Discurso durante a 74ª Sessão Especial, no Senado Federal

Destinada à entrega do Diploma José Ermírio de Moraes aos agraciados, em sua 5ª Premiação, Srª Yolanda Vidal Queiroz, Sr. Orcino Gonçalves da Silva Júnior e a empresa Baterias Moura, nos termos do Requerimento nº 349/2014, de autoria do Senador Armando Monteiro e outros Senadores.

Autor
Armando Monteiro (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/PE)
Nome completo: Armando de Queiroz Monteiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Destinada à entrega do Diploma José Ermírio de Moraes aos agraciados, em sua 5ª Premiação, Srª Yolanda Vidal Queiroz, Sr. Orcino Gonçalves da Silva Júnior e a empresa Baterias Moura, nos termos do Requerimento nº 349/2014, de autoria do Senador Armando Monteiro e outros Senadores.
Publicação
Publicação no DSF de 21/05/2014 - Página 11
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • ENTREGA, PREMIO, OBJETIVO, HOMENAGEM, EMPRESARIO, MOTIVO, RECONHECIMENTO, EFICIENCIA, GESTÃO, INSTITUIÇÃO EMPRESARIAL.

            O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco União e Força/PTB - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente desta sessão do Senado Federal, Jorge Viana, a quem cumprimento, quero saudar os homenageados desta sessão, saudando o Sr. Orcino Gonçalves da Silva Júnior, o Dr. Edson Viana Moura, Presidente do Conselho da Baterias Moura, que é a empresa agraciada nesta sessão, e uma saudação a dona Yolanda Vidal Queiroz, que está representada pelo José Edilmar Norões Coelho, que é Diretor- Presidente do Grupo Edson Queiroz.

            Eu quero saudar a todos aqui presentes, as colegas e os colegas Senadores, e dizer que esta é a 5ª edição do Prêmio, da Comenda José Ermírio de Moraes.

            Tenho a satisfação, nesta 5ª edição do Prêmio, de destacar a homenagem que o Senado da República faz a empresas e a empresários que se destacam na relevante contribuição ao desenvolvimento econômico do nosso país, e, também, às ações de promoção, sobretudo voltadas para áreas de responsabilidade social, ambiental e cultural. O que também, evidentemente, contribui muito para o setor empresarial no nosso país.

            Eu gostaria, inicialmente, de evocar a figura do patrono desta insígnia. Um grande brasileiro, um ícone da indústria do nosso país, o meu eminente conterrâneo e saudoso empresário José Ermírio de Moraes. Uma legenda da indústria brasileira. Um homem que, durante os tempos em que o Brasil iniciava a consolidação da sua indústria, especialmente a consolidação da chamada indústria de base do nosso país, que foi Senador, que integrou esta Casa, e que era um brasileiro impregnado de um sentimento nacionalista. Ele pode criar as bases de um grupo empresarial que se destaca até hoje na história do Brasil.

            Grupo Votorantim, que foi pioneiro no Brasil da chamada indústria de base, insumos básicos, a metalurgia de alumínio, de níquel, de cobre, a indústria de cimento, de produtos químicos. Eu diria que a matriz industrial brasileira não seria completa e nem teria dado margem ao crescimento desse setor não fosse a capacidade visionária, a capacidade empreendedora desse notável brasileiro que foi José Ermírio de Moraes, que é, a um só tempo, referência e inspiração. Referência porque nos ajuda a compreender, ao longo da trajetória da indústria brasileira, os percalços e as dificuldades que enfrentamos. E inspiração porque esse prêmio é um tributo à tenacidade, à perseverança de brasileiros que empreendem em meio ainda a um ambiente hostil, a um ambiente em que, frequentemente, nós nos deparamos com obstáculos, com dificuldades que ainda estão presentes.

            Quero dizer que a comissão do conselho dessa comenda, mais uma vez, de forma muito judiciosa, promove essas escolhas, não apenas por que premia o mérito, essencialmente o mérito, mas porque tem também a compreensão de que o Brasil, na sua diversidade regional, precisa homenagear especialmente, minha cara Senadora Lúcia Vânia, aquelas empresas e aqueles empresários que, em algumas regiões do País onde o desenvolvimento empresarial é ainda mais difícil, esses notáveis empreendedores valorizam essa ilustre galeria de homenageados com a Comenda José Ermírio de Moraes.

