Discurso durante a 100ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do ex-Deputado Plínio de Arruda Sampaio; e outros assuntos.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA DE TRANSPORTES, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO URBANO. IMPRENSA, ESPORTE.:
  • Pesar pelo falecimento do ex-Deputado Plínio de Arruda Sampaio; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 10/07/2014 - Página 32
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA DE TRANSPORTES, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO URBANO. IMPRENSA, ESPORTE.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, VOTO DE PESAR, MORTE, EX-DEPUTADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • AGRADECIMENTO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFERENCIA, ASSINATURA, PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO (PAC), TRANSPORTE URBANO, ENFASE, LIBERAÇÃO, RECURSOS FINANCEIROS, OBRAS, DESENVOLVIMENTO URBANO, MELHORIA, TRANSPORTE, CIDADE, RIO BRANCO (AC), ESTADO DO ACRE (AC).
  • COMENTARIO, ELIMINAÇÃO, BRASIL, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, eu não poderia começar o uso do meu espaço aqui na tribuna sem fazer uma referência a essa figura extraordinária, a esse brasileiro com quem tive o privilégio de aprender muito, Senador Cristovam - V. Exª também teve grande convivência com ele.

            Assim, quero fazer o registro do falecimento e pedir a V. Exª, Senador Paulo Paim, que eu subscreva esse seu voto de pesar junto com V. Exª. Antes de falar sobre os dois temas que quero abordar desta tribuna, quero me somar a todos que hoje prestam solidariedade à família, aos filhos e aos amigos.

            Tive o privilégio de conviver com esse grande brasileiro Plínio de Arruda Sampaio dentro do PT. Quando eu era Prefeito de Rio Branco, Senador Cristovam, querido colega Rodrigo e Senador Alvaro Dias, ele me visitou. Eu tinha o propósito de sempre convidar pessoas para que falassem um pouco sobre o mundo, sobre as desigualdades no mundo, sobre a política. E lembro-me de uma conclusão, Senador Cristovam, V. Exª que tem o compromisso comprovado com a inclusão social e que nos ajudou com o Bolsa Família naquele começo de Governo. Ele, que lutou tanto pela boa política, falou assim: “Uma das melhores maneiras, um dos mais importantes instrumentos para se fazer a inclusão social é através do poder político do Governo, sendo Governo”. Ele dizia à minha equipe da prefeitura que a gente estava em um espaço onde, se houvesse decisão política, a gente podia ajudar os que mais precisavam, aqueles que viviam a injustiça. No Governo, a gente pode melhorar o País e diminuir as desigualdades. Esse era o Plínio de Arruda Sampaio. Ele sempre militou e, quando não tinha ninguém para se candidatar, para defender as teses, ele se candidatava, e isso já próximo dos 80 anos. Ele faleceu aos 83 anos.

            Então, aqui fica este voto de pesar, este sentimento de perda de um grande brasileiro, Plínio de Arruda Sampaio, no dia de ontem.

            É com grande satisfação que ouço o aparte do Senador Cristovam e, em seguida, do Senador Rodrigo Rollemberg.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Jorge Viana, Senador Paim, quero também me solidarizar e subscrever esse voto de pesar. Conheci o Plínio há muito tempo, no exílio; ele, funcionário das Nações Unidas; eu, funcionário do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Lembro que o conheci em Tegucigalpa, capital de Honduras, onde eu morava na época, e lá ficamos muito amigos. Eu aprendi com ele muito, por exemplo, sobre reforma agrária, sobre economia rural, sobre a situação do campesinato em toda a América Latina. Mas posso dizer que o que eu mais aprendi com ele foi o caráter, o caráter de um homem que tinha compromissos, tinha coerência e tinha militância firme. Estava no sangue dele.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Foi militante de vida toda, não é?

