Discurso durante a 98ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões acerca do contexto político em que foi criado o Plano Real; e outros assuntos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. GOVERNO FEDERAL. ESPORTE.:
  • Reflexões acerca do contexto político em que foi criado o Plano Real; e outros assuntos.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Ricardo Ferraço.
Publicação
Publicação no DSF de 03/07/2014 - Página 173
Assunto
Outros > HOMENAGEM, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. GOVERNO FEDERAL. ESPORTE.
Indexação
  • REGISTRO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, CRIAÇÃO, PLANO, REAL, HISTORIA, PROCESSO LEGISLATIVO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
  • CRITICA, CORRUPÇÃO, NEGOCIAÇÃO, INFLUENCIA, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, APOIO, PARLAMENTO, GOVERNO FEDERAL.
  • VOTO, ELOGIO, ANDAMENTO, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, BRASIL.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Ilustre e brilhante Presidente, companheiro Paim, é com grande emoção que venho a esta tribuna! Ontem, o Brasil inteiro comemorou os 20 anos do Plano Real. São 20 anos de Plano Real! Esse foi um acontecimento, à época, sem maior expressão, mas, hoje, 20 anos passados, podemos dar o devido valor àquele plano.

            Ora, meus irmãos, foi exatamente no dia 1º de julho de 1994 que entrou em circulação o real, a nova moeda de nosso País. Ele foi recebido com grande interrogação, com grande dúvida, com grande perplexidade e com grande medo. Já haviam sido tantos os planos, o Plano Cruzado, o Plano Cruzado Novo! Na época do governo Collor, seus dois planos também decepcionantes.

            Mas o que eu gostaria de salientar, em primeiro lugar, é que, no momento em que estamos vivendo, quando, exatamente há 20 anos, passando de uma ditadura militar para um governo de vários partidos, o plano, hoje, é uma unanimidade. O plano, eu diria, salvou o Brasil. Pode-se mexer em tudo, menos no plano.

            O Plano Real foi uma conquista que deve ser salientada nesse momento. Quando estamos iniciando uma caminhada para escolher um Presidente da República para os próximos quatro anos, quando estamos a debater o que fazer, o que propor, que ideias, que propostas, quando a gente vê o ambiente preocupante dessas candidaturas que surgem, que retroagem e que se misturam, essas legendas que parecem confetes de Natal, pulando e trocando de lado a cada momento, quando se pergunta o que cada candidato vai fazer, que proposta apresentará e com que meios imagina contar para realizar os seus propósitos, eu acho importante voltar atrás, há 20 anos, quando o Plano Real foi aprovado.

            Nós já tínhamos vivido euforia enorme. O Presidente José Sarney fez um esforço enorme e apresentou seu projeto. O Plano Cruzado fez um sucesso imenso. Houve grandes vitórias a candidatos a Governador, a Senador, a Deputado. O Presidente Sarney era endeusado no Brasil. O Ministro da Fazenda dele, o Sr. Funaro - que Deus o tenha; homem de bem, competente, capaz -, tinha suas mãos beijadas pelas pessoas que o encontravam.

            Meses depois, voltava a inflação, subindo pelo elevador, e se acrescentava um novo plano aderindo ao primeiro, o Cruzado 2, que também fracassou. A inflação no período do Presidente Sarney chegou a níveis impressionantes, a percentuais que praticamente mudavam de dia para dia. A cada mês, um salário dobrado, mínimo necessário.

            Houve a primeira votação popular. O povo votou, o povo escolheu. O candidato vencedor, o Sr. Collor, também apresentou um plano revolucionário, tanto quanto os anteriores, feito em segredo, em secreto, pelo governo. O governo e a sua equipe econômica se reuniam fechados e lançavam manchete do plano salvador. O Plano Collor foi mais grave, a queda mais dolorosa.

            Então, vivemos um momento dramático, o impeachment do Presidente Collor. Assume o Vice-Presidente Itamar Franco, sem força política, sem peso político.

            Já falei várias vezes desta tribuna: reuniu-se ele com todos os presidentes de todos os partidos e convocou-os para que juntos encontrassem uma saída para a crise brasileira, uma espécie de plano de Moncloa, que aconteceu na Espanha. Um entendimento em que, havendo uma crise de Estado, o Presidente da República poderia convocar todos os presidentes de partido, e, havendo uma crise de Estado, o presidente do menor partido poderia convocar todos e o Presidente da República para uma reunião. E assumiu.

