Discurso durante a 121ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre a missa de sétimo dia de falecimento do ex-Governador de Pernambuco Eduardo Campos.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. ELEIÇÕES.:
  • Comentários sobre a missa de sétimo dia de falecimento do ex-Governador de Pernambuco Eduardo Campos.
Aparteantes
Fleury, Odacir Soares.
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/2014 - Página 17
Assunto
Outros > HOMENAGEM. ELEIÇÕES.
Indexação
  • COMENTARIO, VISITA, ORADOR, CERIMONIA RELIGIOSA, HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO DE MORTE, EDUARDO CAMPOS, EX GOVERNADOR, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), REGISTRO, IMPORTANCIA, RECONHECIMENTO, LIDERANÇA, POLITICA, ELOGIO, GESTÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, CONTRIBUIÇÃO, MELHORIA, REALIDADE, BRASIL.
  • ANUNCIO, INICIO, PROPAGANDA ELEITORAL, RADIO, TELEVISÃO, COMENTARIO, IMPORTANCIA, ELEITOR, CONHECIMENTO, BIOGRAFIA, PROPOSTA, CANDIDATO, ELEIÇÕES.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Caro Senador Ruben Figueiró, do PSDB do Mato Grosso do Sul, nós do Partido Progressista - que nesta Casa tem como Líder o grande Senador Francisco Dornelles, que representa, com muita responsabilidade e comprometimento, a sociedade fluminense, o Estado do Rio de Janeiro -, da mesma forma como já registrou aqui o Senador Casildo Maldaner, que me antecedeu nesta tribuna, e também o Senador Odacir Soares, de Rondônia - e certamente outras manifestações virão -, hoje estamos marcando o sétimo dia da morte trágica não só de Eduardo Campos, um grande líder, mas também das outras vítimas fatais daquela tragédia que continua sendo inexplicável.

            Nós precisamos encontrar, com a ciência, com a tecnologia, as razões e as causas desse gravíssimo acidente, que, por muito pouco, talvez por obra do destino e, quem sabe, do próprio Deus, que rege a humanidade - e eu acredito em Deus -, tenha tirado Marina Silva daquela aeronave. Marina Silva, que estava presente à missa de sétimo dia, agora, há pouco, na Catedral - e o Senador Fleury acabou de falar -, como sempre, contrita, dizendo, reconhecendo que tem medo de avião e que preferiu um avião de carreira a acompanhar o candidato Eduardo Campos naquela trágica manhã de quarta-feira.

            Entendo, Senador, a sua referência. Como jornalista por 40 anos, também percebo que às vezes o excesso não é por falta de respeito; o excesso é pela necessidade que o jornalista ou o fotógrafo tem de encaminhar, hoje, com as redes instantâneas de comunicação, a informação para a sociedade, que não pôde estar presente àquela missa ou àquela cerimônia. E tudo tem sinal, tudo transmite o sentimento daquele momento, seja o olhar triste, seja o olhar contrito, a atitude de absoluto luto pela morte de um líder tão expressivo no Brasil como o Eduardo Campos. E eu até recolhi, na saída da Catedral de Brasília, e V. Exª também deve ter recebido, distribuído pelo PSB...

            E esta manifestação que faço, em nome do Partido Progressista, é em solidariedade ao PSB, que estava lá representado pela Senadora Lídice da Mata e pela Deputada Luiza Erundina, que falaram na Homilia e também na pregação do Evangelho, e também pelo Senador Rodrigo Rollemberg, que tomou a iniciativa de uma cerimônia religiosa oportuna. O celebrante até fez um registro muito significativo, quando falou da coragem de Eduardo Campos de assumir a sua religiosidade no meio da pluralidade religiosa que acontece no Brasil. Eduardo Campos, como grande parte dos nordestinos, era católico como V. Exª. Então, esse registro também foi uma forma de dizer que tipo de perfil político, que tipo de homem era aquele que morreu naquele trágico acidente.

            Com a foto entregue aos que foram participar daquela cerimônia muito comovente, onde estavam presentes não apenas o Vice-Presidente da República Michel Temer, mas a figura central que é hoje Marina Silva, e todos os representantes do PSB nesta Casa - Senador Valadares, Rodrigo Rollemberg, Lídice da Mata, Senador Capiberibe -, que estavam lá todos contritos, e os Deputados todos, lá foi entregue aquela frase memorável que nos remete a uma reflexão: “Não vamos desistir do Brasil. É aqui onde nós vamos criar nossos filhos. É aqui onde nós temos que criar uma sociedade mais justa.” Essa foi uma das frases mais emblemáticas, mais fortes, mais significativas, e ela resume muito o compromisso e a missão que tinha nas mãos Eduardo Campos e que, agora, passa às mãos de Marina Silva.

