Discurso durante a 153ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque à importância da certificação da qualidade de produtos alimentícios da Serra Catarinense e da Serra Gaúcha, com ênfase ao queijo artesanal serrano; e outros assunto.

Autor
Casildo Maldaner (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Casildo João Maldaner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR, SENADO. POLITICA AGRICOLA.:
  • Destaque à importância da certificação da qualidade de produtos alimentícios da Serra Catarinense e da Serra Gaúcha, com ênfase ao queijo artesanal serrano; e outros assunto.
Aparteantes
Ana Amélia.
Publicação
Publicação no DSF de 31/10/2014 - Página 341
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR, SENADO. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, DISCURSO, AUTORIA, PEDRO SIMON, SENADOR, RIO GRANDE DO SUL (RS), ASSUNTO, ANUNCIO, DESPEDIDA, SENADO.
  • COMENTARIO, MELHORIA, PRODUTO AGRICOLA, MAÇÃ, LOCAL, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), RESULTADO, ESTUDO, PESQUISA, TRABALHO, REGISTRO, SOLICITAÇÃO, PRODUTOR RURAL, NECESSIDADE, CERTIFICADO, INSTITUTO DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL (IPHAN), RECONHECIMENTO, QUALIDADE, PRODUTO, VINHO, QUEIJO, PRODUÇÃO ARTESANAL, IMPORTANCIA, MELHORAMENTO, FORTIFICAÇÃO, AGRICULTURA FAMILIAR.

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco Maioria/PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Cara Senadora Vanessa Grazziotin, que preside esta sessão, e demais colegas, o tema que o Pedro Simon acaba de trazer a esta Casa e ao Brasil teve repercussão. Recebi diversos telefonemas cumprimentando pelo que o Pedro Simon faz e pela saudade que haverá de deixar nesta Casa. Entre os telefonemas que acabo de receber, cito o de uma delegada, a Drª Lúcia Stefanovich, que foi chefe da Polícia Civil lá do meu Estado, quando fui governador, e Secretária da Segurança em Santa Catarina, e deixou muita saudade. Ela acha que o Pedro Simon não pode parar, tem que continuar brindando o Brasil com sua experiência, seus conselhos e seus ensinamentos.

            Ontem, eu analisei o resultado das eleições para Presidente da República. Hoje, eu não poderia deixar de trazer um tema diferente, mas que enaltece a Serra Catarinense e também da Serra Gaúcha.

            Recebi de um historiador e jornalista - Derengoski, que é lá dos campos de Lages, de Coxilha Rica - algo que vem agregar, e eu não pude deixar de fazer o registro, nesta Casa, sobre alguma coisa que traz o valor agregado no campo: o famoso queijo serrano artesanal.

            A receita já é conhecida, Srª Presidente, caros colegas: o Brasil precisa agregar mais valor aos seus produtos e deixar de ser somente um produtor de commodities. A máxima vale para todos os setores produtivos, dos minérios aos agropecuários.

            É justamente no campo que vemos um louvável avanço nesse sentido, que merece nosso registro e reconhecimento. O exemplo que trago para ilustrar a situação vem da Serra, de Santa Catarina e do Rio Grande Sul.

            Há pouco mais de meio século, o Brasil nem sequer imaginava ser possível produzir maçãs de qualidade em seu território. Toda a oferta existente era oriunda de outros países, especialmente Argentina e Chile.

            Hoje, especialistas afirmam que São Joaquim, na Serra Catarinense, está produzindo a melhor maçã fuji do mundo. Tal transformação é resultado de muitos anos de estudos, pesquisas e trabalho, envolvendo empresários, produtores e a participação vital do Poder Público, através de seus centros de desenvolvimento agropecuário - no caso catarinense, a Epagri.

            Atualmente, a produção nacional de maçãs já ultrapassa a marca de 1,3 milhão de toneladas, com exportações que devem chegar a 120 mil toneladas, das quais 84 mil apenas para o exigente mercado europeu. A produção catarinense representa aproximadamente 60% da nacional.

            A nova batalha dos produtores, neste momento, é por uma certificação geográfica que fará a maçã ser reconhecida mundialmente. A iniciativa da Associação dos Produtores de Maçã e Pera de Santa Catarina e da Epagri é pelo Índice Geográfico de Proteção, classificação de produtos gastronômicos ou agrícolas de uma região, que envolve, sem dúvida alguma, uma parte do Paraná e uma boa parte do Rio Grande do Sul, a região de Vacaria por excelência.

