Discurso durante a 97ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Crítica à suposta distribuição de cargos, vantagens e favores durante as eleições no Brasil; e outros assuntos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA. MANIFESTAÇÃO COLETIVA. ELEIÇÕES.:
  • Crítica à suposta distribuição de cargos, vantagens e favores durante as eleições no Brasil; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 02/07/2014 - Página 64
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA. MANIFESTAÇÃO COLETIVA. ELEIÇÕES.
Indexação
  • ANUNCIO, ASSISTENCIA, ORADOR, MUNICIPIO, PORTO ALEGRE (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), REFERENCIA, SITUAÇÃO, CALAMIDADE PUBLICA, MOTIVO, AUMENTO, CHUVA, INUNDAÇÃO, CIDADE.
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, MOTIVO, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, AUMENTO, PASSAGEM, METRO, CRITICA, UTILIZAÇÃO, VIOLENCIA.
  • CRITICA, DISTRIBUIÇÃO, CARGO PUBLICO, OBJETIVO, VANTAGEM PESSOAL, RELAÇÃO, ANO, ELEIÇÕES.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, inicialmente, é óbvio que, como V. Exª, eu também me solidarizo, da primeira à última linha, com o discurso da Senadora Ana Amélia Lemos no que tange às dificuldades que vive o nosso Estado. É profundamente lamentável que, de tempos em tempos, o Rio Grande do Sul, uma terra de ótimo clima, de condições excepcionais para se morar, para se viver, para se criar, para se produzir, sofra com a seca, que prejudica, e, na maioria das vezes, sofra com enchentes, que se traduzem no sofrimento pessoal de milhares de famílias que são obrigadas a deixar suas habitações, totalmente debaixo d’água, e que atingem ainda mais a produção agrícola do meu Estado. No governo, por exemplo, do meu companheiro Rigotto, durante dois anos houve as duas safras totalmente frustradas, tornando dificílima a administração do Estado.

            O socorro do Governo Federal é algo natural. Ele já dispôs verbas e, justiça seja feita, tem correspondido. Esperamos que, no dia a dia da Copa do Mundo, sobre tempo para o Governo, de modo especial para a Presidenta, para determinar as medidas urgentes que são necessárias.

            Sr. Presidente, a última vez em que estive nesta tribuna foi às vésperas da abertura da Copa do Mundo. Muitas e muitas manifestações, algumas pesadas, brutas, agressivas. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, lojas apedrejadas e vítimas quase fatais, por motivos os mais variados.

            As manifestações nas ruas se tornaram célebres em junho do ano passado, quando, inesperadamente, para surpresa de todos, quando não se imaginava, de forma alguma, que alguma coisa iria acontecer, os jovens saíram às ruas, protestando por várias razões. A que terminou prevalecendo foi a do aumento nos preços das passagens dos ônibus e dos metrôs, para os quais eles exigiam uma diminuição.

            Foi um movimento extremamente importante, em que eles vieram defendendo a moral e a dignidade, que terminou com duas grandes vitórias: o projeto da Ficha Limpa, de iniciativa popular, foi aprovado por esta Casa e o mensalão, processo que envolveu o maior escândalo da história deste País, que se imaginava que seria arquivado, foi julgado no Supremo, com a devida condenação daqueles que a mereciam.

            Falando no Supremo, mando daqui o meu abraço, o meu respeito e o meu carinho ao seu Presidente, o Ministro Joaquim, que, neste momento, está realizando sua última sessão no Supremo e se aposenta em seguida.

            S. Exª deixará uma marca indelével de dignidade, de brilhantismo, de coragem, de vigor. Uma página foi escrita por muitos, mas a primeira assinatura foi a do Presidente do Supremo, que, enfrentando muitos, todos, deu a decisão final, que saiu vitoriosa.

            Felicidades em sua vida particular! Saiba S. Exª que marcou o Supremo Tribunal Federal com a página mais bonita e mais digna de toda sua história.

            De repente, dois meses antes de começar a Copa do Mundo, os jovens começaram a ir às ruas. Só que, junto com o movimento dos jovens, apareceram os mascarados. Junto com os mascarados apareceu um nível crescente de quebra-quebra, de violência, de radicalização. Eles diziam, insistentemente, que a Copa do Mundo não aconteceria, que, durante a Copa do Mundo, eles, na entrada dos estádios, fariam um quebra-quebra. Insistiam no sentido de que o Brasil deveria suspender a Copa do Mundo.

