Discurso durante a 140ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários acerca da campanha eleitoral de S. Exª para o Senado em 2014; e outros assuntos.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA, ELEIÇÕES. POLITICA DE DESENVOLVIMENTO, COOPERATIVISMO. POLITICA SOCIAL, PROGRAMA DE GOVERNO.:
  • Comentários acerca da campanha eleitoral de S. Exª para o Senado em 2014; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/2014 - Página 54
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA, ELEIÇÕES. POLITICA DE DESENVOLVIMENTO, COOPERATIVISMO. POLITICA SOCIAL, PROGRAMA DE GOVERNO.
Indexação
  • COMENTARIO, CAMPANHA ELEITORAL, ORADOR, REFERENCIA, ELEIÇÕES, SENADO, AGRADECIMENTO, GRUPO DE TRABALHO, CAMPANHA.
  • EXPECTATIVA, REFERENCIA, APROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, RELATOR, GLEISI HOFFMANN, SENADOR, ESTADO DO PARANA (PR), OBJETIVO, DEFINIÇÃO, NORMAS, DIRETRIZ, RELAÇÃO, SOCIEDADES, COOPERATIVA.
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, CONTINUAÇÃO, PROGRAMA DE GOVERNO, OBJETIVO, DISTRIBUIÇÃO, RENDA, POPULAÇÃO CARENTE, COMENTARIO, RELEVANCIA, RENDA MINIMA, RELAÇÃO, OPORTUNIDADE, EDUCAÇÃO.
  • AGRADECIMENTO, COMPANHEIRO, CAMPANHA ELEITORAL, ALEXANDRE PADILHA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CANDIDATO, DISPUTA, GOVERNADOR, ELOGIO, GRUPO, TRABALHO, REFERENCIA, AUXILIO, CAMPANHA, ELEIÇÕES.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, querido Senador Paulo Paim, exemplo fantástico de Senador voltado para o interesse maior da população brasileira, dos trabalhadores, dos aposentados, de todos aqueles que, pelas mais diversas razões, por vezes se veem ainda sem os devidos direitos humanos fundamentais em nosso Brasil, o direito à voz, o direito de participar e de compartilhar da riqueza criada em nossa Nação.

            Eu também tenho em V. Exª um dos mais notáveis exemplos de pessoa na vida pública. V. Exª honra, extraordinariamente, o nosso Senado Federal e o povo do Rio Grande do Sul, que o conduziu a esta Casa.

            Mas quero hoje fazer uma reflexão sobre as eleições.

            Primeiro, quero saudar esta que é a nona eleição direta para Presidência da República, desde que, em 1983 e 1984, nós éramos mais jovens e saímos às ruas, Senador Cristovam Buarque, para lutar por eleições livres e diretas.

            Em 25 de abril de 1984, infelizmente, a emenda Dante de Oliveira não foi aprovada. Daí veio a eleição de Tancredo Neves, ainda de forma indireta. O Presidente José Sarney assumiu em razão da doença e do falecimento do tão significativo homem público que foi Tancredo Neves, um homem brilhante e que contribuiu muito ao longo de toda a sua vida pública. Como ele não pôde exercer a Presidência para a qual havia sido eleito, José Sarney, nosso colega aqui no Senado, exerceu a Presidência. E naquele período então, finalmente, houve a aprovação de eleições livres e diretas. Tivemos eleições em 1989, em 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e esta de 2014, que foi a sétima eleição direta.

            Felizmente, pessoas da maior qualidade disputaram esta eleição, cujos resultados no primeiro turno conferiram à querida Presidenta Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, da coligação PMDB, PSD, PP, PR, PROS, PDT, PCdoB e PRB, 43.267.668 votos, correspondendo a 41,59% dos votos válidos. O Senador Aécio Neves, da coligação PSDB, PMN, SD, DEM, PEN, PTN, PTB, PTC e PTdoB, obteve 34.897.211 votos, correspondendo a 33,55%. E a ex-Senadora Marina Silva, ex-Ministra do Meio Ambiente do governo do Presidente Lula, da coligação PSB, PHS, PRP, PPS, PPL, PSB e PSL, obteve 22.176.619 votos, correspondendo a um resultado maior do que os 20 milhões que havia obtido em 2010 e a 21,32% dos votos válidos.

            Também obtiveram votação expressiva Luciana Genro, do PSOL, com 1.612.186 votos, 1,55%, e outros, como Pastor Everaldo, Eduardo Jorge, Levy Fidelix, Zé Maria, Eymael, Mauro Iasi, Rui Costa Pimenta, obtiveram menos que 1%.

