Discurso durante a 145ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre as mudanças ocorridas no Brasil ao longo dos anos de trajetória política de S. Exª; e outros assuntos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. ELEIÇÕES, GOVERNO FEDERAL.:
  • Considerações sobre as mudanças ocorridas no Brasil ao longo dos anos de trajetória política de S. Exª; e outros assuntos.
Aparteantes
Ana Amélia.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/2014 - Página 38
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. ELEIÇÕES, GOVERNO FEDERAL.
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, HISTORIA, SENADO, COMBATE, DITADURA, DEFESA, ANISTIA, DEMOCRACIA, BRASIL.
  • REGISTRO, RESPONSABILIDADE, ORADOR, COLIGAÇÃO, EDUARDO CAMPOS, EX GOVERNADOR, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), MARINA SILVA, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), APOIO, CANDIDATO, GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), DEFESA, AECIO NEVES, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ELEIÇÕES, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ENFASE, CORRUPÇÃO.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, volto a esta tribuna. Nesses dias, voltarei, se possível, várias vezes, porque, como para V. Exª, Sr. Senador, também para mim não vai ser fácil mudar os 30 anos, os 32 anos de convivência nesta Casa.

            Já antes da eleição, eu tinha me despedido, comunicando aos meus irmãos que, aos 84 anos - completando 85 exatamente no dia 31 de janeiro, quando encerro meus 32 anos de Senador -, acho que a missão nesta Casa estava cumprida. E, com 85 anos, dos quais 60, 62 são de vida pública, não é que não buscasse voltar à Casa, achando que tinha terminado e que eu não tinha o que fazer. Não.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Permita-me, Senador Pedro Simon, registrar, também, a presença do Líder do PTB, Deputado Estadual Campos Machado, da Assembleia Legislativa de São Paulo, que aqui nos visita.

            Seja muito bem-vindo.

            Permita-me perguntar se quem está presente é que foi candidato ao Senado também. Não. Está bem. Então, muito obrigado.

            Senador Pedro Simon, por favor.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Saudações a S. Exª.

            Eu pretendia, como pretendo, repito, completando 85 anos no dia em que deixarei o Senado... Eu lembro, e V. Exª também, que várias vezes percorri o Brasil, de norte a sul, leste a oeste, nas caminhadas do velho MDB, nas lutas que nós fazíamos contra a ditadura - com o Dr. Ulysses, nas Diretas Já; com o Teotônio Vilela, na luta pela anistia e na luta pela abertura dos presídios e pela soltura dos presos -, de como se daria o debate e levando a tese, que nós sempre defendemos, da não violência, que era defendida por muita gente, muitas lideranças importantes que queriam a guerra civil, queriam a luta armada, queriam as guerrilhas, queriam os sequestros, queriam o voto em branco, queriam todo tipo de confronto que levasse às vias radicais da luta direta.

            Nós defendíamos a tese de que a violência não cabia a nós. Com o tamanho deste País, um continente, seria absurdo imaginar-se que, com a Quarta Frota acampada aqui do lado, e que já estava aqui no Atlântico na hora em que Jango renunciou - aliás, renunciou não, não é verdade - na hora em que Jango foi deposto e foi para o Uruguai. Achávamos que a resistência tinha que ser como foi, e foi uma grande vitória dos jovens e do povo deste País. Sem uma arma, sem um tiro, proclamaram a liberdade.

           Eu pensei e penso nisso. Os movimentos de junho do ano passado me levaram muito nesta direção. Eu não pude atender todos os apelos e convites. Fui a alguns, a começar pela Faculdade de São Francisco. Pretendia e pretendo viajar pelo Brasil para atender aos convites dos jovens, dos centros acadêmicos, das universidades, das lideranças sindicais, das Câmaras de Vereadores, entidades empresariais, para discutir e debater a sociedade brasileira, porque há uma inconformidade, uma ânsia enorme - Para onde vamos? De que maneira iremos?