            Eu vim a esta tribuna - muitos outros se manifestaram - e disse que há momento para tudo na vida, que se deveria ter discutido se era bom ou ruim trazer a Copa do Mundo na época. Na verdade, eu não me lembro de um grande movimento, quando Lula festejou a vinda da Copa do Mundo para o Brasil, que tenha se manifestado em sentido contrário. Aí vieram as construções dos estádios, vieram as obras - estradas, pontes, etc - e vieram manchetes com notícias de gastos exagerados: de estádios contratados por dois e que saíram por quatro, de estradas que não saíam, de pontes que não saíam, de obras consideradas fundamentais que o Governo tinha assegurado que sairiam, mas que não saíram. Por causa disso, queriam o quebra-quebra.

            Eu vim a esta tribuna fazer um apelo para que isso não acontecesse. Eu dizia que eu não era do Governo, que sou um Parlamentar independente, mas que achava que o que estava em jogo agora era o Brasil. O Brasil estava em jogo com a realização daquela Copa. O Brasil estaria na manchete de todos os países do mundo durante um mês, coisa que nunca aconteceu e que não sei quando acontecerá de novo, e era importante a imagem que iríamos passar do País. Era importante a imagem que o povo passaria do País, de quem ele é, do que ele é, das suas potencialidades, e seria muito ruim, de repente, o quebra-quebra que eles queriam, a luta social, a agitação, às vésperas de cada jogo. Inclusive, há um dispositivo que permite às Forças Armadas entrarem em campo para conter. Muitos fizeram um apelo no sentido de que isso não acontecesse.

            Nossas divergências com o Governo continuam. A oposição e a crítica continuam. O Governo vai somar, vai ganhar aplauso, vai divulgar com êxito a vitória da Copa do Mundo? Não tem importância. O importante é que o Brasil sairia bem. E saiu a Copa. No início, houve manifestação, o que ainda há, volta e meia, aqui e acolá. E aparecem os mascarados, como apareceram em São Paulo, no Rio e em Minas Gerais, tentando fazer alguma coisa. Mas a indiferença e, mais do que a indiferença, a revolta negativa da sociedade fizeram com que isso praticamente inexistisse. E a Copa está se desenvolvendo. É emocionante ver o clima. Nós, no Rio Grande, vivemos uma crise permanente, no bom sentido, entre Brasil e Argentina de adversários que não se gostam no futebol e tudo mais... Em Porto Alegre, houve uma invasão de 70 mil argentinos. E foi uma festa. Foi uma apoteose. Foi um abraço. Foi uma amizade impressionante. O mesmo aconteceu com os uruguaios. Aqui, em Brasília, a mesma coisa. No Rio, em São Paulo, no Nordeste, a mesma coisa. O que se vê na imprensa nacional é que o mundo está conhecendo um Brasil que não é só o Rio, as garotas de Copacabana ou a Bahia, mas que é, desde o Amazonas ao Rio Grande do Sul, passando pelo Nordeste, pelo Centro-Oeste, uma grande nação.

            Eu felicito o povo brasileiro. Realmente, se não somos o que poderíamos ser como nação, se ainda não atingimos o estágio que haveremos de atingir como uma grande nação, não é por causa do nosso povo. Ele mostrou, recebendo, abraçando, confraternizando, a capacidade que tem de realizar - e, agora, eu digo o que a imprensa do mundo vem dizendo - a Copa das Copas.

            Está difícil. Nunca se viu uma Copa tão complicada. Não tem pequeno. A Inglaterra, campeã do mundo, já foi embora. A Espanha, campeã do mundo, já foi embora. O Uruguai, campeão do mundo, já foi embora. E os paisezinhos, pequenos, humildes estão indo, estão avançando.

            Nós suamos um bocado para ganhar do Chile e vamos suar um bocado para tentar ganhar da Colômbia. Mas é uma grande Copa e uma grande realização.

            Coincidentemente, Sr. Presidente, terminou ontem o prazo das convenções para escolha de candidatos. Como é diferente a seleção de candidatos no Brasil, eu diria, e nos países que têm uma civilização mais racional, uma política mais respeitável e uma responsabilidade mais compreensível.