            No seu governo, designou-se uma comissão. O Sr. Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, e vários dos técnicos que, inclusive, já haviam trabalhado nos planos anteriores, debateram, discutiram abertamente e apresentaram o Plano Real. Mas esse Plano Real veio para o Congresso Nacional. Não foi medida provisória, não foi decisão de cima para baixo do Presidente e do seu Ministro da Fazenda. Veio aqui e suou para ser aprovado na Câmara e no Senado. Um dia, um ministro; outro dia, outro ministro, de manhã, de tarde, de noite, debatendo com a sociedade, com o Parlamento, emendando, alterando, modificando. Chegou-se aos termos ideais do Plano Real, e o plano foi lançado. Sem pompa, foi lançado, e está aí, há 20 anos, servindo o Brasil.

            Mas o que quero salientar, neste momento, dentro desse Plano Real, desses 20 anos, é que, 20 anos atrás, o Presidente Itamar não tinha maioria nenhuma neste Congresso. O Sr. Collor foi eleito por um tal de PRN, partido recém-criado e que, com a sua cassação, praticamente esvaziou-se, e o Sr. Itamar era Presidente sem nenhum conteúdo político.

            Ele se dirigiu ao Congresso Nacional, ele falou aos empresários, ele falou à sociedade, mas, de um modo especial, falou ao Congresso, e o Congresso viveu um dos momentos mais épicos da sua história. Mostrou e provou que o Plano Real foi modificado para melhor aqui no Congresso. O Ministro da Fazenda Fernando Henrique dizia isso, os seus colegas diziam isso. O debate, a discussão, a presença, as alterações, as modificações. Um plano de que participou o Brasil inteiro. Delegações de assembleias legislativas, de federação de indústrias e de trabalhadores vieram debater. Discutiram, modificaram, e o plano foi votado.

            Eu era Líder do Governo nesta Casa e faço questão de salientar: o Itamar não tinha maioria nenhuma nesta Casa. Era um Presidente que havia assumido do vazio. Escolheu o Ministério de nomes ilustres, os mais variados, sem fazer qualquer tipo de consulta a qualquer partido. É verdade que, quando convidou a Deputada Erundina, o PT não deixou. Ela, achando importante a sua participação, licenciou-se ou saiu do PT e foi ser Ministra.

            O que quero salientar aqui é que o Plano Real, eu diria o plano econômico mais importante da história deste País - digam-me um outro, digam um outro se os senhores forem capazes - foi feito por uma equipe econômica sob o comando do Presidente Itamar, sob a coordenação do Ministro Fernando Henrique e enviado a esta Casa. E esta Casa, com a presença do Executivo, debateu, discutiu, alterou, modificou. Aqui se brigou, e o plano foi aprovado. Foi votado. Não houve nenhuma medida provisória, não houve nenhum buraco negro, não houve nenhum partido dizendo: “Eu só vou se ganhar esse ministério.” Não houve nenhum Deputado dizendo: “Eu só vou se a minha emendar for paga.” Não teve nada!

            Desafio - e há muitos Parlamentares que estão aqui até hoje - a imprensa, as rádios, os jornais, a televisão a voltar 25 anos e 4 meses, quando o projeto foi votado. Vejam as manchetes e vejam se houve alguma notícia no sentido de “crise, porque para aprovar exige-se isso ou para aprovar exige-se aquilo”.

            Os ministros andavam o dia inteiro - de manhã, de tarde e de noite -, caminhando para lá e para cá nos corredores da Câmara e do Senado, ouvindo, debatendo, analisando. Os Parlamentares andavam de ministério em ministério, ouvindo, debatendo, analisando. Mas em nenhum momento houve troca-troca, em nenhum momento houve “é dando que se recebe”, em nenhum momento se discutiu qualquer ministério - muda esse, tira aquele, bota aquele. E saiu um grande plano. O Congresso saiu fortalecido, e o povo respeitou o plano, certamente porque acompanhou o debate.

            Como é que o povo vai acompanhar o debate do Governo hoje? Sai o ministro tal e entra o ministro tal para ganhar 59 segundos mais no tempo na televisão. Sai o ministro tal e entra o ministro tal para ganhar um minuto e meio de televisão.

