Discurso durante a 102ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações relativas à Copa do Mundo de 2014 e à situação do futebol brasileiro.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, GOVERNO FEDERAL.:
  • Considerações relativas à Copa do Mundo de 2014 e à situação do futebol brasileiro.
Aparteantes
Walter Pinheiro.
Publicação
Publicação no DSF de 16/07/2014 - Página 340
Assunto
Outros > ESPORTE, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, GOVERNO FEDERAL.
Indexação
  • COMENTARIO, EXECUÇÃO, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, SEDE, BRASIL, CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, POPULAÇÃO, MOTIVO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, SELEÇÃO, ATLETA PROFISSIONAL.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, ontem e hoje, inúmeros pronunciamentos foram feitos nesta Casa com relação ao final da Copa do Mundo. É compreensível, é racional, afinal o Brasil inteiro, o mundo inteiro acompanhou o final da Copa do Mundo.

            As manifestações se dividiram nesta tribuna, umas de oposição, de lamento, que é um lamento de todos nós, da derrota, e derrota infelizmente fragorosa da equipe brasileira, e outras do Governo manifestando o êxito dos jogos, que, indiscutivelmente, tiveram grande prestígio.

            Eu venho para me situar no meio dessas posições.

            Primeiro, eu fiquei emocionado em verificar o contexto geral da Copa do Mundo. Aqueles chamativos, aquela propaganda feita por alguns mascarados conclamando a movimentação dos jovens, de protesto na hora do jogo, que eu viesse à tribuna para lamentar e fazer um apelo para que isso não acontecesse. Não era o momento, momento em que estávamos realizando a Copa do Mundo, em que o mundo olharia para nós. Não era a hora de fazermos aquele tipo de ação que eles estavam convocando.

            Fiquei feliz em saber que a agitação aqui, ali e acolá foi praticamente inexpressiva e que a participação do povo brasileiro foi realmente importante. O interessante, inclusive é de salientar-se, que, se analisar um foco, um ponto em que há uma imensa emoção por parte de todos, é o povo brasileiro. Diz a imprensa que tiveram visitantes de mais de 200 países e se verificaram lá no Rio Grande do Sul, por exemplo, nós, gaúchos, com os argentinos, vizinhos nossos, em rixas permanentes no campo esportivo e uruguaios, vizinhos nossos, em rixas também permanentes no campo esportivo. E na última vez, na outra Copa do Mundo, realizada lá em 1950 no Brasil, eles, uruguaios, nos levaram a Copa.

            Em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, foi uma festa, uma invasão de cem mil argentinos em Porto Alegre. E houve uma convivência pacífica, fraterna. Realmente era interessante ouvir argentinos dizendo: “Eu não sabia que o povo brasileiro era tão amigo, eu não sabia que o povo brasileiro era tão educado, eu não sabia que os brasileiros eram tão risonhos, tão felizes com a vida”. Isso aconteceu e isso foi real.

            Se nós analisarmos que praticamente o mundo inteiro esteve, pela televisão, assistindo, eu acho que foi, talvez, o momento mais importante em que o nosso País e o nosso povo estiveram expostos e foram respeitados no mundo inteiro. Esse aspecto é positivo. Não há dúvida de que foi positivo.

            Em termos de esporte, eu também acho que se deve analisar essa questão. A organização, a convocação dos jogadores, o período em que eles estiveram reunidos, a liderança e o comando do técnico que já foi campeão do mundo, que já foi campeão da Copa das Confederações, que chegou às finais com a Seleção de Portugal e tem o respeito de todos, exatamente pela sua capacidade ética, moral e profissional, não houve dúvida, nenhuma interrogação com relação às suas convocações. Geralmente numa Copa se diz: mas deixou o Romário? O Romário tinha que estar lá! Mas deixaram o Ronaldinho Gaúcho? O Ronaldinho Gaúcho tinha que estar lá! Dessa vez eu não ouvi, em nenhum momento, “faltou fulano”, “faltou beltrano”. Na verdade, foram convocados os melhores. Cá entre nós, eu acho que o centroavante, aquele não precisava estar. É o único a que eu faço restrições. Foram convocados os melhores. Na minha opinião, há de se convir que este ano a safra de jogadores não estava no seu melhor período. E isso ficou provado.

