Discurso durante a 95ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Alegria pela organização demonstrada na realização da Copa do Mundo no País; e outros assuntos.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE.:
  • Alegria pela organização demonstrada na realização da Copa do Mundo no País; e outros assuntos.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Vanessa Grazziotin.
Publicação
Publicação no DSF de 25/06/2014 - Página 25
Assunto
Outros > ESPORTE.
Indexação
  • ELOGIO, ORGANIZAÇÃO, REALIZAÇÃO, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, LOCAL, BRASIL, COMENTARIO, AUMENTO, CONSUMO, HOSPEDAGEM DE TURISMO, ALIMENTAÇÃO, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, DEFESA, INVESTIMENTO, SEGURANÇA, BENEFICIO, POPULAÇÃO, REGIÃO, PERIFERIA URBANA.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Caro Presidente desta sessão, Senador Eduardo Suplicy, caros colegas Senadores, eu queria agradecer ao Senador Ivo Cassol as referências feitas. Tive a oportunidade de estar em Rondônia e ver a empatia popular que o Senador do meu Partido tem naquele Estado, onde foi Prefeito de uma cidade muito importante, a cidade de Rolim de Moura, e Governador.

            Rondônia é um Estado em que existem muitos gaúchos, paranaenses, catarinenses, sulistas de modo geral. E Rondônia, como o Acre e outros Estados do Norte e do Nordeste do País, acolheu os gaúchos que vieram de todos os Municípios gaúchos. Em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul sempre encontramos algum gaúcho tomando chimarrão, fazendo um churrasco ou criando um CTG. Essa é a marca de um povo desbravador.

            Por isso, ao conhecer Rondônia, tive a oportunidade de perceber de perto o carinho e o afeto que a população tem para com esse Senador do meu Partido. E renovo os agradecimentos que ele fez ao meu trabalho aqui no Senado e também na condição, agora, de pré-candidata ao Governo do Rio Grande do Sul, com muita honra.

            Como eu disse no dia 24 de maio, esse é o maior desafio e também o mais honroso que tenho na minha vida e pretendo fazê-lo com o mesmo comprometimento e com a mesma responsabilidade com que tenho caminhado aqui, durante o mandato do Senado Federal, que foi a minha primeira experiência parlamentar.

            Mas é inescapável, caros colegas Senadores, nossos telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, em plena Copa do Mundo, mencionar esse evento que está hoje chegando ao seu 13º dia de grandes torcidas, muita emoção e momentos de celebração dentro e fora dos estádios, apesar de aeroportos inacabados, construções viárias cobertas com tapumes, episódios de depredações e de outras obras interrompidas nas doze cidades-sede desse torneio que, diria assim, chama a atenção de todo planeta.

            A goleada por quatro a um, por exemplo, protagonizada pela nossa seleção no jogo de ontem, aqui em Brasília, contra Camarões é o mais recente momento esportivo desse grande evento internacional, que não deve, de modo algum, ser confundido com o evento de aspectos político-eleitorais. Copa é uma coisa, eleição é outra coisa.

            Em pouco mais de uma semana, o mundial da FIFA já está entre os mais extraordinários de todos os tempos. Craques com altíssimo desempenho, recordes em campo, embates históricos, festa nas ruas, surpresas, zebras, tudo o que faz parte da história do futebol, estádios lotados e inovações tecnológicas. Imaginem a imagem que a televisão mostra hoje com a riqueza de detalhes, chegando a detalhes que nunca antes na história das copas apareceu à luz e à vista dos telespectadores. Os chamados drones, os vants, ou veículos aéreos não tripulados, parecem até um pássaro que está ali, acoplado a uma câmera, que está mandando as imagens para o mundo inteiro, com detalhes maravilhosos, sejam do rosto de uma criança que está na torcida, emocionada, ou de um pai segurando um filho ou de uma bandeira levantada. Isso tudo é feito pela tecnologia e está emocionando o mundo inteiro com esse novo olhar, um olhar tecnológico a serviço da emoção, a serviço de um momento enorme de grande concentração, de grande torcida de grande explosão pelo que estamos vendo nos estádios. E das surpresas como a Costa Rica, que está brilhando para a surpresa de todos, ou de derrotas de seleções como a da Espanha, campeã mundial, que não se imaginaria que, em tão pouco tempo, já estivesse voltando para casa.

