Discurso durante a 93ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com os problemas decorrentes de se sediar a Copa do Mundo de futebol.

Autor
Ruben Figueiró (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Ruben Figueiró de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.:
  • Preocupação com os problemas decorrentes de se sediar a Copa do Mundo de futebol.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 12/06/2014 - Página 56
Assunto
Outros > ESPORTE, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
Indexação
  • REGISTRO, APREENSÃO, BRASIL, SEDE, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, MOTIVO, DESLOCAMENTO, APLICAÇÃO DE RECURSOS, GOVERNO FEDERAL, COMENTARIO, NECESSIDADE, ATENÇÃO, SAUDE, EDUCAÇÃO, TRANSPORTE, SEGURANÇA, TURISMO, AJUIZAMENTO, REPRESENTAÇÃO, TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE), AUTOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), OBJETO, ACUSAÇÃO, ANTECIPAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, PRONUNCIAMENTO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eminente Senador Jorge Viana, Srªs e Srs. Senadores, senhores ouvintes da Rádio Senado, senhores telespectadores da TV Senado, senhoras e senhores que nos prestigiam com a sua presença, em outro dia, ouvi comentários que me deixaram pensativo. Diziam o seguinte - abro aspas: "O resultado da eleição presidencial vai depender do desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo." - fecho aspas.

            Permito-me, Sr. Presidente, discordar substancialmente. Entendo ser muita responsabilidade para se colocar nas costas de um técnico e de 11 jogadores, por mais craques que eles sejam. Talvez a Copa interfira, sim, no resultado da eleição, mas de um ponto de vista macro.

            Ser sede de um evento deste porte é algo bastante complexo. São infinitos os fatores que devem ser observados: da logística à segurança pública; da hotelaria ao comércio; da comunicação à energia. Enfim, um trabalho hercúleo que precisa ser bem organizado e concatenado entre o Estado e a iniciativa privada para o Brasil não passar vexame durante os dias do Mundial.

            Há a responsabilidade estatal, mas também há a responsabilidade da atuação de cada brasileiro, do motorista de táxi, que receberá bem ou mal o turista estrangeiro, ao executivo que toma as decisões sobre a demanda de rede de acesso à internet.

            No entanto, infelizmente alguns fatos nos fazem criticar a leniência governamental. A um dia da Copa do Mundo, cidades-sede não conseguiram concluir alguns projetos prometidos. Obras de mobilidade urbana não ficaram prontas a tempo.

            Os aeroportos ainda apresentam falhas. Em três deles, Confins, Manaus e Recife, as obras serão interrompidas e finalizadas apenas após o campeonato. Já começaremos mal diante dos olhos de quem está chegando.

            Somos um País cujo potencial turístico é riquíssimo e mal-explorado. Dependendo de como nos comportarmos como anfitriões, poderemos impulsionar o Brasil e posicioná-lo melhor no ranking da rota de turismo internacional, ou, do contrário, cairemos algumas posições.

            Segundo a Organização Mundial de Turismo, ligada à ONU e ao Banco Mundial, o Brasil aparece em 44° lugar no ranking dos países mais visitados do mundo, com 5,67 milhões de visitantes em 2012, tomando como base o número de chegadas internacionais. Se soubéssemos divulgar melhor nossos atrativos lá fora, muito provavelmente ganharíamos bem mais com a atividade turística.

            As manifestações populares previstas para o período e a atuação das polícias para controlá-las são outra fonte de grande preocupação neste mês. Vandalismo e truculência na repressão serão péssimos cartões postais. Desejo ardentemente que isso não ocorra.

            Achei interessante a análise do filósofo marxista Antônio Negri sobre - abro aspas: "a política dos grandes eventos" - fecho aspas. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o italiano afirmou que a FIFA e o COI são, na verdade, ONGs capitalistas que não vão aos países para ajudar, mas para lucrar. Não é preciso ser marxista (como no meu caso, que não o sou) para concordar com Negri em relação ao papel destas instituições.

            Para mim, Sr. Presidente, o lucro é importante, impulsiona o desenvolvimento e é essencial ao mundo capitalista. Mas o lamentável é que parte desse lucro não seja transformada em melhorias diretas para a população.

            Srs. Senadores, muito especialmente o meu eminente amigo Senador de Santa Catarina, Estado que passa hoje por momentos de extrema dramaticidade. Tenha V. Exª, Senador Maldaner, no entreato deste meu pronunciamento, a minha mais integral solidariedade ao povo catarinense. E que expresse a ele que esse não é um pensamento apenas deste Senador, mas de todos os que estão aqui nesta Casa, presenciando o sofrimento do seu bravo povo, como no passado recente sofreu o povo acriano e o povo de Rondônia.

            V. Exª tem, desde já, essa minha manifestação sincera, que parte do âmago do meu coração.

            Srs. Senadores, e o que dizer do "Não vai ter Copa"? Esse lema adotado por grupos que cobram melhores serviços públicos serve para reacender as manifestações populares Brasil afora, mas ainda sem a intensidade das que ocorreram há um ano. Especialmente jovens voltaram às ruas para lamentar que o megaevento não trouxe o legado prometido, além de estádios grandiosos e aeroportos de padrão internacional.