            Uma das páginas mais bonitas da minha modesta vida pública: pela Liderança do governo, acompanhar dia e noite a tramitação desse projeto, ver a alegria desta Casa quando ele foi aprovado, a alegria do Brasil quando ele foi sancionado, e o Presidente agradecendo ao Congresso Nacional por ter aprovado um projeto do interesse do País.

            Aos candidatos à Presidência - são muitos, ilustres e brilhantes, com muita capacidade e com muita vontade de acertar -, eu lhes apresento esta página da nossa história: o Plano Real.

            Revistas. Estou aqui com a revista Veja, por exemplo. Embora não citando o nome do Itamar, não importa, mostra o respeito e a importância da votação do projeto, dizendo o que significam os 20 anos da sua votação.

            Mas, ao mesmo tempo, ao mesmo tempo em que eu reconheço a importância do Plano Real, com emoção, eu vejo que nós tivemos a capacidade de apresentar um projeto que não saiu da caixola de ninguém - à época nós tínhamos o Delfim Netto, que era um mago, que era o Deus, ou então o Sr. Roberto Campos -; esse projeto nasceu da equipe de economistas e da decisão e votação no Congresso Nacional.

            Quando esse projeto veio a esta Casa, o Sr. Itamar Franco não tinha apoio nenhum - fechado, “não é essa a minha base” -, os partidos estavam vivendo um tempo de abertura, de estudar um caminho para onde ir e sobre o que fazer. E conseguiram. É por isso que eu digo, meus irmãos: a gente culpa o Congresso, porque o Deputado tal, o Senador tal trocou o voto por uma emenda; a gente critica o partido porque o partido passou a apoiar para ganhar um ministério, e se culpa a classe política, de um modo especial, o Congresso Nacional. Está certo, mas não se esqueçam de que foi o Poder Executivo que foi lá e comprou o Deputado em troca da emenda; que foi o Poder Executivo que foi lá e comprou o partido em troca de um ministério.

            Na época do Itamar, como não havia isso, como não houve nenhum ato dele de comprar Deputado ou Senador em troca disso ou em troca daquilo, como em nenhum momento no seu governo houve qualquer deslize desta natureza, nenhum Deputado foi lá se oferecer, nenhum Senador foi lá se oferecer. O Executivo não veio aqui comprar, mas nenhum Parlamentar foi lá querendo se vender. É uma moeda de duas trocas: vai e vem. Para haver ética e seriedade tem que haver aqui e lá no Executivo. No Plano Real, houve lá no Executivo, seriedade absoluta. E o Congresso trabalhou na mesma moeda, dançou a mesma música, falou a mesma linguagem, e as coisas saíram muito bem.

            É verdade que a minha amizade com o Presidente Fernando Henrique vem de toda a vida. Tive a honra, inclusive, no Palácio Piratini, lá no Rio Grande do Sul, quando ele recebeu a comenda mais valorosa de nosso Estado, de ouvir o que ele fez questão de dizer: que muitos pensavam que a vida política dele tinha iniciado em São Paulo, mas que não. Tinha nascido lá no Rio Grande do Sul, no Instituto de Formação Política, órgão criado pelo MDB do Rio Grande do Sul, quando nenhum partido falava em fundação, nem em instituto, nem em coisa nenhuma. É verdade, a nossa amizade vem daquele tempo e andou por aí afora.

            Mas vejo agora, não tenho a competência de V. Exª, Senador Requião, não tenho. Veja a nota linda do Fernando Henrique:

FHC alfineta Lula e Dilma em celebração aos 20 anos do Real.

Por ocasião das comemorações dos 20 anos do Plano Real, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso divulgou em sua página no Facebook um áudio em que celebra a data e alfineta o ex-presidente Lula, que chamou de "descrente", e a presidente Dilma, a quem acusou estar com "dificuldades em manter estabilização da moeda".

Em 1º de julho de 1994, o real começou a circular no país. A mudança era parte do Plano Real, lançado meses antes para tentar controlar a inflação. Considerado bem-sucedido, o plano freou a inflação, após quase dez anos de tentativas.

