Discurso durante a 121ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do candidato à Presidência da República Eduardo Campos e de seu assessor Pedro Almeida Valadares Neto, com destaque para a trajetória política de ambos.

Autor
Kaká Andrade (PDT - Partido Democrático Trabalhista/SE)
Nome completo: Antonio Carlos Porto de Andrade
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Pesar pelo falecimento do candidato à Presidência da República Eduardo Campos e de seu assessor Pedro Almeida Valadares Neto, com destaque para a trajetória política de ambos.
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/2014 - Página 23
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, EDUARDO CAMPOS, EX GOVERNADOR, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), PEDRINHO VALADARES, EX-DEPUTADO, VITIMA, ACIDENTE AERONAUTICO, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            O SR. KAKÁ ANDRADE (Bloco Apoio Governo/PDT - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Figueiró.

            Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, pessoas queridas que nos acompanham Brasil afora pela internet e através do complexo de comunicação do Senado Federal, o Senado Federal espelha o sentimento de tristeza e de desolação que atingiu o País na última quarta-feira, 13 de agosto. Estamos todos aqui ainda perplexos com o acidente aéreo acontecido no litoral paulista, em que faleceram sete integrantes, dentre os quais o ex-Governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o ex-Deputado Federal, Pedrinho Valadares.

            Viemos todos, agora, da Catedral Metropolitana de Brasília, onde participamos da missa de 7º dia em memória de todos eles. Eduardo Campos, nascido em 1965, e com recém-completados 49 anos de vida, caminhava para as eleições presidenciais, ostentando a terceira colocação nas pesquisas e tinha expectativa de atingir melhores índices, logo após o início da propaganda eleitoral obrigatória nos programas de rádio e televisão.

            Era verdadeiramente possível que isso viesse a acontecer, sobretudo, após sua entrevista no Jornal Nacional, uma das últimas que concedeu e na qual pudemos apreciar uma avant-première do que viria a ser a sua comunicação nacional com os eleitores.

            Eduardo Campos mostrou-se verdadeiro, propositivo, sereno ante as pressões recebidas e corajoso para responder a todas as indagações. Não fugiu de nenhuma pergunta e ainda encerrou sua fala com uma profissão de fé no País, lugar em que, disse ele, é onde haveremos de criar os nossos filhos. E, é claro, terminou pedindo votos! Aquele programa talvez fosse o impulso inicial que sua campanha necessitava até as eleições, para aproximá-lo do segundo turno. Tanto que se despediu dos jornalistas com um afável "vejo vocês no segundo turno".

            Aquela sua convicção não teve tempo de se realizar, e isto ora nos consterna a todos.

            Somos habituados a esperar que uma existência atinja todas as suas fases, cumpra todos os seus ciclos, até a velhice. Imaginamos necessários 80, 90 ou até mesmo 100 anos para se cumprir toda uma história. Quando a vemos assim abreviada, com tão menos tempo, e de forma tão abrupta, como aconteceu aos sete integrantes daquele jato, todos jovens para o padrão de hoje, a sensação de inconformismo tende a disputar espaço com o esforço para aceitarmos o destino, mas não se devendo medir a vida por tempo, por anos ou por décadas, e sim por aquilo que nela se fez.

            E na arte de fazer, Eduardo Campos foi prodigioso. Como bem revelava em inúmeras entrevistas, desde o nascer estava envolto na política, ainda no seio de sua família. Nasceu em 1965, após o golpe militar, neto por parte de mãe de Miguel Arraes, emblemático ex-Governador de Pernambuco, e filho do poeta Maximiano Campos e da Ministra Ana Arraes.

            Um fato narrado quinta-feira passada pela jornalista Vera Rosa, do Estadão, ilustra sua vocação para a política: escreveu ela que, quando Lula visitou Arraes na volta do exílio, em 1979, Eduardo Campos tinha 13 anos, ao ver o líder sindical pela primeira vez. Sua mãe, a Ministra Ana Arraes, contou que os olhos do filho brilhavam, e arrematou: “Minha avó paterna, Maria Benigna, disse assim: ‘minha filha, prepare-se! Você vai ter a mesma sina que eu: ser mãe de político’.” E seria mesmo.

