Discurso durante a 151ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca dos desafios a serem enfrentados pela Presidente Dilma Rousseff em seu novo mandato, sobretudo na esfera econômica.

Autor
Paulo Bauer (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SC)
Nome completo: Paulo Roberto Bauer
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ECONOMIA NACIONAL, ELEIÇÕES.:
  • Considerações acerca dos desafios a serem enfrentados pela Presidente Dilma Rousseff em seu novo mandato, sobretudo na esfera econômica.
Aparteantes
Ana Amélia.
Publicação
Publicação no DSF de 29/10/2014 - Página 99
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ECONOMIA NACIONAL, ELEIÇÕES.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, REELEIÇÃO, COMENTARIO, NECESSIDADE, MELHORIA, ECONOMIA NACIONAL, REDUÇÃO, INFLAÇÃO, CORRUPÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), REPARAÇÃO, DIVISÃO, PAIS, REGIÃO NORDESTE, REGIÃO SUL.

            O SR. PAULO BAUER (Bloco Minoria/PSDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Srª Presidente desta sessão, Senadora Vanessa Grazziotin. Cumprimento-a e igualmente todos os Senadores e Senadoras presentes neste momento da sessão.

            Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, cidadãos e cidadãs que nos acompanham pela TV e Rádio Senado, é uma satisfação novamente desfrutar da convivência de todos neste retorno às atividades normais do Senado, pós período eleitoral.

            Nestas eleições, mais uma vez, a democracia brasileira deu provas de sua consolidação, e tivemos outra votação sem problemas, sem atrasos, sem questionamentos. Portanto, parabéns ao Tribunal Superior Eleitoral e aos tribunais regionais eleitorais de todo o País.

            Minhas congratulações a todos os eleitos, à Presidente Dilma Rousseff e aos 27 governadores. Desejo a todos muito sucesso diante dos imensos desafios que se apresentam e que precisam ser vencidos.

            Quando digo que nós encontraremos desafios, quero deixar claro que a oposição não se omitirá de sua responsabilidade na reconstrução do entendimento nacional. Nosso País saiu desta eleição profundamente dividido. A disputa, é preciso reconhecer, apontou vencedores, mas não há como construir um Brasil melhor sem a contribuição e participação de quem não comemorou a vitória eleitoral.

            É preciso grandeza por parte dos eleitos, para superarmos os efeitos e as consequências da eleição, do marketing impiedoso e ilusionístico que, se por um lado, contribuiu para a vitória das forças de situação, por outro, ampliou o sentimento de frustração e desalento em milhões de brasileiros.

            De nossa parte - e falo como um dos Vice-Líderes do PSDB no Senado -, continuaremos abertos ao diálogo, ao entendimento, à busca do bem maior da Nação.

            Essa responsabilidade nos é imposta pelos mais de 51 milhões de eleitores que confiaram seus votos ao Senador Aécio Neves, convencidos da necessidade das mudanças que ele propunha para o País.

            Neste momento, não há preocupação maior do que a recuperação da moralidade na Administração Pública e a recuperação da estabilidade econômica do nosso País. O rumo que será dado à política econômica é uma completa incógnita. A Presidente Dilma pediu prazo para anunciar medidas que sabemos necessárias e inadiáveis. No entanto, a demora dá margem à especulação do mercado e coloca em risco ativos importantes do País, especialmente aqueles que se constituem como patrimônio de nossas empresas estatais, dentre elas a Petrobras, o maior orgulho das empresas estatais brasileiras, que já perdeu, nos últimos anos, metade do seu valor por incompetência gerencial e pela sangria resultante da corrupção endêmica, institucionalizada, entranhada em seu fluxograma organizacional.

            É preciso que o Brasil receba, no menor prazo, uma sinalização clara sobre o rumo da nossa economia, pois isso afeta diretamente a vida de cada um de nós, de cada brasileiro. Precisamos saber se, a despeito da campanha de ódio e difamação realizada contra Armínio Fraga, o candidato de Aécio para o Ministério da Fazenda, o Governo trabalhará no sentido de retomar a ortodoxia econômica que transformou positivamente o País nos governos Fernando Henrique e Lula, ou se continuará rendido à insana heterodoxia do atual Governo, que conseguiu a proeza de causar, a um só tempo, recessão e inflação.