            Senador Requião, só ouça essa parte, por favor. O discurso de Fernando Henrique:

No dia 1º de julho de 1994, lançamos uma moeda nova no Brasil: o real, fruto de esforço enorme de equipe econômica que eu liderava [“eu” é o Fernando Henrique], como ministro da Fazenda, e tinha o apoio do presidente Itamar Franco como presidente da República.

O país estava cansado da inflação, 20%, 30% ao mês.

            Meu amigo Fernando Henrique, cá entre nós, vamos ao contrário: não era o Itamar que tinha a confiança de V. Exª e V. Exª que tinha o apoio de Itamar para lançar o Plano Real. O Presidente Itamar nomeou V. Exª Ministro e nomeou todas as equipes de vários ministérios que trabalharam com V. Exª. V. Exª poderia ser um pouco mais modesto. Poderia dizer: “No governo do Itamar, eu, Ministro da Fazenda, e vários outros fizemos o Plano Real”. Agora, dizer “sob a minha liderança, minha, Ministro da Fazenda, eu contei com o apoio do Presidente da República” é uma forma um pouco vaidosa. Talvez seja o plural majestático que o Fernando Henrique usa, mas ele realmente foi um grande líder. Ele foi grande responsável, teve grande competência e teve grande capacidade. Quanto a isso, eu não discuto.

            Mas estou falando isso por um motivo só. O que a gente está vendo são os candidatos à Presidência da República e a imprensa toda querendo saber como, se ganhar a Dilma, qual a maioria que ela vai ter; como, se ganhar o Aécio, qual a maioria que ele vai ter; como, se ganhar Eduardo, qual a maioria ele vai ter. E assim, etc.

            Claro que o nosso sistema partidário é uma anarquia! Claro que o nosso sistema político é irresponsável!

            Na Veja, nas páginas amarelas, uma entrevista emocionante do ilustre Senador do Espírito Santo, Presidente da Comissão de Relações Exteriores, a quem felicito pela competência, pela capacidade e pela seriedade.

            S. Exª faz uma análise realmente importante deste País, uma análise, por exemplo, com uma sinceridade total. O que pensa a Presidente da República da política externa do Brasil? Onde ela opinou? Onde ela falou? Onde ela disse? O que ela acha? O Presidente da Comissão de Relações Exteriores não sabe e eu também não sei. Sabemos o que acha, como diz o Presidente da Comissão, o Sr. Garcia, o ministro auxiliar, principal, assessor; não sei.

            Mas, neste momento, eu acho que, às vésperas de se apresentar à opinião pública as suas plataformas de governo, eu não tenho nenhuma dúvida de que um dos assuntos que vão ser mais explorados, mais discutidos, mais debatidos, mais analisados será: “Mas como é que você vai governar? Tu, Eduardo; ou tu, Presidenta Dilma; ou tu, Aécio, como vais governar? Como tu vais conseguir maioria? De que forma tu vais agir com relação ao Congresso?” E as perguntas são claras.

            Nos governos anteriores, era um troca-troca; nos governos anteriores, era dando que se recebe. É isso que vocês vão fazer?” “Não, isso eu não vou fazer?” “Então, o que você vai fazer?”

            Esse é o motivo de eu estar nesta tribuna. Aqui está um exemplo do que pode ser feito. E foi feito no momento mais cruel, mais dramático, mais difícil. Ganharam as Diretas Já. Tancredo é eleito. Morre Tancredo. Sarney se esforça; seus planos não dão certo. Vão para a eleição. Ganha alguém que não estava preparado. Não era a hora dele. Não dá nem para culpá-lo; mas na verdade deu tudo errado. Cassam-no. Assume o Itamar.

            O que era de se esperar do Sr. Itamar, sem experiência, sem atuação passada, uma pessoa tida como imprevisível? Até o seu estilo, a imprensa, na minha opinião, com grande maldade, leva para o lado da ironia. Mas ele assumiu. Número de Parlamentares de Itamar: zero!. O que se sabia é que...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ...tinha o Itamar os amigos dele lá das Minas Gerais, os mineiros que nem o Sr. Chefe da Casa Civil, os amigos dele, mas partido? Nada! Governou. A primeira coisa que ele fez foi chamar os presidentes de todos os partidos: “Eu estou aqui. Quem me botou aqui não foi o povo. O povo botou o Collor. Vocês, Congresso, cassaram o Collor e me botaram aqui. Eu estou aqui! Pois quero conversar com vocês, Congresso, para nós governarmos. Vamos governar juntos. Onde houver uma crise, vamos nos reunir e vamos debater todos, com todos os partidos. Mas eu também quero ter o direito de debater e discutir com todos os partidos quando eu tiver necessidade disso.” E todos aceitaram. O Brizola estava lá e aceitou, o Lula estava lá e aceitou, o Arraes estava lá e aceitou, todos aceitaram, e ele cumpriu o que falou.

(Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - O maior exemplo foi o Plano Real.

            Quando o Funaro (fora do microfone), que era Ministro do Sarney lançou o Plano Cruzado, ele lançou, mas foi coisa dele. O Sarney o convocou, ele assumiu - substituiu o Ministro Dornelles que tinha renunciado -, fez a equipe dele e organizou um projeto tido como milagroso - pelo Congresso Nacional, não -, o Ministro e a sua equipe, e deu errado. Veio o Cruzado II, deu errado. Ganhou o Collor, Collor I, deu errado. Collor II, deu errado. Todos feitos por técnicos. Veio o Itamar, reuniu os ministros, Fernando Henrique e os demais, fizeram o projeto, mandaram para o Congresso e vieram debatê-lo aqui. “Mas como vai passar? Mas como vai passar isso? Como vai passar? Eu tenho que ter maioria. Como é que eu vou ter maioria?” Eu, Líder do governo, não procurei nenhum Senador, não fizemos nenhuma Bancada para aprovar o Plano Real. Ele foi debatido e discutido ponto por ponto, vírgula por vírgula.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - V. Exª me permite?

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - V. Exª estava aqui, não estava?

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Eu estava aqui e, se me permite V. Exª...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Por isso eu quero dar a palavra a V. Exª. Casualmente, está aqui um Senador extraordinário, já naquela época estava aqui, o Senador Suplicy.

