Pronunciamento de Ruben Figueiró em 03/07/2014
Discurso durante a 99ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Exaltação da riqueza natural e das expressões culturais presentes no Pantanal sul-mato-grossense.
- Autor
- Ruben Figueiró (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
- Nome completo: Ruben Figueiró de Oliveira
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
- Exaltação da riqueza natural e das expressões culturais presentes no Pantanal sul-mato-grossense.
- Publicação
- Publicação no DSF de 04/07/2014 - Página 57
- Assunto
- Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
- Indexação
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- COMENTARIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, PARTICIPAÇÃO, RADIO, SENADO, ASSUNTO, INUNDAÇÃO, LOCAL, PANTANAL MATO-GROSSENSE, ELOGIO, NATUREZA, BIODIVERSIDADE, NATUREZA CULTURAL.
O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Agradeço, Srª Presidente, a atenção que me confere, abrindo esta oportunidade para uma rápida comunicação, que, aliás, as coisas são mais ou menos semelhantes. V. Exª falou aí sobre as enchentes no sul, principalmente, no Rio Grande do Sul. Pretendo, rapidamente, falar sobre outro fenômeno que ocorre no meu Estado que diz respeito também a enchentes, só que ela é uma enchente que ocorre todos os anos e que já estamos acostumados a vivenciá-la e suportar os seus efeitos.
Trata-se da enchente do Pantanal sul-mato-grossense. E sobre este assunto, Srª Presidente, tive oportunidade, hoje, de ser recebido pela Rádio Senado, onde, por atenção do Dr. Ivan Godoy, que é o Diretor da Rádio Senado, fazer algumas explanações a respeito do Pantanal sul-mato-grossense.
Talvez não seja conhecido por todos, mas é um bioma interessante que decorre de uma depressão geográfica que vem desde a época primária da nossa história. Antigamente, era chamado Mar de Gondwana ou Mar de Xaraés. Ela tem uma área de mais ou menos 120 mil km², maior que muitos Estados brasileiros, a área é muito maior porque atinge território boliviano e território paraguaio. Mas, no que tange ao meu Estado Mato Grosso do Sul, o Pantanal tem uma área de mais ou menos 75 ou 80% da área global do chamado Pantanal mato-grossense. É uma região de uma diversidade de flora e fauna extraordinária.
São milhares de espécies de plantas, milhares de espécies de animais, que enriquecem aquela região, e tem como principal fonte econômica a pecuária de cria, de bovinos, e a mineração. Nós temos lá uma das maiores riquezas do nosso país, que é o Complexo Urucum, que contém principalmente a riqueza do manganês e do ferro, que é praticamente exportado, através do rio Paraguai, para o exterior.
Essa região do Pantanal tem cinco sub-regiões: Paiaguás, Nhecolândia, do rio Negro, Nabileque e Abobral. Principalmente as regiões de Paiaguás, Nhecolândia, Abobral e Nabileque estão hoje praticamente inundadas em razão da inundação proveniente do extravasamento das águas do rio Paraguai. E por que há essa inundação, numa época em que, no Centro-Oeste, há o período de seca? É porque há um estrangulamento no rio Paraguai, na altura de Concepción, que é uma cidade a montante de Assunção. O rio Paraguai tem, no fundo de suas águas, um complexo calcário que retém as águas. Essas águas vão represando e subindo para as partes mais baixas, que estão, efetivamente, situadas no meu Estado, em Mato Grosso do Sul. Por isso, com as enchentes dos afluentes maiores do rio Paraguai, tanto no Estado de Mato Grosso como no Estado de Mato Grosso do Sul, e aqui ressalto o rio Miranda, o rio Aquidauana, o rio Taquari, o rio São Lourenço, o rio Cuiabá e outros que estão na margem direita do rio Paraguai, as águas correndo nessa época extravasam em razão, inclusive, daquele efeito que já mencionei, com relação à barragem subterrânea do rio Paraguai, em Assunção. Mas, como eu disse, ela é episódica, ela leva mais ou menos dois meses, no máximo três meses, para que suas águas extravasem e o Pantanal passa a ganhar aquela beleza que é reverenciada no mundo inteiro.
Eu disse, hoje, para a Rádio Senado que o Pantanal, além da sua riqueza natural, que embevece todos aqueles que lá vão, tem, também, um fundo cultural, Srª Presidente, intenso.
Eu citei lá, por exemplo, festas religiosas e culturais, como a Festa do Divino, em Coxim, e a Festa do Banho da Imagem de São João, em Corumbá, que também chamam populações de todo o País, consideradas, hoje, inclusive, com reconhecimento do Iphan.
