Pronunciamento de Jorge Viana em 24/06/2014
Discurso durante a 95ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Considerações sobre a realização da Copa do Mundo no Brasil e os legados que ela deixará para o País; e outros assuntos.
- Autor
- Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
- Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
ESPORTE.
:
- Considerações sobre a realização da Copa do Mundo no Brasil e os legados que ela deixará para o País; e outros assuntos.
- Aparteantes
- Cristovam Buarque.
- Publicação
- Publicação no DSF de 25/06/2014 - Página 6
- Assunto
- Outros > ESPORTE.
- Indexação
-
- ELOGIO, ORGANIZAÇÃO, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, LOCAL, BRASIL, CRITICA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, PERIODO, ABERTURA, EVENTO, MOTIVO, OFENSA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REGISTRO, INCENTIVO, TURISMO, COMENTARIO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, APROVAÇÃO, PAIS, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, FOLHA DE S.PAULO, ASSUNTO, ESPORTE.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Normalmente, pelo Regimento, são 20 minutos, mas é com satisfação que volto a cumprimentar V. Exª pela passagem do seu aniversário e a cumprimentar a todos que nos acompanham pela Rádio e TV Senado. Tive a honra de abrir a sessão ainda há pouco e, agora, sou o primeiro orador inscrito.
É claro que vou falar da Copa do Mundo, mas, antes, eu queria cumprimentar o Presidente do PT, o Rui Falcão, pela extraordinária convenção que ele e os dirigentes do Partido proporcionaram nesse final de semana, onde foram homologados os nomes da Presidenta Dilma e do Vice-Presidente Michel Temer.
A batalha eleitoral este ano não será fácil. Nós temos um desafio enorme pela frente, que é de ganhar a confiança do cidadão brasileiro para sermos merecedores de mais quatro anos e, assim, conforme estabelece a Constituição Federal, a Presidenta Dilma ter um mandato como tiveram o Presidente Fernando Henrique Cardoso e o Presidente Lula - ela podendo ter a oportunidade de ser reeleita. E, obviamente, isso depende da vontade do cidadão brasileiro, e cabe a nós do PT e dos partidos aliados, PMDB e outros, apresentar proposta que possa ganhar a confiança do cidadão, para nos levar a mais uma vitória na eleição.
As mudanças que o Brasil experimenta são concretas e reais, estão para quem queira ver. Eu acho que um dos legados que o Presidente Lula nos deixou foi a possibilidade de sediar a Copa do Mundo, a possibilidade de sediar as Olimpíadas, e é inacreditável, nessa onda de dizer que qualquer coisa que o nosso Governo faça está errado, como alguns se apressaram - uma parcela inclusive da imprensa, mas de certa forma setores da elite brasileira - e começaram a orquestrar, há dois anos, uma campanha de pessimismo, que não era uma preocupação com o Brasil sediar eventos tão importantes, mas era algo que ficava parecendo até que estavam contra o Brasil, contra o brasileiro - chegava a ponto de eu ver, em algumas manifestações, que só faltava agora quererem tirar de dentro do brasileiro essa paixão pelo futebol. Há dois anos, uma orquestra tocando a mesma música: o Brasil vai passar vexame, vai ser uma vergonha, nós não temos condição de fazer a Copa do Mundo. E aí distorciam, dizendo que estava havendo corrupção, diziam também que o dinheiro da educação ia faltar porque iam gastar dinheiro na Copa do Mundo, e foram criando versões que quase viraram verdade. Mas, felizmente, S. Exª os fatos se impuseram, e hoje - alguns pegando inclusive carona na imprensa internacional - o Brasil está completando a primeira fase da Copa do Mundo, a fase de grupos. De Norte a Sul deste País, dos mais críticos aos que elogiavam, dos mais esperançosos aos pessimistas, todos têm uma conclusão só: O Brasil está dando conta do recado, o Brasil está atraindo a atenção do mundo inteiro e, de longe, conseguindo promover uma das melhores Copas de todos os tempos.
Estamos ainda chegando à metade dessa tão importante competição, mas quero parabenizar, daqui da Tribuna do Senado. Porque chegaram ao ponto de dizer que o Presidente Lula havia errado quando defendeu a candidatura do Brasil como sede da Copa do Mundo, da Copa do Mundo da FIFA - e o nome diz, é Copa do Mundo da FIFA no Brasil -, e chegaram ao ponto de achar que o Presidente Lula havia deixado um problemão para a Presidenta Dilma. E eu quero aqui agradecer o ex-Presidente Lula pelo seu esforço, por sua competência, porque, depois de 64 anos, o Brasil sedia uma Copa do Mundo.
Como é que nós podemos ter a fama de o país do futebol? Como é que nós podemos, com duas centenas de milhões de cidadãos deste mundo, a grande maioria carregando essa paixão pelo futebol no peito, passar mais de meio século sem sediar uma Copa? A última foi em 1950, quando o Brasil perdeu a final para o Uruguai - que, agora, joga enfrentando a Itália, com uma seleção candidata a seguir em frente, como também a Itália. Hoje é um jogo em que um dos dois vai para casa; um dos dois, também campeões do mundo, vai para casa, como já foram também dois outros, a Inglaterra, que já não tem mais possibilidade, e a Espanha, a maior surpresa da Copa. Então, nós tivemos uma Copa do Mundo em 1950. Tem uma propaganda muito bonita da Sadia, em que as crianças pedem para os jogadores jogarem para elas, porque elas conhecem a Copa do Mundo por ouvir falar, e agora o nosso País sedia este evento que é o evento de maior audiência do Planeta - aliás, vai sediar os dois. E não tenho dúvida de que o Prefeito Eduardo Paes, que o nosso Governo vai também fazer das Olimpíadas o que está ocorrendo na Copa do Mundo. Nós vamos ver o Brasil ser elogiado. E aí sai matéria no New York Times, sai matéria na revista Forbes, sai matéria na revista The Economist, a grande imprensa internacional.
