Discurso durante a 82ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Celebração do Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna.

Autor
Ana Rita (PT - Partido dos Trabalhadores/ES)
Nome completo: Ana Rita Esgario
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
FEMINISMO, SAUDE.:
  • Celebração do Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna.
Publicação
Publicação no DSF de 29/05/2014 - Página 134
Assunto
Outros > FEMINISMO, SAUDE.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, SAUDE, MULHER, DIA NACIONAL, REDUÇÃO, MORTE, PARTO, REGISTRO, NUMERO, OCORRENCIA, LOCAL, BRASIL, COMENTARIO, NECESSIDADE, AUMENTO, INVESTIMENTO, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS), OBJETIVO, ALCANCE, ESTIMATIVA, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAUDE (OMS).

            A SRª ANA RITA (Bloco Apoio Governo/PT - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, público presente, aqui, na tribuna - e que bom termos uma tribuna bastante cheia, pelo que agradecemos -, hoje, 28 de maio, celebramos o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna. O principal objetivo da data é chamar a atenção da sociedade brasileira para o problema das mortes maternas e ampliar o debate público sobre os direitos reprodutivos das mulheres.

            O dia 28 de maio foi instituído como o Dia Internacional de Ação pela Saúde da Mulher no IV Encontro Internacional da Mulher e Saúde, realizado em 1984, na Holanda. Na oportunidade, a realização do Tribunal Internacional de Denúncia e Violação dos Direitos Reprodutivos revelou que a questão da mortalidade materna era um grave problema de saúde pública em quase todo o mundo, problema este que persiste.

            Na região latino-americana e caribenha, o 28 de maio foi referendado como o Dia de Luta contra a Mortalidade Materna no V Encontro Internacional Mulher e Saúde, realizado em 1987, em São José da Costa Rica.

            Em conjunto com a Comissão de Assuntos Sociais, a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa celebrou a data com uma audiência pública, na última terça-feira, para discutir a humanização do parto em nosso País.

            Na audiência pública, realizada ontem, debatemos as violações dos direitos reprodutivos das mulheres.

            Embora tenhamos reduzido, em nosso País, a mortalidade materna, como mostra recente relatório da ONU, os dados ainda são preocupantes. O número de mortes continua inaceitável e significa que temos um grande desafio em reduzir essas cifras ainda mais.

            As principais vítimas da mortalidade materna no Brasil são mulheres negras e aquelas que residem nas regiões com maior nível de pobreza e que dependem, exclusivamente, do Sistema Único de Saúde para a assistência médica no período gestatório.

            De acordo com a Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 800 mulheres morrem, diariamente, em todo o mundo, por complicações associadas à gravidez. Um quarto das mortes maternas, na América Latina, ocorre no Brasil e 90% delas poderiam ser evitadas pela atenção pré-natal.

            Relatório recente da ONU aponta que mais de 9 mil mulheres latino-americanas e caribenhas morreram em 2013 por causas relacionadas à gravidez. No cenário mundial, o relatório estima 289 mil mortes maternas pelas mesmas complicações em 2013. No entanto, houve uma queda de 45% no número de mortes se comparado aos 523 mil óbitos em 1990.

            Outro dado preocupante é apontado em pesquisa da Fundação Perseu Abramo, que mostra que, no Brasil, 31% das mulheres declararam já ter sofrido violência no parto. Entre as violências relatadas pelas gestantes, encontram-se - vejam bem, Srs. Senadores, Srªs Senadoras - xingamentos, toques indevidos e proibição do acompanhante no parto. Mencionam-se, ainda, as cesarianas desnecessárias e a episiotomia, que é o corte da vulva. A pesquisa da Fundação Perseu Abramo confirma as denúncias recebidas pela CPMI da Violência contra a Mulher, da qual fui a Relatora.

            Nosso País tem feito esforços para reduzir a mortalidade materna e reverter esses dados preocupantes. Lembro que uma das iniciativas do governo brasileiro para diminuir a violação dos direitos reprodutivos das mulheres foi a implantação da Rede Cegonha. A estratégia, lançada em 2011, tem o propósito de ampliar a assistência integral à saúde de mães e bebês desde o pré-natal até os dois primeiros anos de vida.

