Discurso durante a 128ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento da Srª Sylvia Egydio; e outro assunto.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE, EDUCAÇÃO. HOMENAGEM.:
  • Pesar pelo falecimento da Srª Sylvia Egydio; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 03/09/2014 - Página 671
Assunto
Outros > SAUDE, EDUCAÇÃO. HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, NECESSIDADE, PERMANENCIA, VINCULAÇÃO, HOSPITAL ESCOLA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP).
  • HOMENAGEM POSTUMA, VOTO DE PESAR, MORTE, LIDERANÇA, RELIGIÃO, MATRIZ, AFRICA.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Renan Calheiros, quero, em primeiro lugar, aqui fazer uma reflexão sobre a importância de o Hospital Universitário de São Paulo permanecer vinculado à Universidade de São Paulo para que os médicos, os pesquisadores, todos aqueles que nele trabalham, os próprios estudantes e professores da Universidade de São Paulo continuem interagindo da maneira mais adequada possível a exemplo do que ocorre com o Hospital das Clínicas e outras instituições de saúde de São Paulo ligadas à Universidade de São Paulo. Gostaria, inclusive, de dizer do apelo que recebi do médico, Dr. Gerson Salvador, diretor do Sindicato dos médicos de São Paulo, nessa direção.

            Quero, hoje, requerer inserção em ata de voto de pesar pelo falecimento ocorrido em São Paulo, dia 8 de agosto do corrente, de Sylvia Egydio, Mãe Sylvia de Oxalá, e apresentação de condolências a seus filhos, Paula e Péricles Egydio.

            O terreiro Axé Ilê Obá está de luto; perdeu sua mãe Sylvia Egydio de Oxalá, uma das referências da luta pela intolerância religiosa e preservação da religião de matriz africana.

            Pessoa de fibra, concentrada, estudiosa, trabalhadora, com formação acadêmica multidisciplinar: enfermagem, administração, relações internacionais, empresária de sucesso, nascida, preparada e destinada a ser ialorixá e substituir Pai Caio de Xangô na tarefa de preservar e ensinar o modo de vida, a valorização e desestigmatização da religião da orixalidade, o candomblé.

            Paulista, nascida na Liberdade, Sylvia Egydio deu lugar a seu destino, tornou-se Mãe Sylvia de Oxalá, em 1986, à frente do Axé Ilê Obá, a Força da Casa do Rei, seu destino foi confirmado por diversos pais e mães de santo. Seguiu, então, o que lhe apontou Mãe Menininha do Gantois:

Você, agora, vai fazer suas obrigações para ser ialorixá, vai deixar a casa onde mora para viver na casa de candomblé, não vai mais trabalhar para fora e vai se dedicar plena e exclusivamente para a orixalidade. Se precisar de qualquer coisa nessa vida, não se preocupe: ela vai chegar até você.

            Sua vocação foi trabalhar para divulgar e melhorar, cada vez mais, o ambiente em que orbita, ensinando e apontando para as necessárias mudanças, para que o respeito seja estabelecido e que se rompa com todo e qualquer tipo de preconceito e discriminação.

            Mãe Sylvia de Oxalá atendia todas as pessoas que batiam à porta do Axé Ilê Obá, desde as mais simples até empresários nacionais e internacionais, bem como políticos e pessoas de todo o mundo. Por meio de palestras, ajudou a disseminar outra história: a de que a civilização negra é a mais antiga do mundo, tendo 15 mil anos de tradição e que os faraós, reis do Egito, eram negros.

            Por seu valoroso trabalho de defesa das tradições e pela atuação em obras sociais junto à comunidade, Mãe Sylvia de Oxalá recebeu inúmeras homenagens e prêmios. Entre eles, o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo e a Medalha Anchieta, em 1998, em razão das obras sociais realizadas pelo Axé llê Obá desde o início de sua gestão. Por essa mesma razão, o Axé llê Obá foi declarado órgão de utilidade pública em 1991 e tombado também pelo IPHAN.

            A Casa de Oxumaré divulgou, em sua página, o falecimento da ialorixá Sylvia Egydio de Oxalá.

É com profundo pesar e tristeza que comunicamos o falecimento da ialorixá Sylvia Egydio de Oxalá, líder de um dos mais antigos e tradicionais terreiros de São Paulo, o Axé llê Obá, o primeiro a ser reconhecido como patrimônio cultural do Estado. A partida de Mãe Sylvia é uma significante perda para o candomblé paulistano e nacional. Rogamos que seja recebida por nossos ancestrais e com eles permaneça, fortalecendo assim a espiritualidade do povo de santo do Brasil.

            Além de conduzir o Axé Ilê Obá com dedicação, Mãe Sylvia foi intensa lutadora e educadora contra a discriminação e o preconceito, trabalhando pela preservação de patrimônios históricos e culturais de raízes africanas, sem distinção de classe, credo e origem. Sua humildade, sabedoria, importância e força serão lembradas e sua ausência sentida por todos.

            Quero desejar à sua filha Paula Egydio, escolhida para ser a sucessora de Mãe Sylvia frente ao Instituto Axé Ilê Obá, sucesso em sua missão.

            Quero aqui também agradecer todas as ocasiões em que Mãe Sylvia de Oxalá me deu toda a força em meu mandato, na vida política, especialmente como Senador, inclusive pelo apoio que sempre deu à renda básica de cidadania, tendo compreendido muito bem como é que ela contribuirá inclusive para a elevação do grau de dignidade, de liberdade e igualdade entre todas as raças, inclusive para todos os negros e afrodescendentes no Brasil.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/09/2014 - Página 671