Discurso durante a 134ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro da participação de S. Exª, como representante do Senado Federal, em convenção sobre o Agronegócio na Alemanha.

Autor
Blairo Maggi (PR - Partido Liberal/MT)
Nome completo: Blairo Borges Maggi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.:
  • Registro da participação de S. Exª, como representante do Senado Federal, em convenção sobre o Agronegócio na Alemanha.
Publicação
Publicação no DSF de 17/09/2014 - Página 23
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.
Indexação
  • COMENTARIO, ENCONTRO, AGRICULTURA, LOCAL, COLONIA, ALEMANHA, PRESENÇA, ORADOR, PRODUTOR RURAL, CIENTISTA, ASSUNTO, FUTURO, ATIVIDADE AGRICOLA, DEFESA, NECESSIDADE, DESENVOLVIMENTO, TECNICAS AGRICOLAS, PRODUÇÃO, ALIMENTOS, ELOGIO, ESTUDO, UTILIZAÇÃO, SOJA, Biodiesel.

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, retorno a esta tribuna, nestes dias de pouco serviço na Casa ou de poucos Senadores e de poucas Senadoras presentes. Mas todos nós temos de reconhecer que a grande maioria dos Parlamentares está em processo de eleição, quer sejam candidatos à reeleição, quer apoiando outros candidatos. Aqui mesmo, na Casa, dois terços ou mais dos Senadores estão envolvidos entre reeleição e candidaturas a governos e, na Câmara, 100% dos Deputados estão com suas vagas sendo colocadas novamente em apreciação do voto popular. Então, é compreensível que, neste período de eleição, nós tenhamos número reduzido de Parlamentares, uma vez que, como eu já disse, estão em busca de novo mandato ou tentando renovar seus mandatos.

            Mas, Sr. Presidente, quero falar sobre dois assuntos, até rapidamente.

            Primeiro, dizer que, há poucos dias, fui designado pelo Presidente Renan para acompanhar um encontro de agronegócios que ocorreu na Alemanha, mais precisamente na cidade de Colônia. A Bayer encaminhou um convite para o Presidente Renan e um convite para mim, para que pudéssemos participar desse evento. O Presidente Renan não pôde ir, porque também está envolvido na eleição deste ano, e eu fui designado por esta Casa para representar o Senado nesse evento. Foi um evento bastante importante, não só pelas presenças que lá estavam - a Bayer reuniu em torno de cinquenta grandes produtores do Brasil de soja, algodão, cana-de-açúcar. Esse grupo, para se ter uma ideia, representa algo como 5,7 milhões de hectares de área plantada entre essas culturas e também representa uma produção bruta em torno de R$31 bilhões, o que representa 1% do PIB nacional. Quer dizer, um evento com uma representatividade bastante grande desses produtores.

            Nesse encontro, tivemos oportunidade de ouvir também uma palestra do comentarista e jornalista brasileiro da CBN Carlos Alberto Sardenberg, que fez uma explanação sobre as questões políticas e econômicas do País. Mas também tivemos oportunidade de ouvir vários comentaristas de outros países que por lá passaram, como também cientistas, para discutir um pouco sobre o futuro da atividade agrícola do Brasil, do mundo: como estamos inseridos, aonde vamos, quais são as técnicas que vêm pela frente, uma vez que o mundo, hoje, tem poucas terras disponíveis para a agricultura. Onde há mais disponibilidade, há menos presença de pessoas competentes e conhecimento tecnológico para desenvolver, como a África. Alguns países do Sudeste Asiático têm condições, mas também têm conflitos. No Leste Europeu, também há áreas a serem exploradas, mas há conflitos.

            Enfim, somos um dos poucos lugares no mundo - embora nós reclamemos muito do nosso Brasil - onde não existem questões fundamentalistas, onde não existem grandes conflitos - aliás, não existem conflitos, são poucos os que existem. O Brasil é um desses países que têm condições de desenvolver sua agricultura, continuar crescendo, aproveitando, ainda, bons pedaços de terras que hoje são direcionados à pecuária e que podem se transformar em agricultura sem abandonar a pecuária. Pelo contrário, nós podemos fazer as duas coisas juntas sem a necessidade de novas aberturas, fazendo com que as duas atividades convivam muito bem e sejam altamente produtivas.

            Então, o Brasil, nesse encontro, foi o centro dessa discussão, até porque nós brasileiros estávamos lá presentes. Mas, para que isso seja possível, nós também dependemos de praticamente uma nova revolução verde, como foi feito na década de 70, que rendeu o Prêmio Nobel da Paz aos pesquisadores. O Norman Borlaug foi o representante desse grande movimento que quebrou uma discussão antiga em que os cientistas e aqueles que pensavam sobre o mundo diziam que, quando chegássemos ao ano 2000, 2020 - até foi feito um filme, não sei quem se recorda, chamado No Mundo de 2020 -, nós não teríamos comida para toda a população e que o mundo estaria totalmente arrebentado, se podemos chamar assim.