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Foi militante de vida toda, militante sempre do mesmo lado, militante sempre comprometido, um exemplo para o Brasil. Nós perdemos, o Brasil, um dos mais importantes quadros da política brasileira ao longo de todo o século 20. Não tenho a menor dúvida disso.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Muito bem.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Vai fazer falta àqueles que o conheceram e vai fazer falta também ao nosso País.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Muito bem.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Parabéns pela iniciativa e que façamos, um dia, uma homenagem maior ainda a ele aqui, numa sessão especial.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Sem dúvida. V. Exª tem uma ideia que certamente nós todos acompanhamos, que é o fato de termos aqui, em algum momento, uma homenagem devida a esse Constituinte, a um cidadão que mudou a história do País, foi lutador pela democracia e nos ajudou a consolidar a democracia como militante de vida toda.

            Eu ouço o aparte do Senador Rodrigo Rollemberg.

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco Apoio Governo/PSB - DF) - Muito obrigado, Senador Jorge Viana, Senador Paulo Paim. Também solicito autorização para subscrever esse requerimento de condolências à família do ex-Deputado Plínio de Arruda Sampaio. Quero manifestar aqui, em meu nome pessoal e em nome do Partido Socialista Brasileiro, a nossa tristeza com o falecimento desse grande líder político - grande líder porque grande referência política para muitas gerações. Eu não tive o privilégio, como vocês, de conviver com Plínio de Arruda Sampaio - meu pai teve esse privilégio -, mas sempre tive oportunidade de acompanhá-lo, de admirá-lo à distância e de conhecer a sua história como democrata cristão. A vida tende a fazer com que as pessoas, com o passar dos anos, se tornem mais moderadas, sobretudo do ponto de vista político, mas, como V. Exª disse, Senador Jorge Viana, o ex-Deputado Plínio de Arruda Sampaio foi um militante de vida toda, sempre radicalizando a favor das suas posições em defesa da democracia, em defesa do socialismo e sempre com uma conduta ética irrepreensível. Portanto quero levar o nosso abraço de solidariedade à família, aos amigos e aos seus correligionários porque realmente Plínio de Arruda Sampaio foi uma grande referência política para muitas gerações e, nesse sentido, a perda é muito grande. Muito obrigado. 

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu que agradeço.

            Ouço também com satisfação o aparte do Senador Alvaro Dias, já que estamos falando de algo que nos une, que é a solidariedade à família e aos amigos e esse gesto nosso de respeito ao grande brasileiro Plínio de Arruda Sampaio.

            O Sr. Alvaro Dias (Bloco Minoria/PSDB - PR) - Obrigado, Senador Jorge Viana. Apenas para subscrever também, em nome do meu Partido, o PSDB, esse voto de pesar. Acompanhamos com muito interesse o desempenho de Plínio de Arruda Sampaio na campanha presidencial, quando, nos debates, proporcionou momentos de inteligência e de humor, com a crítica sempre bem humorada e ferina, mas, sobretudo, demonstrando muita inteligência e capacidade de síntese para colocar o seu pensamento, para expor a sua opinião sobre os problemas nacionais. Deu grande contribuição ao debate num momento importante da vida nacional, quando se disputava a Presidência da República. É a lembrança que temos dele, a última lembrança, a última participação exposta de Plínio de Arruda Sampaio. O nosso voto de pesar e solidariedade à família, amigos e admiradores.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Muito obrigado.

            Eu cumprimento mais uma vez o Senador Paulo Paim pela iniciativa desse requerimento que eu e os colegas pedimos para subscrever. Então fica aqui esse reconhecimento.

            Eu me lembro dessa visita que ele fez ao Acre. Eu era Prefeito e fomos visitar um projeto de reforma agrária que eu, na Prefeitura, implementava com a minha equipe, que virou um modelo: os polos agroflorestais.

            Ele realmente era uma figura extraordinária. Eu agradeço a Deus o privilégio de ter convivido com ele.

