Discurso durante a 90ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a comemorar os 60 anos do Movimento Apaeano, nos termos do Requerimento nº 490/2014, de autoria da Senadora Ana Amélia e outros Senadores.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM, DIREITOS HUMANOS, SAUDE.:
  • Sessão especial destinada a comemorar os 60 anos do Movimento Apaeano, nos termos do Requerimento nº 490/2014, de autoria da Senadora Ana Amélia e outros Senadores.
Publicação
Publicação no DSF de 10/06/2014 - Página 19
Assunto
Outros > HOMENAGEM, DIREITOS HUMANOS, SAUDE.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, FUNDAÇÃO, ASSOCIAÇÃO DOS PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS (APAE), COMENTARIO, IMPORTANCIA, AUXILIO, PESSOA DEFICIENTE.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada. (Palmas.)

            Muito obrigada, caro colega, amigo, Senador Cyro Miranda, que agora preside esta sessão especial.

            Minha cara conterrânea Aracy Maria da Silva Lêdo, que é Presidente da Federação Nacional das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais.

            Queria cumprimentar Aparecida Bontempo, que é a Coordenadora das Apaes no Distrito Federal, na nossa Capital, Brasília.

            Agradeço também, na pessoa do Senador Rodrigo Rollemberg, o apoio com sua presença aqui.

            Quero agradecer a todos os representantes de Goiás, da Bahia, do Espírito Santo, do meu Estado, o Rio Grande do Sul, e de todos os demais, que nos dão a honra com a sua presença.

            Renovo também o agradecimento pela presença do Senador Valdir Raupp e do meu querido amigo, Senador Cyro Miranda.

            Quero agradecer também a bonita apresentação do nosso coral, do Senado Federal, a qual foi tão emocionante nas músicas e na leitura do poema de Alexandre Lemos, lido pela Darc com bastante expressão e muita emoção.

            E nós também, aqui, agora há pouco, ficamos olhando, antes de começar a sessão, e ouvindo as palavras de um jovem bonito, que canta muito bem, que nos emociona sempre, uma pessoa do bem, que é o cantor Daniel, embaixador do Movimento Apaeano.

            Tudo que ele disse podia resumir no que é a justifica desta homenagem, mais do oportuno, mais do que justa, porque 60 anos não são 60 meses, não são 60 dias. São seis décadas de muito trabalho, de muita dedicação, de muito compromisso com uma causa maravilhosa, que é a causa da igualdade de oportunidades para todos, como é o princípio da construção dessa história da Apae Brasil: 60 anos fazendo inclusão!

            É exatamente por isso, minha cara Aracy, que eu me sinto extremamente feliz de ter tomado esta singela iniciativa para homenagear e reconhecer o trabalho maravilhoso feito. Talvez seja o melhor exemplo de um voluntariado, que junta a família, junta os amigos, junta a sociedade numa causa comum, que é a causa da inclusão.

            Então, eu me sinto, pessoalmente, comovida por estar aqui, hoje, para prestar esta homenagem a todas as APAEs, que se espalham por todos os cantos do nosso País, pelo seu tamanho, mas, sobretudo, pelo seu compromisso com a inclusão. Muito respeito e grande admiração à generosidade, ao desapego e à incrível capacidade de entrega de todos aqueles - pais, profissionais ou amigos - que, de algum modo, convivem com quem tem deficiência.

            É para celebrar os 60 anos do Movimento Apaeano que o Senado Federal está realizando, neste momento, esta sessão especial.

            Somente quem vive essa rotina, inspirada pelo amor às pessoas com deficiência, sabe o quão desafiadora é a dedicação para o efetivo crescimento e desenvolvimento daqueles que têm alguma limitação física, mental ou psicológica.

            Falo de pais, de mães, de irmãos, de tios, de avós ou qualquer pessoa ou profissional que se dedica àqueles com Síndrome de Down, por exemplo, ou com outros tipos de síndrome, disfunções de visão, audição ou fala, ou mesmo aqueles com alguma doença rara, como é o caso de esclerose lateral amiotrófica, chamada de ELA, que causa o desgaste e a morte das células nervosas.

            São doenças, em muitos casos, hereditárias, com sintomas e causas semelhantes à poliomielite, por exemplo, mais conhecida como paralisia infantil, que, para nossa alegria e felicidade, não ocorre no Brasil desde 1990. Uma conquista das vacinas que são aplicadas nas crianças.

            São por pessoas que lutam bravamente contra essas limitações da vida, que o Senado Federal, a meu pedido, está fazendo hoje esta sessão solene. Estamos aqui para esta singela e merecida homenagem, pois, neste ano, a Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) completa seis décadas de trabalho árduo, o que a torna o maior movimento de voluntariado do Brasil e um dos maiores do mundo, como frisou muito bem o Daniel. Falo de um grande mutirão focado na ajuda às pessoas portadoras de deficiência. É a autêntica e boa filantropia.