            Os repórteres Amaury Cegala e Helena Borges colheram na semana passada uma série de relatos de autoridades nacionais e estrangeiras de futebol, publicados nesta semana pela revista Istoé, mostrando as vantagens da Copa do Brasil. Até discutimos muito esse problema, mas agora temos que ver o que está acontecendo nesse momento.

            O craque da seleção alemã Jürgen Klissman, que foi craque da seleção em dois mundiais, atualmente técnico da seleção dos Estados Unidos, disse que nunca viu uma Copa como esta, com os times apresentando tanta vocação ofensiva. É o caso da Costa Rica.

            Artilheiro da Copa de 1986, o inglês Gary Lineker se encantou com o hino cantado à capela pelos torcedores brasileiros e afirmou que não é possível competir com essa torcida, com essa garra, tanto nacionalismo impresso nesse momento. Já o capitão da seleção italiana campeã de mundo de 2006, Fabio Cannavaro, declarou que nunca houve uma primeira fase com jogos tão espetaculares.

            Entre os brasileiros, a percepção é a mesma. Roberto Dinamite, que defendeu o Brasil nos Mundiais de 1978 e 1982, disse que o nível da Copa está altíssimo. Carlos Alberto Torres, o capitão da seleção brasileira tricampeã, disse que ainda está procurando entender o motivo de tantos gols. Zico, um dos grandes craques da nossa história futebolística, disse que o mundial está bom de se ver, com jogos interessantes e o alto astral dos torcedores brasileiros. O meio-campo convocado para o Mundial de 1990 e ex-jogador do Flamengo Tita disse o seguinte: "De 1990 para cá, esta é a melhor Copa em termos de futebol e de público". Ele hospedou, inclusive, amigos mexicanos na própria casa, que admitiram estar encantados com o mundial, apesar dos temores às vésperas deste grande evento.

            Alguns indicadores confirmam a excelência dos jogos realizados no País. Após o encerramento da primeira rodada, foram marcados, em média, 3,06 gols por partida. É a melhor marca desde a Copa de 1958. O número surpreende porque o futebol mudou nas últimas décadas. Os sistemas defensivos ficaram muito mais eficientes e a disparidade técnica entre os times diminuiu bastante.

            Para Klinsmann, técnico alemão que comanda a seleção dos Estados Unidos, uma das razões para esse desempenho acima da média está na geração excepcional de jovens jogadores muito fortes fisicamente. São muitos goleadores em plena forma física. Basta relembrar os gols do nosso Neymar, do uruguaio Suárez, do francês Benzema e dos holandeses Van Persie e Robben. Esse desempenho também foi protagonizado pelo alemão Thomas Müller, pelo argentino Messi e pelo inglês Rooney.

            Dentro de campo, Senador Suplicy, o senhor que gosta tanto de futebol, torcedor do São Paulo...

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Santos Futebol Clube.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - Santos, olhem aí. Estava atento! Torcedor do Santos, mas foi homenageado pelo São Paulo quando esteve aqui o nosso Coração Valente, que agora está lá no Rio Grande do Sul, Vereador em Caxias do Sul.

            Dentro de campo os números da Copa no Brasil são relevantes. Na primeira rodada, o tempo de bola rolando foi de 70 minutos por partida.

            Por que uma Senadora tem que falar isso aqui hoje? As pessoas cobram. Nós estamos no país do futebol e está todo mundo grudado na Copa. Então, não há como deixar de falar disso.

            Eu não sou avestruz para enfiar a minha cabeça embaixo da terra. Muitas críticas fiz à questão da Copa, mas você tem que ver o outro lado, o lado em que os brasileiros estão torcendo.

