Pela Liderança durante a 101ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Expectativa de que a boa imagem construída pelo País na Copa do Mundo perante a comunidade internacional repercuta no aumento da atração de turistas estrangeiros ao Brasil.

Autor
Ricardo Ferraço (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Ricardo de Rezende Ferraço
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
ESPORTE, TURISMO.:
  • Expectativa de que a boa imagem construída pelo País na Copa do Mundo perante a comunidade internacional repercuta no aumento da atração de turistas estrangeiros ao Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 15/07/2014 - Página 570
Assunto
Outros > ESPORTE, TURISMO.
Indexação
  • EXPECTATIVA, DIVULGAÇÃO, TURISMO, BRASIL, ENCERRAMENTO, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, COMENTARIO, VALOR, HOSPEDAGEM, PASSAGEM AEREA, FATOR, INFLUENCIA, REDUÇÃO, NUMERO, TURISTA, ESTRANGEIRO, VIAGEM, PAIS.

            O SR. RICARDO FERRAÇO (Bloco Maioria/PMDB - ES. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, assim como todos os brasileiros, Senador Aloysio Nunes Ferreira, nos últimos dias, não apenas a minha atenção, mas a minha emoção como brasileiro esteve tomada em razão da Copa do Mundo. E é em razão desse grande acontecimento que eu ocupo a tribuna do Senado para uma reflexão sobre esse importante e relevante acontecimento para o País e os seus ensinamentos, ligando Copa com turismo e com geração de oportunidades para os brasileiros.

            Penso mesmo que seja a hora de levantarmos, sacudirmos a poeira e darmos a volta por cima, de viramos a página e digerirmos, de vez por todas, a derrota humilhante a que a nossa seleção brasileira foi submetida.

            Frustrados ficamos, evidentemente, todos nós que acreditamos que poderia ser possível em nosso País uma performance do nosso futebol, mas, se deixarmos a paixão de lado, vamos ver que o resultado é, sim - olhando para a floresta e não apenas para a árvore ou olhado para o conjunto da obra -, absolutamente positivo para o nosso País. A começar pelo choque de realidade em torno do nosso futebol.

            E não preciso aqui repetir as críticas que comentaristas e especialistas vêm martelando com insistência desde a goleada que sofremos dos alemães, até porque não sou nenhum especialista em futebol para ficar aqui indicando caminhos, indicando alternativas ou até mesmo sendo ou querendo ser engenheiro de obra pronta. Não. A gestão amadora, a arrogância, a falta de estrutura e o balcão de negócios em que se transformou nosso futebol é o retrato puro e simples de onde nós chegamos, mas onde nós deveríamos ter chegado.

            A hora é de mudanças, e ponto final. Já é um avanço - um avanço dolorido, mas positivo - termos a clareza de que é preciso virar nosso futebol pelo avesso se quisermos honrar a glória do passado.

            Se a derrota enterrou o ideal da Copa das Copas, é inegável que o sucesso da organização do evento, muito além do que se imaginava, tem tudo para render, sim, frutos positivos para o nosso País.

            Em termos de infraestrutura, cabe à sociedade, evidentemente, e a todos exercer o controle social e cobrar a conclusão de cada obra de infraestrutura, de cada projeto inacabado. Cobrar também a gestão adequada dos nossos estádios, dos nossos aeroportos e de todos os equipamentos que foram construídos e edificados na esteira desse grande empreendimento.

            O grande fruto que temos a obrigação de cultivar a partir dessa Copa é, seguramente, a imagem positiva que conseguimos transmitir para o mundo inteiro, a característica principal e fundamental da nossa gente e do nosso povo, o soft power, essa forma criativa, acolhedora, alegre e a capacidade que tivemos de acolher tantos e tantos imigrantes que estiveram aqui nesses últimos dias.

            O Brasil que a multidão recorde de turistas estrangeiros encontrou foi um Brasil não apenas riquíssimo em belezas naturais, mas um Brasil alegre, um Brasil hospitaleiro, um Brasil que pode ser eficiente e organizado em termos de segurança e de mobilidade, bem diferente do Brasil violento e subdesenvolvido que foi vendido lá fora, até mesmo por aqueles que querem ser permanentemente pessimistas de plantão.

