Discurso durante a 146ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Lamento pela forma como têm sido feitas as campanhas eleitorais no País.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Lamento pela forma como têm sido feitas as campanhas eleitorais no País.
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/2014 - Página 43
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • CRITICA, FORMA, REALIZAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, BRASIL, REGISTRO, APOIO, ELEIÇÃO, AECIO NEVES, SENADOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Prezado Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, achei por bem passar esses dias aqui em Brasília, no nosso Senado, embora seja fácil de entender que os colegas devem estar correndo por todos os Municípios de seus Estados às vésperas deste segundo turno, que se apresenta, realmente, emocionante, no palmo a palmo da disputa entre os dois candidatos.

            Mas achei que devia passar uns dias aqui, e o faço esta semana, porque, de certa forma, considerando que chego ao final da minha caminhada nesta Casa, achei que devia analisar, debater, discutir o que tem sido esta campanha, importante campanha, na política de nosso País.

            Chegamos à reta final. Logo ali, sem ser este domingo, no próximo, teremos o resultado. Já na obtenção desse resultado, na fórmula de se chegar a ele, eu lembro como era no início, lá atrás, com a gente depositando a cédula na urna, várias juntas de contagem de voto, e os dias se passavam, e a contagem era feita, as interrogações, também, e as dúvidas, também, as recontagens necessárias. Hoje, mérito da Justiça Eleitoral do País, o método adotado, das urnas eletrônicas, coloca o Brasil na primeira linha dos mais adiantados no processo de realização de uma eleição.

            Pena que no desenvolver da campanha, na fórmula de realizá-la, ainda estamos tão longe e tão lá atrás. Temos um processo de apuração cinquenta anos à frente, e temos um processo de debate eleitoral cinquenta anos atrás.

            Chegamos ao final. Duas candidaturas.

            O importante é salientar e destacar que há de se respeitar as duas candidaturas. Tivemos um final emocionante. Mais uma vez, a candidata em que eu votei não ganhou, que foi Marina. Na eleição passada, também não ganhou. Minha candidata também foi Marina. Mas chegaram a Presidente Dilma e o Senador Aécio, que estão fazendo um debate importante e significativo.

            Eu vi que o debate feito na televisão brasileira, nos programas eleitorais, tem um problema que venho dizendo há muito tempo. Há anos, Senador, eu digo que é um absurdo as campanhas eleitorais no Brasil serem feitas da maneira como são. Quem monta a campanha, quem dirige a campanha, quem faz a campanha não é o partido, não é o candidato, é a empresa de publicidade que é contratada. Assim como um empresário contrata uma empresa para lançar um novo sabonete, assim como há agora essa publicidade espetacular, com Toni Ramos, para lançar um produto de carne, e todo o mundo está prestando atenção, assim é a campanha eleitoral para lançar os candidatos.

            Eu não digo que as campanhas não sejam importantes, eu não digo que elas não sejam necessárias, eu não digo que elas sejam funestas. Eu digo que, com o exagero com que é realizada no Brasil, ela presta um desserviço.

            Tenho repetido que o mundo inteiro acompanha o final das eleições presidenciais nos Estados Unidos. Todos sabemos que as eleições nos Estados Unidos, sejam quais forem os partidos, sejam quais forem as pesquisas que são feitas durante a campanha, seja qual for a quantia financeira que se deposite em cada candidato, a decisão, na eleição americana, é feita nos cinco debates em que candidato democrata e candidato republicano, cada um numa tribuna, um pergunta e o outro responde.

            O jornalista apenas faz a mediação para dar a palavra para um e dar a palavra para outro, não pronuncia uma palavra. O candidato comparece sem nada e faz a pergunta que bem entende, e o candidato adversário responde como bem entender. E é esse debate que o americano realmente olha, analisa e é em cima dele que decide, porque ali, sim, está o candidato sozinho fazendo as perguntas que acha que são importantes. Ele é o candidato, ele quer ganhar, ele deve saber o que o povo quer. Problema dele perguntar o que ele quiser, as consequências são dele. Ele está arriscando a vida dele. E o adversário, a mesma coisa.