            Vai haver um jogo maravilhoso, no Estádio Beira Rio, com a Argentina. Vai ser uma explosão de emoções. São milhares de argentinos chegando por toda a fronteira.

            Com prazer, eu concedo um aparte à Senadora Vanessa Grazziotin.

            A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Eu agradeço o aparte, Senadora, para dizer, já que V. Exª fez esse comentário, que eu estou ouvindo com muita atenção o seu pronunciamento. Eu fiz e tenho procurado fazer algumas observações, nesse período, em relação à Copa do Mundo, mas V. Exª traz dados. Eu estou admirada, porque não tenho tido tempo de ver esses dados estatísticos, e quero cumprimentá-la pela postura, Senadora Ana Amélia. Eu já tive a oportunidade de cumprimentar o Senador Cristovam, porque, aqui nesta Casa, V. Exª, o Senador Cristovam e alguns outros têm sido críticos de algumas questões, de alguns fatores, mas são críticas positivas. Eu vejo como críticas positivas. São Parlamentares que chegam aqui e reconhecem como a Copa tem sido importante para o povo. Não é para ninguém, não. É para o nosso País.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - Claro, e não tem nada a ver com eleição nem com oposição nem com o Governo.

            A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Perfeitamente.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - Nada. Aqui é uma outra coisa.

            A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Então, eu quero cumprimentá-la. O Senador Suplicy, num aparte que me fez, cumprimentava-me pela minha emoção. E eu quero cumprimentar V. Exª pela emoção que sinto quando faz esse pronunciamento. É a emoção que toma conta do coração dos brasileiros e, principalmente, das brasileiras. Se há um período em que todas elas passam a entender de futebol é o período da Copa do Mundo. Parabéns, Senadora Ana Amélia.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - Pois é, Senadora. Ontem, na casa de um amigo, Napoleão Sales... O pai dele, de 88 anos, não deixa de ler tudo na internet. Ele tem Facebook com quase 90 anos e acompanha tudo. Nós estávamos assistindo ao futebol. Sinceramente, eu acho legal. Eu torço por um time no Rio Grande do Sul. Se me perguntar sobre a escalação, talvez eu não saiba toda a escalação. Mas a escalação da nossa Seleção, a gente sabe.

            Eu adoro o Felipão, não é por ser gaúcho. Aliás, foi o único dentro do ônibus que passou lá pelo Noroeste, que é o bairro onde eu moro agora, que abanou para as pessoas que estavam na rua. Parabéns, Felipão. É isso que a gente faz para agradecer à torcida. Só ele, sorridentemente, abanou, correspondeu às pessoas que estavam ali. Havia crianças com os pais onde o ônibus da Seleção passou.

            E o mais interessante - como eu disse, Senador Suplicy, eu não sou como o senhor, que entende de futebol - é que algumas coisas básicas a gente entende. Quando é um escanteio, eu sei o que é. Quando ele está impedido, eu também sei mais ou menos o que é, especialmente porque a imagem hoje é perfeita. Agora, vou lhe dizer: a televisão ontem se antecipava tanto - desculpe-me, Galvão Bueno, mas ontem você se atrasou - que a gente era capaz, vendo a imagem, de dizer aquilo que, segundos depois, o narrador, que é um dos melhores do Brasil, o Galvão Bueno, fazia: “Ali tem uma suspeita de impedimento”, porque havia a imagem. Imediatamente à jogada do atleta, você via a linha em que eles estavam ou a cobrança de escanteio. Nesses dois momentos, eu fiquei assim: “Olha, que bom, eu consegui”.