           Parecia que isso tinha sido resolvido, Presidente. E V. Exª estava aqui quando nós fizemos uma Assembleia Nacional Constituinte. Ela foi livre, soberana, democrática... Deus me castigou. Eu fui Parlamentar a vida inteira, só não fui na Constituinte, pois eu era Governador do Rio Grande, mas, sábado de manhã, eu pegava o avião e vinha para cá.

           E lá na casa do Dr. Ulysses, na Presidência da Câmara - ele era Presidente da Câmara durante a Asembleia Nacional Constituinte -, eu passava o sábado e o domingo discutindo com os Parlamentares, dando palpite, analisando. E me emocionava caminhar pelos corredores do Congresso. Via aquela gente de tudo o que é lado, de tudo o que é canto, debatendo e discutindo todos os interesses da nossa sociedade.

           Foi vitoriosa? Sim, foi vitoriosa. Foi positiva? Sim, foi positiva.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Permita-me apenas recordar, prezado Senador Pedro Simon, que em 1986, quando V. Exª foi eleito governador do Rio Grande do Sul, fui candidato a governador - versus Orestes Quércia, Antônio Ermírio de Moraes, Paulo Maluf - e não fui eleito; portanto, não fui eleito Constituinte depois de ter sido Deputado Estadual e Federal. Voltei, no tempo da Constituinte, e me dediquei outra vez a ser professor em tempo integral na Escola de Administração de São Paulo até ser eleito vereador. Daí, indicaram-me para o Senado, onde sou seu companheiro há 24 anos.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Também pagou seu pecado, como o meu. Não pude ser Constituinte.

            Mas o que digo e reconheço, com toda sinceridade, é que a Constituinte cumpriu o seu dever, mas deixou muito a ser feito.

            Por isso me predispus a, ano que vem, percorrer o Brasil e atender aos chamados, aos ofícios, às cartas, aos telefonemas de tanta gente que me convidou. Não serei mais Senador e não sei se, em não sendo Senador, perderei as chances ou se os convites serão mantidos, mas pode até acontecer o contrário: eu era até agora convidado e passarei a me oferecer.

            Eu estava preparado para fazer a campanha, não minha. O Sartori, um excepcional candidato, ex-prefeito de Caxias, estava na caminhada. Fui o responsável pela ligação da Marina com o Eduardo, quando fiquei sabendo que a Justiça eleitoral, de uma maneira que não consigo entender qual, não registrou a Frente da Marina, uma mulher com 20 milhões de votos numa eleição para Presidente e com milhares de assinaturas pelo seu Partido. Lá em Canoas, Rio Grande do Sul, o Deputado Jorge Uequed, a sua filha candidata à prefeita, não foram aceitas fichas porque não se sabia de quem se tratava.

            Claro que num País que tem trinta e tantos partidos, onde são feitos partidos da maneira que se quer, o que houve ali foi medo da Marina, para ela não fazer o partido. Telefonei a ela e ao Eduardo Campos, achando que a grande aliança dos dois seria a grande saída para uma campanha independente.

            E saiu e iniciou, quando a catástrofe, o destino nos levou Eduardo Campos. Marina subiu à Presidência e a assumiu. Aí, de vice-presidente da Marina foi o nosso candidato a Senador do Rio Grande do Sul. Nós tínhamos escolhido o Sartori para governador e o Beto para Senador. Aí, o Beto foi para vice-presidente. A trinta e poucos dias da eleição, a campanha estava na rua, muito bem, diga-se de passagem, com o Beto com uma grande penetração, e sai o Beto, e a chapa fica capenga.

