Discurso durante a 144ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações acerca da matéria publicada pela revista Istoé intitulada “A cabeça política do jovem brasileiro” bem como da necessidade de integração da chamada “geração digital” à política no País.

Autor
Kaká Andrade (PDT - Partido Democrático Trabalhista/SE)
Nome completo: Antonio Carlos Porto de Andrade
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES, ATIVIDADE POLITICA.:
  • Considerações acerca da matéria publicada pela revista Istoé intitulada “A cabeça política do jovem brasileiro” bem como da necessidade de integração da chamada “geração digital” à política no País.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/2014 - Página 30
Assunto
Outros > ELEIÇÕES, ATIVIDADE POLITICA.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, ISTOE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ASSUNTO, AUMENTO, PARTICIPAÇÃO, ADOLESCENTE, ELEIÇÕES, ATIVIDADE POLITICA, BRASIL, IMPORTANCIA, DIVERSIDADE, TRANSMISSÃO, INFORMAÇÃO, SOCIEDADE.

            O SR. KAKÁ ANDRADE (Bloco Apoio Governo/PDT - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senador Magno Malta, hoje pela manhã recebi o Deputado Estadual Pastor Antonio, lá de Sergipe, que esteve presente à audiência de ontem, e já me situou sobre o andamento dos trabalhos. V. Exª pode contar comigo para assinar esta frente ou qualquer documento na direção da proibição da legalização da droga, que pegou um nome bonito.

            Aproveito a ocasião também, já que estamos passando por este momento da democracia brasileira, para reforçar o convite a todos os sergipanos e brasileiros para hoje à noite, às 22 horas, quando a Rede Bandeirantes estará transmitindo

mais um debate presidencial, em que nós, brasileiros, poderemos assistir e formar consciência, para que, no dia 26, possamos decidir o nosso voto, ouvindo o contraditório, ouvindo os dois candidatos e formando a nossa consciência, para que votemos naquele que conduzirá os destinos do País nos próximos anos.

            Mas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em sua edição de 3 de setembro, a revista IstoÉ publicou interessante reportagem a respeito da juventude de nosso País intitulada “A cabeça política do jovem brasileiro”. Com base em dados do Instituto Data Popular, a matéria conduz o leitor a uma conclusão inescapável: se os jovens são o futuro do Brasil, o futuro já chegou. E veio sob a forma de demandas, de novas demandas, protestos intensos, descrédito generalizado na classe política e, em um aparente paradoxo, renovada a fé no poder do voto e na importância da política.

            Quem são estes jovens? Estou falando, senhoras e senhores, de 45 milhões de eleitores - trata-se de um terço do eleitorado alistado para as eleições que se realizarão no próximo dia 26. Os votos destes jovens, que têm entre 16 e 33 anos de idade, serão extremamente importantes; mais do que isso, nesse pleito a participação da juventude será decisiva.

            O que pensa esta juventude a respeito da política brasileira, Sr. Presidente? Segundo a publicação, 63% dos jovens acham que o País não está no rumo certo, e 59% acreditam que o Brasil estaria melhor se não houvesse nenhum partido político. Em outra pesquisa, 75% dos jovens entrevistados disseram não confiar nos Parlamentares, 35% expressaram falta de confiança na Presidência da República, 59% afirmaram não confiar na Justiça e apenas 2% identificaram o Estado como um meio de melhorar suas vidas.

            No entanto, Senador Fleury, 80% destes jovens reconhecem o papel determinante da política no cotidiano nacional e mais de 70% acreditam que o voto pode transformar o País.

Esses dados convidam-nos a uma reflexão mais detida sobre a identidade, o papel e a importância desse segmento populacional para o futuro da democracia brasileira. É um exercício ao qual não podemos nos furtar, sob pena de sermos atropelados pelas transformações em curso no perfil da cidadania nacional.

            Srªs e Srs. Senadores, ouvimos, com acentuada frequência, que nossos jovens são politicamente indiferentes, apáticos e omissos. Trata-se, creio, de uma avaliação equivocada. O que ocorre, de fato, é que muitos políticos não falam a linguagem dos jovens.