            Sr. Presidente, caro Presidente Paulo Paim, aproveitando o meu tempo, eu queria fazer um agradecimento à Presidenta Dilma e, ao mesmo tempo, ao Ministro das Cidades, Gilberto Occhi, e também à Ministra Miriam Belchior, do Planejamento.

            Eu tive o privilégio, a honra de, na semana passada, participar de uma solenidade no Palácio do Planalto, quando a Presidenta Dilma assinou o PAC Mobilidade e, naquele ato, assinou um documento, junto com o Prefeito de Rio Branco, capital do Acre, Marcus Alexandre, viabilizando os investimentos de R$70 milhões em mobilidade urbana na capital, Rio Branco.

            A Presidenta Dilma havia, com a sua equipe, ajudado a viabilizar um financiamento de R$50 milhões e outro, de R$35 milhões, ambos para a mobilidade de cidades médias, no caso, Rio Branco, e obras de infraestrutura urbana com o PAC Pavimentação. Então, a partir de uma ação que nós fizemos aqui no Senado, junto com o Senador Anibal, com parte da Bancada Federal do Acre, o Prefeito Marcus Alexandre, com uma equipe competente, dedicada, elaborou os projetos, e nós fizemos a boa luta política.

            No PAC Mobilidade Médias Cidades, nós tínhamos conseguido incluir Rio Branco com R$50 milhões. É óbvio que isso tem uma parcela importante que é financiada. E, no PAC Pavimentação, todos no ano passado, foram R$35 milhões. Então, somando, são R$85 milhões em investimentos naquilo que hoje é a maior necessidade, a maior prioridade das cidades brasileiras.

            O Brasil conquistou mudanças importantes nos últimos anos. Graças ao Governo do Presidente Lula e da Presidenta Dilma, mais de 35 milhões de pessoas saíram de uma situação de pobreza, de miséria, de uma situação de muita pobreza para uma melhor condição de vida e 40 milhões de brasileiros ascenderam à classe média, passaram a ser consumidores. O Brasil tem esse reflexo em vários indicadores. Por exemplo: hoje há mais brasileiros andando de avião do que de ônibus. Essa mudança ocorreu em abril deste ano.

            As mudanças são frutos também dessas oportunidades que foram geradas pelos nossos dois governos, que criaram mais de 20 milhões de empregos. Mas o fato concreto é que, mesmo com uma oportunidade de trabalho e de moradia - são 3,5 milhões de moradias contratadas com o Minha Casa, Minha Vida -, tudo isso trouxe um seriíssimo desafio para os prefeitos, os governadores e o próprio Governo Federal: como melhorar a qualidade do transporte nas cidades, a mobilidade nas cidades.

            Rio Branco não é diferente, tem muita dificuldade nessa área. E eu me empenho, como ex-Prefeito e como ex-Governador, para ajudar a encontrar a solução. Trabalhei nesse projeto que o Prefeito Marcus Alexandre assinou semana passada, como um técnico, como uma espécie de consultor. Eu me senti muito bem, porque participei de muitas reuniões em Rio Branco, ajudando a definir as prioridades. E, depois, foram duas reuniões com a equipe do Ministério das Cidades, com o Secretário de Mobilidade, Júlio, me pondo junto com sua equipe para que eu pudesse defender esse projeto que é tão importante para Rio Branco.

            Então, além dos R$85 milhões, a Presidenta Dilma, aí sim, com recursos integralmente do Orçamento Geral da União, ou seja, são recursos não reembolsáveis, são recursos a fundo perdido para Rio Branco... O Prefeito Marcus Alexandre conseguiu esse presente da Presidenta Dilma.

            Rio Branco agradece. A nossa cidade será outra do ponto de vista da mobilidade, dando sequência a um trabalho que, sem falsa modéstia, comecei lá atrás como Prefeito, depois, como Governador. Depois veio o Governador Binho, que cumpriu uma etapa importante. Agora, o Governador Tião Viana, com o Ruas do Povo, fazendo a cidade do povo, trabalhando em todo o Estado, também dá a sua importantíssima parcela de contribuição. Mas eu quero dizer que, para mim, valeu, nos quatro anos do meu mandato, a ação direta, o acolhimento que tive do Ministro das Cidades, da Ministra do Planejamento e da Presidenta Dilma, ao fazer a aprovação desses R$70 milhões para a mobilidade urbana em Rio Branco.

