Discurso durante a 124ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apoio à candidatura de Claudia Lyra para o cargo de deputada federal pelo Distrito Federal; e outro assunto.

Autor
José Sarney (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: José Sarney
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA, ELEIÇÕES.:
  • Apoio à candidatura de Claudia Lyra para o cargo de deputada federal pelo Distrito Federal; e outro assunto.
Aparteantes
Antonio Aureliano, Fleury, Kaká Andrade.
Publicação
Publicação no DSF de 27/08/2014 - Página 7
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA, ELEIÇÕES.
Indexação
  • REGISTRO, APOIO, ORADOR, RELAÇÃO, SERVIDOR PUBLICO CIVIL, SENADO, CANDIDATO, DEPUTADO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), LOCAL, DISTRITO FEDERAL (DF).
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, ATIVIDADE POLITICA, ORADOR, ELOGIO, AURELIANO CHAVES, MOTIVO, CONTRIBUIÇÃO, INSTAURAÇÃO, DEMOCRACIA, LOCAL, BRASIL, ASSISTENCIA, DESENVOLVIMENTO, PRODUÇÃO, ENERGIA, REGISTRO, APOIO, CARREIRA, POLITICA, SENADOR, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. JOSÉ SARNEY (Bloco Maioria/PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.)

- Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, hoje eu também quero me dirigir aos servidores da Casa, por- que o discurso que vou pronunciar diz respeito um pouco também aos servidores desta Casa, que eu sempre considerei e considero um dos melhores núcleos de recursos humanos que trabalham na Administração Pú- blica do País.

    Nós temos, este ano, certo dado novo nas eleições do Distrito Federal: a nossa Secretária-Geral da Mesa, que, durante 30 anos, militou nesta casa com grande competência, com seu talento, sua seriedade e sua de- dicação ao serviço público, é candidata a Deputada Federal pelo Distrito Federal. Eu me refiro à Cláudia Lyra, que faz parte de uma família que se dedicou, toda ela, entrando por concurso público, aqui, no Senado Fede- ral. A sua mãe, durante muitos anos, foi Diretora da Taquigrafia. As filhas também trabalham aqui em cargos destacados de diretoras. Uma delas, a Marcia, já se aposentou. A chefe de gabinete, quando eu fui Presidente, Martha, também é irmã da Claudia Lyra e, portanto, eu acho que é um orgulho para o funcionalismo da Casa que tenha uma pessoa de tamanha competência aqui, numa Casa política, onde as coisas não são sempre fá- ceis, são mesmo sempre muito difíceis, e mostram um lado da atividade política que, sem dúvida alguma, é um lado difícil, mas bem característico, é o lado do debate, da controvérsia.

    Ela recolheu e fez despertar o seu espírito político e o seu espírito público e resolveu se candidatar a De- putada pelo Distrito Federal, aqui, em Brasília. Ela é um exemplo de seriedade, é um exemplo de solidez moral, de consciência e com grande compromisso social.

 

    

    Eu peço, portanto, que todos aqui que são eleitores desta cidade procurem conhecer a história de Claudia Lyra, porque nós aqui, no Senado, os funcionários todos conhecem a maneira sempre correta como ela sem- pre se conduziu, de maneira que nunca ninguém, em nenhum momento, teve senão oportunidade de louvar a sua personalidade e o seu trabalho.

    E ela se dedicou de corpo e alma a essa campanha. Quando eu a vejo e converso com ela, empolgada com essa possibilidade, descobrindo o novo mundo do que é a militância política, a participação em uma campanha, cheia de ideais e com aquilo que significa a motivação de todo político: a certeza de que ela vai contribuir para modificar a sua cidade, melhorar a sorte das pessoas e até mesmo o que todos nós pensamos quando entramos na política, fazer alguma coisa para mudar até o mundo. Isso faz parte da motivação que nos leva à política.

    Eu já disse há algum tempo e tenho repetido sempre que a política é uma atividade melhor definida por Tiradentes. Tiradentes, quando foi preso -- consta nos autos da Devassa -- Aureliano, você que é de Minas Ge- rais -- um episódio no qual ele é interrogado por um colega, que dizia assim: “Eu aqui estou a trabalhar para ti”, e o Tiradentes responde: “E eu a trabalhar para todos.