            A vitivinicultura trilha o mesmo caminho. Os vinhos da Serra Catarinense e também os da Serra do Rio Grande do Sul, dotados de um terroir, ou seja, um conjunto de características geográficas, climáticas, e método produtivo, alcançaram altos patamares de qualidade. Além do reconhecimento nacional e internacional já obtido, os produtores buscam uma espécie de denominação de origem controlada, como ocorre com produtos tradicionais europeus, como o champanhe francês, por exemplo.

            Em outra frente, um produto ganha destaque e trilha o mesmo caminho. Trata-se do queijo artesanal serrano. Produzido na Serra de Santa Catarina e na Serra do Rio Grande do Sul desde o século XVIII, na maioria dos casos em propriedades rurais familiares, os produtores buscam agora as certificações nacionais que garantirão sua qualidade e sanidade, permitindo aumentar a produção e manter as características que o tornam único.

            O queijo serrano, em síntese, tem um modo de fazer específico, que utiliza o leite de vaca cru, ou seja, não pausterizado, proveniente de animais que se alimentam basicamente de pastagens naturais, tendo como insumos unicamente o leite, coalho e sal. São vacas campeiras, como são conhecidas, nativas da região, conhecidas como crioulas, mais rústicas e resistentes. Como temos o cavalo campeiro, o cavalo crioulo, existe a vaca campeira, a vaca crioula, na Serra de Santa Catarina e na Serra do Rio Grande do Sul. E esse queijo serrano tem uma consistência extraordinária, Senador Fleury. Ele é algo diferente.

            Trilha-se, dessa forma, o caminho percorrido pelo tradicional queijo Canastra, produzido na serra mineira do mesmo nome e, seu primo distante, o tradicional queijo português da Serra da Estrela, lá de Portugal.

            Então, vejam o da Serra da Canastra, que leva o nome de Minas, o de Goiás não fica distante disso, e agora estão querendo os da Serra de Santa Catarina e da Serra do Rio Grande do Sul, da vaca campeira e da vaca crioula, para também certificá-los, pois é um nicho diferente, um nicho da região. Isso aliado aos vinhos daquele terroir da serra, Senador Paim, ou seja, os vinhos de lá com o queijo campeiro, com aquele pão produzido na região, melhor é impossível. Isso agrega valores, sem dúvida alguma.

            Entidades públicas, como a Epagri, em Santa Catarina, e a Emater, no Rio Grande do Sul, em conjunto com as Secretarias de Agricultura dos dois Estados e o Ministério da Agricultura, trabalham em projetos que visam organizar a cadeia produtiva e alcançar certificações essenciais.

            São coisas características, Senador Fleury. E V. Exª tem, por exemplo, o pequi, que, com galinha caipira ou com a mandioca e o arroz, é algo que...Ainda hoje estou levando alguma coisa para Santa Catarina; hoje à noite, quando viajo. Vários amigos me pedem sempre: “Traz o pequi, de Goiás. Traz isso para misturar com a galinha caipira e fazer um prato delicioso.” Isso é fantástico!

            A primeira delas o SIM, Serviço de Inspeção Municipal e seu equivalente nacional - é o que o pessoal das serras do Rio Grande e de Santa Catarina pleiteia em relação ao queijo serrano - o Serviço de Inspeção Sanitária Federal (SISB), um equivalente ao SIF. Com ele, os produtores estarão autorizados a comercializar seu produto em todo Território nacional - o SIF permite também a exportação.

            Para tanto, devem adequar-se a uma série de exigências, de ordem sanitária, de alimentação dos animais, produtos que podem ser utilizados, técnicas de embalagem e rotulagem, entre outros. A Instrução Normativa nº 1, de maio deste ano, estabeleceu uma série de critérios para garantir a produção de acordo com a tradição histórica da região serrana catarinense e gaúcha.

            Outro selo importante nesse processo é o do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), reconhecendo oficialmente...

(Soa a campainha.)

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco Maioria/PMDB - SC) - ... o modo de saber fazer esse produto e declarando-o patrimônio imaterial da região e do povo serrano. O queijo mineiro, que recebeu o selo em 2008, teve seu preço triplicado após o reconhecimento. O processo já está em andamento, mas passa por um trâmite mais demorado.

            Os impactos são profundos. Estima-se que, hoje, 3.500 famílias, nos dois Estados, produzem o queijo artesanal serrano. A maioria, contudo, o faz para consumo próprio ou, no máximo, para venda a familiares e vizinhos.

            Para se ter uma ideia, ao comercializar o leite in natura para os laticínios da região, Senador Paim, o produtor recebe menos de um real por litro.

(Interrupção do som.)

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Com a fabricação do queijo, a rentabilidade por litro, hoje, sem as certificações, sobe para R$1,50, um ganho de 50%. Com os selos pretendidos, o preço do quilo, de R$15, pode saltar para R$40 ou R$45.

