Discurso durante a 151ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Oposição à suposta tentativa da mídia de estratificar o País com base na apuração da eleição presidencial; e outro assunto.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES, DISCRIMINAÇÃO RACIAL. ECONOMIA NACIONAL, REFORMA POLITICA, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.:
  • Oposição à suposta tentativa da mídia de estratificar o País com base na apuração da eleição presidencial; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 29/10/2014 - Página 106
Assunto
Outros > ELEIÇÕES, DISCRIMINAÇÃO RACIAL. ECONOMIA NACIONAL, REFORMA POLITICA, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.
Indexação
  • CRITICA, IMPRENSA, MOTIVO, DIVISÃO, PAIS, REGIÃO SUL, REGIÃO NORDESTE, PERIODO, CAMPANHA ELEITORAL, DEFESA, NECESSIDADE, UNIÃO, POPULAÇÃO.
  • DEFESA, REFORMA POLITICA, MELHORIA, ECONOMIA NACIONAL, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, TECNOLOGIA, INDUSTRIA, AUMENTO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB).

            O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB - PR. Sem revisão do orador.) - Presidente, findos os trâmites, temos o que sempre considerei melhor para o Brasil, a reeleição da Presidente Dilma, embora a nossa gloriosa e parcialíssima mídia - afinal a nossa grande mídia é um partido e alinha-se com a oposição - insista em dividir o País em dois, embora, também, falsa essa dicotomia, a realidade dos votos mostra que não é bem assim.

            Esses mapas, dividindo o Brasil em vermelho e azul, tão insistentemente divulgados por jornais, televisões e sítios de notícias, esses mapas são uma fraude e apenas servem para reforçar o preconceito e realçar a estultícia de setores abduzidos pelo fascismo em sua formulação primária e bruta.

            É triste dizer, mas não vejo nenhuma inocência de parte de nossa empoderada mídia ao cindir o País dessa forma maniqueísta e dicotômica.

            Mesmo que dois grandes colégios eleitorais deste Brasil dito moderno, que produz, em oposição ao Brasil atrasado, também tenham sido tingidos de vermelho, ainda assim buscou-se se fixar essa divisão, essa fronteira mentirosa, esse embuste digno de uma capa da revista Veja.

            Como afirmou um de nossos lúcidos jornalistas, Jânio de Freitas: os votos foram divididos em dois - e nem poderia ser de outra maneira -, mas não o País, não o Brasil.

            Aliás, a própria Folha de S.Paulo, nas horas seguintes à apuração, publicou um mapa com a votação por Municípios, onde essa divisão entre Norte e Nordeste vermelhos e Sudeste e Sul azuis dissolvia-se, desfazendo o dualismo discriminatório, intolerante e, quase sempre, racista. Mas, desgraçadamente, Senadora Vanessa, esse mapa não ficou muito tempo no ar.

            Os sete irmãos ideológicos que ainda pensam que dominam e moldam a opinião pública brasileira com seus mapas fracionados, entre o "Brasil moderno e que produz" e o "Brasil mal-informado e pobre", os sete irmãos cutucam e despertam sentimentos e manifestações que julgávamos extirpados da humanidade com a evolução da espécie.

            Reafirmo: não há inocência em nossa mídia ao dividir o País entre o vermelho e o azul. Mesmo porque essa partição, essa rachadura é falaciosa, já que, no Sul-Sudeste, a Presidente reeleita teve mais de dois milhões de votos que no Norte-Nordeste.

            O jornal dos Frias, com a presunção dos sabichões, chega ao pedantismo, ao charlatanismo de ter seções que denomina de “Folha Explica", "Folha Recomenda", e, nessa linha do preconceito e da discriminação, tenta hoje "explicar" como o Bolsa Família e o IDH afetaram - atenção ao verbo! - afetaram as eleições. Enfim, como se depreende, os pobres contaminaram, infectaram, infeccionaram as eleições, corrompendo seu caráter democrático.

            Oh, Deus!

            Se os pobres, se as pessoas de menor renda votassem, como sempre votaram, segundo os interesses da classe média alta e dos mais ricos, segundo os interesses do mercado, renunciando os seus interesses, aí sim - que maravilha! -estaria tudo conforme a tradição, a família e a propriedade.

            Srªs e Srs. Senadores, tanto o candidato derrotado quanto a candidata vitoriosa, apropriadamente, falaram em unir o País.

            Tudo bem. É por aí. Precisamos mesmo exorcizar os fracionistas, os separatistas, esse seccionismo idiota, abjeto, porque a eles misturam-se a intolerância de classe e a intolerância racial.

            Mas, Srªs e Srs. Senadores, unir o País em torno do quê? De quê? De que consignas, de que bandeiras, de que ideias, de que propostas?

            A pretendida unidade não se dará em cima de apelos morais, de chamamentos a um patriotismo sem causa, etéreo e idílico.

            E nem acho que a tal reforma política seja a deusa da cura que nos livrará de todos os males, amém. Mesmo porque o que se pretende, seja de um lado ou de outro, é muito mais uma reforma eleitoral que reformas institucionais, de fundo, que mudem, que transformem e revolucionem a qualidade das instituições.

            Voto em lista, voto distrital, financiamento público das campanhas, fim do suplente de Senador, coincidência de mandatos, data da posse, reeleição ou não reeleição, convenhamos, caros colegas, não constituem pontos de uma verdadeira reforma. Quando muito são demãos sobre um madeirame de há muito corrido pelos cupins.e chupins.