Os jornalistas estão em êxtase, apaixonados pela acolhida do povo brasileiro, pela beleza do nosso País. E aí eu faço algo aqui que muitos questionavam, pela eficiência do Brasil como sede da Copa FIFA, da Copa do Mundo da FIFA.
Fui ao estádio ontem. Peguei metrô e, depois, peguei ônibus. Em 20 minutos, eu saí do estádio e já estava na minha casa, de ônibus e de metrô. Fui à abertura, em São Paulo, e fui de trem: quinze minutos para sair do centro de São Paulo até a porta do Itaquerão, do Corinthians, Arena Corinthians, e 22 minutos, na volta. É uma competição internacional, há sete bilhões de pessoas no Planeta e três bilhões estão ligados na Copa do Mundo diretamente - diretamente -, e é claro que temos um problema: todos querem estar dentro dos estádios.
As empresas compram, e é um evento diretamente ligado ao comércio. E aí não tem problema quem discorda, quem critica, eu também não acho nada interessante a gente ficar vendo nos noticiários que um garoto de 19, 20 anos é vendido - eu estou me referindo a atleta - por dezenas de milhões da moeda mais cara do Planeta, o euro, o dólar - eu nem gosto desse termo “um jovem sendo vendido”. Põe-se, às vezes, uma carga, num garoto de 20 anos, 19 anos, de sucesso, de dinheiro que ele nem aguenta. Normalmente, uma boa parte dos jogadores vem de famílias muito pobres. Eu li aqui a história dos nossos jogadores. São vitoriosos, mas, às vezes, eles se deparam com uma sobrecarga, com uma responsabilidade muito grande quando ainda não têm a maturidade da vida para encarar nem aquele perigo que o sucesso traz junto e muito menos o perigo do dinheiro, que chega com força numa fase ainda muito prematura da vida.
Mas, gente, eu estou aqui para dizer que o Brasil está dando conta do recado. Eu quero parabenizar os moradores das 12 cidades-sede. Eu quero parabenizar a população de Brasília pela acolhida que está dando. Brasília é a cidade que está recebendo o terceiro maior número de turistas. São mais de 240 mil turistas passando por nossa cidade, por Brasília. Quero parabenizar, aqui da tribuna, o Governador Agnelo Queiroz, porque é muito cobrado. Quero parabenizar o governador, parabenizar sua equipe pelo trabalho que fez. Brasília está bem cuidada, hoje, para receber quem nos visita. A Capital da República não nos envergonha. Ao contrário, orgulha-nos. E eu quero dizer que o Governador Agnelo Queiroz merece todos os elogios, porque aqui ele é prefeito e governador numa pessoa só e ainda representa o Governo Federal.
Sei que alguns não querem reconhecer, sei que alguns torciam contra, mas o fato é que o verde e o amarelo tomaram conta do nosso País. A nossa Bandeira está em toda parte, e os exemplos estão vindo dos mais humildes deste País, que são apaixonados pelo Brasil.
A elite, uma parte da elite, os que se deram melhor ainda no Governo do Presidente Lula e da Presidenta Dilma, fez aquela ação vergonhosa na abertura da Copa do Mundo da FIFA. Não vaiaram a Presidenta, porque a vaia faz parte. Todo mundo que frequenta um campo de futebol sabe que ali o torcedor vira uma coisa diferente, com sua paixão. Os que escrevem sobre futebol, os que estudam futebol têm explicações. Todo mundo extravasa um pouco do que sente quando está num campo de futebol. Mas o que presenciei na abertura, no Itaquerão, foi uma ação vergonhosa dos incluídos, porque, no evento de maior audiência do Planeta sendo aberto no País, só podem entrar 70 mil pessoas - ninguém divulga, mas 50 mil índios e participantes do Bolsa Família receberam ingressos. Para mim, deveria ter sido pelo menos 100 mil, mas essa foi uma ação do nosso Governo - foi uma ação do nosso Governo - para que eles pudessem participar também do evento. Mas estavam lá, no Itaquerão, na Arena Corinthians, pessoas convidadas das grandes empresas brasileiras. Eu também estava lá como convidado e, na hora, senti vergonha e repulsa ao ver que o Brasil tem gente, sim - e são os incluídos, os riquinhos, os novos ricos deste País -, que tem o complexo, como diz o grande sábio Nelson Rodrigues, de vira-lata, que só vive falando mal do nosso País. Toda hora estão pegando um avião para gastar seu dinheiro fora do nosso País e põem defeito aqui, esquecendo que é aqui que eles ganham dinheiro para poder gastar lá fora. Os nossos aeroportos... A única crítica que faço ao aeroporto de Brasília é que deveríamos ter preparado esse aeroporto há mais tempo. Mas é o Brasil alcançando uma situação que nos deixa esperançosos. Em abril deste ano, o número de pessoas que andam de avião no Brasil passou a ser maior do que o número de pessoas que andam de ônibus. São mudanças que estamos experimentando.