            Além de propiciar a qualificação da produção e elevar os ganhos do produtor, esse processo contribui de forma decisiva para o fortalecimento da agricultura familiar e a fixação do homem no campo. Que a iniciativa avance e o exemplo seja replicado Brasil afora, nas dezenas de produtos típicos que esse rico País produz.

            Antes de concluir, eu gostaria apenas de cumprimentar o historiador e jornalista Paulo Ramos Derengoski, serrano que trouxe o tema ao nosso conhecimento e que, incansavelmente, luta pela valorização da cultura e dos produtos de sua terra.

            Eu tinha que trazer esse registro, Senador Paim, que preside agora esta sessão, não poderia deixar passar. São coisas interessantes que surgem, que valorizam, que agregam e, sem dúvida alguma, enaltecem não só uma região, enaltecem as coisas típicas e características deste vasto País. Em todos os lugares, existem suas variações, suas tipicidades respectivas, e a valorização de tudo isso é que dá o amálgama de uma coisa diferente, de uma alma nacional verdadeira.

            Muito obrigado, Sr. Presidente e nobres colegas.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senador, só me permita um minuto - nem um minuto -, só para dizer que eu adoro o queijo serrano. Quem não provou que prove. Meus pais e avós são ali daquela região, da divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. Minhas férias, na época do colégio, eram na região. Então, quem não provou o queijo serrano do sul do Brasil e o vinho do sul do Brasil está perdendo uma iguaria da maior qualidade e muito gostosa, como diz o outro. Parabéns pelo pronunciamento.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Senador Casildo Maldaner...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senadora Ana Amélia.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Quem é de Lagoa Vermelha, ali muito...

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Lá de Lagoa Vermelha, de Vacaria...

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - ... ali de Lagoa Vermelha, muito próximo de Vacaria, Bom Jesus e São Francisco de Paula...

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco Maioria/PMDB - SC) - São José dos Ausentes...

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - É nessa região que esse queijo faz grande sucesso e a tradição preserva. E vou lhe dizer: o senhor mencionou aí o queijo da Serra da Estrela, em Portugal. Esse é um queijo feito de leite de ovelha. Lá em Bento Gonçalves, também estão se especializando em um queijo mais maturado - diferente um pouco do amanteigado queijo da Serra da Estrela, que faz tanto sucesso para todos os turistas que vão a Portugal. Mas a nossa região serrana, tanto a região catarinense, nas proximidades de Lages, que faz a Festa do Pinhão... Lá em Bom Jesus, fazíamos a Festa da Gila. Muita gente não tem ideia do que seja a gila, que é uma fruta que só dá naquela região, com que se faz um doce muito apreciado. É uma fruta parecida com a melancia. Então, nós temos um grande patrimônio gastronômico das tradições que se enriquece com essa miscigenação catarinense-gaúcha. E V. Exª, que nasceu lá em Carazinho, também sabe bem que esse patrimônio é compartilhado. Fico muito feliz que V. Exª tenha manifestado também a excelente qualidade dos vinhos catarinenses hoje. Também posso lhe dizer que o Rio Grande do Sul, hoje, está repartido. Não só na serra, mas na campanha, na fronteira, estamos com vinhos de excelente qualidade com premiação internacional. Então, também, da mesma forma, temos orgulho dos nossos vitivinicultores, que estão mostrando ao Brasil e ao mundo a capacidade desses empreendedores que acreditam na boa qualidade dos nossos produtos. Também é importante registrar que, agora, no Itamaraty, por uma decisão relevante tomada há pelo menos 20 anos, todos os vinhos e espumantes servidos nas cerimônias oficiais são nacionais. Na posse do novo mandato do Presidente da CNI, Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, da mesma forma, os vinhos e espumantes servidos nessa cerimônia foram todos nacionais. E todos eles, para meu orgulho, do Rio Grande do Sul. Estamos muito contentes com tudo isso. Parabéns, Senador Casildo.

            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco Maioria/PMDB - SC) - O aparte de V. Exª vem engrandecer, sem dúvida alguma, Senadora Ana Amélia, o que disse o Senador Paulo Paim.

            Até para acrescentar, não só enaltecendo o que V. Exª diz em relação aos produtos da região serrana do Rio Grande do Sul e também catarinense, nessa última viagem ao mundo que a família Schurmann faz - é a terceira pelo mundo em um barco à vela, pelos caminhos que levaram à Índia -, estão levando produtos também catarinenses e gaúchos. Nos 50 portos do mundo em que vão parar, farão coquetéis com produtos que são dessa Região Sul, desse terroir catarinense e gaúcho. Muito obrigado, nobres colegas.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/10/2014 - Página 341