Discurso durante a 144ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões acerca das eleições brasileiras de 2014 e apoio às mudanças propostas pelo candidato Aécio Neves.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Reflexões acerca das eleições brasileiras de 2014 e apoio às mudanças propostas pelo candidato Aécio Neves.
Aparteantes
Casildo Maldaner, Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/2014 - Página 37
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • COMENTARIO, ELEIÇÕES, ANUNCIO, APOIO, AECIO NEVES, DISPUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REGISTRO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, GESTÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REFERENCIA, MELHORIA, SOCIEDADE, ECONOMIA NACIONAL, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, GOVERNO.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Prezado Presidente, Srªs e Srs. Senadores, virei aqui numa próxima oportunidade para fazer uma análise pessoal da eleição que passou e da eleição no Rio Grande do Sul para o Governo do Estado.

            Hoje, dada a urgência e a rapidez dos acontecimentos, eu venho a esta tribuna exatamente para analisar o quadro do segundo turno da eleição presidencial. Não há como deixar de reconhecer a gravidade da situação em que vive o Brasil. Nós não estamos vivendo um processo sucessório tranquilo, sereno, normal. Tivemos isso na eleição de Fernando Henrique, na reeleição do Fernando Henrique; tivemos isso na eleição do Lula, na reeleição do Lula, na eleição da atual Presidente, mas, desta vez, o ambiente é muito tenso, a situação é muito dramática e o povo acompanha o processo eleitoral com um olhar na página política, o outro na página policial, o outro nas páginas dos escândalos, o outro nas interrogações do que vai acontecer.

            Eu digo com toda sinceridade: a mim parece que para o Brasil hoje é muito importante a vitória de Aécio Neves, para o Brasil e para os brasileiros. Eu diria que a derrota de Dilma Rousseff hoje será muito boa para o PT e para o Brasil.

            Eu explico. Nós vivemos o episódio das Diretas Já; vivemos aquela luta dramática, uma brilhante atuação do velho MDB, coordenando o povo brasileiro, que naquela resistência de várias oposições, umas querendo guerra civil, outras querendo guerrilha, outras querendo luta armada, outras querendo seqüestro, querendo exílio ou coisa parecida... Por fim, uma reunião realizada lá no Rio Grande do Sul, no MDB do Rio Grande, o bom senso determinou. Oposição é quem está aqui. Diretas já, anistia, fim da tortura, liberdade de imprensa e Assembleia Nacional Constituinte. A primeira é as Diretas Já. E saiu o movimento e houve uma mobilização fantástica, e esse movimento fez com o Brasil todo fosse à rua. A ditadura ainda conseguiu derrotar no Congresso, fruto da violência, da arbitrariedade. A emenda não passou, mas a vontade popular era tão intensa e tão real que no Colégio Eleitoral o Tancredo foi escolhido.

            É que, quando se fez o movimento de que a ditadura tinha chegado ao final, que tinha que acabar, quando se fez o estabelecimento das normas no que devia mudar, Tancredo Neves, naquela altura, representava a mudança. Todos, civis, políticos, militares, empresários, todos os que reconheciam que aquela ditadura ia longe demais entenderam: Não, Tancredo é a mudança! E ele foi eleito. Morreu, sem assumir. Mas, mesmo com a tragédia, assumiu o Sarney. Divergências podemos ter com o Sarney, mas ele fez mudanças. Ele fez a Constituinte, ele fez as Diretas Já, estabeleceu a normalidade democrática e o Brasil avançou.

            Tivemos uma nova Constituição, e essa Constituição foi adiante. Nessa Constituição, tivemos o Collor, e o Collor foi cassado; e veio o Itamar, e fez um brilhante trabalho, fundamentalmente, com o Plano Real; e veio o Fernando Henrique, e trouxe coisas positivas, e trouxe coisas negativas.

            Chegou-se a um determinado momento em que o PSDB, com uma votação da emenda da reeleição, conseguida de maneira não muito leal, com a privatização da Vale do Rio Doce e tudo mais, perdeu o controle. O povo começou a sentir que aquilo não era o bom, que aquele segundo governo do PSDB não era o ideal, tinha que mudar. Aí veio o Lula. O Lula, Senador Cristovam, que tinha perdido para o Collor, o Lula que tinha perdido para o Fernando Henrique, o Lula que tinha perdido, pela segunda vez, para o Fernando Henrique, veio, mas aconteceu uma nova realidade. Aquele Lula do Collor, do Fernando Henrique um, do Fernando Henrique dois, com aquelas ideias, com aquele radicalismo, não somava. Aí veio a Carta aos Brasileiros. Aí o Lula e as pessoas que o cercavam tiveram a inteligência, a capacidade e a compenetração de entender que a hora que nós estávamos vivendo era uma hora muito mais importante, muito mais necessária e muito mais significativa de unir os brasileiros, para que isso fosse feito de forma tranquila, de forma pacífica, numa eleição. Mas, para mostrar que o Lula não era aquele perigo, para mostrar que o Lula não era aquele assusto, para acalmar os ânimos, veio a Carta aos Brasileiros.