            Além disso, desde 8 de maio deste ano, as maternidades do Sistema Único de Saúde, em todo o País, também passaram a contar com novas diretrizes para o atendimento humanizado ao recém-nascido. Seguindo recomendações da Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde publicou portaria que atualiza tais normas para procedimentos durante o parto.

            As medidas visam a beneficiar a saúde materna e infantil. A atualização das diretrizes agradou a setores que defendem o parto humanizado e a amamentação. Entre as ações previstas durante o pré-natal estão os exames de pré-natal de risco habitual e o de alto risco, acolhimento às intercorrências na gestação, acesso ao pré-natal de alto risco e aos resultados, vinculação da gestante, desde o pré-natal, ao local em que será realizado o parto, implementação de ações relacionadas à saúde sexual e reprodutiva, além de prevenção e tratamento das DST/HIV/Aids e hepatites.

            Lembro, ainda, Sr. Presidente, que em 25 de março deste ano, em decorrência das recomendações do Comitê CEDAW/ONU, o Comitê sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher, o governo brasileiro indenizou a mãe de Alyne da Silva Pimentel Teixeira. A jovem moradora de Belford Roxo, no Rio de Janeiro…

(Soa a campainha.)

            A SRª ANA RITA (Bloco Apoio Governo /PT - ES) - … negra, pobre e grávida, faleceu, em 28 de junho 2002, em decorrência de complicações em sua gestação, após atendimento precário prestado pela rede de saúde do Rio de Janeiro.

            Como podemos notar, o Estado brasileiro vem trabalhando para o cumprimento das demais recomendações do Comitê CEDAW para reduzir as mortes maternas e melhorar o atendimento às mulheres em todo o sistema de saúde no Brasil.

            Na semana passada, dois informes da Organização Mundial da Saúde apontaram que o Brasil e mais dez países latino-americanos conquistaram avanços significativos na redução de mortes relacionadas à gravidez ou parto, de 1990 a 2013.

(Interrupção de som.)

(Soa a campainha.)

            A SRª ANA RITA (Bloco Apoio Governo/PT - ES) - Os dados mostram que nosso País reduziu sua taxa de mortes maternas em 43% desde a década de 90. Outros países mencionados pelo relatório são: Peru (64%), Bolívia e Honduras (61% cada), República Dominicana (57%), Barbados (56%), Guatemala (49%), Equador (44%), Haiti (43%), El Salvador (39%) e Nicarágua (38%).

            No comunicado, a Organização Mundial da Saúde alertou que, ainda assim, nenhum dos países da região tem condições de alcançar a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) de reduzir em 75%…

(Interrupção de som.)

(Soa a campainha.)

            A SRª ANA RITA (Bloco Apoio Governo/PT - ES) - … a taxa de mortalidade materna até 2015.

            Os dois relatórios destacam a necessidade de investimentos em soluções comprovadas para a saúde feminina, como o cuidado de qualidade, durante a gravidez e o parto, e uma atenção redobrada para grávidas com problemas médicos preexistentes.

            Considero, Sr. Presidente, que, embora o País tenha apresentado uma tendência de redução das mortes maternas expressiva, é necessário seguir investindo na ampliação do acesso ao planejamento reprodutivo voluntário, na melhoria da qualidade da atenção pré-natal, na formação de profissionais para o atendimento adequado, humanizado e não discriminatório, no fornecimento de serviços e na ampliação do acesso aos cuidados obstétricos de emergência…

(Interrupção de som.)

(Soa a campainha.)

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco Maioria/PMDB - AL) - Se V. Exª puder concluir.

            A SRª ANA RITA (Bloco Apoio Governo/PT - ES) - Quero finalizar minha fala, Sr. Presidente, dizendo que o direito a políticas de saúde de qualidade deve ser de acesso universal e irrestrito.

            Utilizemos o dia 28 de maio para discutir e refletir sobre a importância dessa data e sobre os problemas que afetam a saúde das mulheres.

            É isso, Sr. Presidente.

            Espero que nossas vozes sejam ouvidas, as vozes de todas as mulheres brasileiras, especialmente as das mulheres que estão grávidas ou que pretendem engravidar, para que tenham partos humanizados e para que seus bebês possam nascer de forma segura, tendo saúde para o resto de suas vidas.

            É isso, Sr. Presidente.

            Muito obrigada pela atenção.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/05/2014 - Página 134