Discurso durante a 19ª Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão solene destinada à comemorar o Ano Internacional da Agricultura Familiar, instituído pela Organização das Nações Unidas.

Autor
Wellington Dias (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: José Wellington Barroso de Araujo Dias
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM, POLITICA AGRICOLA, POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Sessão solene destinada à comemorar o Ano Internacional da Agricultura Familiar, instituído pela Organização das Nações Unidas.
Publicação
Publicação no DCN de 04/06/2014 - Página 14
Assunto
Outros > HOMENAGEM, POLITICA AGRICOLA, POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, AGRICULTURA FAMILIAR, CRIAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU).

    O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco Apoio Governo/PT-PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sra. Presidenta, serei breve, porque sei que a agenda precisa disso.

    Srs. Senadores, Srs. Deputados, primeiro, é uma honra participar deste encontro. Quero saudar V.Exa., minha querida Senadora Angela Portela. Sei que o seu Estado tem muito orgulho do seu trabalho, e todos nós aqui, do Senado Federal, sabemos do seu empenho na defesa dos interesses tanto de Roraima como da Região Norte e do Brasil. E a presença das mulheres nos alegra. Esta sessão tem a particularidade de ser presidida e co- mandada pelas mulheres. Os homens estão aí à Mesa só para auxiliar. Então, é um prazer muito grande! (Riso.)

    Quero saudar aqui o meu querido Ministro Rossetto - da mesma forma, tenho muita satisfação e orgu- lho do seu trabalho, da sua história; a Deputada Luci Choinacki; meu querido Deputado Padre João; o Sr. Jorge Chediek - não sei se meu inglês aqui vai funcionar -, representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no Brasil; o Sr. Maurício, da EMBRAPA. Quero dizer que temos também muita gratidão pela presença da EMBRAPA no Piauí, no meio-norte, no litoral, em Parnaíba e em Teresina. Quero saudar também a Alessandra da Costa Lunas. E permitam-me saudar também os movimentos sociais aqui presentes, MST, CON- TAG, FETRAF. Enfim, em nome desses, para não causar problema, saúdo todos os movimentos sociais aqui presentes e espalhados pelo Brasil.

    Quero saudar também toda a equipe, Ministro, do nosso Ministério do Desenvolvimento Agrário, através do Francisco Ribeiro. Se chegar ao Piauí perguntando por este nome, ninguém sabe quem é. É o Chicão, que hoje está como Secretário-Substituto, é Diretor do Crédito Fundiário junto ao INCRA.

    Eu queria aqui relatar três depoimentos. O primeiro foi da comunidade Cajazeiras, onde estive esses dias, no Município de Canto do Buriti. Ali pude ver um depoimento e a emoção de famílias. Estive em Cajazeiras e outras comunidades, especialmente em um lugar chamado Santa Clara, que teve uma experiência com a ma- mona - V.Exa. acompanhou isso lá com o biodiesel. Ali eles estavam recebendo energia elétrica do Programa Luz para Todos. O meu Estado do Piauí tinha 570 mil pontos de ligação; hoje, tem mais de 1 milhão e 200 mil pontos de ligação. Isso só para entendermos. E a Dona Mariinha mora numa casa onde fizemos um ato junto com a ELETROBRAS Piauí, uma empresa pública. Ela fez um depoimento da vida dela sobre quantas horas ela tinha que gastar, por falta de energia. Há um poço perto da sua casa, e ela tinha que buscar água a uma dis- tância muito grande, porque não conseguia ter energia para, com uma bomba, puxar água daquele poço. E ela gastava tantas horas com tantas atividades, por falta de energia, que ela disse que seu marido, Sr. Raimundo, já estava, há 7 anos, dormindo em cama separada, porque quando chegava em casa ela não dava conta do re- cado. Então, ela disse que estava - usando a palavra dela - estropiada de trabalhar o dia inteiro.

    Então, eu cito esse exemplo para vermos que estamos falando de vidas humanas. Às vezes, falamos de números, falamos de quantas obras, de quantas coisas; estamos falando de mudança de vida. É alguém poder ter ali comunicação, poder ter uma geladeira para conservar frutas, poder ter um sistema para puxar água. O Deputado Assis Carvalho esteve lá comigo nesse ato importante, ouviu esse testemunho.