            Já houve eleições americanas de resultados excepcionais, diferentes do que era imaginado. O Clinton, Presidente dos Estados Unidos, reeleito, com seu Vice-Presidente, Prêmio Nobel da Paz, Al Gore, foi candidato à Presidência da República. O concorrente dele era o Sr. Bush, o pai. Todas as pesquisas eram totalmente favoráveis ao candidato democrata, competente, capaz, brilhante, intelectual, figura simpática, com posições positivas com relação às crises internacionais - Iraque, Irã, Oriente Médio. Era uma eleição que era nomeação. Então, foram para o debate. Os orientadores do candidato democrata disseram a ele: “Olha, você já está com a eleição ganha. Não precisa fazer nada para ganhar a eleição. Você tem que ter cuidado nas respostas para não perder voto. Então, não seja definitivo, não seja radical. Analise, contemporize, para você entender que você tem que aceitar a média do pensamento”.

            E ele aceitou ipsis litteris a orientação. E o Bush fez as perguntas: “O que o senhor acha da guerra no Oriente Médio, no Iraque, que está acontecendo agora?” O democrata era contrário. Achava que a intervenção no Iraque tinha sido um equívoco, que não devia ter sido feita. Mas nós sabemos que o povo americano, no fundo, é meio belicoso e vê com emoção o americano atacando o Iraque hoje, o Irã amanhã, a Síria depois de amanhã, algum lugar. Eles meio que se consideram os donos do mundo. E ele respondeu: “Pois é, o negócio da guerra do Iraque, eu acho que... Pois é, não sei... Ela é muito importante, ela é muito delicada. Nós temos que ver...” Não disse nada com nada. E assim em outras perguntas. Assim, em outras, ele ficou neutral e, surpreendentemente, perdeu as eleições dos Estados Unidos, porque o americano disse que preferia o Sr. Bush, radical, mas que dizia o que queria: “Eu sou a favor e tem que continuar, eu acho que temos que fazer assim, assim e assim”, enquanto o democrata era água com açúcar. Perdeu a eleição, e o Bush ganhou.

            Aconteceu agora, na penúltima eleição. O Obama ganhou agora. Ganhou uma eleição em que não teve... O Obama que ganhou agora a segunda está muito longe do Obama que ganhou a primeira eleição.

            Logo depois de ganhar a primeira eleição, dois anos depois ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz. E toda a imprensa publicou que ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz por antecedência, pelo que ia fazer, porque ainda não tinha feito nada. E, depois de ganhar o Prêmio Nobel, não fez nada por merecer. Não que Obama não seja, e eu vim a esta tribuna muitas vezes para elogiar o Sr. Obama... Não que ele não seja um homem de bem, um homem correto, um homem competente, um homem capaz, mas para mim está provado que aquela engrenagem americana, aquela força que, por exemplo, os israelitas têm, que as empresas têm, que certa classe tem é tão grande que o governo, o presidente se vê meio refém daquilo que vai fazer.

            Obama quis. Obama fez a reforma da saúde. Parece mentira, mas nos Estados Unidos não havia o direito à saúde universal. Quem não tinha dinheiro, quem não tinha seguro de saúde ficava num canto. E ele iniciou a reformulação disso. Mas, na primeira eleição, Obama, cidadão e Senador lá da cidade de Chicago, entrou Senador de um ano. Ele entrou para fazer nome.

            As primárias americanas são muito conhecidas com pessoas que querem se destacar, que querem ser conhecidas em nível nacional e se lançam candidatas, porque, através das primárias, percorrem o país inteiro, os 52 Estados, e são conhecidas. Através dessa participação no conjunto da sociedade, elas abrem caminho para progredir.