Então, Sr. Presidente, Senador Suplicy, eu queria dizer que é lamentável - mas tudo isso está ficando para trás, e não é hora de ficarmos cobrando mais nada - a posição de revistas, como a própria revista Veja.
Ela chegou a dizer que as obras do Maracanã só iriam terminar em 2038. Mas, agora, já estão abrindo espaço para elogiar a obra. Só não vale dizer, como a revista Veja ainda está dizendo, nessa semana, que não vamos ter um legado duradouro.
O aeroporto vai ser levado embora depois da Copa? Os aeroportos todos? As linhas de ônibus, de trem, de metrô? Os próprios estádios? Os investimentos no turismo? As melhorias que as cidades experimentaram? O ganho que o Brasil tem diante do mundo?
Nosso País não é mais qualquer País. Nosso País disputa o mundo hoje.
Com todo o respeito aos veículos de comunicação, fico feliz, ao abrir os jornais de hoje, em ver, ouvir e assistir aos mesmos que criticavam, que pareciam torcer contra, agora elogiando o Brasil por sediar, e sediar bem, por organizar, e organizar bem, por passar um sentimento que talvez só o povo brasileiro consiga passar para os que nos visitam: esse sentimento de acolhida, de hospitalidade, de generosidade que o brasileiro tem.
Estou aqui para parabenizar a Presidenta Dilma, que sofreu muitas injustiças nesse período, que foi cobrada sem ter culpa. Chegavam a dizer, como foi publicado, que o dinheiro da Copa seria tirado da educação, que seriam gastos dezenas de bilhões nos estádios.
Os estádios custaram 8 bilhões. A metade, 4 bilhões, está sendo financiada, e a outra metade vem de recursos dos Estados. Eu, inclusive, apresentei uma proposta, aqui desta tribuna.
Penso que um estádio como o Estádio Nacional de Brasília, o Mané Garrincha, um dos maiores do País, que recebe 70 mil pessoas por jogo, como o de ontem, pode sim ter uma adaptação e se transformar em algo como o que temos lá no Acre: a OCA, um serviço de atendimento ao cidadão. Todo o aparato de infraestrutura que se tem ali, de telecomunicação, de transporte pode ser utilizado pelo cidadão todos os dias. Em Rio Branco, o serviço de atendimento ao cidadão, a OCA, criada pelo Governador Binho e tão bem conduzida pelo Governador Tião Viana hoje, recebe 8 a 9 mil pessoas por dia. Lá eles resolvem todos os seus problemas.
Cada estádio desse, o Maracanã inclusive, pode virar um centro de atendimento ao cidadão, na parte baixa da arquibancada. E, com isso, nós podemos ter vinte, trinta mil pessoas, todos os dias, indo resolver os seus problemas nesses espaços. É só nós procurarmos fazer o melhor uso. Mas eu faço questão de citar aqui, sobre o Mané Garrincha, um dado que eu já citei antes.
Ninguém falava nada. Brasília tinha o Mané Garrincha antigo, com grande capacidade também. Durante 36 anos, entraram no Mané Garrincha 340 mil pessoas. Trinta e seis anos, quase quatro décadas, e ninguém falava nada. O Governador Agnelo se expondo, com a ajuda do Governo Federal e de todos, com muita confiança, construiu o novo Mané Garrincha.
Sabem quantas pessoas entraram no Mané Garrincha depois que ele foi inaugurado para cá? O outro demorou 36 anos para receber 340 mil pessoas. No Mané Garrincha, já entraram 861 mil pessoas do dia em que ele foi inaugurado para cá. Oitocentas e sessenta e uma mil pessoas! Isso faz a diferença.
E eu estou apresentando uma proposta: que se transforme a parte de baixo das arquibancadas em atendimento ao cidadão. No dia de jogo não funciona. Quando não houver jogo, no dia de semana, nós teremos uma frequência de 20, 30 mil pessoas no estádio.
Eu queria dizer também que a Revista Forbes, que não é qualquer revista, acaba de dizer que para cada R$1 gasto na Copa R$200 foram gastos com educação. Duzentos foram gastos com educação.
Então, vamos nos prender primeiro aos fatos, à verdade.
A crítica é muito bem-vinda e nos ajuda a melhorar, só não vale distorcer a realidade, só não vale nos impor algo que parece que quer diminuir o Brasil diante do mundo. Nós não queremos que o Brasil seja o que não é, mas também não podemos deixar de ter amor, de ter paixão, como tem o bom brasileiro por seu País.
Eu queria concluir, Sr. Presidente, prendendo-me a um artigo do Nizan Guanaes. Eu não estou falando de qualquer pessoa. É um dos grandes publicitários do Brasil, um dos grandes profissionais. Ele trabalhou boa parte da sua vida profissional sabe para quem? Para ao PSDB. Como profissional competente, sabe conduzir muito bem suas agências de propaganda, que são premiadas no mundo inteiro, e sabe também nos enfrentar nas campanhas com competência e talento.
Nizan Guanaes escreveu, na Folha de S.Paulo, “O mundo chegou”. “Ao contrário do que muitos pensavam, não fizemos um papelão, mas um grande papel.”