            Reuniu-se, debateu-se, analisou-se, mas já havia dois grandes nomes na disputa e não houve jeito de encontrar alguém que aceitasse disputar o Senado. Parece piada, mas todos os sete partidos que compunham a aliança se reuniram e determinaram que eu fosse o candidato, que eu tinha condições de sê-lo. Eu não aceitei porque já tinha saído, já estava fora. Eu já havia lançado o querido Tiago, que se elegeu Deputado, um belo rapaz de profundo conteúdo, simples, modesto, preocupado com os problemas sociais, que está se preparando para uma longa vida política. Nunca fui de fazer da minha família, parentes, amigos, auxiliares candidatos ligados a mim, mas eu saí, e ele já estava entrando. Não houve jeito, tive que ser candidato. Trinta e poucos dias. Não fiz uma propaganda, não fiz um cartaz, não fiz coisa nenhuma. Saiu a eleição. Acho que todo mundo diz que eu ajudei na campanha do Sartori pelo currículo dele no Rio Grande. Ele está no segundo turno, e acredito que, neste segundo turno, ele vai ter uma grande vitória.

            Muitos disseram: “Mas, Simon, tu tivestes uma campanha tão positiva, com tantas vitórias! Vai terminar assim? Como é que vai explicar?” Eu não me preocupei.

Sair na euforia, na festa da vitória, ou sair na euforia de sair porque chega, eu saio com uma derrota que não me preocupa.

            Aliás, é com emoção que eu recebo os abraços e o carinho de companheiros e adversários que me felicitam pelo ato de ter concorrido. E dizem muitos que não votaram: “Eu já tinha candidato, eu já tinha escolhido. Eu achava que o senhor tinha razão, que já era a hora de o senhor descansar.” Mas estou aqui me despedindo desta Casa ao longo destes dias que faltam e me preparando para a caminhada que está aí - sem ser no domingo que vem, no próximo - e confiando, no fundo do coração.

            Lá no Rio Grande, Presidente, eu tenho convicção da vitória do companheiro Sartori. O Sartori, eu diria, é um homem que é feito e aparece no momento exato para uma missão determinada.

            Nos últimos tempos, o Rio Grande do Sul, que já é um Estado áspero no debate, na discussão, na polêmica, vive ultimamente horas de grandes disputas de ideias, de pensamentos, de radicalizações, de acusações. Nenhuma envolvendo nem ética, nem moral, nem dignidade, porque tem que se fazer justiça.

            No meu Partido, nos outros partidos, em todos os partidos no Rio Grande do Sul, a tradição é a seriedade, a dignidade, a honestidade. Não está se discutindo que o fulano fez isso, que o fulano tirou aquilo, que o fulano fez aquilo. Mas é o debate de fazer melhor. Muitas vezes, é o debate de fazer melhor e não reconhecer quando é o adversário que faz, não ter a grandeza de dizer: eu faço, mas você fez bem, você está certo, você merece.

            No meio desta contingência, a candidatura do Sartori é excepcional. Vereador, Deputado Estadual, Deputado Federal, Secretário de Estado, Prefeito durante oito anos da cidade de Caxias, uma administração monumental.

            Eu ficaria aqui, mas peço licença para anexar ao meu discurso a lista, o livro das realizações enormes que Sartori fez na cidade de Caxias. Ele vai ser um grande nome, vai fazer um bom governo, mas, principalmente, ele vai unir,

            ele vai saber integrar, ele vai saber conversar com todas as forças, empresários e trabalhadores, direita e esquerda, PT e PSDB. Ele vai saber reunir todos em torno de um entendimento a favor do Rio Grande. Isso ele saberá fazer, ele vai fazer. Creio que o momento é do Sartori. A campanha que ele está fazendo é emocionante.

            Vocês ainda vão ouvir, meu amigo, Presidente, a Imprensa ainda vai publicar o estilo da campanha do Sartori. Ao contrário dos outros, inclusive de modo especial, o do candidato oficial de Governo que é duro, radical, afirmativo, debochado, o Sartori debate, discute, analisa, mas a personagem importante de sua campanha é a sua mãe, sua velha mãe, humilde, lá da colônia, do interior. porque ele nasceu na colônia e foi, como ele mesmo diz, foi um gringo, um gringo que faz. A mãe dele aparece no programa de televisão: “Meu filho, lembra do que te aconselhei. Dá-te com todos, não brigues, não fales mal dos outros, procura fazer e deixar os outros fazerem”.