            Eu faço um apelo para que V. Exª faça uma análise do que eu estou dizendo certo e se eu estou faltando com a verdade.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Eu quero dar o meu testemunho. Em 1994, eu estava no exercício do meu primeiro mandato como Senador, pois fui eleito em 1990 e, de 1991 em diante, passei aqui a conviver com V. Exª. Quero lhe transmitir que V. Exª, para mim, tem sido, ao longo desses 24 anos, acho que o meu maior professor aqui dentro. Tem razão V. Exª. Eu sou testemunha de que, como Líder do Presidente Itamar Franco, V. Exª, que eu saiba, nunca teve nenhum diálogo com quem quer que fosse, nem comigo, membro da oposição, no sentido de que eu pudesse votar aqui qualquer matéria em função de eventuais benefícios - se bem que também nunca antes, nesses 24 anos, algum Presidente ou Líder dialogou nesses termos comigo. Quem conhece o meu procedimento sabe disso. Mas eu conheço a forma como V. Exª conduziu a sua Liderança. Inclusive, durante a discussão, durante o debate do Plano Real, que foi muito intenso aqui dentro, nós, do PT, o Senador José Eduardo, naquele tempo, fez algumas observações críticas, mas a condução de toda a votação foi da forma como V. Exª está dizendo. E eu reconheço, como membro do Partido dos Trabalhadores, que, de fato, nós tivemos um controle da inflação considerado muito bem-sucedido, tendo em conta o histórico de altíssimas taxas de inflação - 30%, 40% ao mês - a que quase chegamos em períodos anteriores. Agora, nas observações do Presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o Governo da Presidenta Dilma, creio que é justo ponderar que, durante o período de 2003 até 2014, a taxa de inflação permaneceu dentro da meta estipulada, às vezes no alto da meta - presentemente, está pouco mais de 6%, mas ainda dentro da meta -, porém com algumas características que antes não tinham ocorrido. A taxa de desemprego em 2014 é a mais baixa desde que se iniciou, pelo IBGE, a leitura dos índices de desemprego no País. Outro indicador muito importante é que, ano a ano, desde 2002 até 2003, até 2004, até o último dado disponível, que foi publicado pelo IBGE em 2012, em todos os anos, houve uma diminuição, passo a passo, do coeficiente Gini de desigualdade. Em 1996, estávamos com 0,601; lá por volta de 1999, com 0,59 e tanto; mas, desde 2002, estava lá próximo de 0,59, um pouco abaixo, 0,58 e tanto. Ano a ano, foi diminuindo felizmente, graças inclusive à experiência havida no governo do Presidente Fernando Henrique, com o início dos programas de transferência de renda. Mas o Programa Bolsa Família veio a ser um avanço muito significativo. Hoje com 14 milhões de famílias beneficiadas, correspondendo a cerca de 50 milhões de habitantes, um quarto da população passou a ser considerada em condições não mais de pobreza extrema. Temos de avançar mais. V. Exª sabe o quanto tenho sugerido à Presidenta Dilma Rousseff que possa criar até um grupo de estudos, para estudar a transição do Programa Bolsa Família, para um dia, no horizonte, termos aprovada em lei por todos os partidos, no Senado e na Câmara, a renda básica de cidadania. Eu acabo de vir de um congresso da Rede Mundial da Renda Básica, por três dias, em Montreal, e, pelo fato de o Brasil ter aprovado essa lei, somos consideradíssimos por pessoas de todo o mundo, que querem saber como tem sido a experiência brasileira do Programa Bolsa Família, diferente da de outras nações, que têm, nessa fase de crise econômica, aumentado a disparidade de renda e riqueza, aliás, considerada um fenômeno importantíssimo no livro de Thomas Piketty, O Capital no Século XXI, que assinala as disparidades crescentes em muitos países. Mas, no Brasil, houve um mecanismo num sentido diferente. Quero aqui também dar meu testemunho de que V. Exª, como Líder do governo Itamar Franco, certo dia propôs um diálogo meu com o então Presidente do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva. Tivemos em meu gabinete um diálogo muito construtivo, em que V. Exª propôs que o Presidente Itamar Franco recebesse o Presidente Lula para iniciar aquilo que Herbert de Souza, o Betinho, e Dom Mauro Morelli iniciaram no governo do Presidente Itamar Franco, interagindo com o Presidente de um dos partidos, que era o Presidente Lula. No diálogo que V. Exª mencionou do Presidente Itamar Franco com os presidentes de todos os partidos, ele se abriu para ouvir sugestões, e V. Exª foi um dos que, justamente, falou: “Olha, aqui está um bom caminho de preocupação sobre como iniciarmos o combate à pobreza em nosso País”. E isso foi muito positivo. Portanto, quero cumprimentá-lo pela maneira como aqui ressalta o que foram os 20 anos do Plano Real, bem como ressalto a importância de termos todos os Senadores e Parlamentares um procedimento tal como o de V. Exª em...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... seus 32 anos de mandato de Senador, que o coloca como exemplo de procedimento ético no relacionamento com o Poder Executivo. Meus cumprimentos a V. Exª, Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Agradeço muito. Foi Deus quem permitiu que V. Exª estivesse aqui, porque o aparte de V. Exª é profundamente esclarecedor. O Senador Suplicy era o único Senador que o PT tinha na Casa, e acompanhou e debateu e discutiu, como todos debateram e como todos discutiram. Como eu disse, e o Senador confirma, ele foi votado abertamente. Não se falou em cargo, nem em função, nem em vantagem, nem em coisa nenhuma.

            Excelência, eu agradeço porque levantou outra questão. Está aí o Bolsa Família. Uma maravilha, uma maravilha! Começou no gabinete do Senador Suplicy, quando, conversando com o Lula e eu, foi solicitada uma audiência primeiro a um ministro, para dar a ideia. Nós achamos a questão tão importante que a levamos ao Presidente da República. E ele trouxe mais três ministros, e o Lula levou a sua gente. A coisa foi tão importante, o Itamar achou tão importante que lançou, no seu governo, o célebre projeto Fome Zero. Foi buscar o Itamar, e repare V. Exª que ele não consultou partido, não falou com A, nem com B, um projeto desses, espetacular, que podia gerar prestígio, credibilidade, força política para quem quer que fosse indicado. Ele não foi procurar ninguém, foi procurar...

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Foi procurar Dom Mauro Morelli (Fora do microfone.) e os conselhos do Betinho.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ... o Betinho, que era um opositor, que vivia gozando, esculhambando com ele, que criticava o Itamar de tudo quanto é lado, e o Bispo de Caxias, Dom Morelli, um homem extraordinariamente ligado ao social. Os dois criaram o Fome Zero e levaram-no adiante. Ele foi adiante no governo Itamar e continuou, de maneira diferente, no governo Fernando Henrique. E se consagrou no governo do Lula. Se o Itamar não tivesse feito nada, não sei se o Fernando Henrique ia inventar, e o Lula estaria começando no seu governo, porque, na verdade, ele começou 12 anos depois de Itamar, que começou antes de Fernando Henrique.