            Ele foi candidato apenas para isso. A Srª Clinton, ex-primeira-dama americana, era candidata só para ganhar nome de prestígio, de credibilidade, de liderança. Era o grande nome do Partido Democrata. Mas Obama, com sua posição pessoal, um orador brilhante, fez toda a sua mensagem endereçada à mocidade e a aclamou.

            A cada ano, nos últimos 50 anos, nas eleições americanas, menos gente comparece para votar. A abstenção é enorme. Naquela eleição, quase o dobro votou, levado pelo Obama. E Obama ganhou.

            Aqui no Brasil não há isso. Aqui no Brasil, o maior exemplo que nós temos dessa questão é o Presidente Lula. O Presidente Lula, um grande companheiro, grande líder, foi candidato à Presidência da República numa eleição - a primeira depois de 21 anos de ditadura - em que concorreram grandes nomes, as grandes bandeiras do Brasil: Ulysses, Lula, Tancredo... Não, Tancredo, não. Brizola, Mário Covas.

            Os maiores nomes concorreram e no segundo turno ficaram Lula e Collor.

            Eu fiquei com o Lula. Eu era governador do Rio Grande do Sul, subi no palanque dele, e ele perdeu a eleição, que estava ganha, num debate dele com o Sr. Collor, em que o Collor fez uma série de perguntas bobas de que ele não soube sair. Foi ridícula a posição do Collor e foi infeliz a resposta do Lula.

            A TV Globo, no dia seguinte, pinçou. A TV Globo pegou o debate, pegou tudo de bom do Lula e botou fora; todas as coisas erradas do Lula botou no programa; e todos os acertos do Collor e botou no programa.

            Eu, governador, assisti, no gabinete do palácio, com a minha equipe, ao programa: “Não, o Lula, realmente, perdeu.” Mas não me passou pela cabeça que ele ia perder a eleição. Agora, quando eu vi o Jornal Nacional, no dia seguinte: “perdeu”, porque, na verdade, a Globo tinha feito um trabalho excepcional, de má-fé, a favor do Collor.

            Quatro anos depois, o Lula foi candidato de novo. Perdeu a eleição. Quatro anos depois, o Lula foi candidato de novo. Perdeu a eleição. As duas, no primeiro turno, para o Fernando Henrique Cardoso. Quatro anos depois, ele foi candidato de novo, pela quarta vez. Aí, a equipe mudou. Pegaram um homem que é um gênio da comunicação - devem conhecer o Duda Mendonça.

            A campanha foi feita de tal maneira, que os jornais e a televisão não falavam: “O Lula vai fazer isso, o Lula vai fazer aquilo, o Lula vai...” O Lula não aparecia; quem aparecia era o Duda Mendonça. Então, o Duda Mendonça aparecia na televisão dizendo: “Não, eu vou mudar a roupa do candidato.” E mudou. Ao invés de o Lula parecer... Ele aparecia na televisão e parecia, realmente, um trabalhador, um mecânico, simples, humilde. De repente, aparece o Lula com um terno o mais moderno, o mais chique, do alfaiate mais importante do Rio de Janeiro. Estava lá o Lula.

            O Duda falava: “Não, eu vou mudar a barba do Lula.” E o Lula, aquele barbudo, enorme - a gente nem se lembra, mas ele tinha uma barba de Papai Noel -, tira a barba e faz a barba moderna, alinhada, firme.

            E assim foi feito. O Lula agressivo, até com palavrão, e o Lula paz e amor. Mudou completamente. Mudou e o novo produto agradou, e ganhou uma, e ganhou duas.

