Discurso durante a 146ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Necessidade de renovação da classe política do País.

Autor
Casildo Maldaner (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Casildo João Maldaner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES, ATIVIDADE POLITICA.:
  • Necessidade de renovação da classe política do País.
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/2014 - Página 605
Assunto
Outros > ELEIÇÕES, ATIVIDADE POLITICA.
Indexação
  • DEFESA, NECESSIDADE, RENOVAÇÃO, CLASSE POLITICA, BRASIL.

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco Maioria/PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Caro Presidente, Pedro Simon, que preside esta sessão, caro Senador Kaká, caro Senador Fleury, caros colegas, eu estava fora e, pela Rádio Senado, vinha sintonizando o pronunciamento do Senador Pedro Simon. E ele vinha dando uma aula de história ao Brasil, vinha mexendo com as pessoas que assistem, com os que não conhecem como é que foi o passado, como ocorreram as questões, as coisas, e ficam aprendendo.

            Eu acabei de chegar e disse: “Vou até lá, se eu puder, para dar um abraço no Pedro”. Eu vim aqui para cumprimentá-lo, mas o estou fazendo agora da tribuna, porque o Pedro não só registra a história, não só a relata, ele é a própria história.

            Ele vinha falando de que a alternância do poder é salutar para nós todos e vinha dizendo que isso não pode acontecer, porque não deve mudar, porque não pode ocorrer, porque vai cair, porque vêm hecatombes, vêm escuridões, vai dar problema e vai criar não sei o quê e mais aquilo, mas é uma coisa tão natural.

            E eu vinha lembrando, Senador Pedro Simon, que, em 1986, V. Exª era candidato a Governador do Rio Grande do Sul e Pedro Ivo Campos, de Santa Catarina. Os dois Pedros: Pedro Ivo Campos, em Santa Catarina, e Pedro Simon, no Rio Grande do Sul. Eu era candidato a Vice-Governador de Pedro Ivo. Se não me engano, o grande Guazzelli era o candidato a vice na chapa de Pedro Simon, no Rio Grande do Sul.

            Eu sei que os dois Pedros marcaram, um dia, um encontro sobre a ponte do Rio Uruguai - o Pedro gaúcho, que é o Pedro Simon, e o Pedro Ivo, de Santa Catarina. E, já marcada a campanha de 1986, nós todos nos encontramos sobre a ponte do Rio Uruguai, ali em Iraí, no Rio Grande do Sul, e em Palmitos, no lado de Santa Catarina. E sobre a ponte os dois Pedros se abraçaram, deram-se as mãos e falaram, como o Pedro, que, sobre essas rochas, haveriam de edificar e construir novas ações, novas saídas para o Rio Grande e para Santa Catarina. Nunca me esqueço disso.

            Eu era Deputado Federal, jovem ainda, usava uma cabeleira naquele tempo, metido como Deputado Federal e nos movimentos, as Diretas tinham saído recentemente, as eleições estavam para começar, aquele negócio todo.

            E aquele compromisso de que sobre os dois Pedros que edificam rochas, como aquele da Bíblia, que disse que ia edificar sua Igreja sobre a rocha, que Pedro significava uma rocha, o apóstolo. E assim, para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, os dois Pedros significavam também mudanças, significavam rochas, significavam novos tempos, significavam mudança, significavam alguma coisa de reinventar as questões.

            Eu escutava aquilo e ficava entusiasmado. Eu era Deputado Federal da oposição. Eu lembro que o pessoal me chamava ainda de pelego nos comícios. Eu, nos comícios, respondia, mas na época era duro o negócio. Na fronteira, os prefeitos dos Municípios eram nomeados. Até então, até 1982, os governadores eram nomeados. Os prefeitos das capitais eram nomeados. Os prefeitos de estâncias hidrominerais eram nomeados. Um terço do Senado era nomeado. Aquilo era desse jeito. Eu enfrentava muito aquilo na fronteira com a Argentina, no oeste catarinense. Me chamavam de pelego no sentido pejorativo. E eu respondia nos comícios, lá adiante, já suado, em cima de caminhões. Os comícios estavam muito na moda naquela época. Eu dizia: “E me chamam de pelego”. Eu dizia: “Esta lã” - era a cabeleira que eu tinha - “que aqui sustento serve para acalentar os ideais cívicos e libertários do povo de nossa terra”. E o povo vibrava. Aquilo era um negócio, era um entusiasmo, era uma luta.

            Então, nunca me esqueço dos dois Pedros no Rio Uruguai: Pedro Simon e Pedro Ivo, significando mudança. E ocorreu. O povo decidiu por isso. Novos caminhos. Os que estavam no poder saíram. Saíram! Houve uma mudança. Eu nunca me esqueço de que, em Curitibanos, um dia de noite, Pedro Ivo, na campanha, dizia, eu era candidato a vice dele: “Companheiro Maldaner, nós vamos chegar a esse poder que nunca mudou”. Isso já vinha de anos, da época da ditadura, de muitos e muitos anos, já estava enferrujado. Ele é comparado a um balaio cheio de caranguejos, Pedro Ivo. É para nós mudarmos isso, aquela estrutura. Aquilo é um balaio cheio de caranguejos: o pessoal que se criou, que nasceu lá dentro ficou, está ficando velho. Todo mundo lá dentro - vem um, vem outro -, vai sofrer com as nossas mãos. Como tirar um caranguejo, se um é grudado no outro, aquele negócio todo? Como vamos mudar? Nós temos de ter um esforço danado.