Ele fala algumas frases que eu queria pinçar do artigo que vou pedir a V. Exª para constar nos Anais. Se vier alguém do PT falar aqui, vão pôr defeito, mas como é o Nizan Guanaes, uma pessoa que conhece bem o mundo e que o mundo também conhece muito bem, é melhor me pegar nas suas palavras.
Ele diz:
O Brasil está no centro do mundo, nas telas do mundo. Basta olhar, ouvir, ler, seguir, compartilhar.
Fala o Nizan Guanaes, no seu artigo na Folha de S.Paulo de hoje:
No domingo, se você colocasse a palavra Brazil World Cup, no Google, teria, em 42 segundos, 446 milhões de resultados.
Que outro evento poderia colocar o nosso País tão presente diante do mundo?
Nizan Guanaes descreve aqui o encontro multirracial das línguas com o povo brasileiro. Ele compara a orla do Rio de Janeiro com Times Square, com o Louvre, tomado por uma Babel de nacionalidade animada.
É um artigo realista, bem brasileiro, de uma pessoa muito inteligente e que trabalha com muita capacidade, competência e talento, com marketing, com comunicação, com propaganda. Não é qualquer um que está falando. E faço questão de reproduzir aqui o seu artigo:
Copacabana, princesinha da mídia global, recebe as equipes de televisão de braços abertos e estúdios de vidro no calçadão da praia, onde transmitem boletins ao vivo, perto do Forte de Copacabana, bem ao lado da estátua de Dorival Caymmi.
O Brasil tem tanto a oferecer ao mundo. O mundo agora veio ver. E está vendo a vida como ela é por aqui. Nossos defeitos estão expostos e só são superados por nossas qualidades.
É verdade. Temos muitos problemas a enfrentar. Então, nós só vamos sediar grandes eventos? Nós só vamos nos orgulhar do nosso País quando não tiver mais problema? Você anda na Alemanha, que é uma das nações mais desenvolvidas do mundo, e há jovem no meio da rua, amarrado num cachorro para não ser preso, porque lá tem uma lei que diz que ninguém pode recolher uma pessoa cujo animal é dependente dela. E os riquinhos brasileiros vão lá aplaudir a Alemanha. Eles têm problemas. Os Estados Unidos têm 50 milhões de pessoas que não têm acesso a plano de saúde, mas nem por isso deixam de ser uma grande nação. Agora, o Brasil não pode. O Brasil tem que resolver tudo, tem que ser a vitrine do mundo, para depois todos falarmos bem do Brasil. Não, os que falam pouco são minoria; os que falam pouco têm preconceito contra o País, têm um preconceito de vira-lata, porque criticar e cobrar mais e melhor para o nosso povo, para o nosso País, é obrigação nossa. E eu faço isso com satisfação, sendo do PT.
Olhe o que é que Nizan Guanaes fala, Presidente, Senador Suplicy, e todos os que me acompanham na TV Senado e na Rádio Senado. Olhe o que o Nizan Guanaes fala no artigo da Folha de hoje:
Que grande País do mundo emergente tem nossas credenciais? [Ele cita.] Democracia, economia de mercado, em paz com os vizinhos e com o mundo, potência energética, potência de alimentos, potência mineral, mercado interno imenso, povo trabalhador e empreendedor. Somos um grande “case” a ser cada vez mais trabalhado num mundo que quer gostar do Brasil e consumir o Brasil, [diz Nizan Guanaes].
São palavras de sabedoria. Por isso venho aqui à tribuna, fazendo um coro diferente. Venho para elogiar o Governador Agnelo, venho para elogiar o Presidente Lula, por ter trazido a Copa, venho para elogiar a Presidenta Dilma e venho para combater esse complexo de vira-lata que alguns brasileiros têm, de trabalhar contra o nosso País, de ser pessimista em tudo, de não acreditar, de não ter fé. Nós somos um povo que tem fé, que acredita para poder ver, diferentemente daqueles que, como S. Tomé, só acreditam naquilo que veem.
E Nizan Guanaes segue:
A Copa nesse contexto é uma bênção e um começo. Uma aproximação imediata e total com o mundo, [diz Nizan Guanaes]. Que começa agora, passa pelas Olimpíadas do Rio em dois anos e terá que ser sustentável ao longo das décadas. Será uma evolução por definição multiplataforma: via negócios, alianças comerciais, alianças políticas, políticas culturais, propaganda. É preciso consolidar a marca Brasil e construir as marcas do Brasil para agregar valor ao “Feito no Brasil”.
E ele fala do turismo, das milhares de relações que estão sendo estabelecidas por meio desta Copa. Nós recebemos 8 milhões de pessoas - 8 milhões de pessoas! - por ano. Isso é uma vergonha, isso tem que ser mudado. A França recebe 70. Taiwan, uma ilha que ainda tenta, num conflito, se livrar de ser província da China, consolidar-se como país, recebe 30 milhões de turistas por ano!
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - A Espanha, mais de 60.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - A Espanha mais de 60. Cuba recebe 10 milhões de turistas. Mas quanto de turismo nós vamos ter depois da Copa do Mundo, depois das Olimpíadas?
Eu penso que nós devemos tirar boas lições desse episódio.
Quando falavam que estava tendo corrupção, desvio de dinheiro na Copa do Mundo, eu falava: o TCU está apurando. E o TCU, Tribunal de Contas da União, não é qualquer órgão. O TCU montou uma equipe competente de auditores, de profissionais. Eu sou da Comissão de Fiscalização e Controle do Senado. Todas as obras - todas - vinculadas à Copa do Mundo tinham um relatório de acompanhamento permanente. Quando havia alguma possibilidade de falha, estava o TCU em cima.