    É a nossa função, nós não pensamos em nada pessoal. Nós aqui lutamos por um projeto no qual nós não temos nenhuma participação, mas é apenas para melhorar a sorte do País. Lutamos para fazer estradas por onde não vamos nunca andar; para fazer escolas, universidades, onde jamais nós iremos estudar. Então, nosso pensamento não é um pensamento pessoal.

    Pois eu vejo a Cláudia Lyra, depois de trinta anos aqui, uma funcionária ativa e competente, agora mo- vida por essa paixão de fazer pelo Distrito Federal, e a gente tem a impressão de que ela pensa também em mudar o mundo mudando o Distrito Federal.

    Portanto, eu vim hoje a esta tribuna para poder cumprir com esse dever. Não vou poder deixar de pas- sar esse tempo sem fazer esse depoimento, eu que sou o Senador mais antigo desta Casa -- e da História da República também. Eu sou decano na Academia Brasileira de Letras, e significa também ser o mais antigo, mas não é uma boa coisa. Significa -- na Academia, aqui não, graças a Deus --, na Academia significa que todos que votaram na gente já morreram. Então, a gente sente chegar a nossa vez, não é? Então é um caso diferente aqui do Senado Federal.

    Cláudia Lyra traz idéias novas na área da educação, na área do trabalho, na área do emprego. Aqui ela criou o Senado Jovem, que é uma iniciativa com a qual ficamos empolgados e animados ao ver jovens que- rendo ser políticos. Cada Estado manda um Senador, e aqui nós assistimos em um período do ano esta reunião do Senado Jovem. Nós os vemos apresentando e selecionando projetos, presidindo aqui as nossas reuniões.

    Então é uma coisa que empolga e foi uma criação e idéia da Cláudia Lyra aqui dentro da nossa Casa. Portanto, quero dizer que estou, aqui, para cumprir com este dever de consciência, trazendo este depoimen- to. Sei que se nós estivéssemos em uma época em que a Casa funcionasse a plena carga, essas palavras não seriam só minhas, seriam de todos aqueles que são Senadores e, também, de grande parte, acho que quase a totalidade, dos funcionários desta Casa.

    Portanto, Sr. Presidente, é esta a finalidade da minha presença nesta tribuna: cumprir um dever de cons- ciência e, ao mesmo tempo, tentar ajudar o Distrito Federal, porque, se ele eleger uma moça da capacidade da Cláudia Lyra, sei que ela vai ajudar muito o Distrito Federal.

Com a palavra, o Senador Fleury, que deseja apartear-me.

    O Sr. Fleury (Bloco Minoria/DEM - GO) - Permita-me um aparte, Senador. Hoje é um motivo de muito orgulho para mim. Como o senhor é o Senador mais velho na Casa - não o de mais idade, mas o Senador que há mais tempo está aqui, com vários mandatos -, hoje estou realizando um sonho: poder ouvi-lo, estar aqui e ser cumprimentado por V. Exª. O senhor é um homem que deu uma vida a este País. Sei que estamos perto de sua despedida da vida política, por opção pessoal, não por opção do povo, porque o povo deste País ja- mais deixaria que o senhor abandonasse o poder. O senhor não vai abandoná-lo; o senhor vai ficar em casa e, tenho certeza, nem pijama terá tempo de colocar. Mas quero terminar minhas palavras, como goiano, como produtor rural, um homem do campo, como uma pessoa que reside na sua propriedade e que chegou aqui, ao Senado, dizendo que o senhor é um homem que deu e dá exemplo não só para o Brasil, mas para o mundo, porque o senhor é um homem mundialmente conhecido. Eu posso falar com muita sinceridade: o senhor é um sábio. Eu aprendi com o meu avô que isto seria o que de mais alto que eu poderia falar para uma pessoa. Pois o senhor é um sábio neste País.

    O SR. JOSÉ SARNEY (Bloco Maioria/PMDB - AP) - Muito obrigado, Senador Fleury. As palavras de V. Exª muito me comovem, o depoimento de um Senador que chega à nossa Casa e tem a generosidade de dizer essas palavras sobre seu colega. Só posso agradecer e guardá-las com extrema gratidão.

 

    

    O que tenho feito durante minha vida pública é procurar ajudar o Brasil, procurar ajudar o nosso povo e, dentro desta Casa, procurar honrá-la, tendo uma participação de tantos e tantos anos dos nossos trabalhos, tendo tido a oportunidade de exercer quase todos os cargos que, dentro da vida pública, se pode exercer.