            Quero, nesse momento, homenagear a todos, mas peço licença - já que a Senadora Lúcia Vânia e o Senador Eunício Oliveira haverão de destacar especialmente o mérito e as razões que justificaram a concessão desse prêmio a D. Yolanda Vidal e ao empresário Orcino Gonçalves da Silva Júnior -, para, ao mesmo tempo em que enalteço a trajetória de ambos, nesse momento, dar um realce à premiação de uma empresa pernambucana, cuja trajetória conheci e conheço, sendo realmente uma história notável de empreendedorismo e, sobretudo, de antevisão do desenvolvimento do nosso País.

            Gostaria de homenagear a Baterias Moura, dizer que essa empresa foi fruto da obstinação de um brasileiro também notável, meu conterrâneo, o empresário Edson Mororó Moura, que, ao lado de sua esposa Maria da Conceição Moura, lançou as bases desse empreendimento, que é, sem dúvida alguma, um empreendimento hoje que se constitui numa referência no nosso País.

            Esse extraordinário casal protagonizou uma bela história de lutas e sucessos, cujo início data de 1957, no Município de Belo Jardim, plantado no agreste pernambucano, a quase 200 quilômetros do Recife. Numa época em que a indústria brasileira ainda engatinhava - menos de 500 veículos circulavam no Recife e apenas um em Belo Jardim -, Edson e Conceição davam o início e transformavam em realidade o sonho, aparentemente impossível, de fabricar e vender baterias de qualidade sob a marca “Acumuladores Moura”.

            Em meados da década de 70, quando os filhos Edson - que está aqui à mesa -, Sérgio, Pedro e o seu genro Paulo Sales, também aqui presentes, se incorporaram à empresa, o maior mercado para baterias do Nordeste - justamente o Recife - ainda era inteiramente dominado por fornecedores do Sudeste.

            No fim da década de 70, uma inovação no modelo de negócio da companhia foi decisivo para o crescimento dos negócios: a Moura implantou a rede Baterias Moura, um padrão de distribuição diferenciado que funcionava agregando sociedade aos gerentes das filiais que distribuíam os produtos da marca. Com isso, os empresários conseguiram aumentar a motivação e o comprometimento dos gestores dessas unidades.

            Hoje, a Rede de Baterias Moura conta com 66 distribuidores, que comercializam 55% das baterias vendidas acerca de 28 mil clientes ao mês, em todo o território nacional.

            Enquanto isso, unidades independentes atendem países sul-americanos e europeus.

            A empresa coleciona numerosos prêmios de "melhor fornecedor elétrico" concedidos pelas principais montadoras. E o jornal Valor Econômico já a distinguiu por duas vezes como "a melhor empresa brasileira do segmento de autopeças", o que muito honra o Estado de Pernambuco.

            Hoje, com 57 anos de existência, a Moura é integrada por seis fábricas - quatro em Belo Jardim, uma em Itapetininga, em São Paulo, e outra no distrito de Pilar, na Argentina -, que fabricam sete milhões de baterias automotivas, além de soluções para diversas outras aplicações: empilhadeiras, tratores, motocicletas, trens, metrôs, barcos e telecomunicações. Em 2013, a Moura inaugurou a maior fábrica de baterias industriais da América do Sul.

            O grupo gera cerca de quatro mil empregos diretos, metade dos quais em Pernambuco. Nos últimos cinco anos, 83% dos postos de trabalho foram criados lá no nosso agreste pernambucano.

            Desde 2009, a empresa é gerida segundo o sistema de copresidência: Sérgio e Paulo na presidência executiva e Edson como presidente do conselho de administração.

            Uma marca da Baterias Moura é a sua incansável busca pelo desenvolvimento e inovação tecnológicas. Nesse campo, destacam-se as parcerias do Instituto de Tecnologia Edson Mororó Moura com as universidades, na promoção de pesquisas inovadoras sobre fontes energéticas sustentáveis, veículos elétricos e desenvolvimento de novos produtos e processos.

            Paralelamente a todos esses êxitos industriais e comerciais, a Moura prestigia uma série de ações de responsabilidade social, educacional e cultural, em benefício direto de 22 mil pessoas: desde uma Associação de Recicladores e Artesãos, que congrega mais de 60 organizações, empresas, escolas, residências, até a "Orquestra Viva", que incentiva as vocações musicais de colaboradores e moradores de Belo Jardim, levando a cultura erudita e popular a muitos públicos e eventos.

            Portanto, Sr. Presidente, sem dúvida nenhuma a presença hoje desses homenageados valoriza essa galeria. Mas eu acho que este é um dia, quando o Senado Federal homenageia o setor industrial e o Dia da Indústria, para também fazermos uma rápida reflexão sobre os desafios da indústria brasileira.