            Nós vamos ter corredores de ônibus importantes para criar um melhor funcionamento na cidade, que facilite a vida dos que mais precisam. Nós vamos ter, na Avenida Ceará, um terminal de integração também importante, na frente do Estádio José de Melo, vamos ter um corredor de ônibus na Avenida Brasil, com uma estação de passageiros também nessa área, um corredor exclusivo de ônibus na Avenida Marechal Deodoro, em Rio Branco. Isso tudo foi parte de um debate técnico que tive o privilégio de participar. Então, na Avenida Marechal Deodoro com a Avenida Brasil, que eu, há vinte anos, na Orefeitura, havia feito o primeiro corredor de ônibus do Estado; um corredor exclusivo na Rua Guaporé, com um terminal de integração no Bairro São Francisco, na região do Chico Mendes, Vitória e Eldorado. Com isso, aquela parte importante da cidade de Rio Branco terá as condições de uma melhor mobilidade e isso vai facilitar o ir e vir das pessoas.

            Queria cumprimentar a Famac, o Mabe, as associações de moradores, enfim, todas as entidades de Rio Branco, o Prefeito Marcus Alexandre e agradecer à Presidenta Dilma mais uma vez.

            Deixei por último a implantação de um corredor de quase quatro quilômetros, ligando o Primeiro ao Segundo Distrito. Toda a área das universidades, na margem da Via Verde, que eu construí quando Governador, que tem perto de vinte mil alunos, nós teremos um corredor de ônibus que faz a conexão com o Segundo Distrito e, aí sim, passando por uma nova ponte. A Presidenta Dilma nos deu a possibilidade, com esse projeto, de construirmos mais uma ponte ligando o Primeiro ao Segundo Distrito em Rio Branco.

            Então, se nós formos escrever a história da cidade de Rio Branco, a Presidenta Dilma está escrevendo seu nome nessa história como uma das que mais ajudaram a cidade de Rio Branco. Ela ajuda o Governador Tião Viana com a Cidade do Povo, ela ajuda o Prefeito Marcus Alexandre com os investimentos de quase R$250 milhões que o Prefeito Marcus Alexandre está fazendo. O Prefeito Angelim fez um trabalho importante durante oito anos, mas não teve essas oportunidades que, em menos de dois anos, nós estamos conseguindo para o Prefeito Marcus Alexandre, que é uma pessoa dedicada e tem uma equipe técnica dedicada.

            Quero parabenizar o Ricardo Torres, Secretário de Transportes de Rio Branco, e a Claudia, Secretária de Obras. Não tenho dúvida de que Rio Branco vai se transformar num bom canteiro de obras, com muita engenharia sendo aplicada. Nós vamos fazer o primeiro túnel na cidade de Rio Branco, passando a Avenida Ceará por baixo da Avenida Getúlio Vargas.

            Deixei por último dois aspectos. Nós vamos fazer a implantação de um sistema de transporte fluvial em Rio Branco, hidroviário. Nós vamos aproveitar o Rio Acre e fazer com que as pessoas que moram na Região da Baixada, como nós chamamos, possam ir até o centro da cidade sem ter que passar por esse complicado trânsito. Isso é novo. Eu sonhava com isso desde a prefeitura, depois quando Governador, e agora vamos implementar.

            E, por último, Rio Branco é uma das cidades do Brasil que mais têm ciclovia proporcionalmente. Entre o Norte e o Nordeste, nenhuma cidade chega perto de Rio Branco. E nós vamos implantar o programa de bicicleta pública, de bicicleta compartilhada, integrando o veículo do mais pobre, que é a bicicleta, com o transporte coletivo. E Rio Branco caminha, dessa maneira, para ser, nesse aspecto também, uma cidade sustentável.