            Para nossa alegria, para nós do Rio Grande do Sul, o Deputado Beto Albuquerque, Líder do PSB na Câmara Federal, há muito informação corrente de que ele poderá ser o vice de Marina de Silva. O Rio Grande do Sul ficará muito bem representado. São políticos dessa envergadura, dessa grandeza pessoal e também de comprometimento, com atitudes sóbrias, com atitudes corajosas, com atitudes de comprometimento com a sociedade, com valores, com sensibilidade e percepção dos dramas sociais que o Brasil vive, da situação difícil que a economia passa. É apenas um reconhecimento, e temos essa responsabilidade de reconhecer o que estamos passando e que exige de todos nós, Senador, uma participação e uma dose de generosidade, a despeito de termos divergências ideológicas ou partidárias.

            Quando tratamos dos interesses dos nossos Estados - como V. Exª faz muito bem com relação ao seu Mato Grosso do Sul e eu, com relação ao meu Estado, o Rio Grande do Sul, que tenho a honra de representar aqui, ou todos os outros Senadores, de Goiás, de Rondônia, que estamos aqui -, nós temos, também, que receber a mensagem e o exemplo de Eduardo Campos no sentido de mostrar que é possível, sim, fazer política de maneira altiva e responsável, ter ficha limpa na política e compromissos reais de enfrentamento dos problemas, que são muito grandes, mas que só a união da sociedade pode superá-los.

            Com muita alegria, concedo um aparte ao caro Senador de Goiás. (Pausa.)

            Nós esperamos, pois seu microfone está com algum defeito, não é Senador?

            O Sr. Fleury (Bloco Minoria/DEM - GO) - Senadora Ana Amélia, quando eu me referi aos profissionais da comunicação, não me referi no momento porque achei trágico. A senhora é uma pessoa que o Brasil inteiro reconhece como a maior defensora do agronegócio, quando a senhora tinha um programa no Canal Rural. Sempre falamos - eu, que sou um homem que nasci e vivi em fazendas, extremamente rural, aprendi muito - que tínhamos a senhora como a maior defensora do agronegócio, era a voz do agronegócio. Agora, eu me referi à multidão para fotografar o Vice-Presidente. Essa foi a minha indignação. A assessoria dele... Não sei se foi a assessoria dele que provocou aquilo, mas ficou muito feio, para mim, que sou um homem católico. Porque não foi durante a missa, foi simplesmente para fotografar o Vice-Presidente, que estava fazendo um papel de viúva. Foi isso o que eu senti. Então, se nas minhas palavras magoei os fotógrafos, quero pedir desculpa. Mas o que fizeram... A senhora estava presente, e tenho certeza de que, como católica, no fundo do coração, a senhora respeita aquele crucifixo que estava atrás. Obrigado.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - Sem dúvida, Senador Fleury, a liturgia não só a religiosa, mas a própria liturgia do poder exige de todos nós, pessoas, respeito a esses códigos, a essas circunstâncias. Então, a minha observação foi para mostrar o dilema que temos entre a liturgia do comportamento... Antigamente, para se entrar em uma igreja, as mulheres precisavam de um véu e não podiam entrar de calça comprida, e era de roupa discreta; em alguns templos, também não se pode usar mangas cavadas; para se chegar ao Papa, é preciso estar de véu preto, de roupa escura. Em algumas cerimônias, continua essa liturgia. Em alguns templos não católicos, da mesma forma. E é natural a observação de V. Exª a respeito dessa questão.

            Mas, no momento em que o jornalista ali está, ele está cobrindo não propriamente um ato religioso.