            Claro que esses nos dão orgulho, mas nem o estádio nem o aeroporto vão resolver o problema do cidadão que sofre para chegar ao trabalho com o trânsito caótico e a falta de transporte; que paga comida cara, devido a volta paulatina da inflação; que não tem escola de qualidade para matricular os filhos. Nem o estádio nem o aeroporto fazem parte do cotidiano do brasileiro.

            As manifestações contra a Copa fizeram a imprensa internacional destacar os motivos que minaram o conhecido - entre aspas - "entusiasmo unânime" da população amante do futebol. Por que justamente agora, com o País sendo a sede do evento, o brasileiro demonstra sua insatisfação nas ruas?

            Enquanto nas outras Copas muito se escrevia e se falava sobre turismo nos países organizadores, agora a imprensa estrangeira deu grande espaço para tentar decifrar porque muitos brasileiros, considerados os maiores torcedores do mundo, decidiram rejeitar a sua própria Copa, marcada por atraso na entrega de obras e pelo superfaturamento.

            Os problemas questionados nas ruas revelaram a manutenção das desigualdades sociais, do racismo, da corrupção. Revelam um Brasil que retirou milhões de brasileiros da miséria, mas que não lhes oferece emprego, saúde, segurança e educação.

            Categorias profissionais como professores, metroviários e rodoviários também aproveitam o holofote da Copa para fazer suas reivindicações com palavras de ordem como - abro aspas: "Da Copa eu abro mão, quero saúde, transporte e educação" - fecho aspas.

            Afinal, Sr. Presidente, o megaevento vai passar. Ficará o pós-Copa. E depois de 13 de julho teremos de nos deparar com a realidade, o dia a dia, a rotina do transporte público de péssima qualidade, da escola com goteira, carência de professores e laboratórios, dos hospitais lotados, da violência roubando vidas de pessoas de bem. Enfim, vamos nos deparar com a ressaca após a festa.

            Sr. Presidente, Senador Jorge Viana, pensei em abordar esse assunto após assistir a um vídeo de três minutos e meio que circula na internet e reflete bem o sentimento dos jovens conscientes, produzido pela Enjoy Arts, com roteiro, direção e atuação de Anna Flávia Galvão.

            Sem fazer referências políticas ou campanha antecipada, a história se passa entre quatro amigos. Três deles com camisetas do Brasil, na euforia de torcedor, são desestimulados pela amiga que alerta para os gastos na construção de estádios, a falta de moradia, transporte, segurança e saúde e diz - abro aspas: "Como o País pode ser campeão com fome e sem educação. Somos brasileiros, queremos um novo Brasil!"

            É esse o sentimento que está no coração dos brasileiros. Chegou a hora de lutar por este novo Brasil.

            Um levantamento recente de um instituto de pesquisa norte-americano detectou que seis em cada dez pessoas (61%) acham que sediar a Copa do Mundo é ruim para o Brasil, pois o dinheiro que seria alocado na melhoria dos serviços públicos foi desviado para investir na infraestrutura do Mundial.

            Segundo a pesquisa, 72% dos brasileiros estão insatisfeitos com a economia; 85% dos entrevistados apontam a inflação como a preocupação central, superando temas como criminalidade e a corrupção.

            Sr. Presidente, repetindo, os números estão aí e indicam: o Brasil quer mudança! Mas a Senhora Presidente Dilma Rousseff prefere enxergar outra realidade.

            Ontem, durante a convenção partidária do PMDB, ela desceu do pedestal de Presidente de todos os brasileiros para manifestar-se de forma desairosa à oposição, que nada mais faz do que cumprir com o princípio democrático de liberdade de expressão na defesa de suas ideias e programas.

            Soa muito mal perante a opinião pública quando a Presidente se manifesta contra aqueles que são contrários às suas ações de governo.

            Depois, em cadeia nacional de rádio e televisão, falou sobre a Copa do Mundo, para evitar a provável vaia no estádio.

            Sua Excelência aproveitou o pronunciamento para exaltar a construção dos estádios e obras de infraestrutura e ressaltar o chamado legado da Copa. Esqueceu-se, no entanto, de responder à enorme interrogação a respeito dos atrasos e do superfaturamento.

            Usou da máquina estatal para fazer propaganda eleitoral subliminar. O meu Partido respondeu prontamente a este abuso. Vamos entrar com nova representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em nota oficial, o PSDB afirma que a Presidente surpreendeu ao utilizar - abre aspas - “o pretexto da Copa do Mundo para criticar milhões de brasileiros que vêm legitimamente manifestando sua discordância com a forma como o Governo encaminhou os preparativos do evento", fecha aspas. E que, ao agir assim, aspas, "mais uma vez deixa claro que não entendeu a mensagem das ruas".