Há peculiaridades extraordinárias, que nós não conhecemos na sua profundidade, no País. Por exemplo: nós temos um instrumento, na região de Corumbá, conhecido como viola de cocho, que é um instrumento que o pantaneiro tem para, através do cântico, mostrar a sua nostalgia e o reconhecimento das belezas de sua terra. É, também, um patrimônio imaterial que temos lá. Tem outro fato muito importante da nossa cultura: a culinária típica nossa, principalmente o peixe, que é natural, até porque é uma região de uma riqueza etiológica muito grande. Tem pratos extraordinários que não são conhecidos e que, hoje, inclusive, conversando com o pessoal da Rádio, eles nunca imaginaram que isso poderia acontecer. Por exemplo, tem o chamado quebra torto, que é uma alimentação matutina, além do guaraná, o pantaneiro se serve dela como um fator energético para as suas atividades; e o arroz carreteiro, que partiu de lá e, hoje, é conhecido no Brasil inteiro.
Tem outra particularidade, Srª Presidente senadora Ana Amélia, que eu nunca esperava encontrar naquela região: um prato português chamado sarrabulho, que é extremamente energético.
V. Exª conhece sarrabulho? Para uma temperatura como aquela, que gira em torno de 30 graus, 30 e poucos graus, esse alimento é fortíssimo. Tem mais de 11 ingredientes, e a pimenta e o vinho. É muito parecido, se assemelha muito à buchada de bode do Nordeste, muito delicioso também, mas a pessoa precisa ter muita coragem para comer tudo aquilo.
Temos, como expressão cultural muito importante e até de reconhecimento internacional, nosso poeta Manoel de Barros. Mas, Srª Presidente, eu queria, com estas breves palavras, agradecendo a gentileza de V. Exª por me conceder a palavra, também para agradecer a Rádio Senado, por meio do Dr. Ivan Godoy, pela oportunidade que me ofereceu para esclarecer, por intermédio de suas ondas sonoras, a população brasileira sobre uma realidade que existe no pantanal sul-mato-grossense, que hoje, graças a uma emenda que eu tive a oportunidade de apresentar na Constituinte, ao lado do ex-Senador Wilson Martins, tornando o pantanal um patrimônio de nossa nacionalidade.
Essas, Srª Presidente, minhas palavras, reiterando, mais uma vez, o profundo esclarecimento a V. Exª em abrir esta oportunidade para que eu pudesse exaltar uma das maiores belezas de meu Estado e que hoje constitui também uma grande atração mundial. Muito obrigado a V. Exª.
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Maioria/PP - RS) - Senador Ruben Figueiró, eu tenho uma preciosidade: O Livro das Ignorãças, de Manoel de Barros. Esse livro é uma preciosidade literária com o espírito de um artista, mais que de um intelectual, mostrando toda a cultura, usos e costumes do Mato Grosso do Sul.
Manoel de Barros me foi apresentado, pela primeira vez, pelo Senador Ramez Tebet, uma figura muito respeitada em seu Estado. Eu o conheci já doente, mas ganhei esse livro, que depois comprei para presentear, porque é muito bom. Um livro pequeno do Manoel de Barros, uma figura notável.
Também quero dizer-lhe que toda essa reverência ao sarravulho e suas variações. Ele é feito com miúdos ou com as vísceras de animais, que podem ser galinha, porco, gado. Também já comi sarravulho feito de sangue de cordeiro, feito na região de Mostardas, no Rio Grande do Sul, na região do litoral norte. Como disse V. Exª, é muito energético e muito forte. Em algumas regiões, como decerto em Mato Grosso, usam pimenta. No Sul, não se usa muita pimenta.
V. Exª, ao traduzir essas tradições do seu Estado, dá um pouco de conhecimento aos brasileiros de outras regiões da riqueza que é este grande e imenso Brasil. E o Mato Grosso do Sul é um dos Estados mais bonitos que nós temos, por sua riqueza natural, por seu Pantanal, que encanta todo mundo pelo que representa.
Parabéns, Senador Ruben Figueiró!
O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS) - Srª Presidente, eu anoto no meu coração o registro da manifestação de V. Exª.
E quero lembrar que Manoel de Barros, que é a expressão maior da nossa cultura na área da poesia, é um autêntico pantaneiro. Ele nasceu na região central do Pantanal conhecida por Nhecolândia. Tudo o que ele pôde traduzir com a sua imaginação, com a sua arte poética diz respeito à nossa realidade pantaneira. Portanto, quando nós falamos em Pantanal, não podemos esquecer absolutamente a figura magistral de Manoel de Barros.
Muito obrigado, mais uma vez, pelas referências de V. Exª.
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Maioria/PP - RS) - Obrigada, Senador.
Ele praticamente compilou o dialeto, o falar pantaneiro, com palavras misturadas, como ele registra no seu O Livro das Ignorãças.
O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS) - Pois é.
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Maioria/PP - RS) - É uma forma de traduzir este dialeto, eu diria, pantaneiro. É, pois, uma riqueza que precisa ser preservada sempre, porque, aí, a força da nossa cultura.
Parabéns aos pantaneiros; parabéns a Manoel de Barros, que ajuda tanto a divulgar, pela sua obra, que é imortal, a realidade descrita por V. Exª.
Parabéns, Senador Ruben Figueiró.
O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS) - Muito obrigado a V. Exª.