    Tive a oportunidade de conhecer nesta Casa, talvez seja o maior patrimônio, grandes homens que por aqui passaram e que foram meus colegas. Quero citar também, aqui no Congresso, já que estamos com a pre- sença do Antonio Aureliano, Aureliano Chaves, por exemplo. Um homem extraordinário, um grande patriota, um homem corajoso, defensor das suas ideias, que ajudou extraordinariamente a democracia no Brasil. Eu me recordo de estarmos numa fase da sucessão presidencial, na qual saíamos do regime autocrático para instaurar o regime da transição democrática. Sem Aureliano Chaves, nós não teríamos feito isso, porque, sem dúvida, foi ele, à frente de todos nós, com a autoridade de Vice-Presidente que tinha, que teve a coragem de desejar para o País outra solução, a solução da plenitude democrática, com gestos de absoluta grandeza. Por exemplo, ele era adversário de Tancredo Neves durante toda a vida, em Minas Gerais; e ele disse: não tenho adversários quando se trata dos interesses da pátria. E, realmente, ele, ao nosso lado, ajudou, aceitou participar com Tancredo, foi ao Tancredo Neves e disse a ele que contasse com todos os seus companheiros, entre os quais eu me encontrava.

    Devo confessar -- já disse isso em livros, já disse isso de público -- que foi dele a sugestão para que eu fosse Vice-Presidente da República.

    Quando discutíamos essa possibilidade da indicação pela Frente Liberal do candidato a Vice-Presidente da República, eu disse que eu não desejava ser candidato. Sugeriram o meu nome. Não desejava por alguns motivos, dentre os quais porque eu achava que, tendo sido presidente do partido que tinha sido opositor dos outros partidos, não ficaria bem que eu fosse candidato. Tínhamos muitos outros colegas. Lembrei vários nomes, entre os quais o do Marco Maciel. E Aureliano Chaves bateu na mesa e disse: “Sarney, não se exclua.” E depois, quando as articulações da sucessão começaram, foi ele quem disse que sem a minha presença seria impossível nós participarmos da formação do grupo que se tornou vitorioso em torno de Tancredo Neves.

    Eu sou grato até hoje a essa confiança. E durante todo o tempo em fui Presidente, tive a honra, tive a felicidade de ter Aureliano Chaves ao meu lado como Ministro de Minas e Energia. Cargo no qual ele prestou grandes e relevantes serviços ao País, vislumbrou as possibilidades que o Brasil teria nas energias alternativas. E fez vários trabalhos sobre esse assunto, inclusive dedicando-se durante mais de um ano a grupos de forma- ção de experts para estudar esse assunto.

    Portanto, Senador Fleury, eu agradeço V. Exª profundamente pelas suas palavras. E quero dizer que sou um homem no qual o poder, os cargos passaram e não me alteraram em nenhum momento. Eu permaneço o mesmo, com as mesmas virtudes, os mesmos defeitos de todos nós. Um simples cidadão, que fica feliz com as palavras que V. Exª acabou de pronunciar a meu respeito.

    Mas eu não quero que diminuam essas digressões sobre o núcleo do meu discurso, que é dizer que o Distrito Federal terá uma grande Deputada, uma grande contribuição na pessoa de Cláudia Lyra.