            O Lula fez a Carta aos Brasileiros. E o Lula foi escolher para o seu candidato a vice, a esta altura, o grande empresário, o grande companheiro José Alencar, que fez a ligação do Lula, inclusive, com as entidades. E o Lula foi escolher para Presidente do Banco Central o Sr. Henrique Meirelles, que surpreendeu todos, de certa forma, o único estrangeiro presidente mundial do Banco de Boston. E aquela Carta aos Brasileiros, e aquele movimento, e aquela situação se pacificou, e o Lula foi eleito, e fez um grande governo.

            Fez um grande governo. Mas quero voltar atrás para dizer algo que eu esqueci. O PT, nos oito anos de oposição ao Sr. Fernando Henrique, teve uma grande atuação: se formou, se transformou num partido de respeito.

            Primeiro, era só V. Exª, Senador Suplicy, praticamente sozinho, mas veio após, junto a V. Exª, colegas seus, e o PT se formou, aprendeu a fazer oposição, às vezes oposição dura, às vezes enérgica. Chegou às vezes à posição, por exemplo, de não votar no Tancredo. Ainda que o Maluf pudesse ganhar, mas o PT confiou que os outros votariam no Tancredo e o Tancredo ganharia, e ele ficaria com a dignidade da seriedade de não ter votado no Tancredo se o Maluf não ganhasse.

            Veio o Plano Real, uma realidade extraordinária fantástica, importante, necessária, e o PT não votou. Votou contra o Plano Real. Votou contra o Plano Real, sabendo os economistas do PT que era a grande saída. Está provado, hoje, que era a excepcional saída para a hora que nós estávamos vivendo. Mas ele entendeu. Politicamente, ele viu que aquele Plano Real, se desse certo, não era o Lula que iria para o poder. Debateram, lutaram, discutiram e votaram contra.

            Mas, Senador Suplicy, V. Exª sabe, o PT votou contra - eu era Líder do governo Itamar -, mas não boicotou. Se estivesse o PT com toda a sua bancada querendo boicotar e fazer virar a mesa, o plano não saía. O plano não saía, porque o PT votou duro, fez oposição, mas tranquilamente deixou que passasse, e foi aprovado. E aí o PT fez uma grande oposição, aí o PT se transformou num grande partido, aí o PT foi realmente o partido que cresceu. Eu era um dos que tinha, ainda que cristã, uma inveja cristã da forma com que ele se conduzia.

            O PSDB foi governo uma vez, governo a segunda vez, foi para a terceira na soberba da realidade. E nessa soberba da realidade de que tinha que ser - o falecido Ministro Sérgio dizia que o PSDB iria ficar 20 anos -, terminou indo para a competição e perdeu para o PT. O PT com a Carta aos Brasileiros, o PT com o Meirelles como seu Presidente do Banco Central, o PT, com José Alencar de Vice-Presidente, ganhou a eleição e foi para o poder. E repito: um grande trabalho. Não há como deixar de reconhecer que o Fome Zero foi um grande programa. O auxílio-família é um grande projeto. Mas sabe V. Exª, Presidente Suplicy, que a ideia foi do Lula, mas quem iniciou foi o Presidente Itamar. Quem começou e lançou o projeto do Fome Zero foi o Presidente Itamar, com o Bispo de Duque de Caxias e o Betinho - um, de Presidente, e outro, de Secretário-Geral. Ideia do Lula, que procurou V. Exª, e V. Exª procurou a mim, Líder do Governo. Nós fomos e levamos o Lula à presença do Itamar, e o Itamar determinou que todo o Governo trabalhasse isso. No governo, o Lula levou adiante, fez um belo trabalho. O projeto foi positivo. Realizou, foi adiante. Não há como deixar de ligar. Seria ridículo não dizer que o Lula fez um governo tranquilo, lá com o seu Meirelles, lá com o seu Vice-Presidente da República. Os que estavam assustados ficaram sem saber o que dizer. E ele fez um governo que avançou, um governo de estadista. Foi eleito, foi reeleito, e assumiu a atual Presidente. Teve uma oportunidade a mais que o PSDB. O PSDB, na terceira, caiu fora. O PT ganhou.

            A Senhora Dilma está fazendo o seu Governo. A hora é difícil. A hora da economia é complicada, mas a grande realidade é que a hora que estamos vivendo é dramática. Na economia, não há como deixar de discutir, porque os números são altamente negativos. O Ministro Mantega chega, às vezes, a uma posição meio tragicômica em que quer justificar: a, hoje; b, amanhã; c, depois. E, na verdade, não diz nada. Pelo que diz a Presidenta, ela deixou claro que, se reeleita, ele não vai ser Ministro da Fazenda.

            Mas o grave é que nós chegamos a um ponto, no campo de vista da ética, da dignidade e da seriedade, em que temos que parar para pensar.

            Houve o mensalão. É interessante que se esclareça: o mensalão não foi criado pela oposição. Quando Getúlio Vargas era Presidente da República, o mar de lama embaixo do Palácio do Catete era coisa do Carlos Lacerda. A UDN abria guerra contra o Getúlio. A chamada banda de música da UDN queria demolir o Getúlio Vargas; e, sem fato, sem conteúdo, sem profundidade, levaram-no ao suicídio.