            Mas feliz é o povo brasileiro que pôde participar dessas eleições. E quero aqui também saudar que hoje nós temos o sistema de dois turnos, o que efetivamente dá ao eleito muito maior legitimidade. Acho que o Congresso Nacional acertou muito bem em adotar para o nosso sistema democrático, que ainda precisa ser aperfeiçoado, eleições em dois turnos. E quero aqui dizer que estarei muito empenhado para a eleição no segundo turno da nossa querida Presidenta Dilma Rousseff.

            Quero assinalar que, no que diz respeito às eleições para o Senado em São Paulo, tenho a convicção de, ao longo desses 24 anos, ter cumprido com o meu dever, com a minha responsabilidade perante todos aqueles que confiaram o seu voto em meu mandato ao longo das três eleições que precederam: a de 1990, quando eu tive 4.201.000, 30% dos votos válidos, havendo então um número de candidatos de grande importância, como André Franco Montoro, Ferreira Neto, Guilherme Afif Domingos, João Cunha, Francisco Rossi e outros ainda; em 1998, com 6.766.000 votos, correspondendo a 43% dos votos válidos, quando tive como principal adversário o grande campeão brasileiro e mundial de basquete, o Oscar, que sempre me tratou com muito respeito, tanto naquela oportunidade quanto até hoje; e na penúltima eleição, de 2006, eu obtive 8.896.803 votos, correspondendo a 48% dos votos válidos, quando tive como meu principal competidor Guilherme Afif Domingos, hoje Ministro da Micro e Pequena Empresa do Governo da Presidenta Dilma Rousseff.

            E eu tenho a convicção de ter realizado uma campanha expondo, sobretudo, os pontos positivos de minha atuação, de minhas proposições, utilizando o breve tempo que eu tinha - apenas dois minutos e um segundo e, ainda, quatro mensagens de quinze segundos nas segundas, quartas e sextas - e, também, com receitas e despesas assim consideradas, certamente, das mais modestas em relação às de meus principais adversários.

            Expresso aqui que o total de despesas realizadas durante a minha campanha, desde o início das atividades de julho - acho que foi a partir de 6 de julho -, somou em torno de R$3 milhões, e obtive, até o presente, R$2,5 milhões, com um saldo negativo da ordem de R$500 mil. Portanto, isso foi, especialmente, para os gastos relacionados às comunicações de rádio e de televisão.

            Bem, o resultado da eleição foi que José Serra, ex-Deputado Federal, ex-Senador, ex-Ministro do Planejamento e da Saúde, também ex-Prefeito e ex-Governador de São Paulo, obteve 11.105.874 votos, e foi eleito com 58,49% dos votos.

            Quero expressar que eu gostaria muito de ter tido a oportunidade, como nas eleições anteriores ao Senado - as três das quais participei anteriormente -, de ter participado de debates, como eram realizados nos meios de comunicação e nos mais diversos auditórios, com todos os candidatos ao Senado.

            Nessa eleição, preferiram os meus principais adversários, como José Serra e Gilberto Kassab, e outros, não participar de debates. Eu acho que eles teriam contribuído, significativamente, para o melhor esclarecimento da opinião pública.

            Num debate, por exemplo, na Universidade Federal do ABC, tendo sido convidados os dez candidatos ao senado, eis que apenas o candidato do Partido Verde, Kaká Werá, participou do debate, e os demais simplesmente disseram que não gostariam de participar. Eu senti muito a falta disso.

            O resultado para mim foram 6.176.499 votos, correspondendo a 32,53% dos votos válidos; o candidato Gilberto Kassab teve 1.128.582 votos, com 5,94% dos votos válidos; Marlene Campos Machado teve 330.302 votos, 1,74% dos votos; e os demais - Luiz Fernando Amaral Lucas, Ana Luiza de Figueiredo Gomes, Ricardo Simon Flaquer, Edmilson Silva Costa, Juraci Baena Garcia e Carlos Alberto dos Santos - tiveram menos que 1%.

            Mas eu quero aqui agradecer sobremodo a toda a minha equipe de colaboradores, que foram simplesmente extraordinários - uma equipe pequena, composta, sobretudo, por uma grande maioria de mulheres e, relativamente, poucos homens, que se dedicaram de maneira extraordinária -, bem como a todos aqueles que, ao longo de meu mandato, no meu gabinete, trabalharam da maneira mais correta, com toda a seriedade, com extraordinária dedicação. A cada um dos meus colaboradores, eu aqui expresso o meu agradecimento da maneira mais profunda - a todos vocês, queridas e queridos companheiros, que estiveram ao meu lado.