            Nos Estados Unidos, a convenção encerra com dois grandes debates, quando há as primárias dos Republicanos e as dos Democratas. Na Inglaterra, na Europa, é, praticamente, isso. No Brasil, são 33 convenções. Organizações que estão do lado de cá viram para o lado de lá; um partido que defende, para Presidente da República, a candidata do PT e, para Governador Estadual, o candidato do PSDB.

            As composições são as mais variadas. O Sr. Maluf, do PP, estava - e foi à festa, onde foi recebido - confraternizando com a Presidenta da República, apoiando-a; e, na última hora, virou-se e está apoiando agora o candidato, lá em Brasília, do PMDB.

            É uma pena! Eu fico pensando como o cidadão brasileiro, o humilde trabalhador, o jovem, que vai sentar para pensar, para selecionar o seu voto, vai fazer. Vai pensar em quê? Em partido? Qual é o significado do partido? O que significa votar no PT? É um partido de esquerda? Será que é? O que significa votar no PSDB? É um partido de direita? Será que é?

            Já se disse, com razão, que hoje, no Brasil, esquerda, direita, socialista, capitalista, comunista, todos se encontram em tudo o que é canto, de qualquer jeito, e pulam de galho em galho. No Brasil, não se muda de clube de futebol. Se alguém é Flamengo e vira Vasco, vão levá-lo a um psiquiatra para ver o que aconteceu. Mas, agora, ser católico e se tornar espírita, ser do MDB e migrar para o PT, isso é uma coisa que acontece com a maior naturalidade.

            A grande briga foi por tempo de televisão. Que democracia é esta em que essa briga, essa correria toda foi feita não pelo partido simplesmente? Mas esse partido tem 55 segundos, e esses 50 segundos a mais são muito importantes para o meu programa de televisão. Então, nós vamos ter uma campanha em que a Presidenta vai ter oito; o Aécio vai ter cinco; e o Campos vai ter dois e meio. Não é o normal que cada cidadão tenha o mesmo tempo, as mesmas condições, para a mesma discussão. Não; não. Essa foi a briga e essa foi a discussão.

            A Presidenta - e eu discuti desta tribuna - foi obrigada a nomear Ministro dos Transportes um representante do Partido da República - não sei se é da República, mas o representante de um partido -, cujo Ministro havia sido demitido por fatos graves acontecidos. Aí ela nomeou outro Ministro.

            Agora, na véspera da eleição, veio o partido e exigiu: ou se nomeia fulano de tal para o Ministério dos Transportes, ou vamos votar no Aécio; não votamos mais na senhora. O que ela fez? Tirou o Ministro dali, arrumou um cargozinho para ele de Secretário Nacional dos Portos e colocou o cidadão que eles estavam pedindo no Ministério. Ganhou um minuto e meio. Essa é a grande realidade.

            Eu gostaria que me dissessem aqui qual o partido, de esquerda ou de direita, que escolheu candidato na base da ideologia, da dignidade, da correção e da capacidade.

            Estamos mal - muito mal! Nem uma minirreforma o Congresso conseguiu votar; o Supremo vetou, e com alguma razão, porque as reformas eleitorais devem ser votadas um ano antes das eleições, e a nossa não observou esse prazo.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria. PMDB/RS) - Temos que torcer muito para que essa eleição tenha um mínimo de condições para ser levada adiante. Temos que torcer muito para que o eleitor tenha a capacidade de realmente saber escolher.

            Vejo esse final como o final de uma época. Acho que essa eleição termina esse ciclo - termina esse ciclo -, e, aconteça o que acontecer, eu confio na sociedade brasileira, num Congresso que vá adiante de tudo isso e num governo que vá adiante de tudo isso.

            Eu não tenho nenhuma dúvida de que o que eu vinha dizendo e repetindo, que as eleições no Brasil, baseadas no “é dando que se recebe”, baseadas na distribuição de cargos, vantagens e favores, não podem continuar; têm que terminar.