Mas qual é o legado que alguns querem dizer? Que houve desvio, que houve roubo, que milhões foram desviados da Copa do Mundo. Mentira! Mentira! Eu prefiro acreditar nos técnicos e em profissionais que trabalham independentes no TCU e também na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado Federal.
Eu fico feliz de estar aqui hoje para tentar mudar essa página, sem que isso implique deixarmos de reconhecer o quanto ainda temos de distorção, de desigualdades e desafios pela frente, como o de minha região, a Amazônia (o Norte deste País), com o Centro-Sul. Mas nós não podemos nos dividir na hora em que o mundo inteiro quer conhecer mais a nossa cultura, o nosso jeito de ser, o nosso País. Nós temos que nos somar àquele cidadão, como aquela catadora de material reciclável que deu uma aula de cidadania ao falar de educação, de saúde e de seus problemas com conhecimento de causa, dizendo que os que ficam falando em nome deles às vezes falam sem conhecer a sua realidade. Ela reconheceu o trabalho fantástico que o Brasil tem feito nos últimos anos e precisa fazer para sediar bem a Copa da FIFA aqui, depois de 64 anos.
Com satisfação, ouço, para encerrar minha fala, pois já tive o tempo regimental, o Senador Cristovam Buarque, meu querido colega, Senador por Brasília.
Peço, Sr. Presidente, que conste nos Anais esta peça fantástica, realista, escrita por um dos grandes talentos da comunicação deste País, Nizan Guanaes, na Folha de S. Paulo, de hoje. Não é qualquer pessoa que está falando. É uma pessoa que já coordenou campanhas eleitorais contra nós mesmos, mas que coloca o País no ponto certo. Não é ninguém do PT nem do PSDB, mas Nizan Guanaes que faz, talvez, a mais completa e a mais profunda análise do que significa o Brasil sediar esta Copa e do sucesso que o Brasil e os brasileiros estão tendo na hora em que sediam um dos eventos mais importantes do mundo.
Senador Cristovam.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Permita-me sugerir, Senador Cristovam Buarque, que o Senador Jorge Viana repita a informação tão relevante que Nizan Guanaes colocou no seu artigo, quando ele acessou, no Google, ...
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - A palavra Brazil World Cup.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... a palavra Copa do Mundo, em inglês.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Brazil World Cup.
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Brazil World Cup. Qual foi o resultado?
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) -
Em 42 segundos, foram 446 milhões de resultados. Repito: 446 milhões de resultados. E ele faz uma tradução do brasileiro na rua acolhendo, fazendo um paralelo entre o Louvre e a Times Square com o Brasil, que agora virou multilíngua, multirraça, e o jeito que o brasileiro está fazendo. Dos nossos governos, dos nossos gestores, vamos cobrar sempre, mas do jeito que nós estamos fazendo para trabalhar da melhor maneira possível a acolhida de quem nos visita. As falhas, as gravíssimas falhas, vamos cobrar, vamos exigir, mas não vamos desvalorizar esse sentimento brasileiro de acolhida, de hospitalidade, que carregamos.
Senador Cristovam.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Jorge, primeiro, eu creio que, numa avaliação da execução da Copa até este momento, dá para dizer que é um sucesso. Disso daí eu acho que ninguém tem dúvida. E muitos não acreditavam que seria isso. Todo mundo falava: “Quero ver como será na Copa?”. E a Copa está funcionando. Isso é uma coisa. A outra é saber se a decisão de trazer a Copa para cá foi ou não uma decisão que, no longo prazo, vai trazer os benefícios de que se fala. Aí eu acho cedo para dizer. Quem disser que não vai trazer benefícios compatíveis com o custo está errado, mas quem disser de já que os resultados serão tão positivos que justifiquem esses custos... E eu não falo só o custo financeiro não, eu falo o custo na energia nacional, na energia intelectual. Faz três anos que ninguém debate o futuro do Brasil. Faz três anos que, nos botecos, nos cafés, só se fala disto: se o estádio fica pronto ou não fica pronto e, agora, quem ganha e quem não ganha. Eu acho cedo para saber. Não tenho dúvida de que, se fossem perguntar se a Copa deu certo, eu diria que deu certo; se fossem perguntar se foi certo a Copa vir para cá, eu diria que não sei ainda. Por quê? Primeiro, vamos ver esse lado do turismo. Se nós acharmos que a Copa é que vai trazer turistas, Senador, estamos errados. O que não traz turistas para aqui é o dengue. Lá fora, as pessoas sabem que aqui há doenças endêmicas e têm medo; sabem que na rua aqui ninguém fala o idioma deles, diferentemente da África do Sul, onde se fala inglês. Aqui não há trens, que são o meio de transporte mais usado nas distâncias longas, como temos dentro do Brasil, e não há. Aqui há um problema, que é a taxa de câmbio, que faz com que o turista gaste muito mais para vir aqui do que para quase que qualquer outro lugar do mundo. A ideia da comparação com o Louvre é falsa, porque a Copa é temporária; o Louvre é uma coisa permanente. Nós estamos achando que uma coisa temporária vai ter um impacto a longo prazo. Pode até ter - não estou dizendo que não. Já que ele falou em Louvre, eu digo que nossos museus estão degradados. Não é só que nós não tenhamos, estão abandonados, Senador Jorge Viana. E isso atrai turistas. Nós temos a violência nas ruas. Essas notícias saem no mundo inteiro, tanto quanto a Copa, salvo neste momento. Passado este momento, o que vai passar do Brasil lá fora é que aqui são assassinadas 50 mil pessoas por ano.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Cinquenta e seis, no ano passado.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Cinquenta e seis mil!