            E também eu quero agradecer o extraordinário apoio que venho recebendo desde o dia propriamente das eleições, inclusive através das redes sociais.

            Quero aqui salientar que eu, até janeiro e fevereiro deste ano, mal estava familiarizado com o que é o Twitter, o Facebook e todas as demais formas de comunicação através da internet. Mas, então, comecei, a partir de fevereiro, quando tinha aproximadamente três mil seguidores, a postar eu próprio, e com a colaboração simplesmente extraordinária da minha querida Mônica Dallari - que hoje está aqui na tribuna de imprensa assistindo a este meu pronunciamento, e eu agradeço muito. Mas, notem que, de fevereiro para cá, foi aumentando extraordinariamente o número de seguidores na fan page, chegando hoje a 246 mil seguidores.

            Agora, desde a postagem no Facebook de um texto e uma foto minha ao lado da escultura de Carlos Drummond de Andrade, em que expresso que no meio do caminho havia uma pedra; havia uma pedra no meio do caminho; no meio do caminho havia uma pedra, para significar que, às vezes, nas nossas caminhadas, encontramos pedras, mas isso não significa que vamos interromper as nossas caminhadas...

            O que eu quero transmitir a V. Exª, querido Presidente Paulo Paim, é que, em qualquer circunstância em que eu esteja, eu vou continuar a batalhar pelos mesmos objetivos, princípios, anseios e valores de construção de um Brasil justo e civilizado, onde possamos fazer prevalecer não simplesmente a busca do interesse próprio.

            É claro que todos nós desejamos o progresso pessoal das pessoas que nos são queridas, mas eu sempre procurei ensinar aos meus filhos - recebi esses ensinamentos de meus pais -, aos meus alunos, e aqui eu sempre coloquei a importância de nós levarmos em conta aqueles outros valores que são próprios também da humanidade, como a busca da fraternidade, da solidariedade, de vivermos em uma sociedade na qual, efetivamente, todas as pessoas possam ter o direito pleno à vida, com dignidade, com liberdade real.

            Ao longo da campanha, eu sempre afirmei que devemos querer e fazer com que sejam aplicados aqueles princípios de justiça, tais como os expressos por John Rawls, em A Theory of Justice, de 1971, um dos maiores filósofos contemporâneos. Ali ele observa que precisamos colocar em prática aqueles instrumentos de política econômica que signifiquem aplicação dos três princípios de igual liberdade, de diferença e de igualdade de oportunidades.

            O princípio de igual liberdade diz que cada pessoa deve ter um conjunto de liberdades básicas fundamentais, tais como a de livre expressão, de ir e vir, de livre associação, de votar e de ser votado, que precisam ser estendidos a todos na sociedade, inclusive aqueles princípios contidos na Constituição brasileira, como os direitos fundamentais e os direitos fundamentais presentes na Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana.

            O segundo princípio é o da diferença, segundo o qual qualquer diferença socioeconômica que porventura exista na sociedade só deve se justificar, só deve existir se for em benefício dos que menos têm e de maneira a prover igualdade de oportunidades para todos.

            Pois bem, quais são os instrumentos que possibilitam a aplicação desses princípios? Obviamente, quando, por exemplo, se aboliu a escravidão, nós conseguimos elevar o grau de justiça na sociedade. À medida que estivermos provendo a todos os meninos e meninas, a todas as crianças, a todos os jovens adolescentes boas oportunidades de educação, inclusive o ensino em tempo integral, que foi uma de minhas principais batalhas e objetivos expressos nessa campanha, assim como o ensino para os adultos e o ensino profissional, como providos pela Pronatec e pelo ensino superior, então colocaremos em prática os princípios com esses instrumentos, também com o aperfeiçoamento do Sistema Único de Saúde, do Programa Mais Médicos, com o estímulo às formas cooperativas de produção, que têm sido os principais objetivos de minha atuação no Senado.

            Quero, inclusive, empenhar-me ao máximo para que, até dezembro próximo, venhamos a aprovar o projeto de lei que define as normas e as diretrizes das sociedades cooperativas e que está sendo objeto de debate em nosso Senado, desde o meu mandato anterior, inclusive com a cooperação de projetos tanto do Senador Osmar Dias, quanto de minha autoria, que foram objeto de pareceres mais recentes aqui, do Senador Waldemir Moka.