            Mas, no caso do mensalão, foram realidades. O Supremo Tribunal, em onze indicados pelo Lula e pela Dilma, por esmagadora maioria, condenou. Condenaram o presidente do PT, o secretário-geral do PT, o Chefe da Casa Civil, o ex-Presidente da Câmara, do PT, o tesoureiro do PT. Meu Deus!

            E o grave nisso tudo é que o PT e o Governo, em vez de fazerem o mea-culpa, em vez de fazerem a divisão - o Tarso Genro, na época, falou em recriar o PT -, não; esses réus que estão hoje na cadeia foram considerados vítimas, heróis, e se fez uma movimentação a favor deles contra o Supremo, como se o Supremo tivesse feito um absurdo, um escândalo em dar a condenação.

            Estamos vivendo em pleno mensalão, no ano passado e neste ano, e aparece a Petrobras. Ó meu Deus do céu, e aparece a Petrobras!

            Eu não consigo entender. Eu vim muitas vezes a esta tribuna. Dona Dilma, Dr. Lula, diretoria da Petrobras não é cargo para político de cor partidária; não é cargo para dar para representante da CUT ou de qualquer instituição. Não é cargo político, é cargo técnico. Pode ser dado até para um homem de partido, mas tem de ser um cara técnico, especializado, com responsabilidade. Deram um para o MDB, um para o PCdoB, outros três para o PT, distribuíram os cargos mais importantes, as presidências das subsidiárias. E existe uma, internacional, que está há mais de dez anos. E aconteceu o que aconteceu. É um escândalo! É uma imoralidade! É algo que não dá para entender, não dá para compreender.

            Eu não consigo entender como a Dona Dilma diz que não vai demitir, não vai afastar nenhum membro da diretoria enquanto a culpa não for decidida. Mas com tudo o que foi dito de alguns diretores pelo diretor que está preso, pelos fatos que estão sendo contados, pelo menos não deveria ela afastar, enquanto estiver alguém respondendo, enquanto não se chegue a uma conclusão final? Mas quem? Eu tenho uma loja lá em Caxias do Sul, me dizem que o gerente está roubando e eu o deixo lá? Eu afasto e boto alguém no lugar dele. E vivemos essa situação. É uma piada.

            Hoje, terça-feira, 14 de outubro. Daqui a duas quartas-feiras já teremos o resultado. A imprensa está publicando que a Associação dos Juízes Federais do Brasil...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ... que os Procuradores estão dizendo que o processo está sendo absolutamente normal. Que a condução que o Juiz está dando para o processo é 100% correta. Que aquilo que o cidadão, o diretor e o homem dos juros fizeram, de declaração secreta sobre sigilo, aquilo não pode ser publicado, aquilo está lá em segredo. Mas, fora disso, o que for publicado, as audiências que forem feitas, são públicas. Isso dizem os membros do Tribunal. Isso dizem os juízes, a direção geral dos juízes. E vem a Presidenta e diz que estão agindo contra ela, contra o Governo. Não é verdade. Não é verdade.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Permita-me, Senador Pedro Simon. Com a anuência dos Senadores presentes, acho que vamos dar pelo menos mais dez minutos ao Senador Pedro Simon, se todos estiverem de acordo.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Fora do microfone.) - O quanto ele quiser.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Então, prossiga, Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Não. Mas isso aconteceu.

            Então, a gente se pergunta se a Presidenta não é mais a gerentona que o Lula dizia. Até reconheço. Desta tribuna, no início do seu governo, eu vim várias vezes defender a Presidenta quando ela demitia ministro por fato grave. E ela demitiu. É verdade que não apurou, não buscou apurar. Ao final, a manchete “Volta, Lula” determinou que ela mudasse. E ela se identificou com isso que está aí.

            Por isso, faço a seguinte análise.

            Nós tínhamos a Marina. A Marina junto com o Eduardo formavam uma dupla para fazer essa posição de buscar o caminho da transformação e da travessia. Tragicamente morto Eduardo, a Marina ocupou essa posição. De uma maneira cruel, a Presidenta e o PT demoliram com a Marina. Eu nunca vi algo de semelhante na minha vida. Foi algo assim de uma maneira fascista. Desmontaram. E, quando abriram os olhos, não tinha mais. Então, estamos nessa realidade.

            Dizem que o PT vai demolir com o Aécio, que está preparado para usar tudo que é método que for necessário para demolir. Pois estou aqui para dizer que confio no povo brasileiro, que deve fazer uma análise profunda da hora que estamos vivendo.

            Hoje, quando telefonei para o Aécio, disse a ele: Meu amigo Aécio, terminei de conversar com a Marina, e a Marina te apoiará no sentido de que tu significas essa mudança.

            E a carta que o Aécio fez é a repetição da carta que o Lula fez aos brasileiros. O Aécio está dizendo na carta e afirmando, perante si e perante Deus, que ele não é mais candidato do PSDB. Isso ele disse: “Eu não sou mais candidato do PSDB, eu sou candidato da mudança. Eu represento os que querem mudar e me comprometo a fazer esse trabalho e essa luta.” Esse é o fato importante. Esse é o fato significativo.