            Então, mais uma vez, parabenizo o Prefeito Marcus Alexandre, que tem sido incansável. Ele que foi um ajudador, um técnico competente, me ajudou muito no governo, ajudou muito o Governador Binho, o Governador Tião Viana, agora tem a oportunidade, como Prefeito. É o Prefeito mais bem avaliado do Acre, disparado. É também o Prefeito que mais se dedica, com todo o respeito, aos demais, porque nós temos outros bons prefeitos no Acre, mas o Marcus Alexandre tem um diferencial a mais; ele faz com gosto, com satisfação. E eu tenho a alegria de a cada 20 dias me reunir com ele, debater os projetos, discutir como um auxiliar da prefeitura e agora estamos materializando esse nosso trabalho liberando esses nossos recursos.

            Então, Senador Paim, isso equivale a sete anos de emendas. Graças a Deus, eu consegui - com a contribuição do Governo Federal, do Ministro das Cidades, da Ministra do Planejamento e da Presidenta da República - ajudar a viabilizar esse recurso que é tão necessário para Rio Branco.

            Então, antes - faltam oito minutos - eu quero, por fim, me referir ao jogo de ontem. E como sou o primeiro orador nesta tribuna a ocupar espaço hoje eu quero aqui, do fundo do coração cumprimentar os brasileiros pela maneira como construíram esta Copa. Faltam só mais três jogos para esta Copa... E ela foi, independentemente de qualquer coisa, uma Copa especial. Foi muito questionada, mas depois os fatos superaram ao pessimismo, as críticas... E o Brasil, sim, realizou uma das melhores Copas do Mundo, da História, dá para a gente dizer hoje. Tomara que siga assim, tomara que o problema grave que nós tivemos dentro do campo, com a derrota, que é parte do futebol, não venha para o lado de fora.

            Do lado de fora nós estamos ganhando de goleada! O brasileiro é o maior herói, é o maior fazedor de gols do lado de fora porque recebeu bem quem nos visitou, acolheu bem e deu um exemplo para o mundo de como é a hospitalidade de nosso País. E não tenho dúvida de que o Brasil vai ganhar muito com isso. Mais de três bilhões de pessoas estão ligadas na Copa do Mundo. O nosso País pode sim tirar muitos benefícios do turismo e também já tem o nosso legado, que são instalações de novos aeroportos, de mobilidade urbana nas cidades.

            Sinceramente, acho que - graças a Deus - a Copa deu certo no Brasil. Agora, nós tivemos esse drama ontem, que aí é parte do imponderável do futebol.

            Quero, Senador Paim, fazer a leitura de uma carta da jornalista colunista do Estadão Ruth Manus, que é uma: “Carta a uma seleção derrotada.” Está no Estadão, de hoje, diz ela:

Meninos, [diz ela] (sim, meninos, porque quando uma seleção é eliminada na Copa do Mundo, não há mais homens no gramado. Há meninos. Com olhos vazios, sem rumo e sem qualquer indício de vergonha ou de pudor.)

Escrevo só para agradecer [diz a articulista, a colunista do Estadão].

Agradecer porque vocês nos fizeram sentir o que há muito tempo não sentíamos [Por isso que eu quero que conste dos Anais do Senado esta carta].

[Agradecer porque vocês nos orgulharam.]

O nervosismo [que não sentíamos há tempo]. A voz embargada. Tensão. Alegria. Nó na garganta. Dor de garganta. Explosão. Tristeza. Desilusão. Um turbilhão de sentimentos condensados em quatro semanas. Foi isso que esses meninos nos fizeram sentir.

Agradeço porque vocês conseguiram mexer com muitas emoções que andavam paradas. Bandeiras na janela por amor a um país (e não apenas a uma seleção).