            Entre a classe política e a juventude parece haver uma barreira comunicacional, um entrave que deve urgentemente ser removido. Como sintetizou Renato Meirelles, Presidente do Instituto Data Popular, os jovens são digitais, e os políticos são analógicos. Nosso grande desafio é, portanto, a criação, dentro do sistema político brasileiro, de uma ponte intergeracional capaz de integrar os mundos da política e da juventude.

            Não podemos permitir que a incredulidade juvenil sobre a classe política desprestigie a nossa democracia, que foi tão bravamente conquistada pelo nosso povo. É nosso dever, nesse sentido, decodificar demandas, identificar as expectativas e compreender o imaginário desses cerca de 50 milhões de jovens brasileiros. E é verdade que demos, nos últimos anos, passos importantes nessa direção: a promulgação, em 2010, da Emenda Constitucional nº 65, que reconheceu, no mais alto nível, os direitos dos jovens; a formação, em 2011, da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Juventude; e a aprovação, em 2013, do Estatuto da Juventude demonstram que estamos no caminho certo, mas há muito ainda a ser feito, e, se as manifestações de junho do ano passado, servem de indicação, devemos agir com urgência.

            Sr. Presidente, a chamada Geração Digital, que nasceu integrada ao acesso fácil à informação e comunicação, cresceu e formou sua consciência sob condições e circunstâncias muito diferentes daquelas que marcaram a geração que a precedeu. As vitórias políticas, econômicas e sociais dessa geração, a redemocratização e a estabilidade econômica, criaram um ambiente diferente daquele no qual os mais antigos cresceram.

Foi nesse novo ambiente, propício ao surgimento de novos anseios e renovados sonhos, que se formou a consciência política dos jovens que foram às ruas no ano passado e que, no próximo dia 26, comparecerão às urnas.

            Diversamente do que ocorreu em outros momentos de nossa história, hoje é difícil identificar líderes políticos que personifiquem as aspirações da Geração Digital. Além disso, o sistema político atual não oferece vias de debate sintonizadas com as práticas de comunicação dos jovens.

            Quem são os porta-vozes dessa juventude? Onde e como esses jovens trocam idéias acerca de seu futuro coletivo? A Geração Digital parece rejeitar as formas tradicionais de participação. Antipatiza também, com o modo de organização vertical que caracteriza a política partidária.

            Em vez de filiar-se a uma entidade, como um partido ou um sindicato, o jovem prefere vincular-se a causas pontuais, a causas específicas. Ele se engaja, por exemplo, em projetos locais de cunho cultural, em ações ambientalistas e no ativismo on-line. A juventude trava seus debates políticos na internet, principalmente nas redes sociais.

            Os jovens conectados trazem as conversas digitais para dentro de suas casas e influenciam seus pais. No seio familiar, o fluxo da persuasão eleitoral está em transformação. Hoje em dia, Senador Jorge Viana, há filhos que dizem aos pais em quem votar.

            A dinâmica das campanhas políticas foi, inclusive, alterada em decorrência dessa evolução, como comprovam os crescentes gastos com marketing digital. Até instituições de ensino estão se adaptando. A Fundação Getúlio Vargas, por exemplo, já oferece um curso chamado "Gestão de Campanhas Políticas na Internet".

            Srªs e Srs. Senadores, penso que a atualização de nosso sistema político, no sentido de aproximá-lo da juventude, não é, apesar das dificuldades de comunicação, incompatível com o incremento da participação dos jovens na política tradicional. São ações complementares. Precisamos de mais jovens Vereadores e Prefeitos; precisamos, sim, de mais jovens Deputados Estaduais, Deputados Distritais, Governadores e Deputados Federais.

            O cenário das eleições de 2014, contudo, não é dos mais promissores para a renovação geracional da política brasileira.

Se analisarmos as estatísticas recentemente divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral, perceberemos que apenas 14% dos candidatos têm menos de 34 anos de idade. Notem a discrepância, senhoras e senhores, a juventude compõe 33% do eleitorado, mas apenas 14% são candidatos.

            O que fez o jovem brasileiro deixar de gostar de política? Será que o atual modelo de campanhas eleitorais, cada vez mais caro, está intimidando nossos jovens a participarem politicamente de forma mais efetiva do destino do nosso País? Peço aos jovens que se engajem, que participem, que lancem suas candidaturas, pois a democracia brasileira se enfraquece sem a contribuição ativa da juventude.

