A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Senadora Ana Amélia, nossos telespectadores da TV Senado, nossos ouvintes da Rádio Senado, antes de mais nada, eu queria parabenizar a Senadora Ana Amélia pela luta que tem nesta Casa, pelo acompanhamento que ela faz desse tema de prevenção ao câncer, tanto o câncer de mama, do colo de útero, quanto agora o de próstata. E este Senado ontem aprovou o projeto, e vamos ter um Novembro Azul.

            Parabéns, Senadora. Pode contar comigo sempre nessa caminhada.

            Sr. Presidente, o que me traz hoje aqui à tribuna é a apresentação de um voto de aplauso. Esse voto de aplauso é uma coisa meio diferente, porque, geralmente, nós colocamos voto de aplauso em eventos de repercussão nacional e internacional, quando esta Casa se manifesta, mas eu estou apresentando um voto de aplauso para uma situação diferente, que eu gostaria muito que fosse de repercussão nacional.

            É um voto de aplauso a um projeto desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Curitiba, pela Secretaria Municipal de Educação, que se chama Bullying não é Brincadeira. Eu ofereço esse voto de aplauso e peço aos nossos colegas Senadores o apoio, porque penso que esse é um tema que temos que enfrentar e, se nós pudermos dar visibilidade a esse projeto que está sendo desenvolvido, em Curitiba, pela Secretaria Municipal de Educação, eu tenho certeza de que nós vamos conseguir avançar.

            É um projeto muito interessante, Senadora Ana Amélia - até quero parabenizar aqui a Secretária Municipal, Roberlayne Roballo, pela iniciativa -, que ocorre em todas as escolas de Curitiba. E, numa das escolas, que é a Escola Municipal Piratini - em homenagem ao Rio Grande do Sul -, no bairro do Pinheirinho, os alunos fizeram uma “vacina anti-bullying” e vacinaram os 380 alunos da escola, inclusive chamaram os pais para vacinar.

            É uma gotinha, que é um suco de laranja, mas, ao dar a gotinha, eles falavam sobre o que é bullying. E as crianças fizeram uma apresentação falando da experiência delas, das que tinham sido vítimas de bullying e das crianças que tinham cometido bullying. Muitas não sabiam que o que elas estavam fazendo era bullying e ofendia os colegas. Elas não sabiam, muitas vezes, porque elas veem, no comportamento em casa ou na rua, as pessoas tirando sarro, fazendo brincadeiras grosseiras e reproduzem isso na escola achando que é normal. Então, ao fazerem isso, todas escreveram no papel e fizeram uma fogueira dos bullyings cometidos e sofridos, queimando as dores que ocasionaram aos demais colegas ou as que tiveram.

            Eu achei essa experiência extremamente importante, e em outras escolas isso também aconteceu. Eu penso que, se nós pudéssemos ter uma campanha de conscientização assim em todas as escolas do País... Quer dizer, é algo simples. Eles ficaram uma semana debatendo sobre o tema e fazendo essas ações.

            Ter uma “vacina anti-bullying”, uma gotinha, pode parecer uma coisa pequena, Sr. Presidente, mas, junto com esse ato, a criança está sendo conscientizada de que chamar o coleguinha de gordo, tirar sarro do coleguinha porque ele pode ter uma deficiência física ou porque tem uma dificuldade de aprendizado machuca o colega. E não é bom para ele, não é bom para o ambiente escolar.

            Ter uma “vacina anti-bullying”, uma gotinha, pode parecer uma coisa pequena, Sr. Presidente, mas, junto com esse ato, a criança está sendo conscientizada de que chamar o coleguinha de gordo, tirar sarro do coleguinha porque ele pode ter uma deficiência física ou porque ele tem uma dificuldade de aprendizado machuca o colega, e não é bom para ele, não é bom para o ambiente escolar. Muitas vezes a criança não sabe disso.