            O Aécio, que é um homem de bem, que é neto de Tancredo. O Tancredo também era um homem eclético, que tinha uma personalidade importante, mas que tinha garra, raça, dignidade e, na hora, foi firme. Pois o neto dele está na mesma posição.

            A carta que aos brasileiros ele escreveu e que ele leu e a carta que a Marina escreveu para ele é nesse sentido. Terminou aqui PT e PSDB. Não tem PSDB; tem um homem que representa as oposições, um homem que representa a mudança, as modificações.

            Eu acho que ganhar o Aécio, com essa responsabilidade de buscar os melhores, os mais capazes, os mais competentes, é bom para o Brasil. E eu acho que o PT em proposição em fazer oposição a esse governo é bom para o Brasil e é bom para o PT. Aquilo que o Tarso Genro disse lá atrás, quando apareceu o mensalão, e ele era Vice-Presidente e assumiu a Presidência, quando disse “temos que mudar o PT, temos que reformar, recriar o PT” - e o botaram na rua, ele saiu da Presidência -, hoje, é necessário. Realmente, isso de o PT ir para a oposição, assumir essa posição, refazer a sua realidade, já, agora, com oito anos de oposição ao Governo Fernando Henrique e doze anos no Governo, eles podem preparar um vinda lá adiante, fazendo a limpeza daqueles que têm que limpar, orientando a coordenação do que é governar com dignidade, o que é dinheiro público e o que é dinheiro pessoal.

            O Aécio governará com a Nação, governará com os competentes, deverá fazer - e disse eu - como o Itamar fez: chamar todos os líderes dos partidos e dizer “nós temos de salvar o Brasil; nós temos de ter um plano e uma proposta para somar no Brasil e tirar o Brasil dessa triste e infeliz situação que está vivendo”.

            O Aécio pode e vai fazer isso. Vai governar nessas condições, chamando os líderes de partidos - não sei como vai ser, porque agora são 40, trinta e não sei quantos, mas fazendo e tentando fazer um governo.

            Então, nesse governo, os problemas da Petrobras serão resolvidos tranquilamente na ordem judiciária. Os problemas das grandes transformações, o problema das reformas de base, de estrutura e, talvez, se Deus quiser, até uma Assembléia Nacional Constituinte poderá ser definida, porque o Aécio, eleito nessas condições, dizendo que está eleito em nome do povo, para representar o povo, pode convocar o PT e os outros partidos para, em torno de uma mesa, buscar o entendimento. Um Pacto de Moncloa, por que não? Com Itamar, nós fizemos isso. Reunimos os presidentes de todos os partidos, lá no Palácio, onde foi dito isso: “Esta reunião se repetirá quantas vezes forem necessárias; qualquer presidente de partido, por menor que seja, pode pedir; e eu, Presidente da República, também poderei pedir, para debatermos.” E lançou o Plano Real, que veio a esta Casa. O plano mais difícil, mais complexo, mais importante da história deste País, e nós votamos. E V. Exª estava aqui. Não se deu um copo d’água. Eu peço que me diga o nome de um deputado, de um senador, de um governador, de quem quer que seja que tenha recebido um mil réis, um tostão, para fazer uma votação. Votou-se como se quis, aberto, livre e soberanamente. Isso pode ser feito agora! Isso pode ser feito agora! Mas, para ser feito isso, o PT tem que estar numa posição firme, fazendo uma bela oposição - aquilo que ele sabe fazer com alta categoria, com alto gabarito -, e o governo se unindo e reunindo em torno de um grande entendimento; reunindo e fazendo uma plataforma de entendimento. Nós vamos fazer isso. Quarenta partidos é demais. Essas coisas como estão é demais. Esses atropelos são demais. Vamos estabelecer um pacto, um entendimento de um novo Brasil!

            Digo, Sr. Presidente, que nunca vi uma hora tão importante e tão significativa como esta. O Lula que pense. Eu tenho o maior respeito por ele. É verdade que ele andou lá no Rio Grande do Sul e disse outra coisa com relação a este Parlamentar, mas ele tem grande competência e ele deve pensar.

            E eu não vejo, com o PT ganhando daqui a 15 dias, daqui a vinte dias o Brasil voltar ao caminho da normalidade. Eu não vejo, com o PT no governo, a Justiça julgar a questão da Petrobras. Não vejo!

            Agora, eu vejo o PT na oposição, o Aécio no governo, com o compromisso de governar com a Nação, convocar todos nós para, no dia 1º de janeiro ou 31 de janeiro, melhor dizendo, fazer um grande entendimento; iniciar de saída - de saída -, na composição do governo, onde fará aquilo que até hoje eu pedi para a Presidente Dilma e ela não conseguiu: Ministro, para ser nomeado, tem que mostrar ficha limpa; primeiro mostrar a ficha, para, depois, ser escolhido. A lei não saiu, está lá na gaveta da Presidenta. O Ministro mandou, mas ela não assinou.

            Eu acho, Sr. Presidente, do fundo do coração, que a hora é tremendamente necessária - tremendamente necessária.