            Verniz que vai disfarçar a corrupção das instituições; jamais debelá-la.

            O homem, desde as cavernas, e ao correr de milênios, esforçou-se tanto, queimou tanta pestana, ferveu tantos neurônios para distinguir causa e efeito, e nós, nos esplendores do século 21, continuamos trocando alhos por bugalhos.

            O que condiciona a política? O que a limita e a delimita? O que a aprisiona ou a liberta?

            Como diria aquele marqueteiro norte-americano de Bill Clinton, sem a sofisticação ou o empolamento dos Nobel de economia ou da London School of Economics, mas com a crueza da realidade das coisas, é a economia, estúpido!

            De minha parte, não seria estúpido em deixar de reconhecer a premência de uma reforma política radical, saneadora. Mas a urgência urgentíssima está na economia.

            Não vai sobrar política ou políticos ou partidos se o País continuar se desindustrializando, perdendo competitividade, recuando nos campos da inovação e da tecnologia, dependendo, como há 500 anos, da exportação de produtos primários e da importação de produtos industrializados.

            Não há futuro político para um país com um PIB tão ridículo quanto o nosso!

            Como a reforma política poderá, por ela mesma, diminuir uma das cinco mais brutais concentrações de renda existentes no Planeta? O fim da reeleição terá o condão de pulverizar a especulação financeira e esse jogo, essa dança pornográfica das bolsas?

            Enquanto nos divertimos com o tema da reforma política, está aí a mídia a revelar a verdadeira preocupação dos bancos, das multinacionais, do capital financeiro internacional, enfim, Senador Mozarildo, a preocupação dos donos do dinheiro.

            Como mancheteiam os jornalões de hoje, com uma ou outra diferença: “Mercado quer guinada de Dilma na economia, com redução de gastos e ajuste fiscal”. “Bancos querem alguém do mercado financeiro no comando da economia”.

            Quer dizer, Armínio Fraga não será o Ministro da Fazenda, mas pouco importa, tudo o que ele recomendava na campanha da oposição, o tal mercado quer adotado pela Presidente reeleita.

            Pacificar o País, unir o País é, antes de tudo, sobretudo, reconciliar-se com a sua gente, com os mais pobres, com os trabalhadores, com os assalariados, com os industriais nacionais, com os desenvolvimentistas, com os pequenos e médios comerciantes, com os pequenos e médios produtores rurais, com os agricultores familiares, com os assentados e acampados da reforma agrária, com os moradores urbanos sem casa, sem teto.

            Reconciliar-se com os brasileiros e reconciliar os brasileiros é ser solidário com a inquietação dos estudantes, com a agitação e a pressa da juventude.

            E isso não vamos conseguir, tão pura e simplesmente, com remendos eleitorais pouco criativos e de ocasião.

            Não vou fugir desse assunto, Senadora Vanessa, se o debate da tal reforma política galvanizar as opiniões e sensibilizar corações e mentes. Não vou fugir. Mas que isso é começar a construção da casa pelo telhado, não tenho a menor dúvida.

            Como teimo dar murros em ponta de faca, por mais afiadas que sejam as pontas, vou continuar pregando um projeto para o Brasil que, a partir da revolução de seus fundamentos econômicos, revolucione também a política.

            Nesse segundo e decisivo turno, trabalhei com afinco pela reeleição da Presidente Dilma. Serei solidário aqui nesta Casa à sua determinação de reformar a política sem, no entanto, jamais esquecer a ordem das coisas.

            Por fim, queria me solidarizar com o Senador Aécio Neves; queria, sim, me solidarizar com o Senador Aécio Neves, tão mal compreendido pela nossa mídia.

            Em sua fala de domingo à noite, ele disse que, mais uma vez, citaria São Paulo, isto é, o apóstolo Paulo, na Carta de Paulo aos Coríntios: "Combati o bom combate, corri a carreira e guardei a fé.", disse ele lá, à sua maneira, com uma pequena modificação.

            Não conhecendo a citação famosa, os nossos jornalistas e seus veículos saíram dizendo que Aécio agradecia a São Paulo e havia esquecido Minas Gerais. Quão obtusos são os nossos ilustres donos da imprensa brasileira! Diziam que Aécio agradecia ao Estado de São Paulo, e alguns chegaram mesmo a criticá-lo por essa "desfeita" com a sua Minas Gerais. O tempora! O mores!

            Esperamos, todos nós que nos empenhamos na eleição da Presidente Dilma, avanços significativos em favor da indústria, em favor dos trabalhadores, em favor de um projeto de Nação para o Brasil.

            E, ao finalizar, deixo aqui claro aos intranquilos agentes da Polícia Federal e aos peritos do Incra que não há dúvida alguma, nesta Casa, de que a votação da Medida Provisória nº 650 será feita à unanimidade. (Palmas.) Faltam apenas... Faltam apenas... Faltam apenas três ou quatro Senadores para que a votação possa ser feita, sem que seja nominal, por Lideranças. Até porque é um acordo das categorias com o Governo Federal e foi enviada pelo Executivo, através de uma medida provisória.

            A nossa busca agora é fazer com que se integre o quórum necessário, e o Presidente que estiver suprindo a Presidência da Mesa imediatamente colocará em discussão e em votação a famosa medida provisória.

            Parabéns aos que aqui estão à espera desse reconhecimento salarial. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/10/2014 - Página 106