            A figura da mãe dele já apareceu mais de uma vez na televisão, inclusive quando o candidato a governador, muito radical, no dia seguinte, quem responde é a mãe. Antes do Sartori falar, a mãe diz: “Vai devagar, meu filho, é melhor do que a radicalização”. Mas o que mais me preocupa, meu Presidente, é em nível nacional.

            Eu acho que estamos vivendo um momento e uma circunstância que nos encontra dento de um dilema que vamos ter que selecionar. Tivemos etapa desde aquela madrugada de 24 de agosto quando, nesta Casa, o Presidente do Senado deu o golpe, porque foi ele quem decretou vaga a Presidência da República dizendo que o Presidente da República estava no exterior em lugar incerto e não sabido. Mentira! Darcy Ribeiro, Chefe da Casa Civil gritou: “Tancredo Neves aqui”. Gritou também: “O Dr. Jango, o Presidente da República, está em Porto Alegre, na casa do Comandante do 3º Exército. Telefone para lá. Em menos de duas horas, ele chega aqui”.

            Mas o golpista, Presidente do Senado, decretou vaga a Presidência da República. De lá até aqui foi um longo período, uma longa história, uma longa epopeia. Vivemos os anos de Jango. Vivemos depois cinco ditadores militares, generais.

            E lendo agora, Presidente, com mais calma as biografias que vêm contando a história deles, nota-se que a nossa ditadura militar, ao contrário de outras, não tinha conteúdo, não tinha consistência, eram vaidades pessoais de A, B, C querendo ser Presidente, querendo ser isso, querendo ser aquilo. Não era um conteúdo de resistência, nem de democracia, nem de fé cristã, nem de coisa nenhuma. E lá se foram anos, lá se foram gerações.

            Conseguimos derrubar. Na primeira eleição democrática, a Nação escolhe. O presidente eleito fracassa e é cassado pelo Congresso Nacional. Assume Itamar, Vice-Presidente - eu fui Líder do seu Governo -, e, em minha opinião, fez um governo notável, um governo em que ele praticamente não tinha nada.

            O Collor foi eleito pelo PRN, um partido constituído na última hora. Elegeu-se, desapareceu o PRN. Cassado o Collor, assume o Itamar. O Congresso estava composto de gente sem perspectivas de absolutamente coisa nenhuma. Itamar fez um grande governo e tomou uma medida fantástica quando reuniu os presidentes de todos os partidos e disse: eu não sou maioria, eu não tenho maioria, eu não fui eleito pelo povo. Eu fui escolhido pelo Congresso, que me botou aqui, e quero, junto com os presidentes de partidos, estabelecer um pacto de entendimento de que vamos governar para salvar o Brasil.

            E foi feito isso. Os partidos concordaram. Nesta Casa, debateu-se o Plano Real, o mais importante e significativo da História deste País. Debate, luta, dificuldade. Mas parece mentira.

            O Congresso, que vivia o escândalo do impeachment e, logo depois, da CPI dos corruptores, dos Anões do Orçamento, logo depois do governo do Itamar, feito o entendimento, agiu com a maior dignidade.

            Eu quero que comparem, Presidente...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ... o que nós vivemos nesta Casa naqueles dois anos e meio com o Congresso americano, inglês, francês, alemão, qual quiser. Ele nos deu momentos emocionantes.

