Discurso durante a 82ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao Governo Federal pela falta de prioridades na gestão do país.

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas ao Governo Federal pela falta de prioridades na gestão do país.
Publicação
Publicação no DSF de 29/05/2014 - Página 108
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, GESTÃO, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, AUMENTO, INFLAÇÃO, REDUÇÃO, CRESCIMENTO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), PREJUIZO, ECONOMIA NACIONAL, DESEMPREGO, BRASIL.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco Minoria/PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente. Com a colaboração e o apoio sempre de V. Exª.

            Srªs e Srs. Senadores, imprensa do Senado, amigos, o programa do medo, veiculado pelo Partido dos Trabalhadores, beira o ridículo. Como é que o PT tem coragem de falar em medo do passado quando o Brasil e o mundo assistem ao verdadeiro naufrágio da economia e à perda do controle sobre a inflação? Queremos a volta ao passado, sim, e o mais rápido possível!

            Passado de estabilidade econômica, de equilíbrio fiscal, inquestionável, legado do governo Fernando Henrique Cardoso. Lula recebeu um País organizado e estável economicamente, um País pronto para o desenvolvimento sustentável e duradouro. Mas, no lugar de fazer as reformas, preferiu acomodar-se e navegar na herança fantástica deixada por Fernando Henrique e na bonança que antecedeu a crise nos Estados Unidos.

            Lula quis apenas aproveitar os bons momentos de prestígio político para iludir o povo como se o Brasil estivesse imune à crise. Até mesmo os tão alardeados e necessários programas sociais, colocados como bandeira maior do PT, são heranças do governo de Fernando Henrique. O que o governo Lula fez de substancial para oferecer uma educação de qualidade para o Brasil? O que o governo Lula fez de indispensável para dotar o Brasil de uma infraestrutura adequada para o escoamento da produção?

            Luiz Inácio governou em função de transformar pequenas realizações em fatos e factóides políticos. Mas qual foi o legado que o governo Lula deixou para a economia, para a produtividade e competitividade do Brasil?

            O maior mérito de Lula é ter enganado o povo brasileiro ao eleger uma sucessora orientada por dogmas antiquados e uma doutrina sectária, que tem levado o Brasil a um desgoverno. As consequências são imprevisíveis para o desenvolvimento do País.

            Quem tem todo direito de morrer de medo é o trabalhador brasileiro, que vê o dragão inflacionário torrar o seu dinheiro no final do mês. É a dona de casa que vai ao mercado e vê um carrinho de compra cada vez mais vazio.

            Quem tem de sentir medo é o cidadão que precisa de remédios e percebe no balcão da farmácia que está tudo bem mais caro que no ano passado.

            Em capitais como Brasília, a inflação estourou o teto da meta há muito tempo.

            A Presidente não enxerga porque não quer enxergar. Dilma Rousseff parece ter herdado de seu antecessor a pior das qualidades: ignorar a realidade e fazer pouco caso de fatos incontestáveis.

            A exemplo da malfadada balela da marolinha, a Presidente tem o desplante de dizer, por exemplo, que os aeroportos não têm padrão FIFA, mas, sim, padrão Brasil.

            O que é isso, companheira Dilma? Não perca as estribeiras, nem se desespere!

            É uma vergonha para todos nós, brasileiros, ouvir uma Presidente sair pela tangente e dizer, por outras palavras, que as obras inacabadas da maioria dos aeroportos e os improvisos nos estádios são o padrão brasileiro.

            O Brasil pode e tem o direito de exigir o padrão FIFA!

            Trata-se de um oportunismo sem igual a Presidente tirar proveito do repúdio que a população sente por tanto dinheiro gasto com a Copa do Mundo, seguramente a mais cara da história - a soma das duas últimas Copas, que foram realizadas na África e na Alemanha.

            O Governo faz de tudo para atender ao padrão da FIFA. Aprova um regime diferenciado de contratação, criando as condições ideais para o superfaturamento; adota medidas que chegam mesmo a tirar a soberania brasileira. E agora? Agora vem a público criticar a FIFA?

            Isso não faz sentido e não engana ninguém.

            O eleitor já constatou que, além dos bilionários estádios e de uma dívida a ser paga por todos nós, muito pouco vai ficar como legado da Copa para o trabalhador. Além disso, isentou a FIFA de todos os impostos. Vai receber líquido, líquido.