            Foi muito bonito, tem sido muito bonito a gente ver aquilo que, quando a gente viaja, vê em outros países, esse sentimento de amor pelo País, pela Nação.

            A colunista segue:

Bandeiras na janela por amor a um país (e não apenas a uma seleção), acima de qualquer outra questão.

Porque vocês fizeram mais do que colocar corações para bater mais forte. Vocês colocaram corações absolutamente brasileiros para bater.

Agradeço porque, a cada jogo que passava, me sentia mais parecida com os desconhecidos nas ruas.

            Achei isso muito bonito. O Brasil ficou mais igual, todo mundo pôs uma camisa igual, uma camiseta amarela. Foi muito bacana isso, e a jornalista pegou isso na sensibilidade.

Mais próxima do meu país, da minha gente.

Agradeço porque o desfecho traumático não anula a alegria vivida.

E por saber que vocês vão ter que encarar aqueles brasileiros de momento, que até ontem tinham orgulho e hoje já acham que “isso é Brasil”.

Mas não se preocupem, para nós também é difícil suportá-los. Tamo junto [diz ela].

E o fato é que a tristeza é geral: do campo, do banco de reservas, da arquibancada, do sofá da sala, do banco do bar, da sarjeta.

Mas, por favor, entendam, nós não estamos tristes com vocês, estamos tristes JUNTO com vocês.

            Eu já encerro, Senador, e passo para V. Exª. Com satisfação, ouço o aparte.

            E ela diz, com muita beleza:

Por favor, entendam [ela fala para os jogadores], nós não estamos tristes com vocês, estamos tristes JUNTO com vocês.

E tanto é assim que posso garantir que milhares de brasileiros queriam poder dar em vocês hoje o abraço que o David Luiz deu no James depois da eliminação da Colômbia.

Obrigada, meninos.

Obrigada por me lembrarem que eu nunca quis ser europeia. Alemã, holandesa, francesa, belga… Nem que me dessem um belo par de olhos claros.

Que o que eu quero sempre é minha camisa amarela, minhas emoções escancaradas, quero o choro embriagado de hoje, esquizofrenicamente orgulhoso de ser quem somos até quando estamos apanhando como apanhamos.

Abracem seus pais. Seus filhos. Suas mulheres. Seus amigos.

Façam isso por nós, que queríamos abraçá-los talvez até mais do que iríamos querer se ganhássemos a Copa.

E continuem sendo assim, brasileiros, acima de tudo.

No cabelo enrolado, nas danças no vestiário, nos abraços verdadeiros, nos choros sofridos, na oração sincera e na certeza de que, bem ou mal, a gente segue em frente.

7 a 1? Dane-se.

Vocês me representam. E não é pela bola que jogam, é pelos caras que são.

            Quem faz esse belo texto é Ruth Manus, colunista do Estadão. Peço que conste nos Anais do Senado.