            Só no meu Estado, o Rio Grande do Sul, existem 200 associações que se dedicam voluntariamente ao próximo. Em todo o Brasil, são mais de duas mil associações. Aliás, meu amigo, Deputado Estadual Ernani Polo (PP-RS), Presidente da Frente Parlamentar em Defesa das Pessoas com Deficiência, é um dos grandes apoiadores do movimento apaeano no meu Estado. E ele foi o responsável por protocolar, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, um projeto de lei que prevê uma cota para pessoas com deficiência em contratos de terceirização do Estado, prática já adotada rotineiramente em concursos públicos.

            O Parlamentar fez um discurso no dia 27 de maio, quando houve lá na Assembleia do Rio Grande do Sul também uma homenagem muito bonita - e me disseram, Aracy, que foi o momento de maior movimento de pessoas em uma sessão especial, Senador Cyro Miranda, já visto na história do plenário da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, homenageando as APAEs e revelando a força desse voluntariado com essa causa da inclusão, da igualdade de oportunidades para todos, portadores de deficiência, então, fico muito orgulhosa. Disse ele: “muitas vezes, pela dificuldade enfrentada em angariar recursos, [para financiar essas ações tão importantes] as APAEs precisam realizar sorteios, fazer rifas, jantares e outros eventos, recorrendo à comunidade, a fim de poder manter suas atividades. Do contrário, não teriam como sobreviver. É um alerta à sociedade [mas, sobretudo,] às autoridades".

            Outros políticos, como o meu colega gaúcho, também fazem parte desse enorme grupo de pessoas que, aqui nesta Casa ou na Câmara, abraçam as causas daqueles que têm deficiência. É o caso - cito com muita honra - do nosso colega Lindbergh Farias, do PT do Rio de Janeiro, pai da Beatriz, que tem síndrome de Down; do conhecido Romário, ex-jogador, agora Deputado Federal, que também tem uma filhinha portadora da síndrome de Down; do nosso colega Wellington Dias, que também tem um filho com autismo; e da nossa querida Mara Gabrilli, também, com deficiência de locomoção.

            Cito, ainda, o ex-Senador, grande Senador Flávio Arns, que foi, eu diria, a espinha dorsal, Aracy, com a argumentação que fez na nossa Comissão para justificar a permanência, na lei do Plano Nacional de Educação (PNE), no caso da educação especial, da palavra “preferencialmente”. O depoimento do ex-Senador Flávio Arns foi, eu diria, o de maior força, não só pelo conteúdo, pela argumentação, mas pela convicção e pela coerência, porque ele sempre foi um defensor dessas pessoas. Então, eu queria dizer os nomes de Parlamentares ou ex-Parlamentares que tiveram esse compromisso.

            Aliás, na semana passada, o Romário vestiu a camisa 11 e, ainda com o faro de artilheiro, foi destaque no campo do Barrense, em Florianópolis, Santa Catarina, numa partida beneficente que arrecadou R$40 mil para ajudar as pesquisas sobre a esclerose lateral amiotrófica, no Brasil, um tipo de doença rara. A propósito, sou autora de um projeto (PL 3086), em tramitação na Câmara Federal, que prevê a rápida concessão, sem carência, do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez para quem tem esclerose lateral amiotrófica e hepatopatia grave. Acho que é uma justiça social que faremos também nessa área.

            O conhecido apresentador, jornalista e ator também, Jô Soares é pai de um adulto com autismo, o Rafael, que, apesar das limitações, toca piano, faz programa de rádio em casa, fala inglês e aprendeu a ler sozinho aos quatro anos de idade. Como muitos brasileiros, Rafael possui uma boa capacidade de comunicação e inteligência, mas tem dificuldades motoras e vive em uma espécie de mundo particular.

            Assim como Rafael, temos outros belos exemplos de superação: são os familiares, professores e cuidadores de pessoas, como a simpática Rita Pokk, o bem-humorado Ariel Goldenberg e o sensível Breno Viola. Os três são portadores de Síndrome de Down e, graças ao apoio de inúmeros voluntariados, também têm feito grandes contribuições à sociedade.

            Esses jovens artistas são as estrelas do filme Colegas, de 2013, ano passado, que foi o primeiro longa-metragem brasileiro protagonizado por atores com Síndrome de Down, dirigido por Marcelo Galvão. Inspirada nos filmes americanos Litlle Miss Sunshine e Thelma & Louise, a história dos três personagens mostra as aventuras desses jovens entre o interior de São Paulo e Buenos Aires, na Argentina, em busca da realização dos seus sonhos. Aliás, foi mostrada aqui uma parte dessa aventura desses garotos e dessa garota.

