Discurso durante a 145ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem ao Dia do Professor e preocupação com a situação educacional do País.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Homenagem ao Dia do Professor e preocupação com a situação educacional do País.
Aparteantes
Casildo Maldaner, Cristovam Buarque, Kaká Andrade.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/2014 - Página 24
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, DIA NACIONAL, PROFESSOR, ENFASE, DIFICULDADE, EDUCAÇÃO, INFLUENCIA, TECNOLOGIA, APRENDIZAGEM, ALUNO, PRESERVAÇÃO, ESCOLA PUBLICA.
  • REGISTRO, VISITA, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, ENSINO ESPECIAL, DISTRITO FEDERAL (DF), ENFASE, INCLUSÃO, ASSOCIAÇÃO DOS PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS (APAE), PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO.
  • REGISTRO, TRABALHO, COMISSÃO, EDUCAÇÃO, SENADO, ENFASE, VALORIZAÇÃO, PROFESSOR, MELHORIA, FORMAÇÃO, INCLUSÃO, ALTERNATIVA, FONTE, FINANCIAMENTO, PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, INVESTIMENTO, PARTE, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), SETOR.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Caro Senador Eduardo Suplicy, que preside a sessão desta tarde, caros colegas Senadores, nossos telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, hoje, dia 15 de outubro, é um dia muito especial: Dia do Professor, data para homenagear e celebrar todos os que têm como trabalho essa notável e valiosa profissão que é a arte de ensinar e, por que não também, a arte de aprender.

            Como dizia a poetisa goiana tão festejada Cora Coralina: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” Aristóteles, famoso filósofo e pensador grego, nascido no ano 384 a.C, que foi aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande, alertou naquela época que “a educação, matéria-prima dos professores, tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces.”

            Algumas dessas amargas raízes profetizadas na Grécia antiga persistem no Brasil contemporâneo, mais neste ano de 2014. São problemas atuais, como gestão eficiente, desinformação, reprovação, repetência, evasão escolar, grade curricular defasada, e outras limitações à educação, especialmente na primeira infância.

            Aliás, vale lembrar que não podemos imaginar que o aluno do século XXI, acostumado ao uso da parafernália eletrônica que está à sua disposição, desde um celular a um iPad, a um iPhone, a um laptop, a um palmtop, a tudo isso que lhe dá agilidade e acesso instantâneo a um volume incomensurável de informações daqui e de qualquer parte do Planeta... O que era impensável há 20 ou 30 anos, hoje é uma realidade palpável, e, a cada dia, vem uma inovação para dar um poder de autoridade a uma criança, a um adolescente, a um adulto ou a uma pessoa mais velha.

            O uso dessa tecnologia mudou totalmente o comportamento do aluno, que chega a uma sala de aula e, certamente, não vai se contentar com um professor na cátedra de costas para a sala de aula e ainda escrevendo com giz num quadro-negro ou numa lousa, se assim preferirem chamar - no meu tempo, era quadro-negro, mas, na verdade, nunca foi negro, era verde; alguns, sim, eram quadros-negros -, porque ele é um aluno inquieto. Ele tem a informação, e, se o professor não estiver igualmente atento a essa parafernália eletrônica, esse aluno vai se dispersar, não vai aprender o suficiente. Ele precisa ser atraído pelo mestre para aprender melhor de outra forma, mas de uma forma inovadora e criativa.

            As crianças e os adolescentes, de modo especial, são instigantes para os professores, e o professor também precisa estar inserido nessa onda tecnológica. Caso contrário, não vai ter muito sucesso no aprendizado, e esse aluno pode aumentar os números relacionados à evasão escolar.

            Algumas dessas barreiras ao ensino foram citadas, inclusive, no primeiro debate eleitoral do segundo turno, ocorrido na noite dessa terça-feira, nos estúdios da TV Bandeirantes, entre os candidatos a Presidente, Aécio Neves e Dilma Rousseff.