            A queda paulatina de Presidente na pesquisa da intenção de voto demonstra que a população está atenta e não vai se deixar levar pelo discurso fácil e deturpado dos fatos que estão aí para quem quiser ver. Afinal, a Copa vai passar, e o brasileiro, criativo, aguerrido e trabalhador, vai continuar precisando de melhores condições de vida, vai continuar insatisfeito com a volta da inflação e a falta de hospitais e escolas de qualidade e, sobretudo, intranquilo com a insegurança pública, diante desse triste estado, por mudança na forma de governar.

            Era o que tinha a dizer. Muito obrigado e muito grato a V. Exª.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Permita-me V. Exª um aparte, Senador Ruben Figueiró?

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS) - Como não? V. Exª sempre me premia com um aparte esclarecedor!

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Gostaria de, democrática e respeitosamente, mostrar uma outra avaliação em relação ao que V. Exª aqui proferiu. Eu tenho uma analise diferente. Considero que realizar a Copa do Mundo aqui no Brasil é algo extremamente positivo e tenho a convicção de que, como a Presidente Dilma Rousseff tem expressado nesses últimos dias, os benefícios dos investimentos realizados serão de enorme benefício para o conjunto da população brasileira. V. Exª precisa observar que a crítica da Presidência não foi às manifestações. Ela saudou o direito de todos expressarem os seus sentimentos e, inclusive, para que haja melhoria de condições de educação, de saúde, do transporte público e tudo, mas o que ela observou é que ela gostaria que estas manifestações se deem de maneira civilizada, ordeira, pacífica, aliás, como V. Exª aqui mesmo, muitas vezes, tem reiterado nesse sentido, porque o que ela ressaltou - e acredito que, como chefe de Estado, chefe do Governo, ela tenha feito bem em fazê-lo - é conclamar todo o povo brasileiro para bem receber as pessoas que aqui chegarão, sejam as delegações, os próprios times, sejam também os torcedores, pessoas de provavelmente todos os 32 países que irão disputar a Copa, mas, além disso, outras pessoas cujas seleções não alcançaram o direito de participar da Copa, mas são muitos os estrangeiros e admiradores do futebol que também estarão aqui presentes. Será uma oportunidade para nós, brasileiros, mostrarmos as nossas qualidades, a nossa cultura, a nossa música e tudo de bom que há no Brasil. Da mesma maneira, ressaltou a Presidente que o Brasil participou de todas as Copas do Mundo até hoje realizadas, pela qualidade excepcional de nossos jogadores e dos times, e que, em todos os países, nossa seleção foi tão bem recebida, e respeitada, e aplaudida, que possamos também ter um procedimento. E esse apelo eu acho mais do que legítimo que a Presidenta tenha feito. A Presidenta fez alguma crítica àqueles que estão tão pessimistas e achando que as coisas não vão se dar bem, mas ela ressaltou também que os investimentos realizados na áreas de educação e de saúde, nesses últimos anos, são extraordinariamente maiores do que os investimentos que foram realizados para a preparação da Copa do Mundo. Mas há mais um elemento, querido Senador Ruben Figueiró, que são os benefícios que poderão decorrer deste aumento significativo da receita, seja dos hotéis, do turismo, de toda a movimentação do comércio e da indústria brasileiros. E que haja uma cobrança da parte dos jovens, da população, para que esses recursos que vão chegar ao Brasil a partir de hoje e de amanhã... Tenho acompanhado informações de que os aeroportos estão com extraordinário movimento - ao próprio aeroporto de Brasília, me alertaram, é preciso chegar bem antes hoje, porque já está com extraordinário movimento. Então, como é muito possível que nós tenhamos uma arrecadação muito maior com os eventos da Copa do Mundo nesse período de junho e julho, devemos aplicar bem esses recursos na direção daquilo que os que têm protestado têm dito. Eu acho isso algo com que poderemos todos colaborar, inclusive chamando a atenção de nosso Governo, da própria Presidenta Dilma. Vamos garantir que os resultados decorrentes do que será gasto pelos nossos visitantes sejam algo muito bem aplicado. Mas eu quero dizer que é com satisfação que dialogo com a maneira sempre respeitosa com que V. Exª aqui expressa o seu ponto de vista e o do seu Partido.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS) - Sr. Senador Eduardo Suplicy, V. Exª revela, através de suas palavras tão ponderadas, conscientes, aquilo que todos nós desejamos.

            Gostaria, sinceramente, que a Srª Presidente da República tivesse umas aulas com V. Exª...

(Soa a campainha.)

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS) - ... porque, assim, ela se portaria muito melhor diante da televisão e nos palanques político-partidários. Oxalá o seu conselho e a sua advertência ponderada sejam ouvidos pelo Palácio do Planalto, pela própria Presidente da República. As coisas não estão como ela pensa - podem estar como V. Exª pensa, que é o pensamento de todos os brasileiros -, as coisas não estão boas, precisam mudar.

            Mas agradeço profundamente a gentil manifestação de V. Exª, tão carinhosa para com este orador. Muito obrigado, Senador.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/06/2014 - Página 56