            Outro desafio de curtíssimo prazo é reparar a fissura que divide nosso País entre Norte e Sul, entre Nordeste e Sudeste, política e eleitoralmente falando. Com a odiosa estratégia do “nós contra eles”, a campanha da Presidente conseguiu jogar o Norte e o Nordeste contra o resto do País. Como Senador da República e como cidadão, repudio qualquer manifestação de preconceito. No entanto, foi decisão de Dilma, de Lula, de João Santana e de outros líderes da coligação vitoriosa explorar esse triste debate na propaganda da TV e nos palanques para tirar dele proveito eleitoral. Algo está muito errado quando metade do País comemora a vitória de um candidato

            e a outra metade a lamenta profundamente.

            Santa Catarina, meu Estado, está triste. Nós, catarinenses, demos a Aécio a maior votação proporcional do País nos dois turnos: 53% no primeiro turno, Senador Mozarildo, e 65% no segundo. É incontestável a oposição do catarinense ao Governo do PT, que, em doze anos, muito pouco, quase nada fez pelo meu Estado.

            Além de triste, o eleitor catarinense sente-se ludibriado por alguns de seus líderes políticos, como bem observou o colunista Moacir Pereira no Diário Catarinense, maior jornal de nosso Estado. Em sua coluna de hoje, ele escreveu - abro aspas:

A decisão do governador Raimundo Colombo de apoiar de forma entusiástica a reeleição da Presidente Dilma Rousseff no segundo turno está provocando um bombardeio de eleitores e lideranças em várias regiões. Nas redes sociais, as críticas são até ofensivas. Boa parte dos eleitores se declara "traída" e chega a pedir o voto de volta.

Os números do segundo turno não favorecem Colombo. A vitória de Aécio Neves [...] foi ampliada em mais de 30%, em relação ao primeiro embate, e a reeleição da presidente deixa o governador em situação delicada entre aqueles que o elegeram.

A dupla ação de Colombo - escondendo Dilma no primeiro turno e batalhando por ela no segundo - revelou-se acertada, do ponto de vista da estratégia. Está ficando cada vez mais claro que Colombo corria risco real de não se eleger no primeiro turno, se tivesse abraçado a candidatura Dilma. E, com o crescimento de Aécio Neves, beneficiaria Paulo Bauer no turno decisivo.

O governador promoveu várias reuniões com secretários e prefeitos, nas Regionais, apelando pelo voto e pelo engajamento. Patrocinou o encontro do Centrosul com Dilma e Temer e ali fez o pronunciamento mais forte e empolgado da campanha. E reiterando que era gesto de gratidão.

Como obras federais vitais para o desenvolvimento de Santa Catarina seguem lentas ou [até] estão paradas, Colombo acaba pagando parte da conta. Tomará posse com menos votos do que os recebidos na [sua] eleição. [Fecho aspas para o registro jornalístico do competente colunista Moacir Pereira].

            De minha parte, Srª Presidente, repudio qualquer ofensa a qualquer pessoa nas redes sociais, mas compreendo o sentimento dos eleitores do meu Estado. No mínimo, faltou transparência ao candidato a governador. É preciso destacar, ainda, que faltaram pouco mais de 1% dos votos válidos, no primeiro turno, para ocorrer o segundo turno em Santa Catarina.

            Vejo que a Senadora Ana Amélia pede um aparte. Com muito prazer, ouço V. Exª.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Queria cumprimentá-lo pela análise que está fazendo desse pleito, especialmente desse segundo turno em Santa Catarina, e lhe dizer, também, Senador Paulo Bauer, que, no Rio Grande do Sul, não só tivemos uma vitória acachapante no segundo turno - eu apoiei, incondicionalmente, o candidato do PMDB, José Ivo Sartori, ex-Prefeito de Caxias do Sul -, mas também tivemos uma votação de 53% dos votos válidos para Aécio Neves e 47% para a candidata à reeleição Dilma Rousseff. Temos, também, como reconheceu V. Exª, no histórico das campanhas no período pós-redemocratização, a mais caluniosa, a mais rasteira campanha eleitoral, onde não se mediram responsabilidades para atacar, denegrir, desconstruir imagens e patrimônios pessoais - tentativas, apenas, porque não conseguiram -, no caso de Marina Silva, antes dela, Eduardo Campos, depois dela, o próprio Aécio Neves e eu, em minha parte, no Rio Grande do Sul.