            O simbolismo do ato religioso esgotava-se na presença daquelas figuras tão relevantes para a vida nacional, como a do Vice-Presidente Michel Temer, a quem eu respeito muito, um grande constitucionalista - especialmente me refiro à Senadora Marina Silva, candidata que agora vai assumir o lugar de Eduardo Campos, mas todo o entorno da cerimônia, com a contrição dos Parlamentares do PSB, que perderam o seu grande líder, o seu grande timoneiro... E era natural a vontade profissional de um jornalista captar uma lágrima, captar um semblante triste, captar o clima daquela cerimônia. E para mim foi uma cerimônia tocante, Senador. Foi tocante ver as figuras que realmente, quando subiram ao púlpito, como a Deputada Luiza Erundina, ex-Prefeita de São Paulo, a Senadora Lídice da Mata, o Senador Rodrigo Rollemberg... Percebia-se claramente, até na roupa que vestiam, na sobriedade do preto. Preto é luto, Senador. Então aquilo, toda aquela cerimônia, havia ali a liturgia religiosa, mas havia uma carga de representação da história brasileira e política ali, naquele momento. A Catedral Metropolitana de Brasília... Tanto que o celebrante, antes de encerrar a missa, de dar a benção aos fiéis, aos católicos e não católicos que estavam ali - a Marina é evangélica, estava contrita naquela cerimônia -, ele leu o nome de todas as autoridades que ali estavam presentes. Isso não é comum numa cerimônia, numa missa de sétimo dia, mas tudo muda pelo tamanho do significado daquela cerimônia religiosa.

            Então eu respeito e penso que V. Exª, pela fé, por ser, como disse, um católico praticante, entende o que eu estou tentando explicar pelo entendimento, porque fui, por 40 anos, jornalista. Tive o privilégio de estar com João Paulo II e de ter uma foto com ele segurando a minha mão. Acho que benção maior do que essa não pode, como muitos líderes religiosos que me encantaram também pelos ensinamentos de todas as religiões. Eu acho que isso é que nos deixa melhores, porque cada um tem um pedaço para nos ensinar da vida. E nos ensinar a crer que algo superior existe a reger a nossa vida e o nosso próprio destino.

            Então é por isso que eu fiz questão de... Não é uma defesa, mas é para entender, digamos, a ansiedade que o jornalista ou o fotógrafo tem, que não é para desrespeitar o tempo, mas para que mais rapidamente a sociedade enxergue aquela cena com os olhos dele, fotógrafo ou repórter. Esse é o dilema que nós temos.

            Eu lhe agradeço muito a interveniência.

            Concedo o aparte também ao Senador Odacir Soares.

            O Sr. Odacir Soares (Bloco Maioria/PP - RO) - É apenas para registrar, nobre Senadora, que o meu entendimento sobre esse fato que foi inicialmente levantado pelo eminente Senador Fleury é que, às vezes - eu também sou jornalista -, às vezes a imprensa exagera. Mas é do seu papel exagerar. É papel da imprensa exagerar para colher realmente, como V. Exª já mencionou e já registrou, todos os aspectos daquele evento, daquela solenidade, qualquer que seja a sua coloração, qualquer que seja a sua destinação, qualquer que seja o seu móvel. Então é da imprensa exagerar, é da imprensa extrapolar, às vezes, o limite do cerimonial, no caso específico, da liturgia. Mas eu queria também registrar que dentre os mortos desse acidente estava um ex-colega nosso, aqui do Congresso Nacional, o ex-Deputado Pedro Valadares Neto, que foi Deputado Federal, se não me engano, durante uns três mandatos na Câmara dos Deputados e que quando eu estive aqui, nas duas vezes em que estive aqui como Senador, de 1983 até 1999, ele estava sempre conosco aqui no plenário, conversando. Nessa campanha de Eduardo Campos, era o seu assessor político direto, que também foi vítima desse acidente. De modo que V. Exª faz muito bem quando aborda a cerimônia religiosa que foi realizada na Catedral de Brasília, sob as bênçãos do Arcebispo de Brasília, Dom Sérgio Rocha, e que homenageou...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O Sr. Odacir Soares (Bloco Maioria/PP - RO) - ...de certa maneira - a palavra correta não seria homenagear, porque foi uma missa de sétimo dia, de pesar pela morte do grande brasileiro que foi Eduardo Campos, que deixou entre nós um exemplo muito grande de como se deve exercitar a vida pública, como se deve governar um Estado e como se deve ser candidato à Presidente da República. Parabéns a V. Exª pela abordagem que faz.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - Muito obrigada.

            O Valadares Neto é inclusive sobrinho do nosso colega Antonio Carlos Valadares, de Sergipe, e era um dos principais assessores jurídicos do candidato Eduardo Campos.