            Meu caro Presidente Jorge Viana, há poucos dias um Instituto consagrado no estudo das questões atinentes à manufatura, o Boston Consulting Group, produziu um estudo que é extremamente preocupante. Ele analisa o desempenho de 27 países, sobretudo países que têm maior peso na exportação de manufaturados, e, nessa análise, nesse estudo, fica evidente a perda crescente de competitividade da indústria brasileira, o que é um dado extremamente preocupante. E a constatação é simples: está caro produzir no Brasil, muito caro produzir no Brasil.

            Meu caro Senador Cyro Miranda, esse estudo alcança uma década; é uma análise da evolução dos custos no Brasil em uma década. E ele aponta algumas questões muito preocupantes: primeiro, o descompasso entre o aumento do custo unitário do trabalho e a elevação da produtividade; segundo, a elevação do custo de energia, que no Brasil alcançou, nesse período, 90%; o aumento do preço do gás, além de uma série de custos sistêmicos que ainda estão presentes, sobretudo relacionados com a carga tributária elevada e disfuncional, os custos logísticos e as questões associadas à burocracia.

            Mas quando analisamos esse quadro de evolução de custos versus produtividade, nós encontramos aí um dado muito preocupante. Ao longo de uma década, esses países tiveram um ganho de produtividade médio de 25%; e, nesse período, o Brasil teve um ganho de apenas 3%.

            Hoje, meu caro Senador Cyro Miranda, o Brasil tem um custo mais alto em manufatura comparada do que os Estados Unidos em 23%.

            Como resultado de tudo isso, o que assistimos é uma perda de posição relativa da indústria na formação do PIB do País, e, o que é mais grave, a um agravamento, a um aumento do déficit de manufaturados, ou seja, o Brasil importa muito mais manufaturas do que importa. E hoje esse coeficiente de importação ainda não é, eu diria, assustador em termos absolutos, mas o que preocupa é a forma como vem se acelerando esse coeficiente de penetração das importações de manufaturas ao longo dos últimos anos - já alcança 23% de todos os bens industriais consumidos no Brasil.

            Portanto, falar da indústria é também fazer uma reflexão sobre esse momento da indústria brasileira. Isso nos remete à necessidade de discutir uma agenda pró-competitividade, uma agenda que traduza uma aliança entre o setor público e o setor privado, que não reclama proteção e muito menos quer pactuar com a ineficiência. O que o setor privado deseja é que, através de uma aliança verdadeiramente cooperativa entre o setor público e o setor privado, nós possamos atuar juntos para reduzir custos sistêmicos e para ajudar os ganhos de produtividade que serão fundamentais para a sobrevivência da indústria brasileira. E, evidentemente, a inovação, esse esforço na inovação é fundamental para garantir esses ganhos de produtividade no futuro. Mas a inovação tem também como pilar fundamental a educação, a necessidade de termos o sistema educacional mais eficiente, que torne o nosso trabalhador mais produtivo, com maior capacidade de assimilar os programas de treinamento e de formação profissional.

            Dessa forma, é um imenso desafio. O que não podemos aceitar é que o Brasil possa viver uma espécie de aventura regressiva, que o Brasil, que construiu pelo trabalho de gerações uma das mais importantes plataformas manufatureiras da América Latina, possa assistir ao desmonte desse ativo que é um patrimônio do País e que possa, inclusive, constatar que o Brasil está vivendo um processo regressivo na medida em que se está reprimarizando a pauta de exportação do País. Ou seja, o Brasil voltou a ser um País exportador de commodities agrícolas e minerais e as manufaturas vão perdendo cada vez mais espaço nas exportações brasileiras.

            Portanto, este é um dia de homenagear, mas é um dia também de fazer uma reflexão, e esta Casa tem uma responsabilidade de poder focar uma agenda pró-competitividade, de atuarmos firmemente para melhorar o ambiente da área da tributação e como podemos e devemos acelerar o passo nessa área.

            Quero, mais uma vez, abraçar os homenageados e dizer que crescer pela indústria é sempre melhor; não há melhor maneira de crescer senão crescer pela indústria. A indústria impacta a produtividade, a indústria paga melhores salários, a indústria desenvolve os recursos humanos, a indústria dissemina o conhecimento tecnológico. Portanto, os países melhores são exatamente os que crescem pela indústria.

            No dia em que o Senado homenageia a indústria, vamos fazer neste País uma grande frente para poder preservar esse ativo que é tão precioso ao nosso País.

            Muito obrigado a todos. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/05/2014 - Página 11