            Eu não entendo de futebol, mas isso revela que a tecnologia veio para mostrar a capacidade que o telespectador tem de até ele mesmo fazer algumas análises e julgamentos sem precisar de um terceiro, de se valer de um terceiro. Então, naquele momento, vendo com o Napoleão e a Carla, a gente se deu conta dessa situação. E é uma coisa muito agradável, não desmerecendo evidentemente o grande narrador de futebol. Nós temos também, no Rio Grande do Sul, alguns excelentes, como o Pedro Ernesto Denardin. Todos são maravilhosos. Pena que perdemos o Luciano do Vale, que era fantástico, tinha também uma forma muito profissional de narrar. Mas é assim.

            Falando ainda, Senadora, os especialistas em futebol afirmam que um dos motivos para que esse sucesso esteja acontecendo é que os times também estão fazendo menor número de faltas, o que é muito importante. Foram, em média, 26 infrações por jogo na primeira semana de Copa, dado muito abaixo do registrado em 2002 (35,4), ano da última conquista mundial do Brasil. O resultado disso tudo é um jogo que flui melhor, mais dinâmico e de maior qualidade, características que podem, sem dúvida, ser aplicadas também à administração pública e às ações focadas na população.

            Ora, se nós podemos ser eficientes no futebol, por que não treinar uma boa equipe para Governo? É assim que tem que ser a lógica da eficiência no futebol, nos campos, e trazer para a Administração Pública.

            Os jogadores acertaram, ao final da primeira rodada, 86% dos passes, o maior percentual da história das Copas. O recorde era de 2006, com 84,1% de precisão. Pirlo, da Itália, acertou 95% dos passes que tentou contra a Inglaterra.

            Na histórica partida em que a Holanda derrotou a Espanha por 5 a 1, Robben fez um gol depois de uma disparada a 37 km/h. Segundo a FIFA, é a maior velocidade já registrada em um campo de futebol. O recorde anterior era do inglês Walcott, que correu a 35,7 km/h.

            É inegável que os recordes e o entusiasmo motivam os atletas. Na semana passada, as torcidas sul-americanas, especialmente do Chile e da Colômbia, empurraram seus times rumo à classificação para a próxima fase. A festa não é apenas de um único continente. Os estrangeiros da Holanda, da Alemanha, da França e de várias partes do mundo lotaram as ruas da Vila Madalena, em São Paulo, encheram a Praia de Copacabana, no Rio, e muitos outros lugares, como Porto Alegre, a nossa capital gaúcha e uma das 12 sedes da Copa.

            Eu encontrei, na praia do Laranjal, em Pelotas, uma bonita praia à beira da Lagoa dos Patos, um grupo de equatorianos que veio de carro, Senador Eduardo Suplicy, do Equador, que não faz nem fronteira com o Brasil, lá em cima; desceram até chegar a Pelotas para assistir aos jogos da seleção equatoriana.

            Os ganhos, claro, já são contabilizados pela economia brasileira. As estimativas do próprio Governo indicam que os turistas brasileiros e estrangeiros devem gastar R$6,7 bilhões nas 12 cidades-sede, bem acima do que havia sido projetado. Em São Paulo, previa-se a chegada de 256 mil turistas durante o torneio. Na quinta-feira, 19, a São Paulo Turismo informou que pelo menos 400 mil passarão pela cidade. Ou até mais!

            Ainda que seja um bem-estar passageiro, com data para terminar, não se podem desprezar as vantagens desta Copa. Mais de 3 milhões de brasileiros e 600 mil estrangeiros circularão pelas cidades-sede. Cada turista do exterior deve gastar, em média, R$4.150,00, e o brasileiro, R$1.355,00. Nos primeiros quatro dias da Copa, os estrangeiros gastaram US$27 milhões em compras com cartão. Em relação à geração de empregos temporários, 175 mil vagas formais estão sendo criadas.

            No setor de hospedagem e alimentação, estão previstos 37 mil postos. Dessas vagas, 15% devem ser efetivadas, principalmente na região Nordeste do País. O faturamento de bares e restaurantes em junho e julho deve aumentar 25% em relação ao mesmo período de 2013, totalizando R$12 bilhões, Nos dias de jogos do Brasil, a expectativa é de que haja um crescimento de 70% da receita com as vendas.