            Fazer a análise de que nós perdemos com o vexame de 7x1 e logo depois, de 3x0, é uma análise que deve ser feita. Acho realmente que devemos estudar não com CPI, muito menos com órgão oficial. Vamos criar agora uma entidade do governo para orientar e coordenar o futebol brasileiro? Obrigado, pelo amor de Deus. Daqui a pouco são centenas de funções gratificadas e não sei mais o quê.

            Uma coisa me chamou a atenção: um analista da Globo News mostrando que, na Seleção da Alemanha, dos 23 jogadores, 3 jogavam fora da Alemanha, os outros todos jogavam na Alemanha. No Brasil, dos 23 jogadores convocados para a Seleção, dois jogavam no Brasil; os outros 21 jogavam fora do Brasil. Dos dois, um era o Fred, que todos lamentam, e o outro era o terceiro goleiro. Aí se faz a pergunta: podem-se realmente reunir, em 30, 40 dias, pessoas que jogam em mundos diferentes, um no Oriente, outro no extremo Oriente, outro na Europa, outro na América Central? Podem essas pessoas se reunir e de repente fazer uma confraternização humana e no campo de futebol? Eu não sei. Eu não sei, mas essa pergunta, desde que a ouvi, fiquei me perguntando. E aí me lembrei daquilo que desde o início da tribuna lamentei na Lei Pelé.

            A Lei Pelé ao lado de fazer justiça, digamos assim, com relação a alguns jogadores que diziam que, quanto ao clube como um todo e ao passe, o jogador era praticamente escravo do clube, que fazia dele o que queria. E com a Lei Pelé ficou livre, mas a Lei Pelé criou uma nova categoria para mim que não era necessária, que foram os profissionais, os empresários de jogadores de futebol que compram o passe, ficam donos do passe e vendem o passe.

            Hoje, por exemplo, quando se vende um grande jogador por US$50 milhões desse clube para aquele clube, um parte vai para o clube, e uma parte grossa vai para o empresário que tem dinheiro e faz disso uma agenda de negócio. E daí essas pessoas são as mais entusiasmadas. E agora um aspecto novo: eles não levam o jogador de futebol quando ele já é craque, quando ele já é um grande jogador, como fizeram com o jogador da Argentina. O grande herói da Argentina, considerado o melhor jogador da Copa, saiu da Argentina com 14, 15 anos. Com 15 anos o Real Madrid o levou com a mãe, o pai, a família, para morarem na Espanha e desde aquela época está lá, praticamente é um espanhol. Só veio à Argentina na hora jogar.

            Acho que essas análises nós podemos fazer. Nós devemos fazer!

            O Sr. Walter Pinheiro (Bloco Apoio Governo/PT - BA) - Senador Pedro Simon, é óbvio que quando V. Exª tocou nessa questão do futebol chamou a atenção uma coisa, a presença de jogadores da Seleção alemã, que por sinal escolheu a Bahia, talvez essa tenha sido a maior sorte da delegação alemã. E escolheu a Bahia, Senador Pedro Simon, não só pelas belezas de Santo André, lá em Santa Cruz de Cabrália, mas principalmente por ser o ponto estratégico para o deslocamento da Seleção alemã. Ali era o ponto mais próximo dos estádios, inclusive a Alemanha já estava prevendo ir à final, para ir ao Rio de Janeiro era melhor sair daquela região, era mais perto, porque ficava equidistante em uma relação, por exemplo, com Fortaleza, com Salvador, com Belo Horizonte, fez essa escolha. E V. Exª tocou em uma coisa que é fundamental, tem a ver com o que acontece no dia a dia, então não só na Copa. Na hora do gol do Mario Götze a Seleção alemã tinha, Senador Pedro Simon, sete jogadores em campo que pertencem ao Bayern de Munique, sete, da muralha, o goleiro, até, inclusive, o autor do gol. Sete jogadores de um time que é uma das referências mundiais. Aí, eu digo a V. Exª: na hora em que convocamos a nossa Seleção, no máximo, nós tínhamos dois jogadores...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Brasileiros.