V. Exª quer me apartear?

    O Sr. Antonio Aureliano (Bloco Minoria/PSDB-MG) - Senador Sarney, este momento, para mim, é de extrema emoção porque V. Exª faz um testemunho histórico vivido pelo País. Meu pai não gostava de ser elo- giado por filho. Na verdade, ele sempre procurou evitar os elogios, mas aqui, neste momento, sei que ele está ao lado do Pai. E, pela forma como o senhor falou sobre essa importante passagem da vida pública nacional em que o senhor e ele tanto fizeram por este País, viabilizando a transição política que era necessária naquele momento, eu quero dizer ao senhor que, neste momento, ele, ao lado do Pai, está extremamente satisfeito com as palavras de V. Exª, porque as suas palavras são, ipsis litteris, a verdade do que aconteceu. E é fundamental que elas, cada vez mais, se tornem uma referência para que o povo brasileiro saiba que políticos como o senhor e como Aureliano Chaves fizeram por este País um esforço extraordinário no sentido de dar a demonstração de que o povo brasileiro era capaz de caminhar em uma democracia plena, como hoje se vive. E fico muito satis- feito em ver o senhor nessa tribuna estimulando as pessoas a entrarem na vida pública e vibrarem com ela. Nós estamos precisando, cada vez mais, de jovens e pessoas que queiram realmente se abraçar com a vida pública com estímulo e com vontade. Senador Sarney, ex-Presidente, ex-Vice-Presidente, homem que ocupou todos os cargos públicos deste País e que é um grande literato e membro da Academia Brasileira de Letras, eu quero dizer que o senhor tem serviços prestados a este País, e fico extremamente emocionado, porque sei que, de onde meu pai está neste momento, ele sente plenitude, porque a vida pública só tem sentido na medida em que se faz pela coletividade. E ainda, quando se é reconhecido em uma tribuna por uma pessoa de tamanha importância e que compartilhou com ele desses valores e dessa vontade, torna-se ainda mais estimulante a nossa vida. Muito obrigado.

    O SR. JOSÉ SARNEY (Bloco Maioria/PMDB - AP) - Eu é que agradeço a V.Exª, como agradeci ao Senador Fleury, as palavras proferidas, que serão incorporadas ao meu discurso talvez como as coisas mais importan-

 

    

tes e melhores que eu proferi neste instante. E quero dizer a V.Exª. que, no momento em que nós assistimos a essa democracia no Brasil consolidada, sem nenhuma sombra qualquer de intervenção de qualquer natureza, como existia no passado, ela se deve, sem dúvida alguma, àqueles homens que tiveram a decisão de fazer a frente que possibilitou a Aliança Democrática e que fez com que hoje a gente goze no Brasil da maior liberda- de que nós podíamos ter e que tivemos ao longo da nossa História. Aqui, hoje, ninguém tem medo de dizer o que pensa, ninguém tem receio de dizer o que deseja que se faça - das autoridades aos mais humildes, todos! Eles estão abertos, vivendo uma democracia plena.

    Há poucos meses eu li um livro de um escritor americano brasilianista, o Schneider, no qual ele diz que a transição democrática brasileira foi a mais exitosa e a melhor que foi feita, porque nós fizemos a transição no Brasil que deixou uma Constituição. Fazer uma transição democrática com uma Constituição a nossa história não recomendava. O nosso passado já nos dava exemplo do que foi a Constituinte depois da Independência, a de 1823. Foi tão grande a divergência lá que terminou sendo fechada. Depois a Constituinte da República, a de 1891, resultou na renúncia do Deodoro, os fatos do Floriano, a Revolta da Armada e todos os períodos que atravessamos de profunda turbulência durante todo aquele tempo. Depois de 30, não tivemos Constituição. A Constituinte de 1934 provocou a de 1937. Depois tivemos outras. Mas a Constituição, a de 1988, foi feita pela transição democrática, sem deixar hipotecas militares, sem deixar hipotecas de qualquer natureza. Nós não tivemos no Brasil um problema durante esses anos todos que passaram da Constituição e implantamos aquilo de que hoje nós desfrutamos. Saímos da preocupação econômica para a preocupação social dos programas sociais que foram implantados, da modificação da sociedade brasileira, que passou a ser uma sociedade real- mente democrática, voltada para o interesse do cidadão. Tudo isso foi feito.

    Quanto aos elogios ao seu pai, que não gostava de ser elogiado, quero relembrar Venceslau Brás, que foi Presidente também por Minas Gerais. Ele alertava sobre os elogios e dizia que estava preparado, para saber que, quando ele assumisse a Presidência, ele ia ter essa oportunidade. Deixou, inclusive, uma carta na qual disse o seguinte: “Começaram, então, os elogios, as pessoas a chegar aqui, e só ouço elogios”, e terminava di- zendo: “Mas são gostosos.

    Então, é esse o sentimento que seu pai operava. E quero, agradecendo ao Senador Fleury, uma vez mais, terminar, respondendo uma pergunta, uma indagação que foi feita pelo Aureliano Filho. Ele disse: “Onde esta- rá meu pai, neste momento?” Eu quero lhe dizer onde ele está, todos nós sabemos, não se pergunta onde ele está. Ele está num lugar de onde ninguém sai e onde se permanece para a eternidade: está na História do Brasil.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/08/2014 - Página 7