            Agora o projeto está na Comissão de Assuntos Econômicos, cuja relatora é a Senadora Gleisi Hoffmann. E eu espero que até o mês de dezembro venhamos a concluir a votação tanto na Comissão de Assuntos Econômicos quanto aqui no plenário do Senado.

            Outro instrumento de política econômica para a construção da sociedade justa é estarmos expandindo o microcrédito, a exemplo do que têm feito as instituições, como o BNDES, o Banco do Brasil e inúmeras instituições de crédito privadas, e a exemplo também do Grameen Bank, de Muhammad Yunus, que fui visitar em 2008, ali em Bangladesh, em Dhaka e depois no interior de Bangladesh.

            Também outro instrumento é justamente aquele ao qual tenho dedicado grande atenção: a garantia de uma renda, seja através de condicionalidades, como hoje o Bolsa Família se desenvolve, com resultados tão positivos para a sociedade brasileira em termos de diminuição da pobreza extrema, da pobreza absoluta, como também da diminuição da desigualdade do chamado coeficiente de Gini, mas até que um dia cheguemos à renda básica incondicional como um direito à cidadania para todos.

            Esta continuará a ser uma das minhas principais batalhas. Onde eu estiver, prezado Senador Presidente, Renan Calheiros, continuarei a batalha pela renda básica de cidadania. V. Exª e os 81 Senadores tiveram a gentileza de assinar, em outubro do ano passado, a carta que eu encaminhei à Presidenta Dilma, onde todos - e isso é algo inédito na história do Senado -, os 81 Senadores, tenhamos assinado todos uma carta propondo uma medida de política econômica.

            E eu estou no aguardo da Presidenta Dilma para que ela possa criar um grupo de trabalho para estudar quais serão as etapas da transição do programa Bolsa Família, que é um desenvolvimento do programa pioneiramente instituído no Brasil pelo querido Senador Cristovam Buarque e pelo Prefeito José Roberto Magalhães Teixeira, no início de 1995, logo no início do mandato de V. Exª como governador, no Paranoá. Eles deram início à primeira experiência de renda mínima associada às oportunidades de educação, e que depois, juntamente com o projeto de Magalhães Teixeira, porque ambos tiveram resultados positivos, vieram as experiências de Ribeirão Preto, de Belo Horizonte, de Belém, de Mundo Novo, de Caxias do Sul e dezenas, até que surgiram, aqui na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, projetos de Nelson Marchezan, de Chico Vigilante, de Pedro Wilson, na Câmara, e, aqui no Senado Federal, do Senador Renan Calheiros, do Senador Ney Suassuna e do Senador José Roberto Arruda. E todos esses seis projetos acabaram sendo apensados à proposição de Nelson Marchezan, que se tornou a Lei 9.533, de 1997, e que recebeu o sinal verde do então Presidente Fernando Henrique Cardoso para que fosse aprovado.

            Quando Philippe Van Parijs, filósofo e economista, defensor e criador da Rede Mundial da Renda Básica, comigo esteve em diálogo de 50 minutos, no Palácio do Planalto, ao lado de Paulo Renato Souza, então Ministro da Educação, do próprio Nelson Marchezan e de toda a equipe do Presidente, disse ao Presidente Fernando Henrique Cardoso: “O objetivo será um dia termos a renda básica incondicional. Mas relacionar a garantia de uma renda primeiramente às oportunidades de educação significa um investimento em capital humano”. Portanto, é um passo muito positivo. E o Presidente Fernando Henrique deu, então, o sinal verde para aprovar a Lei nº 9.533, pela qual a União financiaria em 50% todos os Municípios que adotassem programas de renda mínima associados à educação. E em 2001, através de medida provisória e de nova lei então aprovada por todos os partidos, foi aprovado que 100% de todas as despesas e de todos os Municípios, e não apenas por escalonamento, primeiro os 20% mais pobres, até que no 5º ano todos passariam a ter o direito.

            Com a medida de 2001, todos os Municípios brasileiros passaram a ter 100% das suas despesas com programas de renda mínima, associados à educação, também denominados Bolsa Escola - em homenagem ao Senador Cristovam Buarque -, na lei que o Presidente Fernando Henrique Cardoso denominou de José Roberto Magalhães Teixeira em homenagem ao prefeito de Campinas, pioneiro, como V. Exª, e que havia falecido pouco antes daquela data.