            Fiquei muito sensibilizada com esse projeto e queria parabenizar muito a Roberlayne, que é a nossa Secretária Municipal de Educação em Curitiba, e o Prefeito, Gustavo Fruet. Ao lado de estar mandando o voto de aplauso, estou pedindo para que esse voto de aplauso seja encaminhado ao MEC, para que o MEC possa desenvolver uma campanha nacional anti-bullying, com base nessa experiência de Curitiba, e possa até ampliar, fazer outras ações, outras atividades. Mas eu tenho certeza de que isso vai contribuir muito para que possamos colocar esse tema, que é tão difícil para as nossas crianças, para os nossos adolescentes e - por que não? - para os pais também. Eu tenho filhos de 13 e de 8 anos, e, quando chegamos em casa, muitas vezes eles estão reclamando de situações que acontecem na escola. Então, esse tema tão difícil, que possamos levá-lo à luz e trabalhá-lo de forma lúdica, simples, leve, para que as crianças possam saber o que acontece e a consequência disso.

            Ouço, com prazer, a Senadora Ana Amélia.

            A Sr^a Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Senadora Gleisi Hoffmann, meus cumprimentos. Não é para retribuir a sua gentileza da referência ao nosso trabalho em relação ao câncer. Veja só: Bullying não é Brincadeira. Mas é uma brincadeira que faz a criança aprender o que é o bullying, o sentido do bullying, que é uma agressão inconsciente. A criança, na sua ingenuidade, na sua pureza, não consegue alcançar a gravidade daquilo, que pode marcar para o resto da vida uma pessoa, seja criando um apelido para ela, seja falando sobre uma questão relacionada a ela, como “o gordinho”, “o gordo”, isso ou aquilo, “o sardento”. Estou dizendo as palavras mais leves que as crianças costumam logo identificar no coleguinha. Então, eu queria me associar, no que for preciso, até trazendo essa professora para a Comissão de Educação do Senado Federal.

            A SR^a GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Podíamos.

A Sr^a Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Eu sou Vice-Presidente e faço muito gosto que, junto com a senhora, possamos trazê-la aqui para fazer uma exposição como forma de evidenciar e salientar. Isso que a senhora está trazendo tem um alcance. Muitas pessoas que a estão ouvindo agora certamente vão também reproduzir a iniciativa para outras comunidades, para repetir o mesmo fato. Veja só que singeleza: uma gotinha de suco de laranja, que toda criança gosta e não tem a dor de uma vacina - a vacina sempre é uma coisa traumática para as crianças, especialmente as menores -, para elas entenderem o sentido daquilo. Vacinar é prevenir, é evitar a doença. Bullying é uma doença. Bullying é uma agressividade desnecessária. Então, ofereço todo o apoio na Comissão de Educação para trazermos isso, darmos visibilidade máxima, porque os exemplos arrastam.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Com certeza.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - As palavras podem comover, mas os exemplos arrastam. Veja só que aqui existem até, do Senador Paulo Paim e do Senador Gim Argello, dois projetos de lei relacionados ao combate ao bullying, mas a repercussão de uma campanha como essa tem um alcance direto sobre aqueles agentes que são as crianças e, claro, sobre os pais das crianças. Então, parabéns! Essa coisa de queimar na fogueira, de as crianças fazerem uma espécie, digamos assim, de mea-culpa - “Olha, eu não sabia, é o meu pecadinho”... E bota-se lá, e queima-se: “Nunca mais vou fazer isso”. Então, muito bonito. Realmente, a professora está de parabéns, a secretária. E vamos trazer aqui, para o debate no Senado, na Comissão de Educação. Eu a cumprimento, Senadora Gleisi Hoffmann.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Obrigada, Senadora Ana Amélia.

            Fico feliz. Acho que poderíamos até fazer uma audiência pública com a presença do MEC, chamar os Senadores - o Senador Paim, que tem um projeto, os demais Senadores -, trazer a Profª Roberlaine e também a diretora da escola Piratini, para nos falarem dessa iniciativa, bem como algumas crianças - isso é importante -, jovens e adolescentes, porque isso começa na escola e se espalha na rede. A internet é hoje um ambiente propício para esse tipo de coisa. Assim como ela traz coisas boas, necessárias, informação, educação, também traz coisas ruins e perversas.

            Nós vivemos - por que não dizer? -, no processo político, um processo de bullying. Mas, com a juventude, com os nossos adolescentes...

            Então, se pudéssemos, eu queria me somar a esse esforço. Não sou da Comissão de Educação, mas, se a senhora me desse a honra, Senadora, de assinar junto um requerimento de uma audiência pública para debatermos esse tema, acho que seria muito importante mesmo, para que pudéssemos trazer luz.