            Então, de fato, foi um momento... E hoje, como foi referido aqui pelo Senador Casildo Maldaner, começando o horário eleitoral... Eu, como todos sabem, sou candidata ao Governo do Estado. Estou aqui hoje, vim para essa cerimônia religiosa em memória a Eduardo Campos, com quem tive convivência, conversamos muitas vezes na companhia do grande líder Beto Albuquerque, também com o Senador Jarbas Vasconcelos, que perdeu um grande líder e aliado agora nessa disputa presidencial.

            Eu gravei uma pequena mensagem, antes de iniciar a campanha eleitoral, manifestando a solidariedade da nossa coligação, que são quatro  
partidos - o PP, o PSDB, o Solidariedade e o PRB, lá no Rio Grande do Sul -, aos companheiros do Rio Grande do Sul do PSB, que lá estão coligados com o PMDB, com a candidatura ao Governo do Estado do ex-Prefeito de Caxias do Sul e ex-Deputado José Ivo Sartori.

            Fiz isso porque penso também - e chamei a atenção - que a melhor homenagem que nós podemos prestar à memória, à missão e ao papel que teve Eduardo Campos, jovem, 49 anos, é fazer uma campanha eleitoral absolutamente respeitosa, mesmo nas divergências, mas com um nível de respeito. Nós somos adversários, mas não somos inimigos. É esse o conceito que devemos ter nessa disputa.

            Então, no que depender de nós, da nossa Coligação “Esperança que une o Rio Grande”, será feito dessa forma absolutamente respeitosa. Não aceitaremos provocações e nos comportaremos com muito respeito e muita dignidade em relação a todos os que estão participando desse embate.

            Independentemente das posições políticas, de alianças partidárias ou de discordâncias de opiniões, é preciso reconhecer a importância de lideranças que são capazes de construir e transformar para melhor a realidade social, econômica e política de nosso País.

            Como afirmou, aliás, um editorial da revista IstoÉ desta semana, escrito pelo Diretor Carlos José Marques, Eduardo Campos foi um líder inovador quando ousou se lançar como uma terceira via à polarização PT/PSDB, que prevalece na corrida presidencial há quase duas décadas. O candidato Eduardo Campos, ex-Governador de Pernambuco - e é um Estado muito parecido com o nosso Rio Grande do Sul, Senador Ruben Figueiró -, trouxe consigo um conjunto de credenciais que fazia jus ao tamanho da missão e da empreitada.

            Herdeiro do mitológico avô Miguel Arraes, Campos trilhou uma trajetória fulgurante desde a política estudantil na Universidade Federal de Pernambuco até o governo do seu Estado, de onde saiu após dois mandatos com o maior índice de aprovação do País entre os governadores da sua geração.

            E não era para menos. Campos, como mandatário estadual, adotou uma forma diferente de fazer política e de exercer o poder em sintonia com o que há de mais inovador, uma governança altamente qualificada. Baseou sua administração na meritocracia e na intolerância ao mau uso da coisa pública, os chamados malfeitos. Adotou práticas típicas do setor privado, como o estabelecimento de metas e prêmios por desempenho, alcançando resultados extraordinários. Multiplicou os investimentos privados em Pernambuco. Derrubou os números de homicídios, até então recordes. Impregnou a região com uma atmosfera de modernidade administrativa e justiça social que o converteu naturalmente numa liderança nacional.

            Em um feito surpreendente, capaz de medir o tamanho da popularidade que construiu há cerca de dois anos, Eduardo Campos se colocou contra o conterrâneo e maior ícone político de sua terra, Lula, na disputa pela Prefeitura de Recife. Indicou um candidato próprio que levou o cargo no primeiro turno frente ao apadrinhado do ex-Presidente. Ao vencer Lula numa queda de braço local, Campos mostrou força e rompeu ali os laços da aliança que até então os unia e que o havia transformado em Ministro de Lula para dar início ao grande projeto de concorrer à Presidência.

            Eduardo Campos trouxe para as suas fileiras, em mais uma jogada sagaz e inesperada que ninguém, em nenhum momento, previu no Brasil, no ambiente dos caciques, a Senadora, ex-Ministra e ambientalista Marina Silva, que se colocou como vice em sua chapa, com o dote de mais de 20 milhões de votos arrebanhados na última eleição, quando havia concorrido, ela mesma, à Presidência.