            Estou falando dessas coisas porque acho que os partidos no Brasil, pela natureza das realidades, estão se conduzindo muito mal. Também, com 33 partidos, como é que a gente vai se acertar? A gente faz uma reunião com os partidos da base para debater, dá 5 minutos para cada um, com 10 partidos, o que dá 1 hora. Eu acho que se poderia fazer uma pré-campanha, se poderia lançar um pré-projeto de entendimento nacional, naquilo que é praticamente o óbvio. Mas vamos ficar no óbvio.

            Que o novo governo não comece pela corrupção, comprando Deputado e Senador para fazer maioria. São 40 ministérios agora, quando eram 30 partidos. Estamos caminhando para 40 partidos. Vai ter que ir para 50 ministérios! Não comece o governo distribuindo ministério por partido político. Que governe com seriedade, chame os dirigentes partidários e estabeleça um plano mínimo de ação e reação.

            É o contrário do que está acontecendo hoje. Não é de agora, hoje, no atual Governo, mas é de uns tempos para cá. Está-se partidarizando a máquina política, os ministérios. Vemos agora o que está acontecendo na Petrobras. Um absurdo. A história que a gente tinha da Petrobras era de um órgão competente, capaz, responsável, que seguia a metodologia das empresas mais modernas no que havia em tecnologia avançada! Uma revolução com a sua capacidade. Ela, Petrobras, criou o processo de descobrir petróleo em águas profundas, 4 mil metros de profundidade. E, de repente, estoura isso aí. A diretoria tal está na mão do senhor fulano de tal, do PCdoB. A diretoria da empresa tal está na mão do ex-Senador, ex-candidato a Governador do Ceará, indicado sob a conivência de não sei quem. A diretoria tal...

            Pelo amor de Deus! O fundo de pensão da Petrobras está entregue na mão de fulano. Eu gostaria que me dissesse qual é a ligação de um fundo de pensão com um partido político. O partido político vai aplicar a sua tese, a sua ideologia na realização do fundo partidário. O fundo partidário é uma montanha de dinheiro que vem e tem que ser bem aplicado, para, na hora em que for necessário, ser bem aplicado. E não para sair como tem saído. E não para as coisas acontecerem como tem acontecido.

            O Presidente da Comissão de Relações Exteriores, na sua entrevista, salienta bem: o Brasil aplicar lá em Cuba, no porto, tudo bem; mas os dados serem secretos, a gente não saber o que é, como foi e como não foi, muito mal.

            Por isso, eu acho que a nossa querida imprensa...

            O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Maioria/PMDB - ES) V. Exª me permite um aparte?

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Mais uma vez, felicitando pela sua entrevista excepcional na Veja, excepcional mesmo.

            O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Agradeço a generosidade das palavras de V. Exª em relação à reflexão feita. Vindas de V. Exª, pela autenticidade, pela identidade, pela forma direta com que todos nós e o Brasil o conhecemos, isso me dá muito orgulho e também muita responsabilidade. V. Exª sobe à tribuna do Senado mais uma vez e faz, hoje, um relato absolutamente pedagógico, didático e preciso do papel e da importância que teve o ex-Presidente Itamar Franco na implementação do Plano Real. A História precisa fazer justiça ao ex-Presidente Itamar Franco. Foi dele a decisão política para que o Brasil pudesse respirar, virar a página de um sistema inflacionário que corroía o salário e a dignidade da população brasileira, sobretudo dos trabalhadores. Eu me congratulo com V. Exª pela dignidade que tem V. Exª por recuperar a importância do ex-Presidente Itamar Franco. Na próxima semana, nós votaremos, na Comissão de Relações Exteriores, um requerimento para convidar os candidatos à Presidência da República a, se desejarem - nós franquearemos espaço se esse for o desejo da maioria dos Senadores -, na Comissão de Relações Exteriores, declinar quais são as suas estratégias para a política externa. O que pensam os nossos candidatos a Presidente da República sobre as escolhas que o nosso País precisa fazer em relação à importância que têm as opções? Quero crer que, trazendo os candidatos...