            É o que acontece na televisão. O candidato faz de conta que faz, primeiro, as perguntas de todo dia, e as respostas são as mesmas: “Qual é a sua proposta para a educação, doutor?” “Ah, para a educação...” “Qual é a sua proposta para o problema da falta de água?” “Ah, para a falta de água...” “Qual é o seu problema com relação à saúde?” “Ah, pois é, a saúde...” “Qual é o seu problema com relação às estradas?” “Ah, pois é, as estradas...” Até quem assiste não leva a sério. Leva quando algum diz: “Mas houve roubo lá na estrada. Parece que superfaturaram...” Aí, arregala o olho, pois a coisa é importante. Então, essa questão que eu acho que deve mudar - creio que vai mudar -, mas, nesta eleição, continua mais ou menos assim.

            Acho que, nesta semana, os debates finais que estamos tendo agora... Eu respeito muito o que a TV Bandeirantes fez. A TV Bandeirantes fez um debate igual aos dos Estados Unidos. O ilustre e brilhante jornalista e coordenador disse que não chegou a dois minutos o tempo que ele falou. Em uma hora e meia de debate, ele não falou dois minutos. Ele só falava: “Com a palavra, fulano”. Não interveio. Um falou e o outro respondeu. Eu achei sensacional. Achei altamente positivo, porque ali deu para ver que a Dilma falou o que queria falar, e o Aécio falou o que queria falar. Meus cumprimentos. Acho que foi um avanço muito importante e acho que, neste final - dirijo-me à D. Dilma e ao Sr. Aécio -, levem o debate para esse sentido, façam esse debate e analisem no sentido das coisas concretas, objetivas, reais...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ... do que deve ser e do que eles pretendem fazer. Acho que será muito importante se isso acontecer.

            A última pesquisa que eu ouvi fala em 51 a 49. Duas empresas que deram o mesmo resultado. Empate. Realmente, eu imagino a emoção dos candidatos e de suas equipes, e a emoção nossa, que acompanhamos.

            Eu espero que o povo brasileiro analise, pense e reflita muito com relação a seu voto. Acho que esta eleição pode ter saídas de um lado ou de outro lado. A Srª Dilma, ganhando, será uma grande vitória. O Lula reeleito, ela reeleita, 16 anos de PT: uma grande vitória. Mas eu não sei, sincera e honestamente, com todo o respeito à Presidente Dilma, se para ela, para o PT, para o Brasil, o melhor seria ganhar. Sinceramente, a situação que estamos vivendo hoje, e, depois da semana que vem, vão abrir, à escâncara, os projetos da Petrobras, as denúncias da Petrobras, e aí terá que ser demitida... Hoje, ela disse que não tem condições... Não afasta - não digo demitir -, mas não afasta os diretores da Petrobras que estão sendo denunciados. Quer esperar o resultado. Não afasta porque ela não está em condições, politicamente - e eu respeito -, dentro do seu grupo, de fazer uma situação como esta que pode dar consequências imprevisíveis. Se agora é assim, o que vai ser depois?

            O novo Congresso que vem aí... Se eu não me engano, são 26 ou 27 partidos com liderança na Câmara dos Deputados. Para votar um projeto de lei, na hora de encaminhar a votação, 26 líderes poderão falar - a cinco minutos cada um, quanto é que dá o tempo?

            Como será feito o seu ministério? Que organização será essa?

            Hoje, eu leio no jornal uma introdução numa entrevista realmente pesada do Sr. Eduardo Cunha, que é Líder do PMDB na Câmara dos Deputados, em que ele diz que a Dilma errou muito e usou o PMDB para ter tempo de TV. Ele diz que o PMDB tem 66 Deputados, e que hoje são 33 com a Dilma e 33 com o Aécio. E não adianta mais do que isso.

            Mas essa é a situação.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - É nessas condições que nós vamos ter que debater, que este Congresso vai ter que discutir. As CPIs que vão ser pedidas, o debate da Petrobras e o rescaldo do debate do mensalão.

