Discurso durante a 108ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem ao escritor Ariano Suassuna, falecido ontem; e outro assunto.

Autor
Rodrigo Rollemberg (PSB - Partido Socialista Brasileiro/DF)
Nome completo: Rodrigo Sobral Rollemberg
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF). HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao escritor Ariano Suassuna, falecido ontem; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 25/07/2014 - Página 122
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF). HOMENAGEM.
Indexação
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO, DESIGUALDADE SOCIAL, LOCAL, ENTORNO, DISTRITO FEDERAL (DF), DEFESA, PROVIDENCIA, OBJETIVO, MELHORIA, TRANSPORTE COLETIVO URBANO, REGISTRO, PROPOSTA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB), REFERENCIA, TRANSFORMAÇÃO, FERROVIA.
  • HOMENAGEM POSTUMA, ARIANO SUASSUNA, ESCRITOR, PARTICIPANTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB), COMENTARIO, HISTORIA, VIDA.

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco Apoio Governo/PSB - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Anibal.

            Eu quero, em primeiro lugar, cumprimentar os novos Senadores, nossos colegas, o Senador Kaká Andrade e o Senador Fleury, que representam dois Estados com os quais tenho forte ligação: o Estado de Sergipe, de onde são os meus pais... E aqui cumprimento a família do Senador Kaká Andrade. De forma especial, cumprimento o Deputado José Franco, amigo de longa data, e, em nome dele, toda a comitiva que acompanha a posse do Senador Kaká Andrade.

            E gostaria de dizer também, Senador Fleury, que tenho a honra de ter recebido o título de Cidadão Honorário Goiano e de Cidadão Honorário de Luziânia, pelas fortes ligações que tenho com o Estado de Goiás. Realmente, essa região metropolitana de Brasília, essa região chamada de Entorno, até preconceituosamente chamada de Entorno, tem se constituído, ao longo dos anos, na região do “nem” - nem Goiás cuida, nem o Distrito Federal cuida, nem a União cuida; e é importante que todos cuidem!

            Enquanto temos aqui, no Distrito Federal, uma renda média per capita anual de R$63 mil, a maior do Brasil, o Município de Águas Lindas, a menos de 50km do Palácio do Planalto, tem uma renda média per capita anual de R$2,8 mil. É uma disparidade; é uma agressão. Não podemos conviver com isso.

            Os moradores da região do Entorno de Brasília gastam muitos deles mais de duas horas por dia para vir e mais de duas horas para voltar. Ou seja, gastam metade uma jornada de trabalho dentro de ônibus lotados, tempo que poderia estar sendo dedicado às suas famílias, ao seu lazer, ao seu descanso.

            Na sua capital, Goiânia, existe integração entre Goiânia e 18 cidades da região metropolitana, com a instituição, inclusive, de uma tarifa única. A integração precisa ser feita aqui, entre o Distrito Federal e sua região metropolitana também, um dos projetos que defendemos com entusiasmo. E a Sudeco, sob a gestão do PSB, iniciou os estudos no sentido de transformar o trem, a linha de ferro já existente entre Brasília e Luziânia, em trem de passageiros. Entendemos que essa é uma alternativa para reduzir os problemas de mobilidade do Entorno Sul.

            Quero dar as boas-vindas a V. Exª e ao Senador Kaká Andrade, dizendo que teremos oportunidade aqui de debater os grandes temas de interesse dos Estados e da União.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, assumo a tribuna, hoje, para homenagear o queridíssimo Ariano Suassuna.

            Um artista que se fez a própria obra não pode morrer. Ariano Suassuna traduziu o sentido exato e pleno de ser um mestre, imortal em palavras, obras, imagens e invenção.

            Ariano, Presidente de Honra do meu Partido, Presidente de Honra do Partido Socialista Brasileiro, incorporava, concretamente, cada criação sua por vivência, carisma, brilho e genialidade no espelho amoroso de quem é apaixonado por sua terra e sua gente.

            Um dos raros mestres que se fez universal por ser radicalmente local; cósmico por ser extremamente nacional, não do território, mas pela alma do Brasil profundo, um Brasil que ele soube tão bem traduzir, que se fez forte e diverso por sua cultura, que aprende a beber da fonte de suas raízes, das novas estéticas, das novas linguagens e do compromisso generoso com a gente brasileira.