            Campos tinha a habilidade rara de trafegar entre a esquerda xiita e a direita mais conservadora de maneira envolvente e respeitosa, sem macular seus princípios ou se desviar um milímetro do rumo traçado e foi, por isso mesmo, capaz de costurar alianças impensáveis e de superar impasses tidos como insolúveis. Era admirado por todos os adversários. O próprio ex-Presidente Lula, apesar dos pesares, não havia abandonado o sonho, que acalentou por anos, de dividir com ele uma futura chapa presidencial mais adiante. Aécio Neves, meu candidato agora à Presidência da República, em plena sintonia com suas propostas, o via como um parceiro de projeto para o Brasil. E mesmo Dilma enxergava nele um companheiro de luta.

            Com tamanha unanimidade, Eduardo Campos empreendeu uma marca singular na vida política brasileira. Como um dos mais promissores gestores de sua geração, egresso de uma dinastia familiar e de uma estirpe de homens públicos que lutou até o fim por ideias republicanas e princípios democráticos, saiu de cena prematuramente, aos 49 anos, de maneira trágica e lamentável - por ironia do destino, no mesmo dia em que faleceu o seu avô, Miguel Arraes.

            Foi profética, na última entrevista que concedeu, na noite anterior ao acidente, ao Jornal Nacional, a frase que ele disse e que agora foi entregue aos que participaram da Missa de Sétimo Dia. "Não vamos desistir do Brasil", disse ele. Com a sua morte, deixa uma lacuna muito grande, mas também um grande legado. Fazia parte de seus planos, por exemplo, ampliar nacionalmente experiências revolucionárias como a da erradicação do analfabetismo a partir de um modelo, já testado com sucesso, de aulas em horário integral. Campos pensava adiante, como um novo político para um novo tempo.

            Outro artigo escrito pelo editor especial André Petry, publicado na edição da revista Veja desta semana, mostra o quão importante é a influência dos líderes políticos para os rumos da história de uma nação.

            Em meados da década passada, dois economistas americanos chamados Benjamin Jones e Benjamin Olken tentaram medir matematicamente a relevância de líderes políticos nacionais. Concluíram, após cruzar dados econômicos antes e depois da morte dessas lideranças, que a figura do primeiro mandatário faz uma diferença de cerca de 1,5% no crescimento do Produto Interno Bruto, PIB. Veja só o significado que é uma presença como um grande líder.

            Isso significa, no caso do Brasil, 500 mil empregos na iniciativa privada e mais de R$75 bilhões em riquezas geradas. Esses são, segundo os economistas, os impactos que as lideranças podem causar na sociedade. Por isso, a relevância dos líderes e daqueles que têm a missão de orquestrar a história.

            Precisamos de líderes em todas as instâncias, nos âmbitos federal, estadual e municipal. Os líderes são necessários na comunidade, nas empresas e em quaisquer ocasiões em que as mudanças são necessárias. Penso, portanto, que esse deve ser o foco do momento, especialmente neste período de eleições.

            Menos de 50 dias nos separam do dia 5 de outubro. Que o sopro das ideias de Eduardo Campos contagie, inspire e também sirva de modelo aos mandatários que irão tocar os Estados e também o País.

            Penso que esta manifestação, Senador Ruben Figueiró, caros colegas Senadores, é apenas o registro e o reconhecimento - e o faço com muita honra, em nome do Partido Progressista e do nosso querido Líder Francisco Dornelles - para dimensionar o que significa para a vida brasileira.

            Hoje começa a propaganda eleitoral partidária no rádio e na televisão, que vai até o dia 2 de outubro, três dias antes da votação no primeiro turno, que será no dia 5. Esse espaço criado pela Lei Eleitoral é o momento para que cada um dos eleitores de qualquer Estado do País conheça as propostas, como bem frisou o Senador Casildo Maldaner, de Santa Catarina, dos candidatos aos cargos de Deputado Estadual, Deputado Federal, Senador, Governador e Presidente da República.

            Os dias e os horários da propaganda eleitoral foram definidos pela Lei das Eleições, de 1997. É, portanto, importante momento de avaliar as propostas, mas, sobretudo, avaliar, como disse bem o Senador Maldaner, as biografias das pessoas que vão pedir o voto para os eleitores.

            Como é de praxe, a ordem da exibição dos programas e o tempo dos 11 candidatos à Presidência da República, por exemplo...