            Eu ouço o Senador Cristovam, para depois poder concluir.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador, eu quero compartir esse sentimento da jornalista Ruth.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu acrescentarei mais uma coisa: esses meninos colocaram o Brasil entre os melhores do mundo, em terceiro ou em quarto, aliás, melhor que na outra Copa. Então, nós temos de lamentar, sofrer, ficar tristes, mas não tem sentido jogar qualquer pedra em qualquer um dessa equipe. A torcida brasileira fez tudo que era preciso, e eles também - e eles também! E aconteceu uma fatalidade com que todos nós sofremos muito, mas que acontece. Eu creio que a fala do David Luiz, que eu anotei, na entrevista final, mostra quem são esses meninos que jogaram por nós, quando ele diz: “Desculpa por não ter feito vocês felizes nesta hora.” Veja a preocupação: “Aqui tem um jogador disposto a ajudar a todos. Eu só queria dar alegria para o meu povo, que sofre tanto, por tanta coisa. Queria pedir desculpa. Eu só queria fazer o povo sorrir, pelo menos, no futebol.” Veja o sentimento que ele carrega e que, se não disseram ou até não diriam diretamente assim, ou outros devem estar sentindo. Nós temos de sofrer, mas não podemos responsabilizar ninguém por não sermos campeões do mundo, o que é raríssimo conseguir. E temos, sim, de agradecer-lhes, apesar de não ter dado como queríamos, o fato de que continuamos entre os melhores do mundo; e aí eu diria, não só por sermos um dos trinta e dois, mas por estarmos entre os quatro ou três, ainda.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Já estamos entre os quatro.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Já estamos entre os quatro. E eu queria dizer a essas pessoas que estão sofrendo tanto, porque a gente teve essa derrota, que elas deviam se lembrar também de outras coisas que deveriam nos provocar sentimento de tristeza, pelas quais os jogadores não são culpados: o problema da nossa educação, da saúde e de outros fatores que o Brasil tem, pelo que os jogadores não têm nenhuma culpa. Eu parabenizo o senhor pela leitura do artigo, ou da carta, ou da carta-artigo ou do artigo-carta, e eu comparto totalmente com essa posição dela. Agradeço a esses meninos, que nos colocam entre os quatro melhores ou - talvez -, até no sábado, entre os três melhores.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Muito obrigado, Senador Cristovam. Só para concluir, caro Presidente Paim, eu acho que o Senador Cristovam pegou exatamente o espírito do que essa jornalista escreve. Eu lamento, às vezes, pelo que ficam cobrando. São garotos novos; alguns estão começando a amadurecer mesmo, estão chegando já nos trinta anos, mas há muitos garotos novos, de quem eu contei aqui várias histórias: são pessoas muito pobres, de famílias muito pobres, muito humildes, que venceram, na vida, pelo talento, com sacrifício.

            Há pessoas que questionam: “Ah, mas ganham milhões.” Ora, gente, não é um crime vencer na vida e até ganhar dinheiro. O problema são os que não têm oportunidade nenhuma na vida. Isso é outra coisa. Como sempre falamos e V. Exª também coloca muito bem.

            Mas hoje é um dia para lamentarmos, sim, o resultado. Mas temos de nos lembrar disso que V. Exª está lembrando: nós ficamos entre as quatro melhores seleções do mundo. Isso é ponto pacífico. Isso não é ruim para o País. É claro que futebol tem o imponderável. Futebol nos apaixona a todos exatamente por isso.

            E eu, Senador Cristovam, caro Paim, e Rodrigo Rollemberg, que, como eu, é um botafoguense - estou encerrando -, fui me pegar em dois trechos, e V. Exª também, Senador Cristovam. Eu fui me pegar no Carlos Drummond de Andrade e no Armando Nogueira, outro botafoguense, que são mestres das palavras. E, outro dia, visitando o Museu de Arte do Rio de Janeiro, o MAR, eu vi na parede um pedaço de uma poesia do Carlos Drummond de Andrade sobre futebol e hoje pus na minha fan page. E peguei outro trecho muito lindo do Armando Nogueira que talvez descreva este momento que estamos vivendo aqui. Pus no meu Twitter e até que deu uma repercussão grande. Eu botei na minha página:

Paixão pelo futebol. Na vitória e na derrota, na tristeza [pus eu] e na angústia da derrota, recorro a dois mestres da palavra: o acriano Armando Nogueira, Marquês de Xapuri, e o mineiro Carlos Drummond de Andrade, que não precisa de apresentação. Para o Maracanaço, na derrota da Copa de 1950, e para o Mineiraço, na derrota da Copa de 2014, não tem remédio.

            Mas esses dois poetas falam da alma e do sentimento de quem torce. Eu cumprimentei, então, os que torceram e seguem torcendo pelo Brasil; cumprimentei a Seleção Brasileira, aqueles que lutaram, mas não... Ontem foi, talvez, o dia mais difícil na carreira de cada um daqueles que estava em campo e no banco de reserva, mas bola para frente.

