Discurso durante a 18ª Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão solene destinada a comemorar o centenário do nascimento da Srª Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce.

Autor
Lídice da Mata (PSB - Partido Socialista Brasileiro/BA)
Nome completo: Lídice da Mata e Souza
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Sessão solene destinada a comemorar o centenário do nascimento da Srª Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce.
Publicação
Publicação no DCN de 28/05/2014 - Página 23
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, COMEMORAÇÃO, CENTENARIO, NASCIMENTO, IRMÃ DE CARIDADE, IRMÃ DULCE.

    A SRa LÍDICE DA MATA (Bloco Apoio Governo/PSB - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Exmo Sr. Presidente, Senador Walter Pinheiro, com alegria o vejo dirigir esta Mesa no dia de hoje, como Senador da nossa Bancada baiana nesta homenagem que, por toda justiça, deve ser dirigida por um baiano.

    Quero saudar o Exmº Sr. Senador José Sarney, um dos signatários da presente sessão, signatário pelo Senado Federal, aos Deputados Antonio Imbassahy e Nelson Pellegrino, também signatários na Câmara dos Deputados para que esta sessão se realizasse, a querida amiga sobrinha de Irmã Dulce e Superintendente das obras sociais Maria Rita Pontes, representando o Governador do Estado de São Paulo, o Deputado Fede- ral Duarte Nogueira, o Ministro de Estado dos Transportes, o Exmº Sr. ex-Governador da Bahia César Borges e sua Primeira Dama Tércia Borges, aqui presente, o Ministro do Superior Tribunal Militar, Exmº Sr. Almirante de Esquadra Álvaro Luiz Pinto, e o Presidente do Conselho de Obras Sociais Irmã Dulce, Ministro de Estado do De- senvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, no período de 1977 a 1979, Sr. Ângelo Calmon de Sá.

    O SR. PRESIDENTE (Walter Pinheiro. Bloco Apoio Governo/PT - BA) - Senadora Lídice, se a senhora per- mitir, só uma interrupção nessa saudação.

A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco Apoio Governo/PSB - BA) - Claro.

    O SR. PRESIDENTE (Walter Pinheiro. Bloco Apoio Governo/PT - BA) - É que acaba de adentrar aqui ao Senado, o Governador Jaques Wagner e, nessa oportunidade, nós o estamos convidando para compor a Mesa desta sessão de homenagem.

    A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco Apoio Governo/PSB - BA) - E aproveito para saudá-lo também, Exmº Sr. Jaques Wagner, Governador da Bahia, saudando todos os Deputados, companheiros aqui presentes. (Pausa.) Retomando, Vereador Paulo Câmara, Presidente da Câmara de Salvador, que muito nos honra com sua presença, Deputados Federais Antonio Brito, Colbert Martins, Claudio Cajado, Secretário Jorge Solla, muitos, pelo menos os três oradores, já se referiram à vida de Irmã Dulce. Eu queria destacar também, num agradeci-

mento aos três, a importância da realização desta sessão.

    Nós estamos, desde ontem, iniciando o período de comemoração do centenário de Irmã Dulce e esta sessão é justamente uma homenagem do Congresso Nacional, promovida pela iniciativa desses três Parlamen- tares, mas com a adesão de todos os outros à vida e à obra de Irmã Dulce.

    Essa deferência de fazermos uma sessão solene no Congresso Nacional para homenagear Irmã Dulce não é uma coisa menor, primeiro porque uma obra como a de Irmã Dulce não pode ficar fora do registro dos Anais do Congresso Nacional.

    Certamente não é a primeira vez que nós a homenageamos. Eu própria já tive a oportunidade de falar aqui, juntamente com o Senador José Sarney e outros Senadores, no momento de sua beatificação. Mas é in- dispensável que nós possamos fazer com que o Congresso inteiro, com que o Brasil inteiro reconheça a ação, tanto religiosa quanto evangelizadora, de Irmã Dulce. Que o povo brasileiro também possa fazer isso, acom- panhando, através dos meios de comunicação desta Casa, rádio e televisão, o depoimento daqueles que con- vivem com a sua obra, mas que conviveram com Irmã Dulce.