            O PT, diziam alguns que é um processo de avanço, que não pode recuar, porque é o PT e o Brasil: tem que ganhar agora; daqui a quatro anos, o Lula; e tem que ser um partido único que nem no México - é um partido, uma democracia de partido único. Não sei se dará certo. Hoje, não vivemos como 50 anos atrás como é no México. E o avanço da tecnologia e o avanço político-institucional do Brasil eu não sei se admitem isso: vinte anos de ditadura, vinte anos de democracia e vinte anos de partido único. Não acredito.

            Acho que sim, eu não tenho dúvida, se o governo continuar a fazer uma guerra de trovão contra a oposição, daqui a pouco vamos descobrir, vamos inventar, e não vão ver a... 

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ... o Sr. Aécio, o Sr. Aloysio, e vão fazer o que o Lula sofreu. E nós todos, eu inclusive, berramos o escândalo, a violência, a imoralidade da época do Collor.

            E, agora, querer repetir isso, de novo, aqui, novamente? O PT? Não!

            Olha, Sr. Presidente, o PT vive um grande momento. O PT vive um grande momento. Talvez, pelo mundo afora, difícil que tenha algum antecedente nessas condições. O PT está no Governo. O PT, deixa transcorrer. Não estou nem pedindo que o PT perca, dizendo que o PT pede para perder a eleição. Não! Eu não estou nem pedindo que o PT afrouxe. Não! Só não use do radicalismo, só não use da violência, da guerra, da metralhadora de dilaceração como fizeram com a Marina em cima de Aécio. Deixe o episódio normal. Deixe tranquilo. Não usem nem abusem das redes sociais, uma conquista fantástica, uma das coisas mais bonitas deste início de século, em que os jovens, os estudantes principalmente, saíram da força da mídia. Meia-dúzia de milionários, três ou quatro dominadores dominam o País, e eles, livremente, pessoalmente ali, com suas famílias emitiam suas palavras. Hoje, o que fizeram? Pegaram uns 100 ou 120 mil jovens, deram um punhado de cinco ou seis mil cruzeiros por mês e deram lições. Agora, a mídia é um escândalo que mexe e devora a honra de todo o mundo. Agora, a mídia não se pode ver onde ela é representativa de um jovem que tem realmente sentimento, que diz o que pensa e o que é, ou quando ela é feita, diabolicamente, preparada para denegrir e para desmoralizar. Até a mídia social e pessoal está sendo usada nesse sentido. Que o PT não entre nesse caminho, Presidente.

            Eu levo minha solidariedade a V. Exª. Olha, V. Exª, eu terei de falar no meu caso. Só digo que nunca esteve no meu prognóstico minha eleição para Senador, porque eu já tinha decidido, eu estava certo de que não seria candidato. No final, como nosso candidato ao Senado, em 30 dias, entrou para Vice da Marina, e como não havia ninguém que aceitasse, fiz algo que só eu mesmo faria: aceitei a imposição para que tivéssemos candidato. Não fui a Município nenhum, não andei por lugar nenhum, não fiz uma propaganda, absolutamente nada.

            Mas digo que V. Exª é o símbolo de um grande homem, é o símbolo do homem simples, digno e correto. Quando vejo tudo o que vi do MDB, do PT, eu vejo que V. Exª permaneceu o mesmo, com as mesmas ideias, com os mesmos princípios, com a mesma bandeira. Do meu MDB eu não sei. Não posso responder por ele, mas acho que no MDB a situação é mais tranquila. Quem ganhar deve ter o MDB ao lado para ajudar, não será radical e terá um grupo também contra, que poderá fazer alguma coisa nesse sentido.

            Pois não.

            O Sr. Casildo Maldaner (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Senador Pedro Simon, falarei brevemente. Vejo V. Exª narrar a história do Brasil dessa tribuna. Aliás, vejo V. Exª recordar os tempos, contar os detalhes, e o Brasil está a acompanhar. Eu diria que V. Exª é a própria história. V. Exª, eu sei, não seria candidato. Foi convocado na última hora para segurar o timão e seguir em frente; levantar não só Caxias, que é a terra de V. Exª e do Ivo Sartori, mas buscar uma luz e ser um ícone nacional. Como nós sabíamos, levantaria essa bandeira, esse minuano, que sopra do Sul para invadir o Brasil como um todo. Na última semana, fiz referência a V. Exª e também ao Senador que está presidindo a Casa neste instante, o Senador Eduardo Suplicy. Outro homem franciscano como V. Exª, cujo cajado está não somente em São Paulo, mas em todo o Brasil. Gostei dos detalhes, Senador Pedro Simon. V. Exª falou como é bom, no sistema democrático, o debate, a alternância. Como faz bem e fará bem, inclusive a V. Exª e ao próprio PT. O Tarso Genro tem invocado o princípio de reinventar o PT. Como é bom reinventar! V. Exª disse isso. Eu diria que nós, do PMDB, precisamos nos reinventar também. Com a responsabilidade que tenho com o Partido, desde a época do Ulysses Guimarães, quando V. Exª foi Vice-Presidente, Miguel Arraes, tive a honra, com Ulysses presidindo, de ser Secretário da Executiva do nosso Partido, no início dos anos 80, quando estávamos na Câmara dos Deputados. Parece que precisamos também, Senador, reinventar o nosso PMDB, o nosso Partido. Acho que vai fazer bem. Acho que tudo isso vai pegar uma tese que V. Exª sempre pregou no Brasil, de fazermos a campanha como a da Itália, das mãos limpas. Parece que vai chegar esse momento, e para o País vai ser muito bom. Isso faz bem ao Brasil, faz bem aos brasileiros, faz bem a todos nós. Quero cumprimentá-lo, Senador Pedro Simon. Eu sei que, até o fim desta legislatura, V. Exª, por diversas vezes, haverá de ocupar esta tribuna para analisarmos o que vem ocorrendo. Quero me solidarizar, sinceramente, com o grande amigo, com o grande líder, com o grande ícone que é V. Exª, sem dúvida alguma. Quero fazer isto neste momento.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Muito obrigado ao amigo.