            O Sr. Odacir Soares (Bloco Maioria/PP - RO) - Senadora...

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - ... foram definidos pelo...

            O Sr. Odacir Soares (Bloco Maioria/PP - RO) - É só para acrescentar uma frase. Nem todos os fichas sujas foram condenados ainda.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - É verdade. Essa insegurança pode ocorrer depois, na hora em que forem eleitos, e o julgamento vier depois do voto, podendo esse voto ficar perdido. Mas aí, o Partido terá a suplência. A condenação, o julgamento será depois de um colegiado maior.

            Mas, de qualquer modo, Senador Odacir, penso que é uma forma de o eleitor ficar observando a biografia dos candidatos. Evidentemente que o direito de defesa num regime democrático é fundamental. Sem ele, nós não temos democracia, não temos Estado de direito. Então, o direito de defesa é todo ele concedido para que ele prove a sua inocência ou não.

            O Sr. Odacir Soares (Bloco Maioria/PP - RO) - Eu disse isso exatamente dentro desta conotação: a de que nem todos os fichas sujas foram condenados, porque o ficha suja não é apenas aquele que foi condenado; é aquele que pelos seus hábitos, pelo seu comportamento, sujou a sua biografia na vida pública, e não foi condenado ainda.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - Então, é bom prestar atenção nessa biografia mesmo. Senador, o senhor me ajuda também. É exatamente esse o ponto de vista e nisso concordamos.

            Como é de praxe, a ordem da exibição dos programas e o tempo dos 11 candidatos à Presidência foram definidos pelo Tribunal Superior Eleitoral. De acordo com o sorteio, o primeiro programa será da coligação Unidos pelo Brasil, do candidato Eduardo Campos, agora, Marina Silva; seguido por Mauro lasi, do PCB; Zé Maria, do PSTU; Aécio Neves, do PSDB; Dilma Rousseff, do PT; Levy Fidelix, do PRTB; Eymael, do PSDC; Rui Costa Pimenta, do PCO; Pastor Everaldo, do PSC; Eduardo Jorge, do PV; e Luciana Genro, do PSOL. Nos programas seguintes, a ordem seguirá o critério de rodízio.

            É importante lembrar que o tempo do programa de cada coligação foi definido com base na representação dos Partidos na Câmara dos Deputados. De acordo com a resolução do TSE, que trata desse assunto, a coligação "Com a Força do Povo", da candidata à reeleição Dilma Rousseff, terá 11 minutos e 24 segundos. A coligação "Muda Brasil", do candidato Aécio Neves, ficou com 4 minutos e 35 segundos; e a Marina Silva, do PSB, da Coligação "Unidos pelo Brasil", terá 2 minutos e 3 segundos.

            Penso também, Senador, que a comunicação é importante. Para quem sabe se comunicar, dois minutos podem equivaler a dez. Tudo vai depender da capacidade de, naquele tempo, ser capaz de emitir uma mensagem em que o eleitor confie.

            Muito obrigada.

            O SR. PRESIDENTE (Ruben Figueiró. Bloco Minoria/PSDB - MS) -Senadora, eu gostaria de, pelo respeito e pela admiração que tenho por V. Exª, várias vezes demonstrados, pedir escusas à senhora, porque eu tive um lapso de memória. Quando a convoquei para ocupar essa tribuna, eu disse que V. Exª era do Partido Popular, quando, na realidade, é do Partido Progressista, conforme V. Exª, aí da tribuna, ressaltou. Esse lapso de memória talvez seja em razão de um passado já remoto, porque, quando Magalhães Pinto e Tancredo Neves organizaram o Partido Popular, eu a ele me filiei. Talvez em razão disso, e até por identidade de pensamento, cometi esse lapso pelo qual peço escusas a V. Exª, Senadora Ana Amélia.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - Mas não é. O senhor cita também um político, como falei agora no avô de Eduardo Campos. Tancredo Neves é o avô de Aécio Neves e também teve um papel extraordinário na transição democrática brasileira. Então, nós estamos diante de figuras de que a história já reconhece o legado que deixaram, o patrimônio que fizeram - foram avalistas da redemocratização - os dois: Miguel Arraes e Tancredo Neves, e seus sucessores. Lamentavelmente, não temos mais Eduardo Campos, mas temos Aécio Neves.

            Obrigada, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/2014 - Página 17