            De acordo com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), que faz um grande trabalho, estão acertados também contratos no valor de R$380 milhões, com a prestação de serviços e o fornecimento de produtos a empresas maiores nas áreas de turismo, varejo, construção civil e vestuário, entre outras. A estimativa é de que o montante alcance R$500 milhões até o fim da Copa.

            Tomara que todos esses números se confirmem, Senador Eduardo Suplicy!

            No caso do setor de aviação, as companhias aéreas ampliaram em 10%, ou seja, 645 mil assentos, a capacidade dos voos entre as 12 cidades-sede. Como nem tudo é vantagem, obviamente, o faturamento do setor não deve aumentar muito porque o turismo de negócios está reduzido nesse período, e a oferta de assentos para os demais destinos também diminuiu.

            Vale lembrar que um terço dos fabricantes de equipamentos eletrônicos e de eletrodomésticos estão parados durante a Copa. Algumas montadoras de carros também programaram férias coletivas. A produção industrial deverá cair nesse período. Enfim, outros ajustes não tão positivos também fazem parte desse panorama e deste momento do País.

            O mais importante, nesta fase de boas notícias proporcionadas pela Copa do Mundo no Brasil, é tirar lições que permitam resolver os problemas, Senador Cristovam, que ainda persistem. Problemas que ainda persistem! Pegar esse entusiasmo, essa energia toda para resolver os problemas que estão escondidos agora nesse tempo, porque estamos entusiasmados com a Copa, como as questões relacionadas às limitações da infraestrutura, da educação - Senador Cristovam, nosso mestre -, da saúde e da segurança, por exemplo.

            Ontem, eu e a minha secretária Regina estávamos observando da sacada a passagem e todo o aparato policial para proteger a seleção. Tudo isso é necessário, especialmente em se tratando dos estrangeiros. A nossa, fundamental. Cada jogador daquele vale bilhões, bilhões. Um Neymar da vida, bilhões. Dois helicópteros na frente, dois atrás, para proteger, mais os batedores na frente, mais carros da Polícia Federal, da Polícia Militar e da Polícia Civil, tudo ao longo do trajeto por onde passou.

            Senador, se isso foi possível fazer, por que não dar essa mesma atenção para a população da periferia do nosso Distrito Federal, ou da minha Porto Alegre, ou lá de Novo Hamburgo, da região metropolitana, onde os crimes estão acontecendo e aumentando a cada dia para assustar a população? Por que não fazer, se houve condição de investir e botar dinheiro para fazer isso, para acolher bem os estrangeiros, dar segurança a eles? O primeiro a ter direito a isso é o cidadão brasileiro, o cidadão que paga imposto aqui.