            O desafio agora é explorar e multiplicar essa imagem positiva, para turbinar o País como destino turístico que proporciona, evidentemente, oportunidades para a nossa gente, para o nosso povo. Não é possível que um País maravilhoso como o nosso, um País com a diversidade cultural, gastronômica e geográfica que nós temos esteja tão longe de alcançar as primeiras posições como destino turístico internacional.

            Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, pelos dados da Organização Mundial do Turismo, ficamos, em 2012, na 45a posição no ranking dos países que mais receberam turistas estrangeiros, atrás, por exemplo, de países como a Malásia, a Áustria, o Marrocos, a Tunísia. Entre os países do BRICS - cito isso até porque o Brasil está sediando a sexta cúpula dos BRICS -, fomos o último colocado. A França, primeiro país na lista da Organização Mundial do Turismo, recebeu 83 milhões de estrangeiros em 2012. O Brasil recebeu, nesse mesmo ano, 5,7 milhões de turistas estrangeiros. Estamos, é verdade, caminhando, mas a passos muito lentos. No ano passado, foram 6 milhões de turistas estrangeiros. Mas, a título de comparação, só a região da Catalunha, na Espanha, recebeu 14 milhões de visitantes estrangeiros de janeiro a outubro. Somente Londres recebeu 8 milhões de turistas estrangeiros.

            Outro dado que chama atenção, Sr. Presidente: o Rio de Janeiro, festejado como a cidade maravilhosa que é, ficou apenas em 90º lugar como destino turístico internacional.

            Temos que saber aproveitar a oportunidade desta Copa, elogiada por especialistas de todo o mundo, para mudarmos em definitivo essa história. Foi uma chance de ouro para ficarmos conhecidos além do país do samba e do futebol. Aliás, futebol, pelo menos por enquanto, não é mais a nossa praia. Vamos ter que dar muito duro para que possamos resgatar a nossa referência e resgatar as honras do passado.

            Também é a oportunidade para rompermos estereótipos como o de um país em que vigoram a violência e o medo, um país aberto para o turismo sexual.

            Por que não ampliar os investimentos na divulgação do Brasil como destino turístico? Por que não investir mais em escritórios de promoção turística e também junto a operadores internacionais? Por que não aproveitar melhor a estrutura de nossas embaixadas no exterior para divulgar toda a diversidade do nosso País?

            As informações contabilizadas que nos dão é de que o esforço feito pelo Brasil está muito aquém de colocarmos o nosso País pela porta da frente, na condição de competir minimamente, em igualdade de condições, pelas riquezas que nós podemos valorizar, turbinar, multiplicar, pelas consequências que isso pode gerar para a nossa população.

            É claro, também, que precisamos atacar de frente outros fatores que prejudicam nosso potencial turístico: a precariedade de nossa malha aérea, os altos preços das passagens aéreas e de nossa rede hoteleira, a baixa qualificação profissional na cadeia de turismo. Turistas estrangeiros e brasileiros reclamam, com razão, que viajar pelo Brasil sai mais caro que viajar para os Estados Unidos ou Caribe, por exemplo.

            No Relatório de Competitividade em Viagem e Turismo de 2013, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil aparece como 51º se comparado num ranking com 140 países. No quesito de competitividade de preços, o Brasil desce para a 126ª posição.

            Vai ser preciso muito empenho e vontade política para posicionar o Brasil como a terceira maior economia turística do mundo até 2022, como prevê o Plano Nacional de Turismo.

            Vamos, enfim, ao trabalho. Agora é esquecer o fiasco dentro do campo e apostar no sucesso fora dele, até porque nós estamos também na antessala de outro evento muito importante, as nossas Olimpíadas, em 2016, e aí é correr para o abraço. Mas até lá é trabalhar duro, com muito planejamento, com muita ação, com menos discurso, para que os resultados possam proporcionar e possam ampliar as oportunidades para o povo brasileiro.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

            São essas as reflexões que faço, virando a página e já caminhando para a transição desse luto, que não foi a estruturação da Copa do Brasil, mas a participação lamentável do futebol brasileiro, produto e resultado de muita desorganização e de muitos vícios que agora ficaram, mais do que nunca, à luz do dia.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/07/2014 - Página 570