            Nunca me esqueço de que disse ao Pedro, em público mesmo: o senhor vai ganhar a eleição. Na época, era em 15 de março de cada ano que entravam os novos governadores, os novos governos. Eu dizia: no primeiro dia do seu governo, num ato só, pegue o balaio inteiro com caranguejos e os tire numa tacada só, limpe logo, para fazer mudanças, senão vai começar devagarzinho, daqui e de lá, vai sofrer, e não vai acontecer. Foi o que Pedro fez, e o povo aplaudia: “É por aí mesmo!”

            Não há problema em mudar. Acho que isso é natural num sistema democrático. E o Pedro vinha pregando isso agora. Se mudar agora, para o País vai ser ruim? Vai haver hecatombes? Não!

            Veja o sistema americano, outros governos pelo mundo, os países democráticos por tradição, e não há nada de anormal. Até é bom para ver o outro lado. E os que estão no poder, saindo, vão usar as lupas para acompanhar, para ver como vai ser, como vai acontecer. Não vai haver desastre nenhum. Num sistema democrático firme, correto - é o que o Pedro diz -, isso é importante. Pregações de que quem está - vamos ser sinceros -, há oito, doze anos ou mais...

            Meu pai sempre dizia: é como a roda do moinho. Antigamente, no interior de Caxias, também havia isto, como em outros lugares: a roda do moinho colonial, a bica - a água vai rodando, vem; quando ela chega em cima, a tendência é ir descendo. Isso é natural na vida .A natureza é assim, não há nada de anormal.

            E o senhor não tem problema. Acho que isso não pode ser alguma coisa de outro mundo. Se é para alternar o poder, por que não? Por que não virem ideias diferentes, até para arejar, quer dizer, até para fazer uma higiene mental, uma higiene nacional, de outros pensamentos, de outras forças que querem colaborar também com propostas diferentes para o Brasil?

            Eu dizia, quando estávamos na oposição: nós sempre estamos bebendo dessa água, daquela vertente. Surgiu uma outra. Por que não experimentar daquela água? Se dizem que ela é boa, que tem condições, por que não experimentar daquela outra vertente? Não faz bem isso?

            Se aquela não servir, se não se aprovar, volta-se à outra - ainda mais agora em que um dos candidatos - no caso, o Aécio - está pregando que é para haver um mandato só. Se não der certo, os que forem para a oposição agora, pelo sistema democrático, daqui a quatro ou cinco anos - se for esse o mandato ou coisa que o valha, o que o Congresso entender no ano que vem -, ou seja, os que saírem poderão descansar um pouco, se preparar. E até bom para relaxar. Aí se volta, se for o caso. Se não houver um bom governo, no sistema democrático se volta ao poder anterior. Não tenham dúvida.

            Nem sempre o Grêmio é campeão no Rio Grande do Sul: o Internacional, também, às vezes chega ao poder, ganha. Os colorados dizem que o Grêmio não é sempre campeão.

            Às vezes, o Grêmio também chega, como o Internacional, que dizem que é o mais campeão. Os colorados dizem isso e o Pedro é um deles. Quer dizer, isso é natural, como nós, em Santa Catarina, temos o Figueirense e o Avaí, em Florianópolis, ou o Chapecoense. Isso é natural! Um time chega ao campeonato e, depois, pode um outro chegar. Não é proibido! Há a preparação e a gestão, é encontrar isso aí para o Brasil.

            Então, eu não levo nada como anormal e essa pregação do Pedro... Nós que estamos chegando agora, temos uns dez dias ainda, temos uma semana ainda, fora esta agora, para decidir um campeonato. Estamos chegando nessa linha, nesse caminho, num debate democrático. É muito natural isso, sem dúvida alguma.

            Recordo-me da época do Pedro, do Pedro Simon e do Pedro Ivo, daquelas lutas que travaram, que começaram, mudaram. Mudou o Rio Grande, Santa Catarina também, com o Pedro. Foram momentos diferentes. Isso é natural, isso é o que se constrói. Depois, outros voltam ao poder, com os anos, também, e assim é agora. Quem chegar, se não fizer um bom governo, se não implantar aquilo que é uma ansiedade da Nação, sem dúvida alguma, o povo vai julgar, depois, no próximo pleito, no próximo campeonato. Isso é muito natural.

            Por isso quero, de público, Pedro, V. Exª que é o nosso ícone, o ícone , também do nosso Partido, como o consideramos, que continue nessa pregação, usando o cajado que vem lá do sul, empurrado, muitas vezes, até pelo minuano, atravessando o Brasil, e continue, com essas vozes, aqui da tribuna do Senado, a ajudar o Brasil, a ajudar a defender os princípios democráticos.

            Não é loucura nenhuma mudar, azeitar, renovar, ver diferente as coisas outras, para que outras mentalidades, no Brasil, possam trazer outras ideias para que nós possamos desfrutar. Que a Nação possa avaliar se isso é o bom. Quem fica muito tempo - como eu disse antes, é a roda do moinho -, vai para oito, vai para doze, vai para mais, às vezes, não tem mais novidade. Fica difícil criar novidade. Há um esforço para criar, mas, eu entendo, não é fácil criar. O que nós podemos fazer, nós lançamos; o que nós tivemos condições de apresentar, nós fizemos! Para você criar mais, etc e tal, para perenizar, não é muito fácil, porque aí já continua, é o mesmo time, é a mesma coisa. Vai enferrujando, vai ter que azeitar, aquilo vai cansando., o molejo cansa, tem que trocar as molas. Qualquer automóvel é assim, qualquer caminhão. Isso vai cansando. Então a alternância, a troca é salutar.

            Por isso, mais uma vez, Pedro, os cumprimentos não só dos catarinenses e gaúchos, mas dos brasileiros. E a todos nós, muito obrigado por esta oportunidade.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/2014 - Página 605