            São, por isso, preocupações atuais e dificuldades indesejáveis, que precisam de superação. São “pedras no caminho” e “graves barreiras” ao desenvolvimento intelectual, sobretudo dos mais jovens. Com todas essas dificuldades, é a mão amiga e atenta do professor ou da professora que consegue, muitas vezes, tornar real o consagrado e fundamental direito de acesso à educação.

            Por isso a importância desta homenagem aos professores.

            Está chegando aqui, em nosso plenário, um dos que bem representam essa categoria, por ter dedicado muito da sua vida pessoal, profissional e política à causa da Educação, nosso colega Senador Cristovam Buarque.

            Nesta semana, abordei aqui a redução do número de diplomas exatamente nas áreas de Educação e Pedagogia e também em áreas da Saúde - fisioterapia, enfermagem -, o que é preocupante, porque aquilo que se falava do apagão de mão de obra já está acontecendo. Exatamente quando deveríamos dar um salto de qualidade na qualificação dos nossos profissionais nessas áreas prioritárias e essenciais - educação e saúde -, estamos vendo uma redução no número de diplomas concedidos pelas universidades públicas e particulares em nosso País. Isso é preocupante, dizem os especialistas, Senador Suplicy, porque nós precisamos fazer exatamente o contrário, ir no caminho inverso: aumentar o número de pessoas formadas, com curso superior, nessas áreas fundamentais, no caso da Saúde e da Educação.

            Eu queria, também, dizer que, com todas essas dificuldades, mais sobressai ainda a relevância do papel que tem o professor, hoje, no nosso País. No litoral do meu Estado, o Rio Grande do Sul, por exemplo, onde há a maior concentração de escolas públicas rurais, essa mão amiga tem um nome: Veridiana Coelho do Amaral. É uma professora de 27 anos que deixou a área urbana para dar aulas entre dunas, isolada do principal acesso à RS-101, na Praia do Farol, em Tavares, a 230km da capital, Porto Alegre. Estou falando do litoral norte do meu Estado.

            A mestre em Educação é também diretora, merendeira, faxineira e, principalmente, exemplo para os oito alunos da Escola Municipal de Educação Fundamental da Praia do Farol e também para 150 famílias que vivem nessa região. Nessa escola municipal não há distinção de idade ou de grau de conhecimento. Todos são colegas e se ajudam. Duas vezes por semana, Veridiana dá aulas para o grupo no mesmo horário. Há uma aluna na pré-escola, um no segundo ano, dois no quarto ano, um no quinto e três no sétimo ano, a última série dessa escola.

            É importante lembrar que, só no Rio Grande do Sul, o Estado que, com muita honra, represento aqui, junto com os Senadores Pedro Simon e Paulo Paim, são quase 2.500 escolas rurais, municipais e estaduais que ajudam a manter mais de 80 mil alunos do campo vinculados a suas raízes, como tem feito a dedicada professora Veridiana.

            Essa professora conta que quem não sabia ler, aprendeu. Ninguém jamais faltou a uma aula ou repetiu a série. E quando a professora precisa prestar contas no Centro da cidade, a própria comunidade aceita que a aula ocorra no sábado seguinte.

            Que bela história, Veridiana. Parabéns! Você é um exemplo daquela dedicação que todos os mestres que passaram pela nossa vida nos dispensaram e jamais os esqueceremos.

            A história dessa gaúcha se parece com a de muitos outros professores desse imenso Brasil que se dedicam com persistência e amor ao ofício de ensinar, seja no Norte ou no Sul do País. Na Escola Municipal de Educação Fundamental Luís Manoel da Silveira, em Tramandaí, também no litoral do meu Estado, não há, desde 2001, registros de evasão escolar ou reprovação dos alunos. Isso demonstra o quão impactante é o papel social do professor.