            O Plano Real foi o projeto mais importante que este Congresso votou ao longo da sua história - e o Presidente era o Itamar, que não tinha partido e não tinha ninguém. E se emendou, discutiu-se e se debateu, mas não houve troca-troca, não tinha emenda de Parlamentar, não tinha Ministro de A nem Ministro de B; ninguém pegou a Presidência da Petrobras ou a diretoria da Petrobras, ou não sei o quê, para dar dinheiro, comissão para o partido A ou para o partido B. Um grande governo!

            Vieram os oito anos do Sr. Fernando Henrique: coisas boas, coisas boas; lado positivo, lado positivo; coisas ruins, muito ruins. A reeleição - que, quando era no governo Itamar e nós votamos a reeleição, ele foi a favor, como o Itamar era a favor de não se votar a favor da reeleição, porque a Constituinte tinha sido contra -, ele não só foi a favor... Mas foi uma grande votação. O Plano Real foi aprovado. E, sem um ato de imoralidade, um ato de corrupção, nós fizemos a eleição, e o Fernando Henrique ganhou. Errou na privatização da Vale do Rio Doce; errou ao buscar a reeleição, e Parlamentares ganharam para votar a favor da reeleição. Esses erros ele fez - ele fez.

            Veio o Lula e fez um bom governo: coisas positivas no lado social não há como discutir, coisas positivas. E veio a Dilma, e estamos hoje nessa situação.

            No final do Governo Lula, já tivemos o mensalão - dramático, cruel. Algo que nunca tinha acontecido na história do Brasil atingiu diretamente o coração do Governo, lá no Chefe da Casa Civil. E dali?

            E, agora, a Petrobras, o caso da Petrobras. A Srª Presidenta acha que deveria ficar escondido até terminar a eleição. Discutem e querem transformar em bandido o juiz que está conduzindo o processo, mas o Supremo Tribunal, a Associação dos Juízes do Brasil, todo mundo diz que o juiz está fazendo o que deve fazer e o que precisa fazer. Segredo de justiça é para o delator, quando ele conta sua história, faz o relato daquilo que ele está contando de fatos, e isso não pode ser distribuído. Mas o debate que ele faz, aqui, na reunião da CPI ou o que ele diz à imprensa, ele pode fazer, não há problema nenhum.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - E chegamos às eleições. E, nessa eleição, é que se faz a pergunta: o que fazer?

            Eu acho, Sr. Presidente, que o PT vive o drama de ser governo e de não ter se comportado, em determinada altura, como devia. Ah, mas houve realizações sociais. Sim, fez obras sociais. Há coisas positivas? Sim. Mas o lado negativo é muito duro. O mensalão e o caso da Petrobras, eu gostaria de saber de algum tribunal do mundo que desse outra pena que não a condenação.

            Por isso, acho que, se Deus quisesse nos ajudar, se o povo se compenetrasse, se o povo entendesse o apelo que eu faço, é para votar no Sr. Aécio.

            Não votar no Aécio do PSDB - deixei isso muito claro. E, quando conversei com a Marina e a Marina falou com o Aécio e o Aécio falou com o povo brasileiro, deixou isso muito claro.

            A carta que o Aécio leu à Nação, lá de Pernambuco, corresponde à Carta aos Brasileiros que o Lula fez no momento em que ele foi eleito. O Lula perdeu a primeira, perdeu a segunda, ia perdendo a terceira eleição para Presidente da República. Só que, quando chegou na quarta, ele sentiu que, se fosse na mesma linha, do mesmo jeito, com as mesmas propostas, perderia de novo. Então, ele teve a grandeza, as pessoas o cercaram, e ele fez uma carta em que ele mostrou uma linha diferente. Foi escolher para Presidente do Banco Central o Sr. Meirelles, que tinha sido Presidente do Banco de Boston. Ele foi escolher para Vice-Presidente da República um dos maiores empresários brasileiros, e foi dizer, com todas as letras, que a linha dele era a linha do governo da realidade e da normalidade, não deixando nenhuma interrogação com respeito ao que se pudesse imaginar do governo dele. E ele ganhou, e ele cumpriu a sua Carta aos Brasileiros; cumpriu e fez o governo dele.