            Srªs e Srs. Senadores, eu é que tenho medo das palavras da Presidente Dilma sobre a inflação.

            Dizer que "não está tudo bem, mas está tudo sob controle" é reconhecer a volta do indomável dragão inflacionário, alimentado pelo descontrole dos preços, pelas maquininhas incessantes de remarcação e pela perda do poder de compra dos salários.

            Como cidadão que viveu a hiperinflação nas décadas de 80 e 90, tenho medo de tudo de ruim e prejudicial que esse quadro pode causar ao Brasil.

            Tenho medo desse ar misterioso de quem aposta para ver.

            Dilma anda cutucando o dragão da inflação com vara curta.

            Para ela e para a equipe econômica, uma inflação que insiste em ficar no teto da meta, ou estourá-lo num mês ou no outro, "dá para ir levando", embora não esteja tudo bem.

            Isso causa pavor exatamente porque, quando a inflação começa a fugir do controle, pode saltar, de um momento para outro, de 6% para 10%, e daí para adiante.

            A verdade nua e crua é que, sem controlar os gastos públicos e sem uma ação preventiva, Dilma vai deixar uma herança maldita para seu sucessor.

            Causa pavor esse ritmo leniente do controle da inflação, que chega à irresponsabilidade do Governo com o salário do trabalhador. Como não temer a volta da inflação na faixa dos 20% ao mês? Todos nós sabemos como foi uma verdadeira guerra para o governo de Fernando Henrique colocar um freio na inflação, aliás, com medidas duramente criticadas pelo mesmo Partido dos Trabalhadores, o mesmo PT que está destruindo a estabilidade econômica. Tenho medo das dificuldades que as famílias enfrentavam para preservar os orçamentos familiares e tentar driblar o descontrole dos preços.

            Antes do Plano Real, a inflação era um pavor para as empresas, que não conseguiam sequer traçar planejamentos seguros para médio e longo prazos. Não é por acaso que o medo do Brasil inflacionado já chegou ao contexto internacional. A falta de rédeas na economia gerou a desconfiança dos investidores e resultou num rebaixamento da nota do Brasil pelas agências de risco. Esse descrédito reflete o mesmo medo que os brasileiros têm em relação à continuidade do Governo Dilma. Não estão claros os rumos que serão tomados na condução da economia por uma Presidente que enfrenta frágil quadro fiscal e desaceleração do crescimento do País.

            Tudo indica que, para melhorar os números, já estão pensando em alguma manobra contábil, ardilosa e sem compromisso com a verdade. Como qualquer brasileiro com um mínimo de bom senso, tenho medo das mentiras do Ministro Mantega para o desempenho da economia. Até agora, as previsões fantasiosas foram um fiasco. Será que Mantega e Dilma vão lembrar que, no início do Governo, previram um crescimento médio do PIB de 5% ao ano? Nesses anos do Governo Dilma, o Brasil só tem visto um pibinho atrás do outro, na faixa de 1,9%. O Governo Dilma só não perde em desempenho para os de Collor e Floriano Peixoto. Consegue atingir apenas 40% do crescimento médio de todo o período republicano. Imagine se ela não tivesse fama de boa gestora!

            O cidadão tem de temer pelo futuro do Brasil. Se continuar no ritmo atual, será um país sem crescimento, sem incentivo à produtividade, sem possibilidade de emprego e sem uma economia estabilizada.

            Apavora lembrar que a corrupção leva pelos ralos R$69 bilhões por ano. Esse é outro fantasma que nos atormenta: a continuidade dos males do presente, das falcatruas, dos mensalões, dos desmandos, dos aparelhamentos da máquina pública e da má gestão.

            O brasileiro quer voltar a ter um país de futuro promissor e livre de corrupção. O brasileiro quer conversar com os políticos para que consigamos trazer o País aos trilhos da estabilidade econômica, com serviços públicos de qualidade.

            A estabilidade econômica, o equilíbrio fiscal e o controle inflacionário são patrimônios do povo brasileiro, que quer também justiça e honestidade.

            O País que precisamos e devemos legar às gerações do futuro não pode abrir mão do crescimento sustentável e duradouro, não pode abrir mão de emprego, de prosperidade e de competitividade.

            Trata-se de um imperativo histórico, senhoras e senhores.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/05/2014 - Página 108