            Eduardo Campos foi um grande homem público, um político de escol, de consistente preparo intelectual. Com apenas 16 anos de idade, ingressou no curso de Economia da concorrida Universidade Federal de Pernambuco, vindo a ser o orador de sua turma e um dos melhores alunos.

            Aquele jovem estudioso soube muito bem conviver com o político que sempre foi. Em 1985, começa a comandar o diretório acadêmico de sua faculdade e, no ano seguinte, abre mão de iniciar um mestrado em Economia nos Estados Unidos para se dedicar à campanha vitoriosa, para governador, de seu avô Miguel Arraes, cujo gabinete iria chefiar no ano seguinte.

            Só em 1990 procede à filiação ao PSB - Partido Socialista Brasileiro -, agremiação que, em 2005, passaria a presidir, sucedendo seu avô Miguel Arraes, também falecido em um mesmo 13 de agosto. Sempre pelo PSB, elegeu-se Deputado Estadual e, a partir de 1994, Deputado Federal por três vezes consecutivas, com expressivas votações.

            Eduardo Campos licenciou-se da Câmara dos Deputados em 1995 para exercer, sucessivamente, as pastas de governo e de fazenda da gestão Miguel Arraes. Já se delineava ali o grande governador que ele próprio viria a ser mais tarde. E, em 2004, requereu outra licença, desta vez para atender a um convite de seu amigo Lula, para assumir a pasta do Ministério da Ciência e Tecnologia, onde permaneceu até o momento em que não pôde comprometer as suas convicções.

            Ocasiões existem na vida de cada um, em que são necessárias decisões mais graves, menos triviais e menos seguras. É um desatar de nós a nos credenciar para as verdadeiras buscas e procuras do nosso ser. Penso que isso aconteceu com Eduardo Campos no momento exato em que decidiu trocar uma tranquila reeleição para a Câmara dos Deputados pela incerteza da disputa pelo cargo de governador de Pernambuco, uma eleição majoritária das mais aguerridas. Foi ali que ele sentiu que seu destino não mais lhe pertencia, mas sim ao povo de sua terra. Foi ali que ele soltou-se de qualquer amarra que ainda insistisse em desviá-lo da construção do grande homem público em que se transformou.

            Não foi tarefa fácil, mas Eduardo Campos, naquele ano de 2006 elegeu-se governador de Pernambuco com mais de 60% dos votos, cargo para o qual foi reeleito em 2010, dessa vez no primeiro turno. Evoluía ainda mais o imenso político que se construía.

            Ao longo de todos os anos de seus dois mandatos de governador, Eduardo Campos sempre obteve os mais elevados índices de aprovação do eleitorado. Esse reconhecimento foi fruto de um moderno projeto de gestão que desenvolveu e da apresentação de ótimos resultados em várias áreas de seu governo, como a redução dos índices de mortalidade infantil e dos índices de violência, sobretudo do número de homicídios.

            Pernambuco transformou-se em uma ilha de prosperidade, um polo atrativo de investimentos. Memorável em sua administração foi a consolidação do Complexo de Suape, que se transformou em um grande propulsor de desenvolvimento. Além do Porto de Suape, existem no complexo inúmeras indústrias, nas áreas de mecânica, química, naval e logística, contribuindo para a formação de expressivos números de empregos diretos e indiretos, somente aqueles proporcionando cerca de 25 mil postos de trabalho.

            Foi no início deste ano que deixou o Governo do Estado de Pernambuco para disputar o Palácio do Planalto, representando uma possível alternativa de poder intitulada Terceira Via.