            Pois, agora, é exatamente a mesma coisa. O que se faz neste momento com o Sr. Aécio é que ele representa a sociedade brasileira, a mudança.

            A Dona Dilma, agora, aparece na televisão, e ela é a mudança. Depois de doze anos, ela é a mudança! Depois de doze anos em que fizeram o que quiseram e o que não quiseram, ela é a mudança! Ora, vamos nos dar o respeito! Vamos nos dar o respeito!

            Se quer o Aécio, o Aécio para governar para a sociedade; o Aécio que não vai ter maioria no Congresso de jeito nenhum, nem deve buscar a maioria; o Aécio que é eleito Presidente que deve dialogar com o Congresso - e chamar o próprio PT, chamar a sociedade inteira para dizer: nós estamos em um momento muito sério, muito grave; nós temos de fazer uma intervenção na Petrobras da maior importância; nós temos de fazer uma modificação na maneira de governar absolutamente radical; e eu preciso de todos.

            O PT será uma maravilha. O PT voltará a ser o PT. Vamos refundar o PT, como dizia o Tarso Genro, quando passou pela Presidência do PT. Vamos refundar com a questão de ele voltar ao que ele era, ao que ele foi, no início, no Governo do Fernando Henrique: um grande partido de oposição, corajoso, enérgico, com responsabilidade e competência.

            A melhor coisa que pode acontecer com o PT é ele voltar para a oposição, ficar quatro anos na oposição, reafirmar os seus quadros, moralizar os seus quadros, identificar-se com as suas origens, entender que lá, quando o Cardeal Dom Evaristo Arns ajudou a fundar o PT, arrumava aquela gurizada e a orientava no sentido do que era bom, só falou no âmbito das ideias, no âmbito dos princípios, mas se esqueceu de orientar na hora: vocês um dia serão Governo, e, no Governo, vocês têm de ter ética, moral e dignidade.

            O PT aprendeu a ser oposição, mas não aprendeu a ser governo. E, no governo, gastando essa fortuna, está isso que está.

            Voltar para a oposição, baixar a cabeça. Aqueles que estão no PT apenas para a Petrobras e não sei o quê que vão para o inferno! Para ser uma seleção e se preparar para o futuro, seria uma maravilha.

            E o nosso amigo Aécio - veja o que é o atavismo da história...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ... poderá fazer aquilo que Tancredo, seu avô, não pôde fazer. Não pôde fazer, mas disseram que fez. Na hora de fazer a candidatura, na hora da sua vitória no colégio eleitoral, na hora de fazer a proposta, ele apresentou os itens. E os itens que ele apresentou, unindo todo o Brasil... Tancredo conseguiu unir todo o Brasil, e a ditadura ficou isolada num canto, metade inclusive abandonando. E foi ele que fez essa união, foi ele que estabeleceu essas ideias. E essas ideias foram vencedoras, foram heroicamente vencedoras.

            O Aécio tem que partir para isso, e não o PSDB, porque agora a coisa não é MDB, PSDB, PT. A coisa é Brasil. Ele tem que reinventar. E ele tem dito isto: “Eu hoje não sou um homem de partido. Eu sou um homem que representa a mudança, a transformação que deve ser feita neste País”.

            Ele, fazendo isso, unindo, chamando todos, fazendo na mesa...

(Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Permita-me.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ... e o PT, na oposição, cuidando, fiscalizando, nós podemos, sim (Fora do microfone.), viver um dos maiores momentos da história deste País. Podemos viver um momento histórico na história deste País. O PT, sendo um fantástico partido de oposição, preparando-se para ser governo novamente depois - é claro que sim -, e o Aécio fazendo o momento histórico dessa transformação.