            Então, veio o Bolsa Alimentação, o Auxílio-Gás, o próprio programa Fome Zero, com cartão alimentação, no início do governo do Presidente Lula, em fevereiro/março de 2003. Eu estive em Guaribas e Acauã, no Piauí, quando foram lá implementados pioneiramente, mas já em outubro de 2003 o Presidente Fernando Henrique Cardoso, perdão, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu unificar, racionalizar os quatro programas que citei, o que veio a ser o programa Bolsa Família, com 3,5 milhões de famílias beneficiadas, em dezembro de 2003; hoje aproximadamente 14 milhões de famílias beneficiárias.

            No entanto, sabem os prezados Senadores que, pelos dados do sítio eletrônico da página do Ministério do Desenvolvimento Social, na verdade hoje haveria 19,3 milhões de famílias que teriam direito ao Programa Bolsa Família, porque suas rendas não chegam a R$154 per capita. Então, aproximadamente 14 milhões de famílias correspondem a 73% das famílias que deveriam ter o direito à chamada Busca Ativa, pela qual a Presidenta Dilma conclamou a todos os governadores, prefeitos municipais, entidades da sociedade civil e nós, cidadãos, a se soubermos de alguma família que, porventura, deva ter o direito ao Bolsa Família e ainda não estiver inscrita, que ela possa ir à Secretaria de Desenvolvimento Social ou ao Centro de Referência e Assistência Social do seu respectivo Município e se inscrever.

            Ao longo dessa minha campanha, querido Senador Cristovam Buarque. Eu fui sempre descrevendo isso para todos os auditórios, escolas e faculdades para daí, então, explicar quais serão as grandes vantagens da renda básica de cidadania, que eu espero ver concretizada no Brasil.

            E onde eu estiver, em qualquer circunstância, sendo um economista, administrador de empresas, que vai se dedicar mais e mais ao estudo dessas matérias, eu estarei escrevendo livros -- vou escrever artigos. E inclusive quero aqui informar: nos dia 2, 3 de dezembro, eu irei à Índia, convidado que estou, para ali observar uma experiência sui generis, extraordinária, realizada em 20 vilas rurais do estado de Madja Pradesh. Nessas 20 vilas rurais, 6 mil pessoas, correspondendo a todos os habitantes de 8 vilas rurais, por cerca de dois anos, receberam 300 rúpias mensais - os menores até 14 anos, metade disso -, e em 12 outras vilas rurais, 6 mil habitantes, todos daquelas 12 vilas rurais, não receberam aquelas 300 rúpias.

            Então, após esse período de quase dois anos, foram elaborados os resultados comparativos do ponto de vista de quais as melhorias na nutrição, na qualidade da saúde, na frequência das crianças nas escolas, no progresso nas escolas, no empreendedorismo efetivado, em quanto a atividade econômica aumentou e em todos os indicadores socioeconômicos que serão então comparados.

            Eu quero muito participar dessa reunião sobre esse experimento que foi realizado em cooperação com a Self Employed Women's Association, da Índia, que tem mais de um milhão de mulheres associadas e é também financiada pela Unicef, um dos organismos da ONU. Os resultados parecem ser extremamente positivos e certamente servirão para as nossas reflexões aqui no Brasil.

            Senador Cristovam Buarque, que é um dos adeptos do Facebook, por exemplo, quando postei minha foto com Carlos Drummond de Andrade, nos últimos três dias, ocorreram nada menos do que 2,5 milhões de visualizações, 9 mil comentários e mais de 100 mil curtidas. Eu vou precisar dedicar um tempo, de hoje para amanhã, para ler esses nove mil comentários. Já li diversos, mas ler 9 mil comentários é uma coisa nova para mim. Muitos querem saber das minhas respostas. Imaginem receber nove mil comentários! Eu recebo centenas de e-mails por dia e procuro respondê-los todos, mas responder 9 mil comentários, com toda a minha equipe, não vai ser tão fácil.

            Enfim, eu tenho registrado quatro mil novos seguidores por dia e espero continuar a fazer isso. Até 31 de janeiro de 2015, eu procurarei fazer o máximo empenho de minha capacidade para cumprir com a minha responsabilidade de bem exercer o meu mandato.

            Quero também fazer um registro: quando digo que tenho a convicção de ter cumprido com o meu dever, assinalo que essa também tem sido a avaliação de alguns dos institutos que têm avaliado o nosso desempenho. Por exemplo, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, que, há 21 anos, escolhe as cem principais cabeças ou mais influentes Deputados Federais e Senadores, em todos os 21 anos, qualificou-me dentre os melhores ou mais influentes Senadores.