            Eu acredito nas boas intenções da Presidente Dilma. Tenho o maior respeito por ela. Nesta tribuna, durante os meses iniciais de seu mandato, vim quase que diariamente incentivando e aplaudindo a Presidenta. Ela assumiu para valer. Um, dois, três, quatro, cinco, seis ministros que fizeram as coisas erradas, ela demitiu. E eu vim aqui bater palmas. “A senhora está certa, Presidenta! É isso que tem que fazer. Permaneça assim!” Mas a Base dela não gostou e começou a aparecer: “Volta, Lula!”. E os projetos dela começaram a ficar nas gavetas do Congresso. As coisas foram demorando. E, infelizmente, ela não teve, devia ter, mas não teve... Eu fui um dos que gritei nesta tribuna que nós, os independentes, devíamos dar força para a Presidente Dilma, para que ela pudesse resistir, pudesse levar adiante aquela posição de dar seriedade ao Governo. Mas não deu.

            E ela sucumbiu e teve que se entregar àquela maioria e governar com os partidos que fazem a sua Base. Base que não é político-partidária composta na ética, na moral, com programa de governo, um objetivo, é isso aqui, é isso aqui. Não, é na base da distribuição - toma lá, dá cá. Eu ganho o ministério e te dou apoio. Eu voto aquilo lá e eu ganho aquela emenda. E é isso que está aí. E, se ganhar a Presidenta Dilma, por melhor intenção que tenha, ela vai conseguir mudar esse quadro? Eu não acredito.

            Eu não acho que o PSDB seja santo e eu faço a ele tantas críticas quanto eu faço ao PT , ao PSDB e ao meu partido, o PMDB. Mas acho que nesta eleição aconteceu um fato novo.

            No início havia PSDB, Aécio; PT, Dilma; forças que queriam mudança, a Marina. Mas neste segundo turno há uma modificação. Essa modificação se chama a presença das forças que estavam com a Marina junto com o Aécio, mas não é junto com o Aécio no sentido de somar - é o Aécio e os caras são anexos ou agregados. Não.

            Lula, quando saiu vitorioso como Presidente, escreveu a célebre Carta de Brasília.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Nessa Carta de Brasília, ele firmava os compromissos, fazia uma análise, abria um pouco o horizonte no sentido de não poder ser atingido pelos radicais que o acusavam de radical.

            Colocou de ministro um grande empresário, grande fortuna, José de Alencar, uma excepcional pessoa, diga-se de passagem, que fez a aproximação do Presidente com a classe empresarial, principalmente de São Paulo.

            Foi buscar para o Banco Central uma figura estranha, que ninguém imaginava que pudesse ser, inclusive eleito Deputado Federal pelo PSDB quando assumiu o Banco Central, numa mensagem a todos de como ele trataria o sistema financeiro.

            Lula ganhou e, diga-se de passagem, ele cumpriu. O seu governo foi, realmente, aquela linha que ele adotou, e foi positiva. O Brasil cresceu, e se desenvolveu, e avançou, e, durante um longo espaço de tempo, foi um grande governo, as reformas sociais foram verdadeiras.

            Onde o Lula errou? Modéstia à parte, aqui desta tribuna. Lula, meu amigo, jantou comigo na minha casa aqui em Brasília me convidando para participar do seu governo. Eu disse: participar não, mas ajudar sim, e ajudei no início do seu governo.

            Eu vim para esta tribuna quando um cidadão apareceu na televisão, o Sr. Waldomiro, recebendo um dinheiro com uma mão, botando no bolso com a outra e discutindo a taxa da corrupção, no caso do Sr. Cachoeira. A televisão noticiou isso mil vezes no Brasil. Eu fui ao governo: tira já, demite agora, porque assim nós estamos dando uma demonstração do que vai ser o governo do Lula - não demitiu; falei, insisti, insisti, insisti, e não demitiu.

            O Lula não deixou o Sarney, Presidente do Senado, criar a CPI. Insistiu, insistiu, e não deixou. Entramos no Supremo para criar a CPI.