Todos aqui presentes nesta mesa, de alguma maneira, conviveram com Irmã Dulce e hoje convivem com

a sua obra. Dentre esses, quem mais conviveu e teve oportunidade de vivenciar pessoalmente os atos de Irmã Dulce, além de sua sobrinha, parte de sua família, foi o Senador José Sarney, que, aliás, me revelou, na sessão em que homenageamos a beatificação de Irmã Dulce, que nada de importante ele faz na sua vida sem carre- gar no bolso a medalhinha de Irmã Dulce.

    Irmã Dulce, que foi essa figura frágil, já destacada aqui - no entanto, sua voz quase não se percebia; lem- bro-me de que para ouvi-la, e eu que sou baixinha, tinha que ficar bem próxima a ela -, escondia uma fortaleza incomparável, destacada por todos, na defesa dos mais necessitados.

    A vontade de ajudar os pobres certamente renovava suas forças e aquela figura pequena se agigantava numa bondade celestial, buscando donativos no comércio de Salvador, sem se preocupar com os “não” que recebia.

    Sua vida é uma lenda na Bahia. Seus feitos correm de boca em boca e são transmitidos oralmente pelo povo, de um a um, e, das histórias que se contam de Irmã Dulce, conta uma delas - uma testemunha que a acompanhava, certa feita, contou, como toda história oral é sempre um conto que conta - que Irmã Dulce se dirigiu para pedir um donativo a um comerciante que, irritado, lhe devolveu uma cusparada no rosto e ela, humildemente, pegou o lencinho, que hoje é uma referência de sua manifestação, que carregava, enxugou a face e, voltando-se para ele, disse: “Essa foi minha doação. Agora me dê a contribuição dos meus pobrezinhos”, e o cidadão, diante daquela reação, caiu em prantos e, além de dar a contribuição, tomou-se um dos seus co- laboradores mais assíduos.

    Essa imagem é a referência, de um lado, da perseverança, da decisão de não se deixar paralisar por ne- nhum obstáculo na decisão de construir a sua obra para os pobres e, de outro lado, de uma referência daqui- lo que se chama na Igreja Católica de humildade dos cristãos, da decisão de realizar a solidariedade cristã. E Irmã Dulce foi exatamente essa referência daquilo que já se falou aqui, de uma obra física construída em de- fesa dos pobres, dos desvalidos, dos indigentes, dos desfavorecidos. De alguma forma, cada homem público ou mulher pública, presente aqui nesta sessão, tem ou teve a possibilidade de contribuir, e, como destacou o Deputado Imbassahy, deve continuar contribuindo com ela através das nossas emendas parlamentares, mas não só através disso.

    Mas a obra que o povo da Bahia sente, que toca o coração, a obra do reconhecimento de toda a socieda- de cristã é justamente a capacidade, a humildade, a figura de Irmã Dulce na sua simplicidade, a simplicidade própria inclusive da congregação a que ela, em determinado momento, se viu, franciscana, e que tem a coin- cidência de nós, quem sabe, podermos conseguir a sua canonização quando um Papa franciscano conduz a Igreja Católica, e traz à tona, novamente, numa posição, no momento em que o mundo enfrenta tão novos desafios, em que muitas vezes os pobres de Irmã Dulce não são sequer enxergados na sociedade, em que o Papa Francisco reassume o compromisso da Igreja Católica com essa missão, a missão da humildade, da sim- plicidade, com essa referência se dirige ao povo cristão.

    Irmã Dulce, que ganha o nome, após a beatificação, de Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, certamente é santa para o povo baiano e santa para o povo brasileiro, santa no milagre de ter salvado tantas vidas através de suas obras sociais, tanto na saúde, mas também na educação. E, aliás, Maria Rita me fez o pedido no domin- go passado, de que nós não olhássemos apenas as obras sociais de Irmã Dulce na área da saúde, os hospitais, e hoje a Organização Social Irmã Dulce não administra mais apenas um hospital, em 2006 pôde ampliar a sua responsabilidade para o Hospital do Oeste, em Barreiras. E, hoje, o Secretário Jorge Solla, com a administração competente da nossa querida Maria Rita, já levou essa obra e essa responsabilidade para o Hospital de Santa Rita de Cássia, para a UPA de Roma, para o Hospital Regional de Irecê.