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu acompanho bem esse dado porque eu enfrentei o crime organizado no Acre.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito bem.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Tiramos o Acre do primeiro lugar, colocamos nos últimos, e fiz vários discursos sobre violência. Só não vale querer dizer que a culpa é do Governo.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não, não estou falando. Não!
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não é V. Exª!
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - A culpa é de 500 anos.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Porque é uma sociedade embrutecida, que se mata.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não, não conte comigo para dizer isso. Não.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu sei, eu estou dizendo que alguns...
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não conte comigo para dizer isso.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Porque V. Exa sabe. Alguns dizem: “Não, porque o Brasil é pobre!”. Não. Eu sou vizinho de países muito pobres, Bolívia e Peru. São mais pobres do que o nosso País. Lá não se mata assim. Então, nós temos algo a ver também, a cobrar de todos, inclusive da própria sociedade.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - De todos.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - As pessoas, por qualquer razão, por qualquer futilidade, se matam neste País.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito bem.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - É um número de 26 assassinatos para cada 100 mil.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Então, o senhor está confirmando o que eu digo. Essa violência que nós temos nesta sociedade - que a Índia, com desigualdade muito grande, talvez não tenha - é que afasta turistas. A imagem do Brasil está boa na Copa. Nós estamos mostrando que somos capazes de organizar uma Copa com competência. Mas, passada a Copa, a imagem não vai ficar boa, Senador Jorge Viana, porque as notícias da realidade permanente vão atropelar as belas fotos deste momento. E, se a gente esquece isso, como um artigo como esse leva a esquecer... Porque ele é o que se chama de ufanismo, que é diferente do otimismo, que é diferente do amor à Pátria. O ufanismo é o amor escondendo as coisas erradas que nós temos. Esse esconderijo das coisas erradas é que nos ameaça. Eu tenho dito, e aqui mesmo isso entrou muitas vezes, que um dos maiores problemas que nós temos hoje é o ufanismo de que a economia está muito bem. Faz três anos que eu digo isso. Hoje a gente percebe que ela não está bem. Ela está com profundas dificuldades, algumas estruturais, outras conjunturais. Então, aquilo para o que quero chamar a atenção é: que a Copa está dando certo do ponto de vista da engenharia, está, mas, do ponto de vista da prioridade política, vamos levar muito tempo para debater se foi ou não a decisão certa. Ainda vai demorar muito. Mas temo o ufanismo, o querer esconder o fato de a gente fazer uma análise fria para mostrar tudo de bom e tudo de ruim que a Copa pode ter trazido, pelo lado das coisas boas que a gente deixou de fazer por culpa dela. A poucos metros do Itaquerão, há dezenas de milhares de pessoas sem saneamento, Senador Jorge Viana! Em São Paulo! Aí, falo daqui: gastar R$2 bilhões com estádio no Distrito Federal não é erro, é crime, Senador Jorge Viana! É um crime gastar R$2 bilhões...
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - V. Exª, então, era a favor de que não houvesse Copa no Brasil?
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não. Não, Senador, não diga isso.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Para não cometer o crime, porque...
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não, não. Crime é um estádio de R$2 bilhões, que poderia ser feito com R$600 milhões.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - A informação que tenho é a de que é de R$1 bilhão, Senador, e ainda acho caro. Poderia ter sido menor...
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não é R$1 bilhão, não. Basta ler, Senador, basta ler.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu tenho os dados, Senador.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não, não, vou lhe mostrar.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Oito bilhões custaram os 12 estádios do País.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não, não, estou falando daqui.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Estou dizendo que R$8 bilhões custaram os doze.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Agora, vamos tirar os R$2 bilhões, vamos botar R$1 bilhão.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Certo.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Conte R$1 bilhão.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Também acho caro.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - É muito caro, Senador.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Concordo.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu nem vou falar que houve corrupção, porque não tenho nenhuma prova, mas aqui não temos público para futebol. E dizer que vai ser uma arena multiuso, que vai estar ocupada todas as semanas é o tal do ufanismo enganando. Então, aqui, foi um crime o tamanho desse estádio, o luxo desse estádio. Agora, por favor, não caia nisto, que não é seu feitio, de dizer que quem está dizendo isso, relacionado...
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não, eu só perguntei...
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Um momento.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu só perguntei.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não, um momento,...
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu só perguntei.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Essa pergunta não é uma boa pergunta.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - V. Exª falou que era um crime. Eu não acho um crime.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Presidente... Presidente, uma coisa é eu falar... E depois o Senador vai ter todo o tempo até... Aliás, a minha palavra.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não, mas o aparte é do meu discurso.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não, mas...
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Estou dando com muita satisfação.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - É um aparte no seu discurso,...
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Claro.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ... depois o senhor vai ter o tempo todo, até porque não vou poder fazer outro aparte. Não vou.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não, mas o dou com muita honra.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Vou ouvir calado.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Estou dando. Eu ouvi V. Exª. Só quero poder também botar a minha opinião.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Mas a sua pergunta foi tendenciosa.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não, não.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Foi. Ao perguntar...