            Ganhamos no Supremo, mas essa CPI, para ser aprovada no Supremo, levou um ano. E, em um ano, não era mais a CPI dos Correios, era o mensalão. Porque, como ele não deu firmeza, como naquela primeira atitude irreal de imoralidade, de indecência, ele não deu o caminho reto, abriram-se as comportas do governo para que outros fizessem a mesma coisa.

            O Aécio, Sr. Presidente, que vai ser apoiado pelo grupo, tendo a Marina à frente, disse na televisão: “Eu escrevo a minha carta, que é esta, que me identifica com a carta que o Lula fez.” E eu quero dizer que, a partir de hoje, eu não sou candidato do PSDB, sou candidato da mudança. Represento o PSDB, represento todos aqueles que querem realmente mudar, modificar, mudar.

(Interrupção do som)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ...mudar. E por que eu acredito que esse objetivo pode ir adiante, Presidente? Por uma razão muito simples: o Lula e a Presidenta, se ganharem, vão compor uma maioria, não uma maioria programática, num programa positivo de maioria para governar, mas vão compor uma maioria do é dando que se recebe, vão distribuir favores, e vantagens, e ministérios, e não sei mais o quê, e vão ter maioria.

            Logo depois, vão abrir os inquéritos, vão abrir a continuação, vão abrir as comportas da Petrobrás e vão vir para cá os pedidos de CPI. De que maneira vão organizar-se? Qual será o debate nesta Casa? Qual será a orientação? Qual será o caminho pelo qual andaremos nós em março e abril do ano que vem?

            Se ganhar o Aécio, se ele quiser não cumprir a palavra e não fazer o que está dizendo que vai fazer, que é reunir todos os que querem a mudança e, inclusive, falar com os que hoje são do Governo, se ele não fizer isso se desmoraliza em seguida. A Presidenta ainda tem o PT, tem o grupo do PMDB, e ele não terá nada. Mas, se ele fizer o contrário, se ele reunir, chamar os Partidos:

Olha, eu sou o Presidente, eu vou governar, mas nós temos que ver a hora difícil que estamos vivendo. Nós estamos vivendo em uma hora que temos que nos dar as mãos e vamos fazer um entendimento entre nós, vamos buscar as leis, o que estamos querendo. Todo mundo diz que tem que se fazer um novo pacto federativo. Vamos estabelecer as normas para criar esse pacto. Todo mundo está dizendo que se tem que fazer uma reforma política, vamos estabelecer as normas para se fazer essa reforma política, e vamos entrosar todos e vamos colocar todo mundo no conjunto desse debate e aí vai acontecer.

            Eu fui Líder no Governo por dois anos e tanto, no Governo do Itamar e, em nenhum momento, nem Deputado, nem Senador, nem auxiliar veio a mim pedir qualquer vantagem para votar com o Governo. Em nenhum momento, fui a qualquer Deputado ou qualquer Senador pedir qualquer coisinha para ele votar a favor do Governo. Cada um votou com a sua consciência.

            Eu lhes digo, meus irmãos, naqueles dois anos e seis meses em que tivemos o impeachment, cassamos o mandato de um Presidente por irregularidade, e em que houve uma CPI dos Anões do Orçamento por corrupção, saiu o Presidente e entrou o Vice-Presidente, que não tinha partido, que não tinha sustentação nenhuma. Mas o que fizemos? Reunimos os presidentes de todos os partidos e sentamos e dissemos: “Olha, eu sou Itamar”, mas o povo não elegeu o Itamar, o povo elegeu o Collor, o Congresso cassou o Collor e o Congresso colocou o Itamar.