            Por sua vez, o Congresso em Foco, composto de mais de 80 ou 90 jornalistas que cobrem o Congresso Nacional e que, de 2006 a 2013, por oito vezes - ainda não foi feito deste ano -, fez a análise dos melhores Deputados Federais e Senadores, escolheu-me, em todos esses anos, dentre os cinco melhores Senadores, por duas vezes, o segundo melhor; em 2010, o que mais defendeu a democracia e, em 2012, considerado o melhor Senador.

            Há uma outra avaliação interessante feita pelo site www.atlaspolitico.com.br, que analisou o desempenho de nada menos do que 96 Senadores, porque, além dos 81 que somos, há aqueles que passaram a ser Senadores, substituindo os que antes eram titulares, ou num prazo de oito anos, porque foi feita a medida no último mandato de oito anos. Então, esse atlaspolítico, realizado por dois brasileiros alunos de Harvard, Andrei Roman e Thiago Costa - o primeiro, cientista político; o outro, matemático -, acessível a toda a população, tem como objetivo mostrar o trabalho dos congressistas, comparando o desempenho dos Deputados e Senadores a partir de critérios objetivos listados no site e que levem em conta cinco dimensões: a representatividade, a campanha responsável, o ativismo político, o debate parlamentar e a fidelidade partidária.

            Ora, sobre campanha responsável e representatividade, eles levam em conta o volume de recursos por votos obtidos, o debate parlamentar, o conteúdo, o ativismo legislativo, o conteúdo das proposições e assim por diante. Daí, eles dão uma nota de zero a cinco.

            Então, no Senado Federal, tiveram notas acima de 4,5: Jayme Campos, Cristovam Buarque, Walter Pinheiro, Alvaro Dias, Inácio Arruda, Flexa Ribeiro, Paulo Paim, Humberto Costa, Aloysio Nunes Ferreira e eu próprio, com 4,9, considerado, então, pelo atlaspolítico o melhor Senador.

            Coloco isso aqui, porque considero essa uma forma de avaliação feita por outras pessoas e não apenas por mim.

            Mas eu quero aqui dizer do meu respeito pelo resultado conferido e registrado nas eleições de São Paulo.

            Cumprimento José Serra por ter sido eleito Senador, obteve mais de onze milhões de votos, comparados aos meus onze milhões, uma votação extraordinariamente expressiva.

            Mas eu quero aqui também agradecer as mensagens que estão chegando, sem parar, de tantos brasileiros e brasileiras, os eleitores de São Paulo que, com tanto carinho, têm transmitido a mim a energia tão positiva.

            Aqui cito, por exemplo, uma breve mensagem que meu amigo Paulo Nogueira Batista Júnior me manda de Washington D.C.:

Eu, como milhões de amigos e fãs seus, recebi com tristeza o resultado da eleição para o Senado, grande perda para a Casa. Aqui de longe acompanho a eleição e, apesar da decepção com o resultado da disputa pelo Senado, tenho certeza que você continuará dando grande contribuição em outras trincheiras.

            Gostaria também de aqui registrar o que vem lá da Bélgica, a mensagem de meu querido amigo Philippe Van Parijs, fundador da Basic Income European Network, professor da Universidade Católica de Louvain, que diz, em inglês:

Prezado Eduardo, nós acompanhamos as notícias, é claro. Como você disse: às vezes a gente encontra pedras no caminho, mas pedras removíveis bloqueando o caminho foi apenas uma intenção de seguir as muitas vezes criadas oportunidades para descobrir caminhos insuspeitos e para realizar coisas não esperadas.

Ao abraçar essas novas oportunidades com entusiasmo renovado, você rapidamente deixará nada dessa memória do caminho que foi bloqueado, mas a satisfação de ter preenchido plenamente o seu dever para conseguir obter.

            E ainda do outro fundador da Bien, Guy Standing, que diz o seguinte:

Nós estamos todos desesperadamente tristes que você tenha perdido a eleição. Como Philippe disse, uma derrota pode ser algo como uma descoberta para alguma coisa nova e maravilhosa.

Eu tenho certamente encontrado isso em minha própria vida. E eu desejo-lhe toda a força. Você tem servido o Brasil e São Paulo muito bem.

Algo das notícias me faz lembrar uma peça escrita por um dos advogados mais pioneiros da renda básica e uma das minhas fontes de inspiração, William Morris, que escreveu: Eu pondero sobre quanto os homens lutam e às vezes perdem batalhas, mas aquilo que eles batalham de alguma maneira acaba sendo realizado apesar daquela derrota.

            Então, são mensagens tão encorajadoras para que eu possa seguir o caminho de efetivamente continuar a batalha por estes objetivos de construção de um Brasil justo e solidário.