            Eu, por exemplo, me recordo bem de duas Marias, importantes professoras que influenciaram, de modo definitivo, a minha história e também minhas escolhas profissionais. São Maria Rosa Nieto, que foi minha professora em Lagoa Vermelha, minha cidade natal, na Escola Normal, e Maria San Martins, minha professora de Português, a quem devo imensamente meus conhecimentos em Língua Portuguesa. A Prof. Maria San Martins, que ainda hoje, em Caxias do Sul, onde reside, e que, no meu internato, na Escola Rainha da Paz se chamava Prof. Irmã Rosa de Lourdes, hoje, Maria San Martins, é guardada com muito carinho por todos os que passaram por suas mãos, minhas colegas de internato na Escola Normal Rainha da Paz.

            É com muita alegria que concedo um aparte ao caro colega Senador Casildo Maldaner.

            O Sr. Casildo Maldaner (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Eu não posso deixar de destacar e me juntar às Marias. V. Exª tinha as Marias em Lagoa Vermelha e também no internato. Eu não posso esquecer que, no meu primário, eu também tinha uma Maria, a Profª Maria Helena, no interior de Chapecó. Senadora Ana Amélia, a primeira fila, a segunda, o primeiro ano, o segundo ano, o terceiro ano e o quarto primário eram uma sala só. Era por fila, tudo misturado, as quatro séries juntas. A Profª Maria Helena tinha que dar conta disso. Imagine como era naquela época. Era assim. Eu quero me associar a V. Exª, que recorda a Professora. Veridiana, do Farol da Praia, no litoral norte do Rio Grande do Sul. Nós também temos, assim, muitos casos, no meu Oeste catarinense, dessas lutas, dessas guerreiras professoras. Como eu tive também a minha professora Maria Helena no primário, não posso deixar de, neste momento, fazer uma homenagem também ao Prof. Cristovam, porque, quando vim para cá no início dos anos 80, como Deputado Federal, eu fazia meu curso de Direito aqui na UnB, e ele era o nosso reitor. Eu comecei em Santa Catarina e concluí aqui, e tive a honra de estar com o Prof. Cristovam, que está aqui presente. Também quero estender à Maria Helena, às Marias de V. Exª e ao grande mestre, o Prof. Cristovam, que representa essa essência dos mestres no Brasil. Que nós saibamos fazer essa dedicação no dia de hoje também. Obrigado.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - Muito obrigada, Senador Casildo Maldaner. E cumprimento também pela Maria Helena, porque, como eu disse, elas ficam como que uma marca indelével na nossa memória, no nosso coração, porque tiveram um papel relevante na formação, quando éramos adolescentes ou jovens. E todos nós lembramos com muito carinho. Foram muitas outras professoras que passaram, mas essas tiveram, digamos, uma influência maior na formação da nossa personalidade. Eu falo da Maria, porque ela, na época, muitos anos atrás, ela usava alguns recursos de criatividade, para que a gente desenvolvesse a capacidade de expressão. Hoje, escreve-se português tudo errado ou diferente por causa da internet - a pessoa está suprimindo. Então, nós temos uma língua muito rica. Ela um dia botava, na aula de Português, uma música na vitrola e mandava que todos escrevessem o que sentiam ouvindo aquela música. Então, imaginem a riqueza que era produzir sobre um sentimento que era uma coisa subjetiva. Outro dia, ela trazia uma foto bonita no quadro e pedia que a gente descrevesse o que cada um via. Então, um escrevia uma prosa, outro fazia um verso, e cada um se inspirava naquilo. Então, eram recursos que só um bom e dedicado professor era capaz de fazer, com criatividade e talento, porque ele tem compromisso em mudar a vida daquelas crianças que estão ali na sua frente. Então, são esses mestres que eu digo que fazem parte da mudança e da formação da sociedade brasileira. Então, todos eles, com as suas dificuldades, com as suas barreiras tecnológicas, mas fazendo um empenho pessoal, como a Veridiana faz e como tantos.