            Como um cavaleiro andante, como os dos contos maravilhosos ou dos versos do Cordel, Ariano Suassuna cumpriu a sua missão: defendeu com paixão e sabedoria a cultura nordestina - não só nordestina, mas a cultura brasileira.

            Ariano mostrou que erudito e popular se renovam e se fortalecem pelo diálogo, reconheceu e difundiu valores essenciais e esquecidos do nosso País, num tempo em que falar em originalidade e preservação chega até a soar mal e ultrapassado na via de mão única de pasteurização da arte pelo mercado.

            A vanguarda assumida pela tradição será, sem dúvida, o legado eterno do nosso mestre Suassuna, pois só um mestre como Ariano Suassuna pode chegar, pelo imaginário, no coração das coisas, feitos e saberes de um Brasil que vive, que pulsa além das aparências. Um retirante por caminhos simbólicos que consagrou a tradição e o requinte da cultura popular feita de uma erudição que só os gênios percebem.

            Mas sua missão foi muito maior que a sua arte. Ariano deixou uma trajetória transformadora no ensino e na vida política. Socialista, foi Presidente de Honra do PSB, foi Secretário de Cultura de Pernambuco durante o terceiro governo de Miguel Arraes, de 1995 a1998; e no primeiro governo de Eduardo Campos, de 2007 a 2010.

            Foi um dos fundadores do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco, participou do Conselho Federal de Cultura e foi também Secretário de Educação e Cultura do Recife, de 1975 a 1978. Atualmente, ele contribuía com a elaboração do programa de governo nas áreas de cultura e educação de Eduardo Campos e Marina Silva.

            Estive com o Ariano, pela última vez, no anúncio da aliança do PSB com a Rede, aqui em Brasília, em abril deste ano, quando ele nos deu, como sempre, uma verdadeira aula de brasilidade. Falou bonito sobre o poder transformador da cultura na política. Lembrou das palavras de Miguel Arraes, que considerava a cultura "a iluminação da política". No caso, não a luz dos holofotes obtusos da eleição, mas a luz norteadora do sentido efetivamente público do poder, que conduz e clareia novos processos e novas formas de se fazer política. Um poder oficial que só se faz legítimo se estiver lado a lado do poder real, do poder cidadão, que pensa e escreve a sua própria história.

            Sr Presidente, era sempre gratificante ouvir este mestre e incorporar, com alegria e dedicação de aprendiz, um pouco da sua sabedoria e da sua simplicidade. Ele, que foi imortal da Academia Brasileira de Letras e candidato oficial do Brasil para o Prêmio Nobel da Literatura em 2012, não via diferença entre honrarias internacionais e locais, autoridades oficiais e as legitimadas pelo povo. Sabia como ninguém distinguir "o importado do importante", como diz o meu amigo e poeta TT Catalão.

            Só mesmo um mestre como Suassuna para dizer, com humor e irreverência, em suas brilhantes aulas-espetáculo: "Não troco o meu 'oxente' pelo 'o.k.' de ninguém!"

            Imagino a tristeza, a dor, que neste momento deve estar sentindo Eduardo Campos. Vi, emocionado, um depoimento também emocionado de Eduardo Campos sobre o que significou na sua vida, como verdadeiro pai, tio, mestre, amigo, companheiro, Ariano Suassuna.

            É este um dos maiores dramaturgos do País. Romancista, ensaísta, poeta, filósofo, advogado, professor, pensador e, sobretudo, mestre da brasilidade que, além da cultura oficial, consagrou a sabedoria brasileira, culta e também oculta, para quem não percebe o povo criador e só enxerga o popular como massa de consumo.

            O Brasil conseguiu existir mais vivo com Ariano Suassuna para melhor resistir a quem o quer fazer pequeno, submisso e sem identidade. Seu legado permanecerá como maior inspiração para a renovação do País, em seu curso civilizatório, pelo destino generoso e cidadão sonhado por este "realista esperançoso" para a Nação brasileira.

            Ariano Suassuna vive. Ariano Suassuna viverá!

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/07/2014 - Página 122