            Eu vejo ali o Senador Requião. Eu levo o meu abraço ao Senador Requião, um exemplo da maior importância que aconteceu. O Senador Requião foi Prefeito de Curitiba, Senador, Governador, pela segunda vez Governador, pela terceira vez Governador, pela segunda vez Senador, e o seu partido, lá no Paraná, resolveu fazer uma coligação, abrindo mão do cargo de governador e apoiando um outro governador. E o Requião - nem sei, mas ele dizia que não tinha muita disposição para ser candidato, embora as bases do partido o exigissem - foi lá. A convenção era toda dos que queriam o apoio para o candidato do outro lado, e o Requião foi lá, de mãos abertas. O Governo do Estado estava fechado com o partido; o Governo Federal também não tinha simpatias pelo Requião, mas ele foi à convenção e ganhou de forma espetacular, com o seu discurso, só falando, falando do governo dele, das obras dele, da atuação dele e dizendo o que iria ser o trabalho do PMDB. Foi uma vitória fantástica.

            Tenho recebido do Paraná telefonemas e mensagens felizes da vida, porque muitos achavam que, desta vez, não teria Requião, nem a sua língua, que dobraria o que já estava fechado. E já estava fechado. O PMDB daria o Vice e o PSDB daria o Governador.

            Ganhou o Requião. É candidato hoje. E podem escrever: no dia 31 de janeiro, vai assumir pela quarta vez o governo do Paraná. E eu já digo agora o que o nosso Presidente Nacional do partido disse na véspera da convenção: que o PMDB não pode ter candidato agora à Presidência da República porque não preparou, mas que, na próxima, daqui a quatro anos, vai ter.

            Acontece que o PMDB vem dizendo isso lá se vão 20 anos. Que o PMDB é o maior partido do Brasil, com o maior número de parlamentares, com o maior número de eleitores, com a maior história, com a maior biografia; o partido que fez, junto com o povo, a redemocratização - outros se uniram a nós, mas o PMDB estava à frente na hora das Diretas Já.

            De repente, um grupinho nosso se adona do partido e, em troca de alguns cargos, um ministério aqui outro lá, e abre mão do candidato à Presidência, não tem candidato à Presidência. E, na última hora, não tem gente em condições!

            Então, meu amigo Requião, hoje, 1º de julho de 2014, às 15h28min, da tribuna do Senado Federal, estou dizendo: O Requião, no dia 31 de janeiro, toma posse como governador e, no dia 1º de fevereiro, é lançado candidato a Presidente da República.

            Então, agora, Senador Requião, antes que os outros falem - eles estão pensando nesta eleição -, nós já temos candidato para a próxima eleição, e tenho certeza de que será um mundo novo.

            Por enquanto, é rezar para que Deus nos oriente para que possamos selecionar o melhor - eu digo o melhor, o Requião costuma dizer o menos ruim -, para que possamos eleger um Presidente. E, de modo especial, que não seja aquele que diga que vai governar dando para receber, distribuindo cargos, ministérios, favores, bolsas, verbas, emendas. Não! Que chegue alguém que faz. E alguém já fez.

            O Presidente Itamar Franco aprovou, nesta Casa, o Plano Real - o plano mais importante que o Congresso já votou - sem dar uma bolsa, sem dar um ministério, sem dar uma verba, sem dar um favor, sem dar um copo de água a nenhum Parlamentar. Eu, que fui Líder daquele Governo, digo isso aqui. E que alguém se apresente para dizer o contrário, que alguém venha e diga o contrário! É que ele governou com o povo, apresentou as teses e não fez o troca-troca para depois apresentar o projeto.

            Na minha conversa com o ilustre ex-Governador de Pernambuco, eu disse a ele e a Marina: “Levantem essa bandeira, levantem essa bandeira! Vocês são a coligação que tem menos Parlamentares. Não levantem a bandeira de buscar mais, nem de comprar dos outros. Levantem a bandeira das grandes teses, das grandes ideologias, das grandes lideranças. Escolham o melhor para a educação, o melhor para a saúde. Escolham os grandes nomes e os apresentem à sociedade. E quero ver o Congresso rejeitar. Quero ver o Congresso rejeitar.”

            Ainda é tempo. Que os partidos aproveitem a televisão e não façam como Duda Mendonça fez com nosso amigo Lula na primeira eleição, em que moldou o candidato à sua imagem e semelhança. Trouxe o Lula, aparou-lhe a barba, fez com que ele perdesse 20 quilos e usasse não as roupas normais que ele usava, mas roupas de manequim. E o vendia como se ele fosse um robô. Não! Que os homens venham e falem o que são e o que querem, digam suas ideias e suas propostas, para que a gente possa escolher, na opinião do Requião, o menos ruim e, na minha opinião, o melhor.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/07/2014 - Página 64