            Então, estabeleceu: o Itamar aqui quer governar com o Congresso. Vamos governar juntos, todos. Vamos fazer um pacto de dignidade nacional. Qualquer Presidente, do menor ao maior partido, que quiser uma situação de gravidade nacional me chame, e eu convoco todos os presidentes para nós discutirmos, e eu fico com o mesmo direito. Se eu achar que tenho um problema nacional, eu invoco todos os presidentes dos partidos e vamos discutir.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - E pensou: a tese que se discutiu ali o que era importante, o que era necessário, o que era fundamental ele fez, lançou o Plano Real. E o Plano Real foi discutido, debatido, analisado. As outras teses pararam no tempo, não havia tempo para mais do que esse projeto que precisava exatamente tirar o Brasil do ar e fogo que estava, para abrir as comportas para o desenvolvimento.

            E ele foi debatido aqui e foi analisado. Em nenhum momento, chegou-se à bancada “a”, “b” ou “c”, dizendo: “Se votar a favor, eu te dou isso, eu te dou aquilo.” Ninguém pediu!

            O Congresso brasileiro, como o Congresso americano, o Congresso inglês, o Congresso alemão, atuou como um congresso com a maior dignidade, com a maior seriedade. Ninguém comprou e ninguém vendeu, apoiou o voto, dizendo que isso era o certo. E o Plano Real foi votado, e foi aplaudido, e está de pé até hoje.

            Eu acho que essa é uma demonstração que nós íamos parar para pensar e analisar. Quando se pergunta: “E o Congresso, o ano que vem, Senador, vai ser melhor ou vai ser pior?”

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Há gente que diz que vai ser pior! Eu digo: essa é a hora de parar pára fazer isso. O Aécio garante e fará, e terá condições de fazer, de reunir todos, e, reunindo todos, haverá um grande debate, a começar pela Presidenta.

            A Presidenta diz que é necessário haver uma Assembléia Nacional Constituinte, e ela está certa, e eu estou do lado dela. Mas seja a Constituinte, ou seja o que for, reunir todo o Congresso, com todas as suas lideranças, com todos os seus partidos e fazer uma pauta nacional, que não seja de PSDB, nem seja de quem quer que seja, mas seja do Brasil! Aí, nós vamos começar o ano que vem com respeito e com seriedade; aí, pode acontecer o que acontecer na CPI da Petrobras, nós estaremos em condições morais e éticas de levar a questão adiante.

            É por isso que eu digo: é bom para o Brasil que V. Exª, Presidenta...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ... perca a eleição. Por isso, eu digo: é bom para V. Exª, Presidenta Dilma, que V. Exª perca a eleição; é bom para o Brasil que V. Exª perca a eleição. Não pelos seus defeitos, não por que V. Exª não é uma ilustre Presidenta, tem grandes qualidades e tem grandes méritos, é pela circunstância que nós estamos vivendo.

            Se V. Exª continuar, vai ser exatamente a continuação disso que nós estamos vendo: é o mensalão, é o Supremo Tribunal, é a Petrobras, é esse incêndio de coisas que irá até onde eu não sei. O PT na oposição é o que Deus podia fazer de melhor para o PT; o PT no governo vai implodir e vai se desmoralizar; o PT na oposição vai se recompor, vai voltar a ser o PT.

            Esses que estão lá...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ... se enchendo de dinheiro, esbulhando, fazendo as imoralidades vão cair fora. E o Partido vai voltar a ser o velho PT, honesto, decente e digno, como foi na oposição. É que não ensinaram o PT a ser governo, o PT era oposição, estava na oposição, brilhante oposição, digna oposição e, de repente, virou governo, nem sabia o que fazer no governo - o cidadão ganha R$500 por mês, bota num cargo que ganha R$10 mil, R$12 mil, R$15 mil, não sabe o que vai fazer. Hoje, não. Hoje, o PT soube ser governo certo, como foi no início do governo Lula, e sabe o que é fazer erro, como foi agora.