            O Sr. Walter Pinheiro (Bloco Apoio Governo/PT - BA) - ... que jogam em clubes no Brasil...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Walter Pinheiro (Bloco Apoio Governo/PT - BA) - ... o Fred, no Fluminense; o Jô, no Atlético Mineiro. Então, este é o resultado: nós perdemos a capacidade aqui não só de formação como também de aprimorar essa questão dos times que jogam no Brasil, portanto perdemos competitividade. E juntamos os outros 21 - porque são 23, não é isso? -, catando um aqui e outro acolá, que se encontraram só no momento da Copa, nem se assistem, ou até os que são parceiros de clube poderiam até jogar ali juntos. Portanto, este é o resultado: é exatamente a degradação do futebol brasileiro que se apresentou como resultado nessa Copa do Mundo.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu agradeço muito a V. Exª.

            Estão falando em convocar agora um técnico estrangeiro. Podem até convocar. Eu acho que o técnico brasileiro foi muito competente, acho que ele fez o que ele podia fazer, acho que perdemos porque tínhamos que perder. Acho que o Governo realizou o que podia fazer. Exagerou. A FIFA disse que, se dependesse dela, seriam oito, no máximo, dez estádios e que o Lula queria 16 a 18 estádios. Fizeram, as obras estão feitas, algumas precisam acabar.

            Acho que, se o Governo apostou na Copa do Mundo para, como resultado, ganhar a eleição, jogou dinheiro fora, porque, na verdade, não vejo como haverá votos para o Governo por causa dos 7 a 0. Se a oposição jogou em bater no Governo depois de que o Brasil perdesse, também não foi o caso, porque o que somou foi o resultado, somou para o Brasil, para o país Brasil; nós, apaixonados pelo futebol, sofremos.

            Eu era um guri e lembro até hoje quando chorei. De uma hora para outra, o gol de Ghiggia, ao final, que nós não imaginávamos.

            Entramos campeões. Com 1 a 0, já éramos campeões, e, de repente, 2 a 1 a favor do Uruguai. Desta vez, foi realmente algo inesperado. Eu não me lembro, na minha vida, de ter sentido uma emoção tão indescritível como aqueles gols um atrás do outro que eles fizeram. Aqueles 6 a 0 foram qualquer coisa realmente fantástica. Não dá para dizer que foi apenas uma vez. Eu não entendo como aconteceu, porque, três dias depois, levamos 3 a 0. Valeu a pena, Sr. Presidente. Valeu a pena. E o Brasil ganhou uma grande lição. Tenho certeza de que deveremos reparar equívocos e erros no nosso futebol. Devemos entender que o Brasil criou um futebol real, um futebol profissional, popular. Nas vilas, nos bairros, nos campos, nas ruas, as crianças de pé descalço, peladas. Hoje, isso não mais existe. Na minha cidade, em Porto Alegre, na minha região, não tem mais onde encontrar uma pelada para se jogar bola. Hoje, a coisa é mais profissionalizada. O Brasil tem que dar uns lances a mais. Eu acredito que dará. Eu acredito que valeu a pena. Eu acredito que essa imagem que nós vendemos para o mundo valeu a pena.

            Por isso, digo aqui, com todo respeito: não ganhou o Governo. Se jogou tudo o que jogou para ganhar votos, é capaz de perder mais do que ganhou. E não ganharam aqueles que queriam transformar o Brasil numa anarquia para, na hora dos jogos, sair uma confusão que vendesse essa imagem para o exterior. Eu acho que o Brasil ganhou. E, ganhando o Brasil, foi bom para nós.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/07/2014 - Página 340