            Aqui, bem perto de nós, temos provas dos efeitos benéficos da Apae. A entidade, em parceria com a biblioteca do Senado Federal, construiu uma belíssima história de inclusão e colaboração que envolve oito dedicados colegas com deficiência. Estão todos eles aqui com essa camisa branca do Senado: o Adriano Abreu Guimarães, a Cristina da Silva Fernandes, o Fábio de Oliveira Mendonça, o Filipe Reis Abreu, o Jhonata Caetano Ribeiro, o Pablo de Sousa Alegre, a Patrícia Lopes da Silva e a Renata Souto Melo. Muito obrigada por estarem aqui conosco. (Palmas.) Parabéns!

            Olha que história bonita: desde 2010, esses alunos fazem a higienização do acervo dos livros da biblioteca, sob a supervisão da sua chefe, Harumi Kano. Muito obrigada, Harumi, por essa dedicação que tem feito tanto.

            E, agora há pouco, Harumi, você estava me contando - e também como a Helena - como são dedicados nesse trabalho dessa limpeza tão minuciosa e tão bem-feita. O Senado está contribuindo, assim, para a conservação dos documentos e dos livros e evitando que as obras necessitam de restauração, processo muito dispendioso e demorado.

            Parabéns à diretora da biblioteca do Senado, Helena Celeste Vieira, por essa iniciativa, e à Mesa do Senado, por manter o programa.

            Quero também destacar aqui o projeto da Biblioteca Pedro Aleixo, da Câmara Federal, na pessoa de Francisco de Jesus, Diretor da Cobec (Coordenação de Preservação dos Bens Culturais). E queria citar os alunos que estão lá trabalhando nesse projeto, na Câmara dos Deputados, a Ana Célia, a Michele, o Paulo, o Urbano e o Mauro.

            Muito obrigada também por vocês estarem aqui conosco nesta data de celebração. Muito obrigada! (Palmas.)

            Assim, nós estamos vendo casos muito práticos de como você pode ajudar a inclusão. É como aquela gota no oceano, mas é assim que a gente constrói a solução de um grande problema.

            Além de todos esses casos bem-sucedidos, existe outra fantástica estória que começou no meu Estado, o Rio Grande do Sul, mais especificamente na cidade de Esteio, na região metropolitana de Porto Alegre. O caso, muito importante, envolve Elisa Arnoldo, mãe de Cláudio Dusik, jovem de 37 anos, que usa uma cadeira de rodas adaptada para conseguir se movimentar. Esse menino nasceu com uma doença degenerativa: a atrofia muscular espinhal, que deforma o corpo e limita os movimentos. Alguns médicos disseram que ele não viveria muitos anos. Mas a mãe - sempre a mãe -, muito crente, com muita fé na capacidade do filho, praticamente precisou implorar para que as escolas o aceitassem. Veja só, meu caro Cyro Miranda.

            Aos cinco anos, Dusik já estava alfabetizado. Sem poder andar, ele passava os intervalos sozinho na sala de aula, pois estudava no primeiro andar e não conseguia descer as escadas para se juntar aos colegas - a nossa grande prioridade, que é a mobilidade para os portadores de deficiência. Só a partir da terceira série é que ele começou a ser aceito e a se socializar com os estudantes.

            Naquela época, um professor criou um projeto chamado “ajudante do dia”. Foi ali que Dusik começou a ter contato com as outras crianças. Na hora da amarelinha - aquele jogo que as crianças jogam ainda hoje, apesar de usarem mais o computador, mas a amarelinha era melhor porque a gente saltitava na calçada -, Cláudio, na cadeira de rodas, ajudava a atirar as pedras. Até na hora do pega-pega, brincadeira preferida do Dusik, ele participava e, muitas vezes, caía. Segundo ele mesmo diz, não sabia se chorava pelos machucados ou de felicidade na hora em que estava no chão brincando com os colegas. Olhem que relato emocionante!

            Hoje, graças à atenção vigilante da mãe, da família e dos amigos, Dusik conseguiu concluir o mestrado em Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E mais: desenvolveu um teclado virtual, o Mousekey, que auxilia pessoas com limitação a escrever e a se comunicar. O que era um grande e difícil problema se transformou numa bonita estória de sucesso e superação; transformou-se em uma solução: inspiração para todos aqueles que têm deficiências graves, ou para aqueles que não têm uma deficiência grave que os impossibilite de se comunicar. Por isso a importância deste momento, desta homenagem que o Senado Federal faz ao Movimento Apeano.

            Se o País quiser caminhar na direção dos melhores e mais eficientes modelos de educação existentes no mundo, com políticas para os excepcionais, é importante valorizar entidades como a Apae.

            O maior presente que essas associações que atendem os portadores de deficiências podem ter é a valorização, o respeito e políticas públicas que incluam essas pessoas na sociedade, sem preconceito. Como está escrito aqui: construindo uma história de igualdade e de oportunidades para todos.

            Parabéns à APAE! Parabéns pelos 60 anos e que a gente comemore 70, 80, 90, um século e tantos mais!

            Muitas felicidades e obrigada por vocês existirem. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/06/2014 - Página 19