            (Soa a campainha.)

            A Srª. Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Mas eu quero agradecer os eleitores do meu Estado pelo comportamento que tiveram, porque não foram atrás dos panfletos anônimos que também foram distribuídos em Santa Catarina, sem dúvida, e levaram em conta, apenas, a vontade de mudar. Então, eu queria cumprimentá-lo pela manifestação e dizer que é preciso sempre e, agora, com os desafios que o Congresso terá, e V. Exª estará aqui, em 2015, para desafios extremamente relevantes para a vida do País, que, como diz V. Exª, sai dividido dessa eleição.

            O SR. PAULO BAUER (Bloco Minoria/PSDB - SC) - Eu agradeço e acolho o aparte de V. Exª e aproveito para cumprimentá-la pela sua participação no processo eleitoral do Rio Grande do Sul, este grande Estado brasileiro, no primeiro e, também, no segundo turno. Igualmente ao que fiz em Santa Catarina, V. Exª defendeu com competência, com clareza, com transparência uma proposta nova para o seu Estado, e tenho certeza de que...

            (Interrupção do som.)

            O SR. PAULO BAUER (Bloco Minoria/PSDB - SC) - ... continuará aqui, no Senado, representando muito bem o Estado do Rio Grande do Sul.

            Prossigo, Srª Presidente - encerrando -, dizendo que, modestamente, fiz minha parte, em Santa Catarina, conquistando 30% dos votos no primeiro turno. As outras candidaturas de oposição é que não fizeram a sua parte, especialmente o candidato do PT, que, estranhamente, não conseguiu uma única declaração de apoio a sua candidatura por parte da candidata à presidência da República do seu partido.

            Mas águas passadas não movem moinhos. De volta ao Senado, posto-me como mais um soldado do Brasil. Eu e meus colegas do PSDB continuaremos a fazer uma oposição construtiva, baseada nos interesses do povo brasileiro.

            Cada um de nós Senadores oposicionistas representa, a partir de agora, a vontade de mais de 51 milhões de brasileiros que nos deram sua voz, seu sentimento e seu pensamento como instrumentos para dizermos, aqui, que o Brasil precisa de mudança, precisa mudar de verdade e mudar para melhor.

            Nosso projeto de construir um País melhor, mais rico e mais justo foi apenas adiado, mas jamais interrompido. Seguiremos de cabeça erguida, lutando sempre pelo Brasil e esperando que a manifestação da Presidente da República no seu discurso depois da vitória seja efetivamente uma realidade, porque ela, naquele momento, anunciou sua disposição para o diálogo. Fazer o diálogo entre situação e oposição até me parece possível e fácil, e nós estamos aqui prontos para participar...

(Interrupção do som.)

            O SR. PAULO BAUER (Bloco Minoria/PSDB - SC) - ... nós estamos aqui prontos para participar dele. O difícil, Srs. Senadores e Senadoras, é fazer o diálogo entre o País, é fazer o diálogo entre o Norte e o Nordeste, o Sul e o Sudeste, porque, depois do processo eleitoral que vivenciamos, naturalmente que a capacidade do Governo e da Presidente eleita será testada não a partir do diálogo que se fará com esta Casa, com o Congresso e com os partidos políticos, mas, sim, da capacidade que ela terá que demonstrar de fazer o Brasil se unir. E o Brasil precisa se unir, o Brasil pode se unir - se o Brasil se unir e se a Presidente, que não será candidata à reeleição e, agora, sim, terá um mandato inteiro para cumprir até o seu final, tiver a capacidade e a competência de realizar essa unidade, essa união em favor do nosso País.

            Muito obrigado e que todos nós tenhamos muito trabalho positivo em (Fora do microfone.) 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/10/2014 - Página 99