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Porque achei muito violento V. Exª dizer que foi um crime cometido pelo Governador ter feito o estádio.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - O tamanho do estádio.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Aí é outra...
Estou discordando disso, Senador.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Mas estou explicando tão bem...
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não acho que foi um crime.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Uma coisa é discordar - o senhor tem direito -, agora a outra é dizer: “Então, o senhor é contra a Copa?”.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não. O senhor é contra ter feito a Copa?
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu perguntei!
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não! A Copa é no Brasil inteiro, Senador! A sua pergunta...
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Primeiro, não foram dois bilhões, eu falei e V. Exª...
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - A sua pergunta foi tendenciosa! A sua pergunta foi tendenciosa!
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não, acho que mais tendenciosa foi a sua afirmação.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não, não, a minha afirmação eu reafirmo. O senhor tem direito de discordar.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - E eu estou discordando.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Esse estádio, da maneira como foi feito, com esse custo, no Distrito Federal, foi um crime!
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Pois é, eu discordo de que foi um crime. Aí, eu perguntei: V. Exª, então, preferiria que não houvesse Copa?
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Pois é, então, essa pergunta é tendenciosa.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não é tendenciosa, é apenas uma posição divergente!
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não! Não! Senador, vamos falar como gente inteligente.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu estou falando do jeito que eu posso.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - O senhor quis passar a ideia de que eu era contra a Copa no Brasil! Foi isso o que o senhor quis passar.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - E, aí, é tendencioso.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não, não, não, não, não, não. Eu só falei do caso de Brasília, exclusivamente.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Então, está bom.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não acho que tenha sido um crime. Poderia ter sido feito melhor? Poderia ter sido diferente.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - O senhor tem todo o direito de achar isso. Agora, então, que fique claro: o senhor não me tem como quem é contra a Copa no Brasil, não é isso?
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - De jeito nenhum!
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Embora eu, pessoalmente,...
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - De jeito nenhum.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) -... ache que não era a hora dessa Copa, mas não sou contra ela. Para mim, essa Copa deveria ser...
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu parabenizo V. Exª por estar, inclusive, reconhecendo que a Copa tem dado certo até aqui.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Claro, é óbvio! Eu jamais deixo de reconhecer o óbvio. Eu sempre disse: para mim, essa Copa deveria ter sido em 2022, porque, aí, seria dentro das grandes festividades do segundo centenário da Independência do Brasil, e, aí, o povo ia até se lembrar da Independência, do que hoje não sabe. Então, eu acho que esse artigo tem o defeito do ufanismo, e ufanismo é uma coisa prejudicial para se perceberem falhas que temos, e, a partir delas, superarmos. É por amor ao Brasil que eu identifico as falhas que nós temos. É por amor, é por patriotismo, e eu não vejo ninguém poder ser patriota escondendo os defeitos, porque, aí, é uma maneira de mentir a nós e à História. Não será isso que vai trazer turista. O que vai trazer turista é o povo falar inglês, não ter dengue, não ter violência, ter um sistema de transporte eficiente em todo o País, ter museus de qualidade. É isso que vai trazer, e não essa ideia de que um evento vai trazer, permanentemente, um fluxo de turistas para o Brasil.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Obrigado, Senador Cristovam. Eu, com satisfação, falo do meu orgulho de ser aparteado por uma figura que é patrimônio do nosso País e tão querida.
V. Exª sabe o quanto eu o respeito, mas eu quero tomar a liberdade plena de discordar de quase tudo que V. Exª falou!
Primeiro, V. Exª foi governador aqui. Orgulhou-nos a todos quando governador.
Eu falava ainda há pouco, antes de V. Exª chegar, que o Estádio Mané Garrincha, a que V. Exª se refere, tem 38 anos. Trinta e oito anos! Sabe quantas pessoas entraram nele nos primeiros 36 anos, inclusive somando o período em que V. Exª foi governador? Trezentas e quarenta mil pessoas entraram no Mané Garrincha em três décadas e meia, quase quatro décadas. Sabe quantas entraram até agora, Senador Cristovam, do dia em que foi inaugurado para cá? Entraram 860 mil pessoas. Eu estava acabando de falar que acho que isso é uma diferença grande, muito grande.
Parabenizei e parabenizo o Governador Agnelo Queiroz pelo trabalho que fez de preparação de Brasília para a Copa, junto com o Governo Federal. Nós temos um aeroporto novo, o de Brasília não atendia. Brasília vai se tornar o maior centro de distribuição de passageiros do País. Eu acredito nisso. As obras que foram feitas são legados que vão ficar, que nós temos inaugurado, inclusive, com a Presidenta Dilma.
Agora, eu estava propondo que se transforme, para atendimento ao cidadão - como nós temos a OCA, lá em Rio Branco, que é um serviço fantástico -, a parte de baixo das arquibancadas. Estou procurando colaborar, com a experiência de ex-governador, para que se tenha um melhor uso desses instrumentos, que têm boa comunicação telefônica, que têm bom transporte perto deles e que podem estar à disposição de todos os cidadãos.