            Com muita honra, concedo o aparte ao Senador Cristovam Buarque.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senadora Ana Amélia, é muito difícil a cada um de nós assistir a um jogo de nosso time, sobretudo da Seleção brasileira, com a cabeça. A gente assiste com o coração, embora alguns técnicos, especialistas consigam - e um deles já me disse que não sente mais prazer, porque ele olha só tecnicamente os erros -, mas nós assistimos é com o coração. Mas, como políticos, nós não temos o direito de ver o conjunto da Copa, os recursos usados, a energia gasta só com o coração; temos que ver com a cabeça também. E é o que a senhora está fazendo: está trazendo aqui o seu coração. A Senadora Vanessa mesmo falou da sua emoção ao comentar jogos, mas está vendo com a cabeça. Nós precisamos fazer uma análise do que está acontecendo, fazer algumas perguntas, por exemplo: por que, se todas as obras foram com o dinheiro brasileiro, a gente precisou da Copa? Se o dinheiro fosse da FIFA, tudo bem, sem a Copa, não haveria aeroporto, mas o dinheiro não é da FIFA; o dinheiro é nosso. A gente podia ter feito isso. Segundo, por que a gente consegue resolver tantos problemas não diria até que com muita eficiência, mas com alguma? Por que a gente consegue marcar prazo para resolver o problema da construção dos estádios, e não consegue marcar prazo para erradicar o analfabetismo no Brasil, que é muito mais fácil que fazer toda essa infraestrutura da Copa? Por que nós conseguimos atender as exigências de um padrão FIFA sem ter esse padrão definido pelo Brasil? Nós poderíamos ter isso. Então, como aquele técnico que me disse que vê o jogo friamente, como cirurgião que abre a barriga da gente, fica a necessidade de nós, como políticos, como dirigentes, como líderes, olharmos a Copa com os olhares frios para fazer uma análise dos acertos e dos erros, ainda que, diante do jogo, esqueçamos que somos políticos e, como brasileiros, coloquemos a camisa amarela, nos deslumbremos, soframos, gritemos e esqueçamos tudo. Uma coisa é o torcedor; a outra coisa é o líder. A senhora, como candidata, por exemplo, ao Governo do Estado, como Senadora, nós temos a obrigação de refletir e pensar. Não podemos cair no ufanismo de que tudo isso está sendo feito de maneira correta. Eu até tenho dito: a Copa está sendo feita de maneira certa, mas não foi certo, talvez, fazer a Copa. São duas perguntas diferentes. Essa segunda pergunta, Senador Suplicy, vamos levar muito tempo para responder - muito tempo! Por exemplo, as arenas serão ocupadas depois da Copa? Se for, é mais um acerto; se não for, é uma falha. As obras paralisadas vão ser concluídas sem que o Secretário da FIFA precise vir aqui puxar a orelha da gente ou vão ficar paralisadas como esqueletos? Se forem concluídas, é mais um ponto positivo, embora tardio; se não forem, é mais um negativo. O pagamento da construção de estádio com dinheiro público do BNDES vai ser feito? É um detalhe. Volta o dinheiro para o Governo? Foi investimento privado, mas eu temo que não volte, que seja adiado, adiado, adiado até que, um dia se vote aqui uma lei de anistia para o Corinthians não ter que pagar ao BNDES. Então, é cedo para nós, com a cabeça de cidadãos, de políticos, de técnicos, de líderes, com a cabeça, fazermos a avaliação hoje. Não dá para dizer que foi um erro, mas não dá para dizer nem que foi um acerto, mesmo nos congratulando com a capacidade de como se está fazendo a execução dos jogos, a transmissão dos jogos. Então, fico feliz de que chegue alguém aqui com a cabeça fria para analisar a Copa, embora com o coração quente para assistir aos jogos.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - Muito obrigada, Senador Cristovam Buarque.

            Queria que o aparte do Senador ficasse como parte, também, deste pronunciamento.

            Agora, Senador, entrou a minha racionalidade. Até aqui foi a emoção que falou mais alto. E não poderia ser diferente. V. Exª abordou bem a distinção entre uma coisa e outra.

            E me reporto a uma iniciativa de um grande líder que cuidou muito da educação, ex-Governador do meu Estado, Líder do seu Partido, Leonel Brizola. Ele teve na educação um grande foco e uma grande prioridade. Brizola era gaúcho, chegou ao Rio de Janeiro e fez o que nenhum carioca havia feito: um sambódromo com o tamanho quase de um estádio, para ser usado uma vez por ano.

            Mas qual foi a sabedoria ali? Aquilo serviu para se fazerem escolas, ateliês, escolas para crianças, para se ocuparem os jovens ali dentro. Aí é que está. São exemplos que tivemos de líderes ousados, como Juscelino, quando trouxe Brasília para cá, quando interiorizou a Capital brasileira. Até hoje se fala: quanto custou isso? Mas, hoje, passada a história do tempo, a gente vê.

            Não quero, com isso, justificar a Copa. Ao contrário, acho que fizemos em sedes demais; poderíamos ter feito em oito sedes. Poderíamos ter limitado, poderíamos ter tido uma participação maior do setor privado do que do setor público, e uma série de outras coisas.