            É isso que nós estamos fazendo. É esse o meu apelo. E é isso que eu peço a você, meu irmão, que, na TV Senado, está me assistindo neste momento. Eu peço a você que faça isso, porque essa é a grande saída, é a saída para o nosso Brasil, é a saída para os nossos filhos, é a saída para a nossa sociedade. Um Brasil onde não haja luta, não haja guerra, não haja alguém que ganhe, mantenha...

            A Presidenta, até hoje, não demitiu os diretores da Petrobras. “Só vou demitir depois que for provado”. Em qualquer lugar do mundo, com 10% das acusações que são feitas contra os diretores, o diretor já teria sido afastado, ainda que temporariamente. Não precisava nem ser demitido, mas afastado. Pois ela não afastou. Ela não tem coragem, ela não tem peito, ela não tem nem força para tirar um diretor acusado de corrupção na Petrobras.

            Ela vai ficar? Ela vai ficar com que poder, com que autoridade, com que prestígio, com que credibilidade? Não, meus irmãos. É um momento importante e você, povo, tem essa responsabilidade.

            É verdade que é uma lavagem da televisão, rádio e jornal. O que o Governo está fazendo eu não consigo entender. O Presidente da República vai em avião oficial, atrás do avião oficial vai um outro avião e, em pleno horário de serviço, em pleno horário de trabalho, sai de Brasília, percorre o Brasil gastando uma fortuna de dinheiro público, fazendo uma campanha, mostrando como é escandalosa a reeleição. Vamos terminar com isso. Está na hora de terminar. E terminar significa votar no Aécio. Votar no Aécio, que quis o destino que isso acontecesse. Votar no Aécio.

            Eu estou vendo, mas a hora é tão importante, Sr. Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Estou ouvindo V. Exª.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - É que eu estou extravasando o que sinto. E isso que eu sinto e estou extravasando acho que devo falar.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Precisa.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Porque eu faço o que devo fazer.

            Acho que o PT vitorioso, meu amigo Lula, nem você, nem o PT nem o Brasil vai ganhar com isso. Vai ser uma vitória de Pirro. Meu Deus, que Ministério você vai escolher? Quais são seus aliados? Quais são suas companhias? Enxugue seu Partido, Lula. Faça do seu Partido um grande Partido. Você agora tem uma autoridade, uma credibilidade, uma respeitabilidade, tem uma experiência enorme. Grande experiência de oposição. Oposição a uma ditadura, oposição a uma democracia. Grande experiência de governo: 12 anos. Nesses quatro anos, você vai poder fechar as portas, refletir, reunir as suas pessoas e fazer a seleção.

            Eu também, quando estava no velho MDB de guerra, me considerava um apóstolo. Para mim, todo mundo que militava no MBD contra aquela ditadura, contra aquela violência, que tinha coragem de estar do nosso lado, era um herói. Eu achava que o MDB era o melhor partido do mundo, que as pessoas eram as melhores que conheci. Quando chegamos ao Governo, eu fui ver que o MDB estava cheio de gente tão ruim ou pior do que as outras. O PT também. Você, Lula, deve estar vendo agora. Deixa o lugar por quatro anos, enquanto o PT está bem, está rico...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ... as pessoas estão bem colocadas. Elas podem ficar quatro anos na oposição. E nem vai ser oposição radical, porque o que eu estou propondo é um grande entendimento. Se Mancloa fez isso lá na Espanha, depois de uma guerra civil entre comunistas e fascistas, onde quase desapareceu a Espanha,

            Se eles conseguiram fazer, se reunir e se entender através desse entendimento por que nós não podemos fazer aqui, onde a situação é infinitamente mais fácil, mais tranquila e mais competente?

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Permita-me, Senador Pedro Simon, registrar a presença, em nossas galerias do Senado, dos estudantes de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Portanto, da capital do seu Estado. Estão ouvindo aqui o nosso querido Senador Pedro Simon.