            Lá se vai uma vida toda na Secretaria do Rio Grande do Sul, V. Exª e eu. Eu é que tenho o maior respeito pela vida, pela trajetória brilhante e digna. Que bom se todo o nosso MDB fosse como V. Exª. Seríamos hoje, realmente, o Partido que gostaríamos de ser.

            Senador Cristovam.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Pedro Simon, eu vou ficar em pé, porque creio que este debate deve ser um dos que vão ficar, para o bem ou para o mal, registrado pelo menos na minha história, que é bem menor do que a sua. Nós seremos muito cobrados pela posição que estamos tomando, pelo debate que estamos fazendo, e eu quero guardar isso com muito carinho. Quero guardar porque nós temos uma história em comum. Temos a história de defender duas coisas fundamentais: a democracia e as reformas estruturais de que este País precisa. Essas duas posições, Senador Casildo, eu tenho desde a adolescência, e o Senador Pedro Simon também. Podemos ter alguns aninhos de diferença, mas a trajetória, Senador, é a mesma, sem nunca termos...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Temos a mesma trajetória mesmo sem termos a mesma sigla. Isso mostra uma característica: nós fazemos parte de um Partido com “P” maiúsculo, que vai muito além dos partidos com “p” minúsculo das siglas, as reformas e a democracia. Foi pelas reformas que o senhor, talvez, já com algum cargo, e eu, estudante, fomos para as ruas defender as reformas de João Goulart. Foi ali que nós fomos defender. Passado o regime Goulart, derrubado pelo regime militar, nós fomos, no Rio Grande, em Pernambuco, em outras partes, lutar pela democracia, sem perder a luta, Senador Fleury, pelas reformas estruturais neste País, sobretudo com Miguel Arraes, em Pernambuco, e Brizola, no Rio Grande do Sul, para citar dois desses grandes líderes. Continuamos na mesma trajetória: reformas sociais, nas estruturas, e democracia. Retomada a democracia, nós estivemos nas mesmas lutas pelas Diretas, que uniam todos os democratas. Passadas, conquistadas as Diretas, nós nos dividimos, Senador Suplicy, em siglas, porque aí se transformava a luta pela democracia na luta pelas reformas estruturais, pelas reformas sociais. E aí fomos, em partidos diferentes, em siglas diferentes, mas estávamos na mesma trajetória. Votamos em Lula, votamos na Dilma, votamos em Brizola, votamos em Ulysses. Era o projeto que a gente tinha para levar a democracia a fazer as reformas que o Brasil precisava. Ao longo desses últimos anos de democracia, nós fizemos avanços, embora eu ache que nenhuma reforma estrutural, salvo o Plano Real, que, mesmo assim, pode ser ameaçado. Reforma estrutural, Senador Casildo, é aquela que não pode voltar mais atrás. Quando eu vejo o debate sobre o Bolsa Família, se vai ou não voltar atrás, isso prova para mim que não é uma reforma estrutural. É um ótimo, maravilhoso programa de atendimento às necessidades do povo. Mas, se pode parar ao mudar o governo, é porque não foi estrutural. Não tivemos, mas continuamos nessa luta das reformas estruturais. Só que, agora, creio que o seu discurso nos inspira para mostrar que há algo que voltou: a questão democrática. Eu não esperava ver mais esse debate. A questão democrática, para mim, é uma coisa superada a partir da redemocratização, mas está de volta. Está de volta, porque a gente vê que, com o tempo, todos os partidos - todos, não só o PT - se viciam. Todos. É impossível haver partidos permanentes na democracia. Eles se metamorfoseiam para impor métodos autoritários. Métodos às vezes discretos, como o uso da máquina nas estatais, o que é uma forma de autoritarismo; métodos discretos, como o marketing político, que pareceu na campanha contra Marina ter sido feito por Goebbels, o assessor de publicidade do Hitler, nas maldades que fizeram, com a ideia de que uma mentira repetida vira verdade. Nos efeitos, nos aprisionamentos dos movimentos sociais, essa é uma forma autoritária.