Discurso durante a 86ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento de Ignácio Rangel e Rômulo Almeida.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centenário de nascimento de Ignácio Rangel e Rômulo Almeida.
Publicação
Publicação no DSF de 03/06/2014 - Página 138
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, IGNACIO RANGEL, ROMULO ALMEIDA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, MOTIVO, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA NACIONAL.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho a grata satisfação de poder me pronunciar em uma sessão de tamanha importância e qualidade para os debates desta Casa.

            A feliz homenagem proposta pelo senador Inácio Arruda a estes dois grandes pensadores do desenvolvimento no século 20.

            Muitas das ações estruturantes que construímos e defendemos são frutos da elaboração destes ilustres brasileiros.

            Eles contribuíram de forma decidida para que avançássemos no entendimento da economia brasileira e a lógica do desenvolvimento de um país dependente.

            O pensamento de Inácio Rangel, como bem frisou o economista Luiz Carlos Bresser, foi poderoso e instigante.

            As obras A Dualidade Básica da Economia Brasileira (1957) e A Inflação Brasileira (1963) repensaram radicalmente a sociedade e a economia brasileira.

            Rangel destacava o grande desafio que representava, para o desenvolvimento, a questão da 'dualidade básica da economia brasileira'. Sua teoria não era uma mera transposição para o Brasil da teoria dualista que economistas internacionais haviam desenvolvido um pouco antes como parte da teoria mais geral da modernização. Seu modelo era histórico e complexo, mostrando como toda a história do país fora caracterizada por dois pólos, um interno e outro externo, que se sucediam e se alternavam no tempo. Através dele podíamos ver uma formação social dinâmica, na qual as classes sociais e os setores da economia se expressavam.

            Em 1963 Rangel lança seu livro inovador, A Inflação Brasileira, no qual apresentava uma teoria na qual a inflação aparecia como um mecanismo de defesa da economia quando esta se via ameaçada pela crise, ou, mais especificamente, pela recessão e os recursos ociosos.

            A inflação não era, assim, nem conseqüência do excesso de oferta de moeda, nem do excesso de demanda, nem dos pontos de estrangulamento na oferta, mas da própria crise que leva as empresas, operando em mercados imperfeitos, oligopolistas, a se defenderem praticando a inflação administrada.

            Dessa análise Rangel derivava, inclusive, o que ficou chamado como a 'curva de Rangel', na qual inflação e crescimento apresentavam, no médio prazo, não a relação direta expressa na curva de Philips, mas uma relação inversa. Uma curva que antecipava a estagflação dos anos 70, e que ele mesmo demonstrou empiricamente.

            Nosso outro homenageado, o ilustre professor Rômulo Barreto de Almeida nasceu em Salvador em 1914. Advogado, foi professor substituto da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas do Rio de Janeiro, e assessor da Confederação Nacional da Indústria - na gestão dos diretores Roberto Simonsen e Euvaldo Lodi - e da Comissão de Investigação Econômica da Constituinte de 1946. Participou em 1948 e em 1949 da Missão Abbink.

            Em 1951 foi convidado pelo presidente Getúiio Vargas para organizar a Assessoria Econômica da Presidência da República e a partir do segundo semestre de 1953 tornou-se o primeiro presidente do Banco do Nordeste do Brasil. Em agosto de 1954, logo após o suicídio de Vargas, pediu demissão do cargo e em outubro do mesmo ano foi eleito deputado federal pelo PTB da Bahia. Figura emblemática do pensamento desenvolvimentista nacional, foi algumas vezes secretário estadual de diferentes governos baianos e com a redemocratização, em 1985, o governo José Sarney nomeou-o diretor de planejamento da área industrial do BNDES. Faleceu no exercício deste cargo em Belo Horizonte, em 1988.

            Seguidor de Celso Furtado, Rômulo Almeida defendia que o desenvolvimento está vinculado à distribuição de renda, o planejamento e uma ativa participação do Estado para garantir esse desenvolvimento.

            Estes homenageados construíram a partir de uma análise acurada da realidade brasileira, as bases para um pensamento econômico que alçasse o desenvolvimento à condição de meio adequado para a superação das deficiências estruturais de nossa economia e de nosso perverso desenho social.

            Para os brasileiros que viveram o pesadelo neoliberal, que baseado na justificativa de combater a crise econômica sistêmica do capitalismo a aprofundou a níveis alarmantes, depauperando nossa economia e fragilizando o país, é fundamental lembrar que a partir dos estudos de brasileiros como Inácio Rangel e Rômulo Almeida é que construímos nossa economia e os caminhos para o desenvolvimento.

            Suas vozes permanecem a nos fornecer argumentos, fatos e dados para combater a falsa polêmica, por vezes defendidas por membros desta Casa, que separam o desenvolvimento da economia da superação das desigualdades históricas do país.

            Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/06/2014 - Página 138