            Estamos chegando ao ano de 2020, já o estamos enxergando, daqui a seis anos, e as coisas são bem diferentes. Quer dizer, nós temos alguns problemas de alimentação no mundo, mas não é porque nós não temos alimentos a fornecer; nós temos problemas de distribuição de alimentos e, principalmente, de recursos, por parte de alguns países, para adquirir esses alimentos.

            Mas o mundo foi capaz de se reinventar e, através da revolução verde, conseguiu fazer com que nós, no ano de 2014, tenhamos condições de atender o mundo, inclusive com sobra de alimentos. Mais uma vez, digo: há gente que passa fome, há países que têm problemas, mas o problema não é a falta de alimentos. O problema é a falta de recursos para comprar o alimento. Tanto é que políticas energéticas, e aí ligadas já à questão do meio ambiente, foram desenvolvidas a partir dos biocombustíveis, culturas essas que ocuparam o espaço do alimento, notadamente a cana-de-açúcar - o Brasil é um dos maiores produtores de etanol do mundo; é o segundo maior produtor, perdeu para os Estados Unidos essa posição. Grãos, cereais e oleaginosas, que, no passado, não eram utilizados para a produção de biocombustíveis, passaram a ser utilizados como biocombustível. Exemplo claro é o programa de etanol dos Estados Unidos, que, muito sabiamente - como é peculiar ao americano, prático como ele é -, com toda sua infraestrutura montada de agricultura, com suas colheitadeiras, seus tratores, suas fazendas, reinventaram um programa de álcool a partir do milho e se transformaram, em poucos anos, no maior produtor de etanol do mundo, ganhando do Brasil e fazendo com que esse combustível possa ser - e está sendo - usado nos Estados Unidos, onde eles também conseguem ter uma redução da emissão de gases do efeito estufa, como o CO2 e tantos outros que são prejudiciais à saúde.

            Então, no caso específico da soja no Brasil e também nos Estados Unidos, que é o maior produtor agrícola do mundo, eles vão, este ano, colher algo como 110 milhões de toneladas de grãos de soja - nós que estávamos nos preparando para comemorar a ultrapassagem nessa questão, com 90 milhões de toneladas este ano, os americanos nos surpreendem, produzindo, agora, começando a colheita com uma estimativa de 110 milhões de toneladas. Nós iremos alcançá-los, iremos ultrapassá-los, é uma questão de tempo.

            Mas, voltando à questão do alimento, a soja, que não era utilizada para esse tipo de atividade, hoje, em grande parte, além de alimentar milhões e milhões de pessoas mundo afora, nós temos ainda a condição de, a partir do óleo, transformá-la em biodiesel e adicioná-lo ao diesel tradicional, diminuindo a quantidade de enxofre e reduzindo também gases do efeito estufa e outros elementos que acabam aumentando essa questão do aquecimento global.

            Então, os cientistas, os agricultores e os governos conseguiram resolver uma equação que parecia não ter saída nas décadas de 60 e 70.

            E nós, então, novamente, em 2014, podemos olhar e dizer: “O.k., nós, como produtores agrícolas, como mundo, como sociedade, conseguimos resolver o grande problema, o grande nó da população e da humanidade, porque nós só conseguimos nos desenvolver como sociedade organizada e com paz no mundo se as pessoas têm alimentos. Se elas conseguem se vestir e conseguem comer, elas sobrevivem e nós temos paz nas nossas fronteiras. A geopolítica mundial depende da estabilidade das pessoas, e essa estabilidade vem exatamente quando nós temos alimento suficiente para atender à população.

            Então, as próprias democracias no mundo sobrevivem porque as pessoas têm o que a gente chama de - entre aspas - “barriga cheia”, estão satisfeitas, não têm porque fazer guerra. Ora, se começar a faltar alimentos, nós teremos grandes problemas de conturbações no mundo inteiro, como vimos, há poucos anos, quando da Primavera Árabe, uma situação completamente fora de controle, onde vários governos da região caíram. E, se nós olharmos, estudarmos a história, nós vamos ver que ali não tinha, naquele movimento, um fundo e um princípio de uma mudança política porque queriam a democracia, ou queriam isso, ou queriam aquilo. Não. Basicamente, as coisas ali saíram do eixo por falta de comida e pelo preço da comida, que fugiu de todo e qualquer controle naqueles anos, praticamente dobrando os preços das commodities, dobrando o preço de insumos, desorganizando a economia como um todo.

            Então, esse encontro que nós fizemos na cidade de Colônia teve como objetivo isso. Quer dizer, nós estamos no ano de 2014, com esse cenário que acabo de relatar ou de dizer como ele se encontra, e devemos pensar mais sobre daqui 20 anos, daqui mais 30 anos.