Mas nós precisamos também salvaguardar, defender a obra educacional de Irmã Dulce no colégio Santo

Antônio, em Simões Filho, e dirigir os nossos esforços para também garantir a continuidade dessa obra.

    Portanto, não vou repetir toda a vida de Irmã Dulce, que já foi aqui relatada pelos oradores que me an- tecederam, mas reafirmar o compromisso de todos nós, o compromisso da Bahia e do Brasil com o reconheci- mento dessa obra, que é uma obra universal e, por isso, será perene, universal nos seus valores, e que demons- tra esse compromisso inabalável de Irmã Dulce, tantos anos atrás, com a pobreza, com a ideia da dedicação e do seu testemunho cristão, na solidariedade com os mais pobres, com os que hoje chamamos de excluídos de tudo, com gestos que muitas vezes hoje, na sociedade, poderiam ser condenados, como foram no passa- do: invadindo casas para botar os seus doentes; ocupando espaços públicos da cidade para chamar a atenção das autoridades sobre aqueles que não tinham, naquele momento, a proteção e a atenção das autoridades.

    Faz-se necessário assumirmos o compromisso, não apenas com essas obras físicas, públicas, que conti- nuam a salvar a vida das pessoas no nosso Estado, mas também com essa indignação dos justos diante da in- justiça, que foi a vida de Irmã Dulce; com o nosso compromisso permanente em continuar invadindo espaços, sempre que necessário for, para denunciar os desassistidos, os excluídos da nossa sociedade; e de, através da nossa ação política, termos a condição de realizar um pedacinho pequeno daquele que foi o compromisso de Irmã Dulce, porque, senão, também não vale a pena haver uma ação política que não seja, Deputado Nelson Pellegrino, para realizar minimamente a possibilidade de nos indignarmos com a miséria humana, com a situ- ação de desprezo da vida humana que, muitas vezes, a nossa sociedade continua, dia a dia, a afirmar.

    Portanto, como Senadora da Bahia, não posso deixar de me manifestar neste momento, não com orgu- lho, porque acho que o orgulho é uma expressão que não traduz bem o sentimento de alegria pela existência de Irmã Dulce na nossa terra, pela obra deixada por Irmã Dulce, pela alegria que nós baianos sentimos em ter sido, de alguma forma, de um lado beneficiado, de outro lado sendo parceiros permanentes dessa obra, que competentemente hoje é dirigida por Maria Rita, que leva seu nome de nascimento, e que a coloca num outro patamar de desenvolvimento.

    Irmã Dulce não abriu mão em nenhum momento dessa sua solidariedade humana, unindo-se justamen- te àqueles operários, trabalhadores, que estavam submetidos à grande carga de trabalho e à pouca qualidade de vida. Ela decidiu o seu lado desde sempre, desde muito jovem, desde criança, e esse lado a levou a uma condição de santa, santa dos milagres realizados. E nós, com muita fé, acreditamos, Deputados e Senadores, que também a Igreja Católica, em algum momento, haverá de reconhecer a sua santidade para júbilo do povo baiano e do povo brasileiro.

    Tive a oportunidade, como prefeita, de participar do seu funeral, recentemente eleita naquele período, e de testemunhar o sofrimento do povo baiano naquela data, de poder me emocionar junto com o povo da Bahia naquele momento e tive também oportunidade de, sendo parceira, de sua irmã Dulcinha, que continuou sua obra, e Maria Rita, de podermos tratar num momento transitório em que pôde administrar o Abrigo Dom Pedro

II. Depois também tivemos oportunidade de iniciar um programa inovador de combate ao alcoolismo dentro da prefeitura e prosseguimos nessa solidariedade, nessa parceria, para reverenciar a memória de Irmã Dulce.

    Que viva em nossos corações, nos corações do povo brasileiro, a obra de Irmã Dulce, hoje Bem-Aventu- rada Dulce dos Pobres, amanhã, com fé, Santa Irmã Dulce da Bahia.

Obrigada. (Palmas.)

 


Este texto não substitui o publicado no DCN de 28/05/2014 - Página 23