            Eu queria fazer um registro também, antes de passar ao nosso Senador Kaká Andrade. Estive aqui visitando, Senador Cristovam, um instituto de educação especial no Distrito Federal, público, um instituto público de educação especial. E fui lá a convite do Senador Rodrigo Rollemberg, junto com o nosso Presidente Cyro Miranda, da Comissão de Educação do Senado, porque estávamos discutindo a famosa Meta 4 do Plano Nacional de Educação aqui, para a questão do “preferencialmente”, do termo “preferencialmente”, para permitir que as APAEs fossem beneficiadas no processo.

            Fomos visitar essa escola, uma escola pública de educação especial. Fiquei comovida com o empenho de uma professora de educação especial, jovem, tocando violão a um adulto numa cadeira de rodas que apenas emitia sons guturais, porque ele não tinha outra capacidade. Ela tocava uma música - parece que a música era Amigo, do Roberto Carlos -, e fazia tudo apenas para obter daquele aluno o que poderia parecer um aplauso. Um aplauso para aquele aluno que não tinha condição física ou mental de outro gesto que não fosse um aparente aplauso.

            E a dedicação dessas professoras, como a dessa moça aqui desse instituto de educação especial do Distrito Federal - se não me engano, são onze ou doze institutos que existem aqui, o nosso Senador Cristovam deve saber mais -, encantou-me, assim como a formação daquela professora com aquele aluno, especificamente, com tantas dificuldades e tantas deficiências.

            Parabenizo as professoras de todas as Apaes do Brasil, as professoras das escolas públicas de ensino especial, porque mais do que tentar ensinar a ler ou escrever dão afeto e carinho, na tentativa de uma inclusão de comportamento e atitude. E isso já é um avanço. Então, eu queria transferir também a essas professoras que muitas vezes são esquecidas. E graças ao esforço que fizemos aqui no Senado, na Meta 4, foi permitido que os alunos se matriculem em escolas públicas, preferencialmente em escolas públicas, não excluindo o trabalho que há 60 anos as Apaes desenvolvem, porque é o envolvimento das famílias na educação de crianças portadoras de necessidades especiais ou portadoras de deficiência.

            Com muito prazer, concedo um aparte ao Senador Kaká Andrade. Depois, ao nosso mestre, Senador Cristovam Buarque.

            O Sr. Kaká Andrade (Bloco Apoio Governo/PDT - SE) - Senadora Ana Amélia, eu gostaria de me somar ao vosso pronunciamento neste dia de homenagem ao professor, ao mestre dos mestres. Que cada vez nossos professores sejam melhor remunerados, tenham melhores condições para trabalhar, tenham escolas de qualidade, material de qualidade, atualizados, para que se separe esse abismo que existe, hoje, em muitas escolas. O aluno está ligado à internet em casa e, de repente, vai à escola e vê quadros ainda e giz. Há um choque cultural nessa história. Então, que cada vez mais nossos Municípios e nossos Estados se atualizem. Parabenizo V. Exª por chamar a atenção para esses professores dos recônditos deste País que, quase como um sacerdócio, com poucas condições, trazem a luz, retiram da escuridão do analfabetismo milhares de brasileiros, como um quase sacerdócio. Presto aqui uma homenagem a minha primeira professora, Dona Eulina Batista de Melo, da cidade onde me criei, Nossa Senhora de Lourdes, e na questão da educação especial. Em Aracaju, existe um instituto chamado Instituto Lourival Fontes, e a diretora desse Instituto é de uma dedicação fora de série. Ela trabalha, também, com educação especial e possui um grupo de pessoas que cuida e dá educação. Então, que esse Instituto Lourival Fontes receba o apoio da sociedade. Estive visitando lá, as condições são precárias, carece de mais recursos, mas que pessoas como essas, por este Brasil afora, sejam apoiadas. E que as Eulinas, as Marias, os Josés, esses professores que retiram da escuridão do analfabetismo essas pessoas, sejam homenageadas no dia de hoje, referendadas e que sejam cada vez mais valorizadas. Parabéns mais uma vez a V. Exª pelo brilhante pronunciamento e parabéns aos mestres dos mestres, os nossos professores. Muito obrigado.