            Eu não sei se os cientistas ou aqueles que olham o futuro - e nós ouvimos alguns deles - têm a mesma impressão que tinham há 40 anos, de dizerem o seguinte: “Olha, no ano de 2050 ou no ano de 2100, a população estará se matando por falta de comida”. Não, não é mais esse cenário, porque a humanidade, através do estudo, da ciência, do conhecimento, consegue fazer com que, cada vez mais, produzamos alimentos, cada vez mais uma hectare de terra pode e deve estar fazendo uma produção maior.

            Vou dar um exemplo claro, que aconteceu conosco em Mato Grosso. Na década de 80, quando lá chegamos, produzimos 1.800 quilos de produto agrícola por hectare, mais especificamente soja ou milho. Passados trinta e poucos anos, a nossa produção hoje é de 10 mil a 12 mil quilos por hectare com duas safras. Por si sós, esses números demonstram que temos um momento diferente.

            Então, esse encontro está projetando para o futuro o que nós queremos, para onde vamos e como vamos. E vamos, especificamente, não pelo aumento da quantidade de terras, como já disse aqui, mas pelo aumento da produtividade... E o aumento da produtividade, Sr. Presidente, vai vir pela biotecnologia, pelo uso do conhecimento do ser humano para fazer com que espécies possam ser trabalhadas e que determinadas características da espécie A ou da variedade B com a variedade C combinadamente consigam levar os genes melhores, os mais produtivos, para aquele tipo de cultura e ali fazer com que nós tenhamos ganho de produtividade.

            Exemplo claro: um dos grandes limitadores de produção agrícola no mundo é a questão hídrica. Se não tem chuva, não tem comida, não tem agricultura. A ciência estuda e já experimenta neste momento variedades com genes transgênicos, adaptados de outras culturas, resistentes aos estresses hídricos, resistentes à falta de chuva, para que elas possam produzir mesmo com a falta de água temporária ou num período de falta de chuva naquele tempo em que a cultura está programada para ser semeada até ser colhida. Então é para citar um exemplo.

            Outros exemplos vêm da resistência a pragas, principalmente insetos, de modo que nós possamos reduzir a quantidade utilizada de produtos agroquímicos, que o mundo inteiro repudia, e que os agricultores também repudiam, também não querem usar, só que se não usarem não produzem nada, principalmente no Brasil, que é um país de clima tropical. E em agricultura em clima tropical, nós somos líderes; nós conhecemos e sabemos fazer, mas temos que utilizar, realmente, mais inseticidas do que os outros concorrentes nossos, sejam os argentinos, num clima mais temperado, ou os americanos, também num clima mais temperado, já no hemisfério norte.

            Então, Sr. Presidente, tivemos a oportunidade de entender que o futuro da humanidade por questões de produção de alimentos e também da preservação do meio ambiente, mas a preservação do meio ambiente acoplada e combinada com as questões de produção, nós teremos uma humanidade segura ou serão asseguradas para a humanidade, no futuro, as questões de alimentação, como disse antes, que eram dúvidas ou havia dúvidas sobre isso no passado.

            Sr. Presidente, para deixar registrada essa minha passagem pela Alemanha, na cidade de Colônia, onde fui representar o Senado Federal, lá estive, lá representei, lá falei, lá defendi, lá coloquei os pontos de vista que nós, como brasileiros, também pensamos, como nós, brasileiros, desejamos que o mundo e o mercado internacional de produção de alimentos também se comportem da forma como nós também o fizemos.

            Não há Presidente nenhum país - e não é se vangloriar, mas reconhecer - que tenha a legislação ambiental que nós temos, rígida como ela é e respeitada como ela é. Problemas temos? Problemas temos, mas, na grande maioria, os produtores rurais do Brasil adotam, defendem e trabalham dentro das condições da legislação que aí está colocada.

            Então, o Brasil pode, de cabeça erguida, olhar para todos os seus concorrentes, ou para todos os seus clientes mundo afora, e dizer: nós somos um país e uma potência agrícola que respeita as condições de meio ambiente, as condições sociais para fazer um bom alimento, um alimento que não seja nem sujo no seu princípio de alimento nem sujo pela mão de obra de trabalho escravo ou coisa parecida.

            Então, Sr. Presidente, para deixar aqui o meu registro sobre esse assunto. Devo voltar amanhã à tribuna então, para falar de um segundo assunto, que é a questão da agricultura familiar, já que o ano de 2014 é dedicado pela ONU para essa atividade.

            Muito obrigado, Sr. Presidente. 

 

            O SR. PRESIDENTE (Wilson Matos. Bloco Minoria/PSDB - PR) - Senador Blairo, certamente, o Senado foi muito bem representado nesse encontro na Alemanha, porque esta Casa tem o privilégio de tê-lo aqui e de ter, na sua pessoa, um grande líder do agronegócio brasileiro. E sabemos que o agronegócio é o principal esteio da nossa balança de exportação.

            Quero registrar aqui a presença do nosso ex-Senador João França, que por muito tempo esteve nesta Casa, lá do Estado de Roraima, aqui nos visitando.

            Obrigado pela presença.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/09/2014 - Página 23