Pronunciamento de Eunício Oliveira em 27/05/2014
Discurso durante a 18ª Sessão Solene, no Congresso Nacional
Sessão solene destinada a comemorar o centenário do nascimento da Srª Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce.
- Autor
- Eunício Oliveira (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/CE)
- Nome completo: Eunício Lopes de Oliveira
- Casa
- Congresso Nacional
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Sessão solene destinada a comemorar o centenário do nascimento da Srª Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce.
- Publicação
- Publicação no DCN de 28/05/2014 - Página 31
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, COMEMORAÇÃO, CENTENARIO, NASCIMENTO, IRMÃ DE CARIDADE, IRMÃ DULCE.
O SR. EUNÍCIO OLIVEIRA (Bloco Maioria/PMDB - CE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presiden- te, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, há pessoas cuja vida transcende a mera condição humana. por isso hoje estamos aqui nesta sessão especial sobre o centenário do nascimento da Irmã Dulce - uma nordestina que, por sua perseverante dedicação aos mais necessitados, foi uma grande personalidade brasileira, reconhecida internacionalmente.
Sua memória nos enche de orgulho: ainda muito jovem, aos 13 anos, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, baiana de Salvador, já demonstrava vocação para a caridade, ao transformar a casa paterna em verda- deiro albergue para acolher doentes, mendigos e idosos abandonados que recolhia pelas ruas da capital baiana.
Uma vocação da qual nunca se afastou, e aos 20 anos foi ordenada freira na Congregação das Irmãs Mis- sionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe.
Passou a se chamar Irmã Dulce, em homenagem a sua mãe.
De volta à sua Salvador natal, recebeu a tarefa de ensinar às crianças do colégio mantido pela congre- gação na cidade baixa.
Sua vocação, no entanto, era a de estender a mão aos desvalidos, a quem não tinha nada. Dizia: “O meu apostolado é o contato direto com o povo.”
Os pobres e doentes da Bahia e do Nordeste, muitas vezes rejeitados pela sociedade, pelos hospitais e insti-
tuições de amparo, encontravam nas obras da Irmã Dulce um refúgio seguro, cuidados e um pouco de dignidade.
Para manter suas obras, muitas vezes bateu de porta em porta pedindo ajuda, dinheiro, aumentos. e chegou a ser expulsa dos arcos da Baixa do Bonfim e do Mercado do Peixe pela prefeitura de Salvador, locais que havia ocupado sem permissão para abrigar seus doentes no fim dos anos 1940.
Mas as dificuldades não desanimaram a mulher determinada e sempre disposta a prestar apoio a quem precisasse.
Foram 50 anos de trabalho incansável pelo próximo, até que a saúde fragilizada prendeu Irmã Dulce a um leito no Hospital Santo Antônio, que ela mesma havia fundado em 1949.
O amor que distribuiu, sua obra, seu exemplo de vida mereceram a visita do Papa João Paulo II, em 20 de outubro de 1991, que, contrariando a agenda oficial de sua estada no país, foi pessoalmente levar reconhe- cimento àquela que tantos havia consolado.
Aos 76 anos, a freirinha de corpo frágil e voz sumida, que recebeu a alcunha de Anjo Bom da Bahia, em seu quarto simples, cercada de pessoas que a amavam e do carinho do povo da Bahia e de todo o Brasil, deixou esta vida.
Seu legado é digno da grandiosidade de sua fé.
O Hospital Santo Antônio, que foi construído onde antes fora o galinheiro do Convento das Irmãs Mis- sionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, é hoje centro de referência nas áreas de saúde e assistência social no estado da Bahia.
E esteve entre as “50 melhores entidades beneficentes e sem fins lucrativos do Brasil” segundo a Kanitz
& Associados, nos anos de 1997, 2000, 2004 e 2006, recebendo da Espanha o Prêmio Rainha Sofia de Reabili- tação e Integração em 2007, entre outros reconhecimentos.
Recordo ainda, rapidamente, outra criação de Irmã Dulce, o Círculo Operário da Bahia, financiado por três cinemas que a religiosa havia construído com o apoio do Frei Hildebrando Kruthanp.
O círculo, inaugurado em 1948, com a presença do então Presidente do Brasil, Eurico Gaspar Dutra, ofe- recia à população da periferia de Salvador serviços como consultórios médicos, dentários, farmácia, cursos de corte e costura, sapataria, alfaiataria e marcenaria.
No prédio do COB, em 1950, criou o SAC, Serviço de Alimentação do Comerciário, preocupada com a alimentação dos trabalhadores pobres, iniciativa pioneira que hoje vemos disseminada em bandejões e res- taurantes populares.
Por toda a sua obra, a Irmã Dulce recebeu o reconhecimento pela indicação ao Prêmio Nobel da Paz, em 1988, pelo então Presidente José Sarney; foi agraciada com o título de “a religiosa do século XX”, outorgado pela revista Isto É em 2001, e entrou para a lista dos“12 maiores brasileiros de todos os tempos”, criada pelo SBT em 2012.
A beata Dulce dos pobres dedicou sua vida ao atendimento das necessidades de baianos e nordestinos esquecidos, foi um exemplo de caridade e doação.
Natural portanto, o reconhecimento da Igreja Católica que lhe veio pela beatificação, em 2011, pelo Papa Bento XVI.
Cumprimento a esta Casa pela oportunidade de comemorar, nesta sessão especial, o centenário des- sa religiosa infatigável que, com humildade e trabalho, deixou seu nome marcado na história do nosso Brasil
Muito obrigado.