Se transformarem os 12 estádios, os 12 estádios, a parte de baixo das arquibancadas, em serviços de atendimento ao cidadão, não tenho nenhuma dúvida de que vamos ter de 20 a 30 mil pessoas por dia. Porque lá em Rio Branco - sem ufanismo ou com ufanismo - 8 mil pessoas por dia vão ao serviço de atendimento ao cidadão, construído pelo Governador Binho e mantido pelo Governador Tião Viana.
Não tenho nenhuma dúvida de que se fizéssemos isso em Brasília, no Maracanã, no Itaquerão, teríamos 20, 30 mil pessoas por dia com serviço de primeira qualidade.
No caso, aqui em Brasília, foram investidos R$7 bilhões no eixo de transporte, estão sendo ainda: eixo Cidade Melhor, R$1,7 bilhão; água, Luz para Todos, R$200 milhões; eixo Minha Casa, Minha Vida, R$8,8 bilhões.
Para mim, são investimentos, e estes investimentos não vão embora com a Copa. Não tenho nenhuma dúvida de que o número de turista que está vindo diretamente ligado à Copa é baixo, pode chegar a 900 mil, já chegou a mais de meio milhão de turistas e são 3 milhões de brasileiros transitando no Brasil.
Mas o problema que o Nizan Guanaes coloca muito bem - e aí queria concluir - é que o mundo inteiro está conhecendo melhor o Brasil e o brasileiro e, conhecendo melhor o Brasil e o brasileiro, vai vir aqui, ele vai vir aqui, vai vir para cá. Com isso, vamos ter uma bela oportunidade de ampliar o turismo, não porque a Copa vai ser permanente, mas porque ela vai possibilitar que agora conheçam mais o Brasil. E, em relação a esse aspecto, eu não penso igual ao colega e grande professor, mestre Cristovam Buarque. Eu não coloco.
Acabei de falar ainda há pouco. Sabe o que há lá em Hanôver, que é o maior centro de eventos da Europa, Senador Cristovam? Jovens amarrados a um cachorro. Não é um, não; são vários jovens alemães amarrados a um cachorro para não ser recolhido no meio da rua, porque lá há uma lei que diz que, se o animal depende de um ser humano, o ser humano não pode ser separado do animal. Eles se amarram em correntes. E nem por isso a Alemanha deixa de ser o país que nós comentamos.
Há 50 milhões de pessoas, nos Estados Unidos, que não têm acesso a saúde nenhuma, que morrem à míngua, porque lá não há SUS - dito pelo Presidente Obama. E o nosso País tem ainda muitas pessoas excluídas, mas 32 milhões de brasileiros saíram da miséria absoluta, graças ao Governo do Presidente Lula, da Presidenta Dilma e até à colaboração que V. Exª deu ainda como Ministro. V. Exª sabe da admiração que tenho.
Quarenta milhões de brasileiros ascenderam socialmente. Eu não vou celebrar isso? Não vou registrar isso como um degrau que nós subimos? Isso não vai impedir de reconhecermos o quanto temos de sofrimento. Eu sofro, Senador Cristovam. Eu sofro quando ando em Brasília. Vi V. Exª sofrendo acusações por conta de uma invasão. Sofro quando passo na rodoviária, vindo para o trabalho, e há alguém deitado debaixo da marquise. Sabe o que eu faço, Senador? Ligo para o Governador, ligo para os secretários e digo: “rapaz, há alguém precisando de ajuda”. Porque gente do Brasil inteiro, às vezes, vem buscar uma melhor sorte em Brasília.
Agora, quero encerrar dizendo uma coisa: acho que o artigo do Nizan Guanaes não é ufanista. Só que há uma diferença: o artigo do Nizan Guanaes não é pessimista. Ele é realista. Ele - é só ler com calma - não está dizendo nem que o Brasil é mais nem que é menos; ele está traduzindo um país que nós temos, um país que é um dos melhores endereços do mundo, sim, e tem um povo acolhedor. Se isso é ufanismo, vou ficar sendo. É um país que tem futuro, um país que tem uma história bonita.
Ele diz aqui, Senador Cristovam: “Que grande país do mundo emergente tem [...]?” E enumera: “Democracia, economia de mercado, em paz com os vizinhos e com o mundo, potência energética, potência de alimentos, potência mineral, mercado interno imenso, povo trabalhador e empreendedor.” Nizan Guanaes fala isso, e eu assino embaixo. E vou pedir para constar nos Anais este artigo.
Com todo o respeito, porque V. Exª, fazendo o aparte, deu até um brilho maior para aquilo que eu queria fazer. Eu não estou... Eu disse até que a Copa chegou à metade. Estou só reconhecendo que o Presidente Lula acertou. Acho que conseguimos ter aqui algo para o mundo, que a grande imprensa hoje, que era contra - passaram três anos os setores da imprensa dizendo que ia ser uma desgraça, que ia ser uma vergonha, que o Brasil não está preparado para sediar um evento como esse. Não está bem assim.
Graças a Deus, toda a grande imprensa, todos estão reconhecendo que o Brasil está dando conta do recado. Agora, isso não apaga os nossos problemas, isso não evita que a gente levante os problemas que seguirão como grande desafio para o País depois da Copa.
Obrigado, Presidente.
DOCUMENTO ENCAMINHADO PELO SR. SENADOR JORGE VIANA EM SEU PRONUNCIAMENTO.
(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)
Matéria referida:
- Artigo de Nizan Guanaes “O Mundo Chegou” do dia 24/6/2014, Folha de S.Paulo.