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - E os movimentos sociais no Brasil estão aprisionados. A CUT, a UNE, o MST vivem nos porões dos Palácios. Por isso não foram às ruas em junho, naquelas grandes manifestações. Pela descaracterização dos partidos, essa é uma forma autoritária de fazer política. E que exemplo maior de desfazimento dos partidos do que o que nós temos hoje neste País. Desfizemos os partidos, pela maneira como se comprava voto, pela maneira como se manipulava, pela maneira como se cooptava, sem debates ideológicos, sem compromissos, sem propostas. Poder pelo poder. E nós chegamos, então, depois desses doze anos, a uma situação que pode levar, sim, a uma forma de autoritarismo. A questão, portanto, agora, não é entre esquerda e direita. É entre democracia ou não democracia. Ou, para dizer de maneira mais branda, entre democracia ou o risco da não democracia. A reforma política é o que a gente precisa fazer. É difícil o Governo que aí está, depois de doze anos não tendo feito, fazer agora. Algo novo tem que vir. Eu tenho dito que a grande qualidade do Aécio Neves não é, para mim, fazer as reformas, mas é arejar a democracia, porque chega um governo novo. Não é nem porque ele é melhor ou pior. É porque é novo. Se tiver vícios, vai levar um ano ou dois para trazer os vícios para dentro do governo. Este já tem dez anos, se a gente desconta os dois anos iniciais. Por isso, eu estou, mais uma vez, na sua trajetória, Senador Simon. Eu estou junto com o senhor. Meu voto vai ser para o Aécio Neves. E é um salto que dou de extrema dificuldade, até psicológica, na minha relação com a minha Base, com os meus amigos aqui do Distrito Federal, que são mais ligados até mesmo ao PT. Por isso, tanta agressão eu tenho recebido, tantas críticas. E eu entendo, porque não captaram a dimensão do problema hoje. Continuam outra forma de autoritarismo, fazendo política como se fosse disputa de time de futebol. Ou até de religião. Sem diálogo, sem aceitar o outro. O outro está errado por ser o outro, não porque os seus argumentos são errados. Essa também é uma forma de autoritarismo. Para mim é extremamente difícil, Senador Simon, esse gesto, mas eu já o fiz antes. Eu o fiz quando, em 1998, apoiei o Plano Real. Eu era militante do PT, Governador do Distrito Federal, e dei uma entrevista para a revista Veja, em setembro de 1998, ou seja, um mês antes das eleições - Lula candidato a Presidente -, em que eu disse: “Se Lula ganhar, ele precisa manter o Plano Real e, inclusive, o Ministro Malan por mais 100 dias no cargo.” Aquilo foi um horror. De certa maneira, como disseram na época, eu me entreguei nos braços do neoliberalismo, porque eu buscava a estabilidade monetária. Agora devem dizer que eu me entrego outra vez nos braços do neoliberalismo, para buscar a dinâmica democrática. Um salto foi para buscar a estabilidade monetária, o outro salto é para buscar a dinâmica democrática, e nenhum desses dois saltos me corrompeu naquilo que caracteriza o senhor e a mim, naqueles dois pontos: compromisso com a democracia e com as reformas estruturais. Claro que a gente precisava do Plano Real para a estabilidade monetária, para poder levar adiante as reformas estruturais.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Aliás, se a gente for escolher uma das coisas que mudaram graças ao Lula, eu diria que foi a maneira como o salário mínimo é reajustado. Aliás, ao Lula e ao nosso companheiro Paim. Essa é uma das mudanças estruturais. Mas não houve a mudança estrutural da erradicação do analfabetismo. Isso, sim. Não houve fazer com que neste País todos terminem o ensino médio com qualidade; não houve fazer com que o filho do pobre começasse a estudar na mesma escola do filho do rico. Essas seriam mudanças estruturais. E eu peço minutos mais ao Senador Suplicy, em razão do momento histórico que estamos vivendo neste País.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Permita-me, Senador Cristovam Buarque.

