010 a Copa do Mundo fosse realizada na África do Sul - onde foi realizada a última Copa -, porque percebeu que o futebol constitui-se numa maneira de unir os povos, de contribuir para a paz entre povos rivais, povos que tenham grandes desavenças.

            Aliás, um dos fenômenos mais importantes da história do futebol relacionados à boa relação entre povos aconteceu justamente com o Santos Futebol Clube, de Pelé, quando, na década de 60, o Santos, ao visitar dois países da África, conseguiu parar, por alguns dias, guerras que ali se realizavam.

            Aqui recordo o depoimento de Guilherme Nascimento de como isto aconteceu:

Depois de conquistar a Libertadores e o Mundial duas vezes, o Santos ainda parou duas guerras.

O branco da paz nunca foi tão bem representado como em 1969, pelo Santos. Naquele ano, o clube excursionou pela África e levou raros momentos de calma e felicidade para moradores de regiões devastadas. Por conta da presença do Alvinegro no continente, duas guerras civis - e não uma, como se costuma falar -, foram paralisadas. Combates no Congo e na Nigéria foram cessados durante o tempo em que a delegação santista ficou no continente, no começo de 1969.

- Em menos de 10 dias o clube interrompeu os conflitos entre República do Congo e República Democrática do Congo e a Guerra de Biafra, na Nigéria. Não era interessante para os países terem combates enquanto o Santos estava lá e a guerra foi paralisada por alguns dias - explica Guilherme Nascimento, historiador do Santos.

Porém, quem viveu aquela época de perto não guarda más recordações. Pelo contrário.

- Para nós não tinha um ambiente de guerra, era estranho. Víamos um monte de guarda, o povo passando fome, mas lembro que todo mundo andava na rua com cadeira na cabeça, para ir ao estádio, pois lá não cabia todo mundo na arquibancada. Era uma festa para eles aquele momento. Foi emocionante - contou o ex-jogador santista Lima [...].

Apesar do risco, Pelé e sua turma foram tratados como majestade, como lembra Manoel Maria, ex-ponta direita do peixe.

- O Rei é o Rei em qualquer lugar. Todo mundo em cima do Pelé, era uma coisa linda. Nós éramos assediados por todos, não passamos nenhum problema.

Os combates continuaram logo após a saída do Santos do país, mas, certamente quem presenciou o espetáculo do time de branco jamais se esqueceu. O período marcava a consolidação de uma equipe nascida para o sucesso. Em três décadas, 50, 60 e 70, foram 63 títulos.

- De olhos fechados já sabíamos aonde cada jogador estava. O Santos foi a principal atração do mundo por um longo tempo - destacou Pepe.

Por conta disso, recordes de renda eram constantemente superados pela equipe que todos queriam ver, e o sucesso da excursão na África foi um exemplo de como a fama do time era capaz de coisas inimagináveis, mágicas.

Tem até música...

A torcida do Santos criou uma música, cantada em quase todos os jogos da equipe, que homenageia o esquadrão alvinegro das décadas de 50, 60 e 70. O fato de o clube ter paralisado guerras também é mencionado. [...]

            (Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Eis a letra que, então, foi composta:

O meu Santos é sensacional

Só o Santos parou a guerra

Com Rei Pele, bi Mundial

O maior time da Terra

É meu amor, primeiro amor, eterno amor, Santos! (2x)

            Srª Presidenta, eu gostaria de aqui assinalar alguns dados sobre o que pode significar a Copa do Mundo como um grande investimento para todos os brasileiros. Os únicos investimentos feitos exclusivamente por causa da Copa se limitam a R$8 bilhões, obras nos estádios. Desse total, o Governo Federal financiou R$4 bilhões por meio do crédito do BNDES. O dinheiro volta com juros para os cofres do Banco.

            A Copa se paga e o País sai ganhando. Levantamentos feitos pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), ligada à USP, mostra que a Copa das Confederações acrescentou R$9,7 bilhões ao PIB. A expectativa é de que a Copa do Mundo movimente três vezes esse valor, como R$30 bilhões. Mais do que todos os gastos em estádios e aeroportos, portos, segurança, telecomunicações e obras de mobilidade urbana relacionadas á Copa.

            Todos os produtos fabricados e os serviços prestados para realização da Copa do Mundo geram riqueza que se espalha pelo País. Quarenta e nove por cento da renda gerada pela Copa das Confederações...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... ano passado ficaram nas seis cidades-sedes dos jogos; os outros 51% se difundiram pelo Brasil.

            Tenho a convicção de que, em que pese devamos estar atentos às críticas sobre as prioridades de investimentos, dos resultados econômico-financeiros dos investimentos realizados, o grande movimento de turistas e equipes que virão ao Brasil farão com que de tal forma se estimule a economia. Recursos serão gerados para que, nas áreas mais prementes da educação, da saúde, do transporte público e nas áreas as mais diversas, tenhamos benefícios tão significativos que iremos realmente verificar que, além de trazer grande alegria para todos nós que amamos tanto o futebol...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... efetivamente a Copa vai gerar benefícios à sociedade brasileira, inclusive àqueles que hoje observam que está um tanto caro o ingresso para a Copa do Mundo.

            Quisera, Srª Presidente, acho justa a crítica, que a FIFA e a Confederação Brasileira de Futebol garantissem que um número maior de pessoas de baixo poder aquisitivo pudessem estar presenciando a Copa e que isso de fato venha a ser realizado. Mais de 50 mil ingressos serão destinados às áreas mais carentes, inclusive para as entidades de catadores de material reciclável e assim por diante.

            É importante que efetivamente os benefícios...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - É importante que os benefícios advindos da realização da Copa do Mundo sejam efetivos e democraticamente espalhados para toda a população brasileira.

            Reitero quão importante será que não tenhamos quaisquer atos de violência, seja nos estádios, seja em qualquer lugar do nosso País, sobretudo que possamos, civilizadamente, receber todos os que vierem aqui participar da Copa do Mundo.

            Requeiro, Srª Presidenta, que o documento feito pela Secretaria-Geral, pelo Ministro Gilberto Carvalho, Diálogos Governo-Sociedade Civil: Copa 2014, possa ser publicado, na íntegra, como parte do meu pronunciamento.

 

DOCUMENTO ENCAMINHADO PELO SR. EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO

            (Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

Matéria referida:

- Diálogos Governo-Sociedade Civil: Copa 2014-Ministro Gilberto Carvalho.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/05/2014 - Página 181