Discurso durante a 129ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do Sr. Antônio Ermírio de Moraes.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Pesar pelo falecimento do Sr. Antônio Ermírio de Moraes.
Aparteantes
Jarbas Vasconcelos.
Publicação
Publicação no DSF de 04/09/2014 - Página 52
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, EMPRESARIO, ORIGEM, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), RESPONSAVEL, CRIAÇÃO, GRUPO, EMPRESA, ESPECIALIZAÇÃO, SIDERURGIA, METALURGIA, MINERAÇÃO.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Exmo Sr. Senador Valdir Raupp, quero hoje apresentar o requerimento, nos termos do art. 218, inciso II, e art. 221, inciso I, do Regimento Interno do Senado Federal, inserção em ata de voto de pesar pelo falecimento, ocorrido no dia 24 de agosto, do empresário Antônio Ermírio de Moraes, Presidente de honra do Grupo Votorantin, aos 86 anos, bem como apresentação de condolências à esposa, Maria Regina Costa de Moraes, aos seus nove filhos e netos.

            O empresário nasceu em São Paulo, em 1928. Seu pai, o engenheiro pernambucano José Ermírio de Moraes, criou o Grupo Votorantim, comprando as ações de uma empresa de tecelagem. Formou-se em engenharia metalúrgica pela Colorado School of Mines, nos Estados Unidos. Logo após, em 1949, iniciou carreira no grupo, ajudando a empresa a se destacar na produção de cimento, extração de alumínio, agronegócio e finanças, entre outras atividades. Em 1955, foi o responsável pela instalação da Companhia Brasileira de Alumínio.

            Antônio Ermírio de Moraes trabalhava 12 horas por dia, mas ponderava que era preciso moderação. "Na vida, o meio termo é o correto, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Eu acho que é preciso trabalhar, mas não se descuidar do lazer para você, para a sua família, para a sua saúde, inclusive" - disse durante uma entrevista à rádio CBN.

            O empresário também teve atuação de destaque na área social. Por 40 anos, presidiu a diretoria-administrativa do Hospital Beneficência Portuguesa, que, entre seus serviços, presta atendimento a pessoas de baixa renda. Ocupava o cargo de presidente de honra do hospital, mas pouco falava sobre o assunto. "O que eu faço de donativo, só eu e Deus ficamos sabendo. Meu pai me ensinou que donativo com propaganda não é donativo, é comércio" - disse numa ocasião.

            Em 1986, Antônio Ermírio de Moraes, Paulo Maluf e eu disputamos com Orestes Quércia o governo de São Paulo. Candidato pelo PTB, ele ficou em segundo lugar, atrás de Orestes Quércia, PMDB.

            Durante esse período, a frustração com o mundo da política o levou a escrever diversas peças teatrais. Fez três: Brasil S.A., sobre o mercado financeiro; SOS Brasil, sobre a saúde no País; e Acorda Brasil, sobre educação; ganhando uma cadeira na Academia Paulista de Letras.

            Travamos juntos diversos debates sempre com grande respeito mútuo. Os debates aconteceram ali na Rede Globo de Televisão, na Rede Bandeirantes, entre nós quatro candidatos a Governador. Houve momentos em que Antônio Ermírio de Moraes estava, inclusive, à frente nas pesquisas de opinião, mas Orestes Quércia acabou vencendo, com Antônio Ermírio em segundo e Paulo Maluf em terceiro. Eu próprio tive 10 e poucos por cento.

            Foi um ano difícil, porque, em fevereiro de 1986, havia ocorrido um assalto na agência do Banco do Brasil do campus da Universidade de Salvador. Isso havia sido cometido, certamente por erro, por membros de uma das organizações que pertenciam ao Partido dos Trabalhadores.

            Em 11 de julho daquele ano, ocorreu um tiroteio numa greve de trabalhadores rurais, em Leme, e se atribuiu indevidamente ao Partido dos Trabalhadores ter levado armas para aquele episódio, que estariam no porta-malas de um carro da Assembleia Legislativa, de um Deputado do PT. Depois se verificou ser totalmente incorreta essa denúncia, mas só em novembro daquele ano é que o então Diretor da Polícia Federal Romeu Tuma esclareceu o engano.

            Quando eu, por exemplo, dirigia-me a Leme para prestar solidariedade aos trabalhadores rurais, eis que pelo rádio ouvi a alegação totalmente incorreta, por exemplo, do jornalista Afanásio Jazadji, que dizia: “Eis esse partido que assalta bancos e agora é responsável por esse tiroteio”, o que foi uma afirmação totalmente indevida.

            Antônio Ermírio de Moraes mostrou...

            Quero ainda assinalar que, como Professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, inúmeras vezes eu o convidei para fazer palestras e debates que foram memoráveis naquela instituição da Fundação Getúlio Vargas.