            E aí cito aqui parte de uma crônica lindíssima do Armando Nogueira em que só ele consegue comparar a paixão, o amor pelo futebol, pelo clube, pela camisa ao amor de mulher e de mãe, Senador Cristovam. É uma ousadia alguém querer vincular. E ele consegue fazer isso como ninguém. E Armando diz assim:

Amar um clube é muito mais que amar uma mulher. [Olha que frase perigosa.] Ao longo da vida, troquei de namorada, sei lá, mil vezes. E outras mil fui trocado por elas, mas a recíproca não está em jogo, agora. Jamais trocaria o Botafogo, nem por outro clube, nem por nada, neste mundo.

            Ele fala:

Guardo até hoje, integro, o sentimento do primeiro encontro. Foi no minúsculo estádio de General Severiano, na tarde do dia 10 de setembro de 1944. Tinha eu acabado de chegar de Xapuri, minha terra, e estava embasbacado com a beleza da cidade do Rio de Janeiro.

            A crônica é linda, e vou pedir para constar dos Anais. Leio um trecho dela que fala desse sentimento que nós carregamos hoje:

O futebol é assim: desperta na pessoa um sentimento virtuoso que transcende a amizade, que vai além do amor e culmina no santo desvario da paixão. Tem de tudo um pouco, porém, é mais que tudo.

Torcer por uma camisa é plena entrega. É mais que ser mãe [veja o que ele fala, é mais que ser mãe!], porque não desdobra fibra por fibra o coração [como a mãe faz]. Destroça-o de uma vez no desespero de uma derrota. Em compensação, remoça-o no delírio de uma vitória. [Armando Nogueira, acriano de Xapuri, no texto “O Botafogo e eu...”.]

            E concluo, lendo um pequeno trecho que tirei da parede do Museu do Mar, no Rio de Janeiro, do Carlos Drummond de Andrade:

Bem-aventurados os que, depois de escutar este sermão, aplicarem todo o ardor infantil no peito maduro para desejar a vitória do selecionado brasileiro nesta e em todas as futuras Copas do Mundo, como faz o velho sermoneiro desencantado, mas torcedor é assim mesmo, pois para o diabo vá a razão quando o futebol invade o coração. [Carlos Drummond de Andrade, crônica publicada no Jornal do Brasil, em 1974.]

            Então, talvez esses mestres da palavra expliquem um pouco essa coisa subjetiva e apaixonante que é o futebol.

            Quero, assim, concluir e pedir que possa constar nos Anais essa belíssima crônica, porque, como vai ficar na história o sete a um da Alemanha contra a nossa Seleção, o Brasil, certamente, vai carregar para sempre aquela derrota para o Uruguai em 1950 e essa derrota para a Alemanha no dia de ontem. Eu queria que constasse também, nos Anais no Senado Federal, essa crônica do Armando Nogueira e esse artigo da Ruth Manus, colunista do Estadão, pois acho que podem compor essa história de tristeza, de angústia, que é parte da vida, é parte do esporte, é parte desse esporte que é o de maior audiência neste Planeta e é a grande paixão do povo brasileiro.

            Parabéns à Seleção por ter-nos unido, por ter-nos deixado mais iguais, por ter-nos deixado mais parecidos! Parabéns à Seleção por ter-nos dado o quarto lugar, no mínimo, porque é o terceiro ou o quarto lugar! E que outros jovens, garotos talentosos, possam se inspirar com o jogo de ontem, com o resultado negativo do jogo de ontem,e possam se dedicar a esse esporte para nos fazer vencedores nas futuras Copas!

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

DOCUMENTOS ENCAMINHADOS PELO SR. SENADOR JORGE VIANA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

Matérias referidas:

- “O Botafogo e eu...”, Armando Nogueira.

- “Carta a uma seleção derrotada”, O Estado de S. Paulo, em 08/07/14.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/07/2014 - Página 32