           A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - Muito obrigada, Senador Kaká Andrade.

           Eu falo disso com carinho, porque eu fiz o curso normal, hoje chamado magistério. Então, exerci o magistério. Quando concluí, fiz um estágio, lecionei na universidade por pouco tempo, e isso me dava muita alegria, porque era uma convivência de você transferir um conhecimento que tem de forma generosa. E o professor tem isso, e eu valorizo ainda mais.

           Sou de uma família de irmã diretora de escola, professora, minha mãe era merendeira de escola. A dedicação que ela possuía de sair de casa e levar a sua toalha, que era para a mesa das festas, para servir a mesa da escola no dia do professor, a dedicação de tratar a escola como se fosse a sua casa. Isso dá um vínculo maior de proximidade com uma instituição que tem que ser preservada, não só a instituição física, a escola bem cuidada.

     É triste a gente ver o que aconteceu em Santa Catarina, do Senador Casildo, em que os bandidos explodiram escolas públicas. Isso é inominável, isso é um crime bárbaro. É um crime bárbaro, deveria ser considerado como um crime bárbaro. Uma escola pública! Mesmo se fosse privada, qualquer escola. 

Jogar uma bomba incendiária dentro de uma escola, destruir ou roubar uma escola, para mim, é um crime hediondo, Senadores. Porque não é possível você desrespeitar. É como se você entrasse e destruísse uma família, um patrimônio maior, porque é exatamente ali a sede da educação.