    Há outro, da D. Helena, na comunidade Morro do Milho, no Município de Jaicós. Agora esta semana, para a minha honra também, o Deputado Assis esteve lá presente. E ali nós vemos a alegria das pessoas recebendo habitação, pessoas que em toda a história do Brasil moraram na casa de alguém, habitação no campo. Fazer casa na cidade já era uma coisa rara. Agora eu estou falando de habitação no meio do campo, habitação com piso bom, com banheiro em condições adequadas, com dignidade. E ali víamos a emoção dessas pessoas. O Assis lembrava aqui da exposição de Oeiras, e também de Floriano, sempre com a presença da agricultura familiar.

    No nosso Estado, num ano como esse, 6 mil agricultores disputavam 6 mil contratos da área voltada para o pequeno produtor de financiamento nos bancos, e agora alcançamos 150 mil, 200 mil contratos, pela agricultura familiar. Então, é disso que se trata.

    E eu quero aqui parabenizar e agradecer neste momento e comemorar a Medida Provisória nº 636. Es- pero, porque foi fruto de um amplo debate, entendimento, que possamos comemorar. Essa MP eu acho que tem que ser festejada - num momento grande para o País, mais de 15 bilhões de reais -, porque está tirando agricultores que estavam impedidos de acesso ao programa, nas várias áreas. O Padre João lembrava aqui há pouco dos vários programas, VIACREDI, crédito fundiário, e tantos outros, e agora colocamos as condições de trabalhar. E basta ver pelo volume apresentado hoje pela Presidenta Dilma, junto com V.Exa., de 24 bilhões para a agricultura.

    Mas não posso aqui, ao fazer toda essa reflexão, deixar de dizer que ainda temos muita coisa para avan- çar. O próprio debate aqui mostra isso, e vamos prosseguir nessa direção. É um passo tirar alguém, como D. Mariinha, da miséria? É um passo. Mas ainda não basta. Saiu da miséria, veio para a pobreza. É preciso investir em educação, e estamos investindo; é preciso ter os filhos de agricultores técnicos agrícolas, agrônomos; é pre- ciso ter, como diz o Presidente Lula, o filho do pedreiro engenheiro. Então, esse é o caminho novo que vamos trilhar, e trilhar a passos fundos.

    Finalmente, chamo a atenção aqui para a população indígena - das Nações Unidas ao Governo Federal, aos Governos Estaduais -, que é a parte que nós precisamos olhar. E eu, como índio descendente, não tenho... Aliás, a literatura e os estudiosos diziam que não havia mais índios no Piauí. Depois que passei a me declarar como índio descendente - a minha mãe, os meus avós viveram de forma tribal; eu não tive esse privilégio, mas aprendi muito -, já são mais de 10 mil pessoas no meu Estado que se assumem como índio descendente. Mas o que eu quero chamar a atenção é que é aí onde ainda temos a maior fatia proporcional de pobreza e de mi- séria. E vamos ter que cuidar com todo o carinho.

    Esse é um debate que não envolve só o Governo; envolve a forma do olhar do Brasil para esta população. Índio não quer ser peça de museu para ser visitado por escolas, para ter redação bonita. São homens e mulhe- res que querem a mesma cidadania que querem os negros, os quilombolas, que querem os assentados e de qualquer outra parcela da sociedade. Respeitam a língua, respeitam as tradições, enfim, mas querem qualidade de vida, querem tomar banho de chuveiro, querem ter o direito à casa digna, querem usar WhatsApp, querem ter aquilo que a sociedade moderna conquistou.

    E, nesse sentido, V.Exa., meu querido Ministro, a Presidenta Dilma, todas as entidades, todos os órgãos aqui vão contar sempre com uma bancada aguerrida, lideranças como a nossa querida Angela Portela, que nos lidera aqui no Senado.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

    


Este texto não substitui o publicado no DCN de 04/06/2014 - Página 14