            O Senador Pedro Simon se encontra na tribuna há 50 minutos. Vou permitir, sim, que V. Exªs continuem, mas quero aqui alertar: ambos estão fazendo pronunciamentos, democraticamente, a favor do Senador Aécio Neves, e eu espero poder ter a oportunidade de, depois, quando usar da palavra, ter o tempo adequado para transmitir que acredito muito que para o Brasil será melhor a nossa querida Presidenta Dilma Rousseff.

            Faço este registro porque, se não, poderia parecer que eu, presidindo a sessão, estaria dando oportunidade para se falar apenas do outro candidato, Aécio Neves, e não da pessoa que tanto prazo e que acredito que será muito boa para o Brasil mais uma vez.

            Então, V. Exª pode prosseguir.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - E eu espero... Nós lhe daremos todo o tempo que o senhor quiser.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Obrigado.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu acho que é muito importante ouvir sua fala.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Eu tenho um pronunciamento hoje sobre as sociedades cooperativas, mas também terei de ter, agora, um tempo para falar sobre Dilma Rousseff.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Mas, continuando, Senador, sobre as mudanças estruturais.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Apenas para dizer: esse é o Senador Suplicy. Ele faz os mais belos sacrifícios, mas mantém a sua elegância.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Tenho certeza de que fará aquilo que acha que é uma obrigação dele cumprir, mas, no fundo, no fundo, nós pensamos igual.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador Suplicy. Mas, Senador Simon, não vou tomar muito o tempo porque queremos ouvir o discurso do Senador Suplicy, pelo menos a parte relacionada com este momento. Nós tivemos grandes avanços, mas poucas reformas estruturais. Tenho visto, por exemplo, a fala, na propaganda, e é uma verdade, porque eu dou aula, toda semana, na universidade. Houve uma mudança, graças ao governo Lula. Aumentou o número de cursos, aumentou o número de universidades. E eu vi, em uma propaganda, que já existe filho de pedreiro estudando no ensino superior. Isso é bom, mas não é estrutural. Estrutural, Senador, é quando todos os filhos de todos os pedreiros forem capazes de disputar, em condições de igualdade com os filhos de seus patrões, o ingresso numa universidade de primeiro plano, e não um ou outro conseguir entrar numa universidade que nem sempre é uma das grandes universidades. Nós precisamos lutar pelas reformas estruturais. E eu não vim, aqui, dizer que o Senador Aécio Neves vai ser o portador das reformas. Não. Seria uma grata surpresa. Quem sabe? Às vezes, acontece. Mas eu acho que é um Presidente novo, e não na idade, novo no cargo. E há momentos na história em que a única coisa que a gente precisa de um novo Presidente é que seja um Presidente novo. E a gente pode ter com ele. Tudo isso dito, Senador, eu quero reunir a outra característica que temos em comum e que muito me orgulha. É que o senhor, assim como eu, poderia pensar em tudo isso, mas para não incomodar os amigos, os aliados, os apoiadores, os eleitores, tanto o senhor, como eu, poderíamos dizer: “Nós já passamos dos 70. Não precisamos votar”. E ninguém saberia a nossa posição. Casildo também. Ou poderíamos dizer: “Nós nos utilizamos do voto secreto”. Mas a gente lutou, aqui, contra o voto secreto. Parlamentar não tem que ter direito de ter voto secreto para nada! Nós poderíamos, simplesmente, jogar para frente e não tomar posição, mas eu sei que o senhor e eu, também, não aceitamos a ideia de ficarmos calados. Nós corremos os riscos para que fique registrada a nossa posição. E que, amanhã, digam que nós estávamos certos ou digam que nós estávamos errados; digam que nós nos jogamos nos braços de uma outra filosofia política - como tentam dizer de mim, pelo menos - ou que nós entendemos o momento histórico, fizemos aquilo que um filósofo marxista chamado Lênin disse: às vezes, é preciso dar uma parada para dar um salto para frente. E a gente pode dizer que é preciso parar para desviar de rumo. O País não vai no bom rumo, é preciso parar e mudar de rumo. Oxalá o próprio Aécio comece a mudar de rumo. Senão, nós vamos cobrar dele. E nós vamos fazer aquilo que o Senador Casildo disse: refundar as nossas instituições. Tirar o MST, a UNE, a CUT dos porões dos palácios e que eles venham às ruas conosco fazer manifestações. E que o PT, esse patrimônio da história do Brasil, seja refundado, porque o Brasil precisa do PT, mas precisa do PT por um tempo, pelo menos, na oposição, para que, da oposição, ele se reconstrua e, depois, ajude o Brasil a se construir. E eu espero que, nessa outra tentativa, venha um compromisso maior com a democracia, que o PT começou a perder nos últimos anos. Eu vou votar pelo arejamento da democracia no Brasil, com Aécio Neves, e muito feliz de estar ao seu lado.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu vou voltar para encerrar.

            Eu vou usar um título neste meu pronunciamento: “Pegue um e leve dois. E o segundo é muito melhor!”.

            Eu felicito V. Exª pela exposição feita aqui. E vou fazer aquilo que V. Exª já falou. Talvez, com o pronunciamento de V. Exª, possamos continuar este debate ainda hoje e fazer o aprofundamento necessário.

            Afinal de contas, nós estamos debatendo aqui, na TV Senado, e, daqui a três horas, os candidatos estarão frente a frente e poderá alguém fazer esta pergunta: “Olha, houve lá no Senado uma discussão assim, assim e assim, com essa proposta”. Qual é a proposta? A proposta é que, a esta altura, se o PT usar a máquina que vai usar o Governo para chegar ao poder e chegar ao poder, as instituições vão sofrer exageradamente. O problema da Petrobras haverá de vir à tona e nós veremos um momento de tragédia indispensável.

            Se nós, neste momento, chegarmos a uma conclusão e o PT fizer o trabalho dele, mas for para a oposição, o ano que vem será, talvez, um ano mais importante do que o da Constituinte - mais importante do que o da Constituinte -, pois poderemos aqui fazer um Pacto de Moncloa, sentarmo-nos em torno da mesa e estabelecer normas, desde uma nova Constituição a um pacto político, a um pacto econômico, a uma nova distribuição.

            Nesse sentido, eu digo, com toda sinceridade, com todo carinho ao Aécio, com todo respeito ao Aécio... O Aécio é jovem, não é uma personalidade forte como era o Tancredo, não é uma personalidade forte como era um Brizola, é uma personalidade firme, brilhante, mas uma personalidade que pode se sentar e aceitar dialogar com os outros. Não é o dono da verdade, não é o cara que é ele e tem que ser ele. Eu acho que o Aécio, pelo estilo de ser, pelo jeito de ser, seria o homem ideal para, neste regime, se sentar em torno de uma grande mesa e, em torno dessa grande mesa, nós chegarmos a um denominador comum.

            Fico à espera do seu pronunciamento, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/2014 - Página 37