            Querido Presidente Paulo Paim, muito obrigado por suas considerações, um grande abraço a V. Exª e todo o carinho que V. Exª merece. Nós dois temos vivido momentos extraordinários aqui, batalhando por objetivos comuns.

            Um grande abraço!

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Querido Suplicy, só me permita que eu diga a você e a tua esposa, a querida Mônica, que este é um momento triste, Presidente Renan, para todos nós que acompanhamos a sua caminhada. Mesmo na Bancada nós sempre votávamos juntos, como aqui no Plenário também; havia uma solidariedade em todos os momentos.

            Enfim eu, em um outro momento - tenho certeza de que V. Exª fará um discurso de despedida -, quero estar sentado lá no plenário para ter o direito e o orgulho de fazer um aparte a V. Exª. Se, um dia, os meus filhos e netos disserem que eu segui um grande Senador, chamado Eduardo Suplicy, eu entendo que cumpri o meu dever na história e na vida.

            Muito obrigado por ser seu amigo!

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Paulo Paim.

            Senador Paulo Paim, permita apenas que eu conclua que certamente, na companhia de V. Exª, nós aqui tudo faremos, com todo o respeito ao nosso adversário nas eleições, Senador Aécio Neves, mas eu quero aqui transmitir, perante V. Exª, perante o Presidente, Renan Calheiros, que tudo farei.

            Estou à disposição do nosso querido Presidente Rui Falcão, do PT, do Presidente Emidio de Souza, do PT de São Paulo. Podem designar-me para estar onde melhor puder ajudar a Presidenta Dilma Rousseff a se tornar vitoriosa neste segundo turno. Esse é um compromisso que eu assumo aqui perante V. Exª, perante todos os brasileiros e brasileiras e, sobretudo, perante aqueles que confiam no trabalho extraordinário que tem sido desenvolvido pela nossa querida Presidenta Dilma Rousseff, com toda a energia positiva que lhe é transmitida pelo nosso outro grande Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

            Muito obrigado ao Senador Paulo Paim.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, querido Senador Paulo Paim, pediria à taquigrafia a gentileza de considerar isto que eu irei falar agora como uma continuação do meu pronunciamento de há poucos instantes, pois gostaria de completar aqui, primeiro, a análise da votação no Estado de São Paulo para o Governo do Estado de São Paulo.

            Nós tivemos, felizmente, para essa disputa, em que Geraldo Alckmin, Paulo Skaf, Alexandre Padilha, Gilberto Natalini, Gilberto Maringoni de Oliveira, Laercio Benko Lopes, Walter Paiva Ciglioni, Wagner José Farias e Raimundo Sena de Jesus foram candidatos, a oportunidade de alguns debates realizados pela Rede Bandeirantes de Televisão, Rede TV, Rede Globo de Televisão, Rede Record - acho que foram essas, especialmente. Pelo menos, aí houve a possibilidade de um debate entre todos esses candidatos. O nosso querido Alexandre Padilha gostaria até que houvesse mais debates, sobretudo para que tivesse a oportunidade de se colocar frente a frente com o Governador Geraldo Alckmin.

            Mas eu quero, sobretudo, cumprimentar este meu colega de campanha, o Alexandre Rocha Santos Padilha, pela campanha que realizou, com extraordinária dedicação, afinco. Ele teve o sopro energético do nosso querido Presidente Luís Inácio Lula da Silva. E tendo em conta a qualidade de seus atributos, inclusive como Ministro da Coordenação Política durante o Governo do Presidente Lula e Ministro da Saúde durante o Governo da Presidente Dilma Rousseff, foi o principal responsável pela instituição do Programa Mais Médicos, que passou a dar atendimento a mais de 50 milhões de brasileiros. Cerca de doze mil médicos puderam vir, nesse programa, trabalhar nos mais diversos Municípios brasileiros e nas áreas mais carentes, também em áreas indígenas, nos quilombolas e nas regiões periféricas, e isso por uma iniciativa acertada de Alexandre Padilha.

            Bem, o resultado das eleições em São Paulo foi que o Governador Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho, do PSDB, teve 12.230.807 votos, correspondendo a 57,31% dos votos válidos; Paulo Antônio Skaf teve 4.594.708 votos, 21,53% dos votos validos; e Alexandre Rocha Santos Padilha, 3.888.584 votos, 18,22% dos votos válidos; Gilberto Natalini, do Partido Verde, teve 1,22% dos votos válidos; e os demais candidatos, Gilberto Maringoni, Laercio Benko Lopes, Walter Paiva Ciglioni, Wagner José Gonçalves Farias e Raimundo Sena de Jesus tiveram menos que 1% dos votos.