            Mas, conclusão: a Copa está sendo realizada do jeito que está, e temos que tirar o melhor proveito deste evento para a sociedade brasileira, para este contribuinte que paga a conta. Por isso, digo e repito, aqui, que, com tudo o que foi feito de eficiente pelo Governo, o Governo precisa, agora, dar demonstração para a sociedade brasileira de que pode, assim como fez esta Copa, resolver problemas. Por que não os resolve?

            Segundo dados antecipados ontem por um jornal aqui de Brasília, Senador Cristovam Buarque, o mapa da violência de 2014, com dados de 2012, indica 56,3 mil assassinatos e 46 mil mortos pelo trânsito no Brasil. Isso é falta de condições viárias, de uma violência inaceitável, mais que uma guerra civil, e a gente repete isso. Isso significa um aumento considerável da violência em relação a 2011, quando foram assassinadas 52 mil pessoas e 44,5 mil morreram no trânsito.

            A experiência dos Centros Integrados de Comando e Controle implantados nas 12 cidades-sede, apoiados por centrais nacionais em funcionamento em Brasília e no Rio de Janeiro, tem sido bem sucedida. Espero que não seja provisória a eficiência, nem temporária, Senador. Que isso se prolongue para o resto do ano, para os próximos anos e com avanços significativos para proteger a sociedade que está refém da criminalidade.

            Além de reunir informações e todo o aparato tecnológico disponível, integra as forças policiais num trabalho conjunto com os Governos Federal, estaduais e municipais. Federação se entende desta forma, de maneira solidária, compartilhando responsabilidades e compartilhando receita, porque, hoje, a União é extremamente concentradora dos recursos.

            Um exemplo em pleno vigor nesta Copa, que mostra que o Estado organizado contra o crime, no caso dessas parcerias feitas, em atividade contínua, 24 horas, todos os dias da semana, é possível, sim, reduzir, uma solução temporária que deve ser continuada para que a luta contra a violência e a insegurança seja efetivada.

            Como eu disse, vi veículos da Polícia Federal, da Polícia Civil, da Polícia Militar espalhados em todo o trajeto por que passou o ônibus da Seleção e da seleção de Camarões. Por que não temos isso no Jardim Ingá, em Taguatinga? Não temos isso em Novo Hamburgo, em São Leopoldo, em Canoas? Essas coisas todas para funcionar nas cidades, e estou falando apenas nas cidades-sede, Senador.

            Penso que as vantagens deste momento do Brasil devem ser consideradas, para que consigamos também corrigir ou reduzir as desvantagens competitivas que o Brasil está tendo em relação aos países desenvolvidos, especialmente aqui, na América Latina. O mesmo entusiasmo, cordialidade, espírito colaborativo que temos recebido neste momento de festa esportiva devem prevalecer, para que possamos encontrar também as soluções das nossas mazelas sociais e econômicas, Senador Suplicy.

            Por fim, eu queria dizer que é saudável o que está acontecendo com a nossa vizinha Argentina, que está mandando o maior contingente de torcedores e cujo governo agora entendeu que negociar, fazer entendimento com os credores é o melhor caminho para resolver os seus problemas. O caminho que a Argentina agora está abrindo para dialogar com os credores é o caminho indicado, quando se quer dar segurança jurídica a acordos importantes.

            A Argentina tem ali uma situação extremamente delicada: a sua reserva cambial está em apenas US$28 bilhões; e a dívida dela, se for paga, chega a US$15 bilhões, caso os outros credores decidam fazer a recomposição das dívidas já pagas.

            Então, pelo menos, há um pequeno sinal no fim do túnel em relação à Argentina com o mercado financeiro internacional. E eu penso que, se o Governo continuar nesse caminho, poderá ter algum sucesso. Nisso o Mercosul deve se empenhar para que o país saia dessa grande encalacrada ou dessa grande crise em que se encontra.

            Obrigada, Senador Suplicy.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/06/2014 - Página 25