            Isso é muito sério, Sr. Presidente. As estatísticas do TSE indicam uma tendência no sentido de os jovens não trilharem as vias tradicionais de atuação política. Se for esse o caso, como solucionaremos o problema? Como preservaremos a democracia representativa sem o protagonismo dessa geração digital?

            Para que os jovens venham à política, a política terá de ir até os jovens. Não há, creio, outra saída. Devemos destravar os caminhos da política para a juventude; devemos viabilizar a participação ativa e eficaz dos jovens na definição das políticas públicas.

            Nobres colegas, o surgimento de novos modos de ação política juvenil não constitui acontecimento que se restringe ao nosso País. Trata-se de um fenômeno global. Basta recordar, por exemplo, a Primavera Árabe; o movimento Ocupem Wall Street, nos Estados Unidos; os Indignados, na Espanha; e, mais recentemente, a mobilização dos jovens em Hong Kong, na China.

            Em algumas regiões do mundo, o enfrentamento político cedeu lugar ao conflito armado, e na sequência, à instabilidade institucional. A possibilidade de um desfecho similar em terras brasileiras pode parecer, dada nossa tradição de pacifismo, remota.

            O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Senador Kaká Andrade, eu queria, com sua autorização, só agradecer a presença dos alunos e das alunas que estão nos visitando. É a turma do ensino fundamental da Escola Complexo 05 de Planaltina de Goiás. Sejam bem-vindos a Brasília e ao Senado. Aproveito também para cumprimentar os alunos do 3º ano do ensino médio da Escola Virgínio Santillo, de Anápolis, Goiás, que também estão nos visitando. Sejam bem-vindos ao Senado!

            Peço desculpas ao Senador Kaká Andrade, mas era uma maneira de agradecermos a visita desses jovens que nos dão a honra da visita. Obrigado.

            O SR. KAKÁ ANDRADE (Bloco Apoio Governo/PDT - SE) - O nosso discurso vai exatamente na direção da participação política dos jovens. É bastante oportuno. Obrigado a vocês pela presença.

            No entanto, os episódios mais violentos ocorridos durante as manifestações de junho de 2013 comprovam que a indignação nacional traz, ainda que em bolsões isolados e minoritários, as sementes da violência. É necessário evitar, a todo custo, a combinação explosiva da falta de representatividade com a perda de perspectiva. Se nossos jovens ficarem à margem da política e não vislumbrarem um futuro melhor, a saúde da nossa democracia estará seriamente ameaçada.

            É por isso que devemos analisar com muito cuidado um dado que o IBGE divulgou no ano passado: quase 10 milhões de brasileiros com idade entre 15 e 29 anos não trabalham e não estudam. São os jovens “nem-nem”, ou seja, aqueles que nem trabalham, nem estudam.

            Em países nos quais esses jovens não dispõem de amparo familiar e social sólidos, a dupla ameaça do desemprego juvenil e da evasão escolar é uma receita para o desastre. Sem trabalho, sem apoio da família e sem esperança, aumentam significativamente as chances de que o jovem flerte com o radicalismo, com o envolvimento cada vez maior com as drogas e com a criminalidade. Talvez seja muito cedo para concluir que estamos diante de uma bomba-relógio social. Ainda que não seja esse o caso, é prudente acelerarmos o processo de incorporação política da juventude.

            Sras e Srs. Senadores, a ascensão social que vivenciamos durante as últimas décadas deve ser complementada com a oxigenação de nossas práticas políticas. A integração plena da juventude brasileira aos processos políticos é fase da construção nacional que não pode ser adiada.

            Temos muito trabalho à frente. No curto prazo, é vital para a democracia brasileira que a juventude se engaje, discuta e participe. Convoco, portanto, os 45 milhões de jovens eleitores a darem o primeiro passo e comparecerem maciçamente às urnas, no próximo dia 26, e a exercerem o seu direito livre e soberano de escolher, de forma consciente e desprovida de qualquer preconceito, o futuro Presidente da nossa Pátria.

            Para encerrar, repito aqui uma frase do filósofo Platão: “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política. Simplesmente serão governados por aqueles que gostam”.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/2014 - Página 30