            Antônio Ermírio de Moraes mostrou talento para comandar o Grupo Votorantim. Assumiu a liderança da empresa ao lado do irmão, José Ermírio, após a morte do pai em 1973 e, em quase três décadas à frente do conglomerado, que atua nos setores de metalurgia, cimento, papel e celulose, o empresário adotou um estilo conservador, avesso a riscos, e sobreviveu a graves crises econômicas, consolidando a posição do grupo como um dos principais do País. Na verdade, tornou-se a maior liderança empresarial do País, o mais bem sucedido empresário, uma referência de sucesso e boa gestão a seus pares e uma das vozes mais ouvidas e respeitadas no debate público sobre o progresso nacional.

            Antônio Ermírio de Moraes sempre figurou em posições destacadas nas listas anuais das maiores fortunas do País e até do mundo. No último levantamento da Forbes, o empresário ocupava a nona colocação no ranking de bilionários brasileiros, com uma fortuna estimada em US$ 3,1 bilhões.

             No campo pessoal, a marca de Antônio Ermírio foi a simplicidade, acompanhada de humildade e generosidade - e eu sou testemunha pessoal disso. Sua meta como empresário era investir continuamente para gerar empregos de boa qualidade. Ele pregava ser de responsabilidade dos empresários não apenas produzir e pagar impostos, mas também ajudar o próximo.

            Em 2001, aos 74 anos, deixou o conselho de administração do Grupo Votorantim e passou para os filhos o comando do conglomerado.

            Presidente emérito da FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo desde 2005, o empresário, conhecido por seus ternos antigos e amarrotados e por trabalhar doze horas por dia, também se dedicava a entidades como a Associação Cruz Verde de São Paulo e a Fundação Antônio Prudente, dentre outras organizações não governamentais.

            O Sr. Jarbas Vasconcelos (Bloco Maioria/PMDB - PE) - V. Exª me permite?

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Com muita honra, Senador Jarbas Vasconcelos, que é de Pernambuco e, portanto, como José Ermírio de Moraes, o pai de Antônio Ermírio de Moraes.

            O Sr. Jarbas Vasconcelos (Bloco Maioria/PMDB - PE. Com revisão do aparteante.) - Senador Eduardo Suplicy, eu quero primeiro me incorporar à sua iniciativa, que é justa, de homenagear um homem que se destacou no meio empresarial como uma pessoa honesta, trabalhadora e decente, que foi o Dr. Antônio Ermírio de Moraes. Tive a honra de começar a trabalhar na minha vida na Companhia de Cimento Portland Porty, que era a empresa mãe no Nordeste e pertencente ao grupo de José Ermírio de Moraes. Nessa época, não existia o predomínio da Votorantim em todo o Brasil. A Votorantim predominava até a Bahia. No Nordeste, a Companhia de Cimento Poty, onde trabalhei, era quem praticamente representava os interesses do grupo. Ali trabalhei por três anos. Tive oportunidade inclusive de trabalhar com o próprio Senador José Ermírio de Moraes, muito jovem, com 26, 27 anos de idade. E com ele, dentro do grupo, aprendi a ter disciplina, horário, aprendi o que era hierarquia, aprendi a trabalhar. Ele, quando estava na cidade do Recife, todo o chamado primeiro escalão da Companhia de Cimento Portland Poty, chegava exatamente na hora em que ele chegava, às sete horas da manhã, porque ele estava atento, pedia às pessoas para despachar e queria saber de tudo. Eu tive a oportunidade de despachar com ele várias vezes e tinha a dimensão exata do que ele representava. Foi um grande Senador da República, um exemplar chefe de família, um pai muito compreensivo e muito determinado que educou todos os seus filhos, Maria Helena, esposa do Dr. Clóvis Scripilliti, também já falecido, e os irmãos José, Antônio e Ermírio, todos com uma educação exemplar e todos dedicados ao trabalho, assim como o pai, que viveu a vida a trabalhar. De forma que V. Exª, como paulista, como representante do Estado de São Paulo, faz uma homenagem absolutamente correta ao vir à tribuna do Senado da República enaltecer a figura do Dr. Antônio Ermírio de Moraes. O mais velho era o José, que, além de empresário, foi desportista, foi Presidente da Federação Paulista de Futebol , enquanto Dr. Antônio era amante das artes e da cultura. De forma que eu quero me incorporar à iniciativa de V. Exª, e dizer que, com muito pesar, lamento profundamente a morte de um grande paulista, mas, sobretudo, um grande brasileiro que foi o Dr. Antônio Ermírio de Moraes.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Agradeço ao Senador Jarbas Vasconcelos que, assim, muito enriquece esta homenagem, este pronunciamento que todos nós, de São Paulo e brasileiros, queremos fazer a Antônio Ermírio de Moraes pelo seu exemplo e sua visão. O seu exemplo de pessoa que, conforme V. Exª assinalou, por chegar sempre na primeira hora de trabalho, todos que trabalhavam na empresa seguiam o seu exemplo. Mas algo que ele fazia e que nos comove a todos é que, a caminho da Votorantim, ele passava 30 minutos antes na Beneficência Portuguesa e, ao terminar a sua jornada longa no Grupo Votorantim, por volta das seis e meia, sete horas da noite, ele, novamente, ia à Beneficência Portuguesa, cujo Conselho presidiu, e lá trabalhava por mais uma hora e meia, visitando-a para saber se tudo estava bem nos quartos, nos laboratórios, aonde fosse. Então, um homem que merece o respeito de todos nós, brasileiros.