            Embora tenha sido um partidário e ardente batalhador pela eleição de Alexandre Padilha, quero expressar o meu respeito e os cumprimentos ao Governador Geraldo Alckmin, que, mesmo tendo linhas e argumentos diferentes dos defendidos por nós do Partido dos Trabalhadores, foi eleito democraticamente pelo povo de São Paulo.

            Ressalto aqui, mais uma vez, que essa é a sétima eleição livre direta para a Presidência da República, desde a campanha das Diretas Já. Com respeito às eleições para governador de Estado, tivemos, aliás, duas antes dessa que foram realizadas em 86, quando foi eleito Orestes Quércia, e, em 82, quando foi eleito André Franco Montoro e na qual foi candidato a governador o Presidente Lula.

            Quero aqui agradecer a parceria que fiz com Alexandre Padilha, de quem muito me aproximei. Nós tivemos uma interação muito positiva com o Partido dos Trabalhadores, sob a presidência de nosso presidente e ex-Prefeito de Osasco, Emidio de Souza, que conduziu a nossa campanha de maneira bastante harmoniosa.

            Mas quero também, Sr. Presidente, completar os meus agradecimentos, sobretudo, a todos aqueles que em meu gabinete, durante esses meses de campanha, sobremodo se empenharam no trabalho aqui no Senado, em Brasília, e àqueles que trabalharam no meu escritório em São Paulo. Então, aqui faço um registro de agradecimento muito especial aos servidores Alan dos Santos ou Mendes, Arthur Maciel Motta, Carlos César Marques Frausino, Edwiges de Oliveira Cardoso, chefe de gabinete, que desde o segundo semestre de 1991 trabalha comigo e coopera à frente de todos estes outros, com grande brilhantismo; Fernanda Lohn Ramos, Flávia Rolim de Andrade, Gisele Domenech, Isaac Teixeira Ramos, Jane Alves Aguileras, Joana Ágata Mobarah, José do Patrocínio Filho, José Damião da Silva, Leandro Teodoro Ferreira, Luciano Mendes Coiro, Luisa Mesquita Piazzi, Lílian Nio Lie, Maria da Graça dos Santos Sousa, Neisse Vasconcelos Dobbin, Valéria Amadio Beneton, Rosa Maria Wasem, Saul Macalós de Paiva, Silvio Luiz de Carvalho Bezerra e Weslei Silva de Lima. Esses são os servidores do Senado que, neste meu mandato, muito têm colaborado comigo.

            Quero também agradecer imensamente o empenho e o esforço daquelas pessoas que, em São Paulo, muito colaboraram comigo durante a campanha. Aqui agradeço ao Chico Malfitani, responsável pela minha comunicação. Registro que sempre confiei no trabalho de Chico Malfitani, desde as campanhas de 1985 e de 1986 para prefeito, para governador, e em 1992, para prefeito. Na campanha, por exemplo, de 2006 foi um dos principais responsáveis por eu ter tido sucesso. Certamente, acredito que o seu trabalho, com a colaboração de toda a sua equipe, foi formidável para que eu pudesse ter 6.176.000 votos.

            A querida Mônica Dallari, que, inclusive, se tornou responsável pela condução, junto comigo, porque sempre ela quis que eu redigisse as postagens no Facebook, que foram enxugadas e melhoradas por ela. Muito obrigado.

            A Glória di Mônaco, que, como responsável pela comunicação nas redes sociais, seja no Twitter, no WhatsApp, no Facebook, na minha Fanpage, na minha página eletrônica, com a colaboração de pessoas como Andreza Archangelo e Taís Quebet, que colaboraram imensamente comigo. A Jaci Raduan, que, assim como a Rejane Laitano, o Zeca Ros, a Alessandra Mello, o João Eliseo Fonseca, o Alcides Neto, a Nísia Perosa, o Thiago Soares, a Nani, a Simone Bastos. A Nani, a Simone Bastos e Thiago Soares colaboraram com o Chico Malfitani. Muitas dessas pessoas colaboraram de maneira inteiramente voluntária, sem qualquer remuneração e com uma dedicação simplesmente fantástica.

            A cada um de vocês eu quero muito agradecer, porque vocês são responsáveis pelas boas coisas que aconteceram durante esta campanha. Então, o meu profundo agradecimento.

            Sr. Presidente, agradeço se essa minha fala puder ser considerada a parte complementar de meu pronunciamento inicial desta tarde.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/2014 - Página 54