            Com muita alegria e muita honra, concedo um aparte ao Senador Cristovam Buarque.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senadora, eu que tenho a honra de lhe fazer este aparte, pelo tema que a senhora está tratando, pela profundidade e, sobretudo, pelo amor com que está falando. De fato, a gente precisa refletir: Por que é que neste País se está quebrando escola? Por que é que neste País os alunos estão sendo violentos contra os professores? Isto aqui deveria parar um dia para discutir por que é que há violência na escola. Essa seria a melhor homenagem que poderíamos prestar aos professores no dia 15 de outubro - este não dá, por causa das eleições, mas, no próximo ano. Deveríamos reservar o dia 15 de outubro para discutirmos por que tanta violência contra professores no Brasil. E a gente vai saber as razões. As razões são o desprezo da sociedade brasileira e, por conta disso, os governos e os políticos. Nós não damos importância aos professores. Vejam esse debate presidencial. No debate da Globo, que é o mais importante de todos, o tema educação não entrou, por uma razão muito simples: havia um jarro com os nomes dos temas que eram para ser debatidos; educação não foi sorteado. Educação não poderia estar na vala comum dos temas; nem outros, como a reforma política. Não poderiam deixar a reforma política ali no meio.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - Segurança.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Então, deixaram, e não entrou. Mas, mais grave que isso, os candidatos não aproveitaram qualquer das perguntas para falar de educação, salvo um, eu creio que o Eduardo Jorge, quando se falou em droga, e ele falou da importância da educação para a juventude. Pois bem, nós temos que refletir sobre isso. E a campanha eleitoral deveria ser o melhor momento. Não se refletiu. Eu vi que, ontem, no debate, apareceu, finalmente, um pouco a educação e, hoje, também. Mas, ainda assim, pouco e sem a radicalidade que é necessária. Ainda se diz valorizar o professor - é algo que todo mundo diz, todo o tempo, e não diz como. E é pouco. Não é valorizar. Precisa de um presidente que diga: eu vou tomar as medidas para que, dentro de certo prazo - que pode ir além do mandato -, o professor seja o profissional mais querido, respeitado e, para tanto, remunerado pela sociedade brasileira. Nem de longe. Eu não vi nenhum ainda dizer que seu governo vai assegurar o pagamento do piso salarial em todos os Municípios do Brasil. Não vi. Porque jogam o assunto para os Municípios, que não têm dinheiro mesmo. Um Estado rico como o seu, o Rio Grande do Sul, não paga o piso. O Governador, que eu saiba, não está pagando ainda o piso. Aliás, eu tenho recebido muita crítica por ter manifestado que votarei no Aécio Neves, muita, muita! E, digo, de milhares de professores de Minas Gerais. Não sei se eles têm razão ou não, mas acredito que até devam ter, até porque todos os professores, de todos os Estados brasileiros, têm razão de reclamar de qualquer um que foi Governador, inclusive de mim próprio, que fui Governador aqui. Então, deve ser verdade sim! Só que essa não é a razão de a gente escolher ou não escolher. Se fosse para desenhar o Presidente, eu levaria em conta isso. Mas, para escolher entre um ou outro, não dá para ser por isso. Pois bem, mas os Governos do PT também não pagam, muitos deles, o piso. O Acre paga, para citar um que paga. Mas não sei se todos pagam. O Eduardo estava pagando, em Pernambuco.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - E não vai dar para pagar. Algum Presidente tem de dizer uma de duas coisas: eu complementarei para que cada Prefeito possa pagar o piso - e aí isso custará uns R$4 bilhões por ano - ou o Governo Federal pagará o piso, e os Prefeitos usarão o que gastam hoje para aumentar o salário. Então, o salário seria o piso federal e um acréscimo municipal da maneira como é hoje. Mas nenhum acena isso, nenhum dos candidatos. Nenhum acena, inclusive, como vai ser o papel do Governo Federal na mudança da educação. Todos estão falando em horário integral, mas nenhum diz como, se a escola é municipal. Qual o poder de um Presidente de colocar, em uma escola municipal, Senador Fleury, horário integral? Tem de dizer como fará isso. Só o Fundeb não basta. Só com dinheiro não se faz. A gente não vê essa visão forte. E, hoje, Dia do Professor, seria o dia para que todos os candidatos se dedicassem, mas com seriedade, não apenas com palavras vazias nem só com intenções, mas também como fazê-lo. Mas eu quero parabenizá-la por ter trazido o assunto. Eu também vou falar desse assunto. Quero acrescentar uma coisa que falarei depois. Na minha sala, aqui, eu tenho uma galeria de oito fotos dos meus professores marcantes, inclusive o de minha primeira professora, com quem fiz uma foto há alguns anos. Porque esses foram os que me colocaram aqui. Os eleitores deram uma ajuda danada, tremenda. Os eleitores foram fundamentais, mas quem me colocou aqui foram os professores que eu tive, até porque o aqui não é só o Senado, é o aqui na vida, no mundo. Eu estou num lugar no mundo graças ao pai, à mãe, aos amigos, a uma rede imensa de humanidade, mas sobretudo àqueles a quem a gente pode chamar de professores. Então eu fico satisfeito de V. Exª ter falado e vou insistir nisso também. E lamento que os nossos presidenciáveis tenham perdido a chance de falar coisas bem concretas como esta: “Eu vou pagar o piso salarial já naqueles Municípios cujos prefeitos não tenham condições”. Nenhum disse isso.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - Meu caro Senador Cristovam Buarque, nosso mestre aqui, especialmente nessa área tão relevante para o nosso País, quero lhe dizer que os eleitores do meu Estado preferiram que eu ficasse aqui no mandato. E o desafio lançado por V. Exª agora, mais do que oportuno, procedente e relevante, é de fazermos, no ano que vem ou antes, porque agora já estamos encerrando o exercício legislativo de 2014, este debate: por que há violência na escola, ou contra a escola, ou dentro da escola, ou na porta da escola. É um debate inadiável.