            Em nota, o Grupo Votorantim lamentou a morte.

Com o falecimento do Dr. Antônio Ermírio de Moraes, o Grupo Votorantim perde um grande líder, que serviu de exemplo e inspiração para seus valores, como ética, respeito e empreendedorismo, e que defendia o papel social da iniciativa privada para a construção de um país melhor e mais justo, com saúde e educação de qualidade para todos.

            Em 2013, foi lançada a biografia de Antônio Ermírio de Moraes, Memórias de um Diário Confidencial, escrita pelo sociólogo José Pastore, pela Editora Planeta. Pela qualidade dessa obra, gostaria de concluir esse requerimento com a leitura do artigo feito pelo autor, José Pastore, sobre Antônio Ermírio de Moraes, publicado na Folha de S.Paulo, em 28 de agosto último.

            Se me permite, Sr. Presidente, é um artigo curto, mas que sintetiza, por aquela pessoa que tão bem estudou a vida de Antônio Ermírio, a natureza do seu exemplo, da sua personalidade.

            Diz, portanto, José Pastore:

Durante 17 anos, a crônica de Antônio Ermírio de Moraes esteve presente na página 2 desta Folha aos domingos. Foram mais de 900 artigos. Como muitos dos seus leitores, acompanhei de perto suas ideias e muito aprendi com elas. Penso não errar ao dizer que, nos textos publicados neste jornal, ele deixou a síntese dos seus valores e do que considerava bom para o nosso País. Os traços pessoais de Antônio Ermírio foram muito conhecidos. O que mais se destacava era o seu modo simples de ser e de viver.

Era sóbrio e despojado em tudo, a começar pelo modo de vestir. Era atencioso ao tratar as pessoas. Caminhava pelas ruas de São Paulo sem maiores preocupações, rejeitando seguranças e carro blindado. Dizia: “A minha segurança é Deus”.

Chegava ao seu escritório às 7h, depois de passar meia hora no Hospital da Beneficência Portuguesa, que presidiu por quase 40 anos. Terminava o dia às 19h, quando ia novamente ao hospital para ali administrar até as 21h.

Fazia parte da sua rotina diária passar 30 ou 40 minutos nas enfermarias do hospital para conversar e revelar seu carinho aos doentes. Aos sábados e domingos, fazia o mesmo. À tarde, levava uma orquestra para animar os doentes.

Antônio era assim mesmo. Humilde, dedicado, humano. Nunca foi de festas e recepções, nem fazia exibicionismo pessoal. Era espartano em tudo. Guiou seu próprio carro a vida toda. E sem ostentação. Certa vez, trocou uma Caravan por um Santana usado por considerar mais simples e mais econômico. Gostava de entrar nas igrejas vazias. Encontrava paz na solidão. Nunca rezava para pedir; sempre para agradecer.

Esse foi o Antônio que conheci e que aprendi a admirar ao longo de 35 anos de amizade.

Como empresário, a sua paixão era expandir, expandir e expandir para aumentar a produção e gerar empregos. A sua "teoria" sobre inflação era simples e objetiva. Costumava dizer: “Com prateleiras cheias, não haverá inflação”. Foi um contumaz combatente da especulação financeira, dos desperdícios do governo, do excesso de ministérios e da falta de sinceridade da maioria dos políticos.

Para ele, a missão dos empresários não deveria parar na produção e no recolhimento de impostos. Era preciso dedicar tempo e ajudar os necessitados. Assim o fez. Afirmava com frequência: “Para rico, não trabalho de graça; mas, para pobre, faço com prazer”. E fazia mesmo. Sempre no anonimato. Ninguém sabe o quanto doou para hospitais e escolas que ajudou com seus próprios recursos, e nunca das empresas.

Antônio foi um grande amante da educação. Escreveu vários livros sobre o assunto, o que lhe deu um lugar na Academia Paulista de Letras. Sua menina dos olhos era o Senai. Dizia que a formação universitária é importante, mas que o Brasil precisa de técnicos de nível médio, bem formados, que dominam sua profissão e que têm amor pelo que fazem.

Um grande brasileiro. Os mais pobres perderam um carinhoso filantropo. Os íntimos perderam um excelente amigo. A família de Antônio Ermírio de Moraes perdeu o seu maior amor. Meus pêsames a Maria Regina, sua querida esposa, e a todos os familiares.

            Esse é o texto do Professor José Pastore,79, professor da USP e Membro da Academia Paulista de Letras. É autor de Antônio Ermírio de Moraes - Memórias de um Diário Confidencial, da Editora Planeta, livro que eu recomendo para que reconheçamos todos os exemplos deixados por Antônio Ermírio de Moraes.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/09/2014 - Página 52