            Infelizmente, este pleito já contabiliza pelo menos duas candidaturas com perdas irreparáveis, atingidas que foram pelo imponderável. Não apenas a Terceira Via, de Eduardo Campos, mas também a chapa de Aécio Neves sofreu forte revés com a morte de outro grande homem público e refinado articulador político, o ex-Presidente do PSDB e ex-Senador Sérgio Guerra. Ambos, Eduardo Campos e Sérgio Guerra, são de Pernambuco, que também ainda chora a perda de Ariano Suassuna, tio de Renata Campos, esposa de Eduardo.

            Represento aqui o Estado de Sergipe e, em nome dos sergipanos, apresento nossas homenagens e nossos pêsames às famílias de todos os envolvidos neste acidente e a toda família pernambucana. Também nós, sergipanos, sentimos particularmente esta dor, pois um dos assessores de Eduardo Campos, que também tinha assento naquele voo fatídico, Pedro Almeida Valadares Neto, era de Sergipe.

            Carinhosamente chamado de Pedrinho Valadares, nasceu em Simão Dias, também no ano de 1965. Foi Deputado Federal em várias ocasiões, tendo assumido o mandato, pela primeira vez, em 1991.

            Em nosso Estado, Pedrinho Valadares foi convidado para dar um novo rumo ao turismo. Tinha uma visão moderna desse assunto, possivelmente construída no tempo em que integrou a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados e pôde vivenciar como esse tipo de economia limpa era tratada em inúmeros outros países, vários dos quais visitou pessoalmente.

            Entendia o turismo como fator de integração social e de incremento econômico e foi o criador da Setur (Secretaria de Estado do Turismo), de Sergipe, pasta da qual foi Secretário de 2003 a 2005.

            Nesse período, foi constante a sua participação em todas as feiras e eventos destinadas a divulgar o potencial turístico, como o cânion do Xingó, em Canindé de São Francisco, no alto Sertão sergipano. Soube também imprimir especial destaque à Orla da Atalaia, nossa praia de Aracaju, às cidades históricas, ao São João de Sergipe, ao Pré-Caju, carnaval antecipado que acontece em Sergipe, às praias e à hospitalidade do nosso povo.

            Pedrinho Valadares, moderno, habilidoso e visionário, incentivou o funcionamento de inúmeros voos charters, voos fretados que, em parceria com empresas operadoras de turismo, traziam uma grande quantidade de turistas da Argentina, do Chile e de outros países da América Latina, para o chamado “destino Sergipe”, que, em 2005, superou a marca de 1 milhão de visitantes.

            Com Pedrinho Valadares também trabalhou, Senador Figueiró, uma conterrânea que contribuiu sobremaneira para o desenvolvimento do turismo em Canindé de São Francisco, e no cânion, cidade em que eu tive a oportunidade de ser secretário durante duas gestões em que meu irmão foi prefeito: Silvinha Oliveira. Ela foi uma assessora do Pedrinho Valadares e com ele aprendeu tudo sobre o turismo e, tendo ido para Canindé de São Francisco, transformando a região dos cânions de Xingó no segundo maior destino turístico de Sergipe. Silvinha Oliveira também, tão prematuramente, nos deixou. Aos 44 anos, há dois anos, acometida de um câncer no seio, também nos deixou. É mais uma lacuna que nós temos lá em Sergipe.

            No exercício de seu mandato parlamentar, Pedrinho Valadares conheceu o então Deputado Eduardo Campos, tendo se tornado pessoa de sua estrita confiança, a ponto de ter sido indicado Diretor Superintendente do complexo de Suape e ter se engajado em sua campanha presidencial.

            Eduardo Campos hoje flutua livre dos limites temporais da vida. Já se encaminha para se transformar em um verdadeiro mito, imolado que foi na construção de um sonho. Ninguém mais que ele demonstrava o gosto e o desejo de vencer estas eleições. Dera sinais de que seria candidato há muito tempo. Abdicara de projetos muito mais certos e seguros, como uma eventual eleição para este Senado. Desde que se iniciou esta campanha, foi quem mais viajou para se apresentar à Nação, para mostrar seus propósitos, para permitir que fosse conhecido e avaliado. Mas seu gosto pelo poder era sereno. Queria vencer para servir, para ajudar na construção de um novo destino para o País, para ajudar o seu semelhante. Sua dimensão histórica será ainda muito mais percebida nas próximas gerações.