            Eu queria cumprimentá-lo pela sugestão e dizer-lhe que, na campanha, eu segui o seu conselho. Eu dizia, lá na campanha, que uma das lembranças que gostaria, se tivesse merecido o voto dos gaúchos, era a de encerrar o mandato dizendo quando alguém visitasse o Rio Grande: bem-vindo, você está entrando num Estado sem analfabetos. E, de fato, esse é um desafio que Vieira da Cunha também, da mesma forma, abraçou.

            Nós também temos uma deficiência muito grave na alfabetização e hoje adultos que frequentam o EJA, que é Educação de Jovens e Adultos... Também tenho uma cunhada que leciona no EJA, em Passo Fundo, e minhas irmãs, em Lagoa Vermelha, são dedicadas à educação. Então, essa vivência com as dificuldades dos bairros mais pobres, mais carentes.

(Soa a campainha.)

             A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP - RS) - Eu sou aluna de escola pública. Estudei em escola pública todo o ensino fundamental. No ensino médio, só consegui estudar em escolar particular porque o Brizola me deu uma bolsa de estudos. Fui interna por oito anos, lá em lagoa Vermelha, graças a essa bolsa de estudos de Leonel Brizola, que tinha sempre uma enorme preocupação e compromisso com a educação.

            Eu lamento muito que os programas de alfabetização que V. Exª, quando Ministro, estimulou e implementou no Ministério não tenham dado prosseguimento. De fato, o Rio Grande do Sul não paga o piso dos professores e esse é não só um passivo financeiro do governo com os professores, mas um passivo político e moral, Senador Cristovam Buarque.

Não vou fazer comentários adicionais para não parecer qualquer, digamos, tentativa de rever o passado recente da disputa eleitoral, mas o Estado deixou esse passivo, e os professores gaúchos, as professoras e os professores, sabem do que estou falando. Então são eles os melhores julgadores nesse processo, os juízes nesse processo, porque tiveram a promessa de que teriam o piso, mas essa promessa não foi devidamente cumprida.

            Hoje, então, falar de educação é um dever de todos nós, porque todos temos, Senador Suplicy, como V. Exª, a lembrança, certamente, dos seus mestres que lhe deram tanta ajuda e tanto apoio.

            Passados tantos anos, hoje, na Comissão de Educação, Cultura e Esporte desta Casa, da qual tenho a honra de ser Vice-Presidente, os nossos esforços têm sido para valorizar os professores, com a melhoria da formação e do salário e a inclusão de outras fontes de financiamento dentro do Plano Nacional de Educação - PNE, amplamente debatido no Congresso Nacional, que prevê investimento de 10% do Produto Interno Bruto nesse setor. São importantes medidas legislativas focadas na modernização do nosso modelo educacional, tão necessitado de melhorias.

            Aliás, queria lembrar também um risco, Senador Cristovam, V. Exª que tem um cuidado também com as questões econômicas: a queda dos preços do petróleo no mercado internacional pode, sem dúvida, impactar um dos patrimônios que estávamos usando para financiar a melhoria da educação no Brasil e também da saúde. E nós temos de olhar a perspectiva desse cenário internacional, para que não tenhamos o comprometimento daquela fonte de recurso que estava sendo colocada como panaceia para todos os males da maior raiz brasileira relacionada à educação e à saúde.

            Paulo Freire, célebre educador brasileiro, reconhecido internacionalmente e autor da Pedagogia do Oprimido, tinha como uma de suas bandeiras a transformação do aluno por meio do ensino. Ele defendia que esse desenvolvimento só seria possível quando a escola conseguisse ensinar o aluno a "ler o mundo" - ou a interpretá-lo, para ser um pouco mais explícita. Os métodos de alfabetização de adultos que levam o nome dele foram fundamentais para o desenvolvimento do pensamento pedagógico-político, pois o mais importante no ato de educar, dizia ele, é "conscientizar o aluno" dos seus direitos, claro, mas também, sobretudo, dos seus deveres. É, portanto, nobre tarefa que cabe ao professor a verdadeira inclusão via educação, a inclusão dos direitos e da cidadania.