            (Soa a campainha.)

            O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Maioria/PMDB - ES) -... a Presidente da República, convidando os candidatos para, na Comissão, apresentarem suas propostas e suas plataformas, nós estaremos, no âmbito da Comissão, dando a nossa contribuição para que essa possa ser uma campanha de debate político sobre os caminhos que o Brasil adotará para virar essas páginas de tanta incerteza que nós estamos presenciando nesse ambiente. Eu me congratulo com V. Exª e agradeço as generosas palavras em relação às nossas reflexões.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - V. Exª tem tido uma atuação excepcional na Presidência da Comissão.

            O gesto desassombrado de V. Exª no que tange à vinda do Senador que estava preso num quarto da Embaixada por um ano foi um gesto realmente dignificante de V. Exª que dignificou a nossa Casa.

            V. Exª está tomando uma atitude muito importante. Eu até não posso avançar o sinal. O que eu penso é que é ótimo, o que eu penso é que é positivo. Claro que, se um candidato vier à Comissão, talvez tenhamos de fazer a reunião em local maior, porque muita gente comparecerá. Ele virá para ser saudado, ouvido, respeitado e dizer o que pensa. Ninguém vai querer cobrar de A ou B porque aquele não será o momento nem a ocasião. Mas, como diz V. Exª, é um setor dessa importância e desse significado que trará um candidato para dizer o que pensa com relação à política externa, mesmo a gente sabendo que, infelizmente, hoje, no Brasil, é a comissão de propaganda e de publicidade que escreve o que o candidato lê. Esta é a grande vantagem dos Estados Unidos: lá, os dois candidatos, na campanha pela televisão, ficam frente a frente e um pergunta e o outro responde. V. Exª prestará um grande serviço e eu presto integral solidariedade ao que V. Exª apresenta.

            Encerrando, o que eu quero dizer, Sr. Presidente, é que a proposta que eu faço é exatamente esta... Eu não falo aos Líderes porque é difícil os Líderes se reunirem para sair coisa boa aqui, nesta Casa. Mas eu faço a proposta de que se faça o entendimento e que, passada a eleição, antes da posse, os candidatos se reúnam para debater e estabelecer normas de atuação em relação à ética, à seriedade e à condução do governo.

            Encerro, Sr. Presidente, com uma comunicação urgente.

            Ontem, eu fiz um pronunciamento em que salientei, em segundo lugar, a hora confusa que estamos vivendo na política. Mas a razão de eu ter vindo à tribuna foi a manifestação de um voto de louvor, pela Copa do Mundo, ao Brasil: ao governo, ao povo, a todos. Foi tanta anarquia, foi tanto combate, foram tantas perspectivas negativas, mas eu estou vendo um movimento espetacular. Acho que nunca, na história do Brasil, o País ficará, como está agora, um mês nas manchetes de todos os jornais, rádios e televisores do mundo inteiro, com o povo brasileiro mostrando - é só o que se vê - sua alegria, seu carinho, seu respeito, sua amizade. Eu fiz questão de salientar, de debater e de analisar.

            Hoje eu vi a primeira parte do Jornal do Senado, mas não vi nada sobre isso. Eu gostaria que alguém da redação do nosso Jornal do Senado pudesse dizer - não precisa nem publicar o nome do Pedro Simon - que o Senado está vendo a beleza com que está sendo conduzida a festa, a maneira positiva com que o povo, as diversas autoridades, a polícia, com que todo mundo está fazendo a Copa do Mundo. Eu gostaria.

            Agradeço a V. Exª.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Muito bem, Senador Pedro Simon! Meus cumprimentos! Quero dizer que concordo plenamente com V. Exª.

            Permita-me aproveitar este seu momento na tribuna - sei que não posso fazer um aparte - para dizer que todos nós, aqui, vamos sentir muito, muito mesmo, a sua falta se, efetivamente, V. Exª não concorrer ao Senado. O seu discurso, que escuto quando estou presidindo e no meu gabinete, repercute toda vez que o senhor fala da tribuna. E o senhor fala toda semana. É um Senador competente, assíduo e está muito bem física e politicamente. É uma pena - quero dizer isto publicamente - que V. Exª não vá disputar para o Senado.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/07/2014 - Página 173