            Mas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a vida segue adiante. Em memorável e sempre repetido trecho do discurso em que foi designado pela Academia Brasileira de Letras para a despedida a Machado de Assis, Rui Barbosa, que nos assiste neste Plenário, assim pronunciou: "A morte não extingue, transforma; não aniquila, renova; não divorcia, aproxima".

            Eduardo Campos era assim, agregador, uma pessoa amena. Tinha um sol interior, um brilho que insistia em sair dos seus olhos e que outra coisa não nos transparecia, senão demonstrar que ele vivia uma imensa felicidade pessoal, fruto de uma vida admirável, construída ao lado de sua mulher, Renata Campos, companheira de toda a sua existência e mãe de seus cinco filhos.

            A perda familiar é muito grande. Seus filhos são logicamente todos jovens e não terão mais a presença física do pai, embora tenham sempre seu precioso exemplo e a graça de tê-lo tido como pai. A essa família tão bem construída, unida mais ainda nesta hora difícil que Deus designou, quero deixar o meu forte abraço, o meu agradecimento pelo modelo que são para todos nós. Que Deus os abençoe sempre, bem como todas as famílias de todos os ocupantes daquele avião.

            Igualmente grande é a ausência de Pedrinho Valadares - nosso conterrâneo lá de Sergipe -, Carlos Percol, Marcelo Lyra, Alexandre Severo, Marcos Martins e Geraldo da Cunha para suas respectivas famílias, para os seus amigos.

            A Eduardo Campos, esse ser humano tão sublime, esse homem público tão significativo, temos de prestar um compromisso extraído de suas próprias palavras: não vamos desistir do Brasil!

            Era isso o que tinha a dizer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.

            Muito obrigado.

            O SR. PRESIDENTE (Ruben Figueiró. Bloco Minoria/PSDB - MS) - Senador Kaká Andrade, V. Exª, como os demais oradores que passaram por essa tribuna nesta tarde de sessão do Senado, nos faz lembrar de uma expressão que foi dita por um dos maiores democratas que o mundo conheceu, o Presidente dos Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt, que disse, certa vez, quando os Estados Unidos viviam uma crise econômica decorrente da crack de 1929, para despertar a vibração do povo americano diante daquela catástrofe econômica e social que estava ocorrendo. Ele afirmou que era melhor alcançar triunfo e glória, mesmo expondo-se à derrota, a formar fila com os pobres de espírito, que não vivem muito e nem gozam muito, porque vivem numa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota.

            Esse pensamento me veio agora, ao lembrar a imagem que V. Exª traçou de duas personalidades aqui, cuja ausência, hoje, o Brasil lamenta, principalmente Pernambuco e Sergipe: Eduardo Campos e Pedro Valadares.

            Eles deixam esta mensagem para todos nós: até a morte é melhor a viver num ambiente que não conhece triunfo nem derrota.

            Eles venceram. Eles não foram derrotados. Eles foram levados para um mundo, talvez, melhor do que este em que nós vivemos, mas a imagem que eles nos deixaram, de persistência, de idealismo, de vontade de servir à Pátria, está registrada com a firmeza do bronze.

            V. Exª, no seu pronunciamento, tem a minha solidariedade e também a esperança de que a mensagem que ouvimos hoje, da tribuna, de eminentes Senadores se constitua, amanhã, numa realidade pelo bem do nosso País.

            V. Exª tem os meus cumprimentos.

            O SR. KAKÁ ANDRADE (Bloco Apoio Governo/PDT - SE) - Muito obrigado, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/2014 - Página 23