            Então, o Aécio é contrário à reeleição; a Marina é contrária à reeleição; eu sou contrário à reeleição. O mandato que vem aí é por quatro anos, não haverá reeleição. Poderá vir a Dilma ou o Lula daqui a quatro anos, mas virá um PT limpo, correto, decente, respeitado, que poderá ir adiante.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Se o PT ganhar agora, na melhor das hipóteses, ele ganha e, aí, fica 14, 16 anos, aí depois vai para 20 anos com o Lula. Aí, o nazismo do Hitler durou nove anos; a ditadura de Getúlio durou oito anos; e o PT vai durar 20 anos, sem alternância no poder, a mesma gente, as mesmas pessoas, com o mesmo método. Coitado do PT! Coitado do Brasil!

            Meu amigo Lula, eu digo para você, que está parado e tem pensado muito ultimamente: não vale a pena ganhar por qualquer coisa. O seu lugar você já tem, o seu mérito você já tem, a sua capacidade você já tem, a sua liderança você já tem. Não se vão somar 2 mil réis para você se ganhar uma eleição. Já dizem que você transforma poste em Presidente, que a Dilma era um poste, e você a transformou em Presidente, que os Prefeitos de Porto de Alegre e de São Paulo eram postes, e você os transformou em prefeitos,...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ... mas nem sempre isso dá certo.

            Eu acho, Sr. Presidente, com toda a sinceridade, menos pelas qualidades que tem, e são muitas, menos pelas lideranças que tem, e são muitas, o Aécio simboliza, nesta hora, o entendimento que deve ser feito. É até um atavismo: tantos anos atrás, na hora mais difícil, na hora mais dura, quando nós ganhamos e desmontamos a ditadura, foi o seu avô, o Dr. Tancredo, que uniu todos, uniu toda a oposição, uniu até os que saíram da ditadura e vieram para nós, e se elegeu Presidente. E, ainda que tivesse morrido e não assumido, foi ele o responsável, o grande herói da nossa luta pela democracia.

            O Aécio pode ser isso, pode assumir o governo para, talvez, fazer aquilo que seu avô não pôde fazer. Fazer exatamente um governo de integração, um governo de respeito. O respeito de darem-se as mãos, o respeito de se respeitar, o respeito de ter confiança.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu peço, porque as notícias, meu Presidente, estão dizendo para a gente tapar os ouvidos e fechar os olhos, porque virão horrores de acusações e de invenções de lado a lado. Não se poderão ver as televisões anexas, porque, com verdade, mentira, calúnia, difamação, seja o que for, será um período de horror, de caça às bruxas. Eu rezo ao meu Deus para que isso não aconteça, que baixe a lógica de bom senso no Lula e no Aécio, na Presidenta e nos homens de oposição.

            Não lancem ao povo brasileiro, que está nessa interrogação, nessa expectativa sobre para onde vai e o que quer, para terem que vir à televisão e dizer: o fulano roubou isso, o fulano fez aquilo, o cara nomeou a mulher dele, o cara fez não sei o quê. Não é por aí. Façam um acordo de pé.

            Podem os dois candidatos dizer: quem de nós ganhar, seja quem for, vamos fazer isso, vamos convocar todos para fazer a união em torno do entendimento, um verdadeiro Pacto de Moncloa, como aconteceu na Espanha.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ... onde, derrotados todos, e a Espanha quase que arrasada, das ruínas se reuniram e de mãos dadas construíram um novo país.

            Nós podemos fazer isso.

            E a minha palavra, já no final, é exatamente esta: que Deus acuda o Lula e o Aécio, os homens de cá e os homens de lá; que tenham grandeza, que tenham bom senso; que tenham o espírito público de compreender que o que vai passar para a história dos seus nomes não é a vitória pessoal ridícula desse ou daquele dia, mas uma vida, uma lógica, uma história. Mais vale trabalhar para o futuro, para o futuro dos meus filhos, para o futuro dos meus cidadãos do que trabalhar para mim, para eu ganhar amanhã a vitória e me dar a alegria por causa de uma vitória. A vitória pode ser o fim e pode ser a desgraça, e a luta pode ser permanente e pode chegar lá.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Obrigado, principalmente, pela tolerância de V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/2014 - Página 43