            É com a ajuda do professor que as parcelas desfavorecidas da sociedade podem, por exemplo, entender a própria condição social e agir em favor da liberdade, dos preceitos democráticos. Parafraseando os ensinamentos de Paulo Freire, o professor é aquele que "mata nos educandos a curiosidade, o espírito investigador e a criatividade".

            É por essas atribuições dos educadores que defendo o debate construtivo, com a constante participação dos professores e familiares, para permitir, por exemplo, a educação em tempo integral e o currículo nacional único. Essa valorização dos professores é, portanto, essencial.

            Aí vem a sugestão, de novo, do Senador Cristovam da federalização do ensino fundamental.

            Uma pesquisa realizada com dados do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo, colhidos em 2013, mostra que 96% dos alunos do ensino fundamental daquele Estado gostam de ir à escola e encontrar o educador. Os resultados do levantamento indicam também que, de 300 mil alunos matriculados no 2º, 3º e 5º anos da rede estadual, 94% veem o professor como o principal incentivador dos estudos. Isso mostra que nove entre dez alunos veem o professor como exemplo de vida!

            Parabenizo, portanto, cada professor deste País, de todos os quadrantes, que transforma a sociedade com o seu trabalho. Não há como o Brasil ser um país justo, inclusivo e desenvolvido sem valorizar esses profissionais da educação.

            Aliás, como falou, há pouco, o Senador Kaká Andrade, vale lembrar que não é só no seu Estado, mas também no Piauí e na Paraíba. Existem iniciativas no Ceará, que nós estudamos num seminário sobre o Brasil do século 21, muito produtivas na educação, seja no ensino de Matemática, seja no comprometimento dos alunos e nos resultados dessa boa educação auferidos por mestres, diretores e executivos escolares da administração das escolas públicas ou particulares, alcançados nesses Estados que nós estudamos.

            Como escreveu o alemão Thomas Mann, um dos maiores romancistas do século 20, que recebeu o Nobel de Literatura em 1929, "um professor é a personificada consciência do aluno; confirma-o nas suas dúvidas; explica-lhes o motivo de sua insatisfação e lhes estimula a vontade de melhorar".

            Para o nosso memorável jornalista e poeta brasileiro, meu conterrâneo gaúcho Mário Quintana, nascido no Rio Grande, as professoras têm tanta autoridade e importância que podem ser comparadas à "Dona Lógica", além de usarem "coque e óculos". Mas é com as palavras de uma menina paquistanesa, Malala, que pretendo concluir meu pronunciamento e minha homenagem, no dia de hoje, a todos os mestres brasileiros.

            Malala ganhou, recentemente, o Nobel da Paz 2014, juntamente com o indiano Kailash. Essa jovem, como sabem, foi atingida por um tiro de milicianos talibãs. Eles queriam matá-la porque ela estava estudando, e a cultura no vale do Swat, região do Paquistão, não aceita que mulheres estudem.

            Felizmente Malala sobreviveu e ainda está entre nós. Tornou-se um símbolo mundial em favor da educação das crianças, das mulheres, ...

(Soa a campainha.)

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Maioria/PP- RS) - ...de todos os seres humanos.

            Em seu discurso na Organização das Nações Unidas, antes de receber o Nobel da Paz, ela disse o seguinte: “Convocamos todos os governos a assegurar a educação obrigatória, livre para todas as crianças do mundo. Deixem-nos, portanto, travar uma luta global contra o analfabetismo, a pobreza e o terrorismo. Deixem-nos pegar nossos livros e canetas, porque estas são as nossas armas mais poderosas - os livros e as canetas. Uma criança, um professor, uma caneta e um livro podem mudar o mundo. A educação é a única solução - educação, antes de tudo.”

            Creio que essas palavras resumem perfeitamente, a palavra dessa menina que quase morreu por defender a educação para todos.

            Muito obrigada. Obrigada, Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/2014 - Página 24