            Inclusive, eles fizeram alguns personagens nessa campanha. São personagens que estão visitando as escolas. São cinco personagens fictícios: a Nina, o Lilo, o Max, o Teco e a Lisa. O Lilo é uma pessoa com autismo, o colega Teco tem a deficiência visual, a Lila não ouve e não fala, enquanto o Max é usuário de cadeira de rodas. A interação desses personagens com as crianças, falando das deficiências, mas também da integração tem sido algo muito proveitoso.

            Então, se isso dá para fazer na rede municipal de educação, com certeza também dá para fazer na rede estadual, e com certeza podemos colocar uma campanha na internet. Talvez até o próprio Senado da República possa fazer uma campanha com base nessa experiência da educação.

            Queria me colocar aqui à disposição. Acho isso importantíssimo. Isso tem a ver com os valores das nossas crianças, com o comportamento e, principalmente, com os princípios cristãos da tolerância, do amor, da compreensão e do respeito.

            Então, eu queria agradecer.

            Para finalizar aqui, trago dois assuntos que não são tão agradáveis. Primeiro, eu queria lamentar que o Estado do Paraná, o Governo do Estado tenha mandado um projeto à Assembleia Legislativa prorrogando o mandato dos diretores de escola - que teriam que ter agora eleição para diretores, em 2014 - para 2015, porque quer mudar as regras no processo da eleição dos diretores. E eu me pergunto quais são as mudanças que querem fazer. Nós aprovamos, nesta Casa, aprovamos no Congresso Nacional o Plano Nacional de Educação, que deu ênfase à direção, è eleição direta para diretores de escola, com as regras que hoje estão vigorando. Eu fico muito preocupada com isso.

            Então, queria lamentar muito aqui a iniciativa desse projeto de lei do Governador, que esperou passar a eleição para mandar à Assembleia Legislativa um projeto, prorrogando o mandato dos atuais diretores, porque quer fazer alterações no processo. Eu espero sinceramente que a Assembleia Legislativa não aprove esse projeto, mas, se aprovar, que nós tenhamos amplo acesso e discussão às mudanças de regra.

            Para finalizar, eu quero externar meu voto de pesar à morte de um companheiro nosso, companheiro militante do Partido dos Trabalhadores de Curitiba, que foi da associação de moradores da Cidade Industrial de Curitiba, o companheiro José Marques Belarmino Filho, o Marrom. Sofreu um AVC, está sendo velado hoje. Quero mandar um abraço a todos os familiares, em especial à companheira Paulina, uma mulher muito aguerrida, uma companheira de longa data, e dizer que estamos muito tristes com esse falecimento. Mando um abraço para a família, para os amigos, para todos os companheiros do Marrom. Que Deus possa recebê-lo e, enfim, a família tenha condições de passar por esse momento difícil, tendo o apoio dos amigos.

            Muito obrigada, Sr. Presidente, um grande abraço. Agradeço a esses Senadores que estavam aqui nesta manhã de sexta-feira. Muito obrigada.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senadora Gleisi, permita-me. Serei muito rápido. Primeiro, quero dizer dessa campanha, que eu achei belíssima, ilustrada inclusive com a participação da Senadora Ana Amélia.

            Eu me lembro - naquele tempo não se falava em bullying - de quando, na sala de aula, dentre diversos casos, um menino (ou uma menina) era ofendido pela cor da pele. Ele não entedia por que estavam fazendo aqui. Tipo assim: o cidadão não presta porque é negro ou porque é branco, dando um exemplo. Ele não entendia, chegava em casa e comentava com o pai e a mãe. E o pai e a mãe, claro, davam toda a força. E uma coisa que eles diziam para ele sempre: “Não dá bola! Você é um príncipe que foi raptado na África e hoje mora conosco.” E contavam-me a história dos príncipes da África.

            Por isso, eu quero só, com esta pequena fala, que marcou muito a minha vida, dar os meus cumprimentos.

            Olha, essa audiência pública vai ser...

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Vamos fazer juntos.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - ... uma maravilha, vai ser exemplo. Porque esse gesto que eles fizeram lá pode combater todos os tipos de preconceito, inclusive. Quando a gente fala em bullying, na verdade, o bullying é um preconceito de alguém contra alguém querendo ofender o outro por certo estado em que se encontra, ou físico ou pela sua história ou pela sua vida.

            Enfim, meus cumprimentos. Parabéns mais uma vez a V. Exª.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Obrigada, Presidente.