            Eu queria sugerir a V. Exª que pudesse me dar 10 minutos e V. Exª continua a falar depois, porque eu tenho um compromisso e gostaria de não perder o avião. Eu sei que a Senadora Ana Amélia quer falar.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Eu serei breve no aparte ao Senador Pedro Simon se o nosso Presidente Eduardo Suplicy permitir.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco Apoio Governo/PT-SP) - Tudo bem.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Senador Pedro Simon, eu queria fazer um pequeno registro disso que o senhor acaba de falar, de exortar à Nação brasileira, que, por si só, já seria suficiente. Mas eu faço um aparte, primeiro, para me solidarizar como cidadã e como detentora de um mandato parlamentar do nosso Estado do Rio Grande do Sul, que nos orgulha muito representar, com o Juiz Sérgio Moro. Ele está sendo criticado por cumprir a sua nobre missão de fazer o que está fazendo. Também cumprimentar a Polícia Federal brasileira, porque está agindo republicanamente. E é exatamente em função de entender, como cidadã, que esta instituição nos orgulha muito, a Polícia Federal, ao cumprir a sua missão tanto quanto o Juiz Sérgio Moro é que, no dia 28, estarei aqui para votar a Medida Provisória nº 650, que trata de questões relacionadas a reajustes salariais à Polícia Federal. Mas eu queria lembrar, Senador Pedro Simon, que Lula, como bem reconheceu V. Exª, teve a inteligência, em 2002, de assinar a carta aos brasileiros. Foi um ato de coragem que ele assumiu. Mas a maior coragem dele foi de ter levado para o Banco Central Henrique Meirelles, que tinha sido eleito Deputado Federal pelo PSDB de Goiás, vinha da Presidência do Banco de Boston, um banco americano, um grande banco internacional, e foi um dos mais longevos presidentes do Banco Central, com uma condução que o próprio mercado reconhecia como extremamente competente. Ora, também o Lula, na questão social, teve um trabalho importante, que toda a sociedade brasileira reconhece, o mundo inteiro reconhece, que foi o Fome Zero. Depois, com irregularidades que aconteceram no começo, corrigido, aperfeiçoado na parte da competitividade, ele se tornou Bolsa Família. E nós não podemos imaginar que nenhum líder político terá coragem de mexer numa conquista social para os mais pobres. Ninguém fará isso, e muito menos Aécio Neves. Então, não se pode brincar com coisa séria, tem que se ter responsabilidade. E V. Exª bem lembrou José de Alencar, Vice-Presidente de Lula, escolhido dentre os mais prósperos empresários brasileiros do setor têxtil. Então, nós temos que entender esta situação como ela é, Senador Pedro Simon, e como V. Exª abordou, com a grandeza, com a compreensão e com a experiência de um político que viveu muitas crises no nosso País. Mas certamente não terá vivido uma crise como essa que estamos enfrentando nos dias de hoje. E será necessária, como disse V. Exª, e entendo como verdadeira, uma faxina, Senador Pedro Simon, na nossa grande Petrobras. E uma faxina também em órgãos que são de previdência complementar das empresas estatais que precisam ser dotadas de profissionais e não partidarizar essas instituições, para evitar que Postalis, que Previ, que Funcef acabem com o mesmo destino do Aerus, da Varig, que estão a esperar da Justiça que o Governo Federal execute uma sentença já dada em benefício de seus aposentados e pensionistas. V. Exª conhece esse drama e esse problema. O que V. Exª faz é uma exortação necessária. Não estamos aqui para fazer nenhum julgamento, apenas para evidenciar fatos que são irrefutáveis. Conquistas sociais são inegociáveis. Conquistas sociais devem ser mantidas e serão mantidas por qualquer líder político responsável de nosso País. Parabéns, Senador Pedro Simon. Tenho grande orgulho de conviver com V. Exª nesta Casa.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Agradeço o aparte de V. Exª.

            Eu concordo. Eu saio e, se puder, eu volto.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/2014 - Página 38